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sábado, 4 de maio de 2013

ESPECIAL-Inflação de alimentos no Brasil: não culpe apenas o clima




Por Caroline Stauffer e Silvio Cascione

SALTO, São Paulo,  (Reuters) - O Brasil, uma superpotência agrícola de altos e baixos com terras férteis em abundância, está lutando para fornecer alimentos de forma consistente a preços acessíveis para sua população.
Para entender como, considere o tomate.
Os preços da fruta vermelha dispararam 122 por cento em março ante o ano anterior, colocando-o na capa de duas revistas nacionais, estimulando relatos de tráfico de tomate da Argentina e acendendo indignação nacional sobre como qualquer produto poderia custar mais nos trópicos do que em, digamos, o frígido Alasca.
A produção do Brasil de commodities de exportação como soja, milho, açúcar e café está crescendo mais rápido do que em qualquer lugar do mundo, e ninguém está alertando sobre uma iminente escassez de alimentos em um país tão rico em recursos naturais.
Mas a maior economia da América Latina está se tornando um conto de duas contrastantes políticas agrícolas. Culturas de exportação são um modelo de capacidade tecnológica e alta rentabilidade, enquanto as fazendas responsáveis ​​pela alimentação de uma classe crescente de consumidores permanecem quase nas mesmas condições há décadas: em sua maioria pequenas e familiares.
Oprimidos por dívidas, vulneráveis ​​a danos do tempo e espremidos para fora de suas terras pelas culturas de commodities, essas fazendas são o primeiro elo de uma longa cadeia de ineficiências que fizeram os preços dos alimentos subirem em um país ainda marcado pela sua longa história de inflação galopante --complicando os esforços da presidente Dilma Rousseff para retomar o crescimento econômico.
"O governo não sabe o que é agricultura, ele só sabe o que é agricultura na balança comercial", disse o agricultor Cyro Cury, que cultiva 10 tipos de tomates em uma fazenda em Salto, no interior de São Paulo.
"Não temos nenhuma estratégia de trabalho, nenhum levantamento de dados das regiões... A gente não pode ser chamado de celeiro do mundo, não temos as políticas para isso", acrescentou ele, ao examinar tomates recém-colhidos das dezenas de estufas que administra. 
Alguns dos problemas enfrentados pelos pequenos agricultores agrupados em torno de grandes cidades brasileiras, tais como mão de obra escassa e linhas de transporte pobres, também são sentidos por indústrias e empresários. É o chamado custo Brasil, que tem sufocado o crescimento econômico e tornou fazer negócios no país tão caros.
O governo federal em grande parte culpa o recente aumento de preços do tomate, da cebola e da cenoura --que ajudou a inflação em 12 meses a ficar acima do teto da meta do Banco Central em março pela primeira vez em um ano e meio-- a fatores sazonais que não pode controlar.
"Houve alguns problemas em função da clima, um pouco da seca que aconteceu depois da chuva em algumas regiões. Mas é uma política bem definida para essas culturas através de linhas de crédito, intervenção por preço mínimo", disse o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, sugerindo que os preços irão cair em breve.
Há um consenso crescente entre agricultores e economistas, no entanto, de que problemas estruturais mais profundos, e não apenas chuvas irregulares, deixam o Brasil vulnerável à oscilação dos preços dos alimentos em um momento em que alguns poucos países comparáveis ​​estão preocupados com a inflação.
Como em muitos países em desenvolvimento, a comida ainda é responsável por uma grande fatia do índice de preços ao consumidor do Brasil --22 por cento-- e frutas e vegetais frescos são amplamente consumidos por todas as classes.


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