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sábado, 26 de novembro de 2016

Ícone da Guerra Fria e do Século XX Fidel Castro morre aos 90 anos



HAVANA (Reuters) - Fidel Castro, o líder revolucionário cubano que construiu um estado comunista na porta dos Estados Unidos e por cinco décadas desafiou os esforços norte-americanos para derrubá-lo, morreu na sexta-feira, aos 90 anos.

Figura imponente da segunda metade do século XX, Castro se manteve preso à sua ideologia após o colapso do comunismo soviético e seguiu amplamente respeitado em partes do mundo que tinham lutado contra o domínio colonial.

Ele estava com a saúde debilitada desde que uma doença intestinal quase o matou em 2006. Ele passou formalmente o poder para seu irmão mais novo Raul Castro dois anos mais tarde.

Vestindo um uniforme militar verde, um sombrio Raul Castro, 85, apareceu na televisão estatal na noite de sexta-feira para anunciar a morte de seu irmão.

"Às 10:29 da noite, o comandante chefe da revolução de Cuba, Fidel Castro Ruz, morreu", ele disse sem dar a causa da morte.

"Sempre para a frente, para a vitória", disse, usando o slogan da revolução cubana.

Aliados fizeram tributos, incluindo o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente socialista da Venezuela, Nicolas Maduro, que declarou que "os revolucionários do mundo devem seguir seu legado."

Embora Raul Castro sempre tenha glorificado seu irmão mais velho, ele mudou Cuba desde que assumiu, introduzindo reformas econômicas e fechando acordo com os Estados Unidos, em dezembro de 2014, para restabelecer laços diplomáticos e pôr fim a décadas de hostilidade.

Fidel Castro ofereceu morno apoio para o acordo, levantando dúvidas sobre se ele de fato aprovaria o fim das hostilidades com seu inimigo de longa data. Ele não conheceu Barack Obama quando ele visitou Havana no início deste ano, a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos tinha pisado o pé em solo cubano desde 1928.
Fidel Castro deixou marca revolucionária na história

Por Daniel Trotta

(Reuters) - Filho de um rico proprietário de terras, Fidel Castro deu as costas para uma vida de privilégios e liderou uma revolução de esquerda em Cuba que resistiu por décadas e foi moldada a partir de sua destreza política, um forte senso visionário e um ego sem limites.

Castro, que morreu na sexta-feira aos 90 anos de idade, já foi idealista e pragmático, bastante inteligente e também imprudente, carismático e ao mesmo tempo intolerante.

Os adversários viam nele uma figura opressora e teimosa que violava direitos humanos, prendia seus opositores, bania os partidos de oposição e que destruiu a economia de Cuba.

Já os admiradores enxergavam nele um visionário que enfrentava a dominação norte-americana na América Latina, promovia saúde e educação para os pobres e inspirava movimentos socialistas em todo o mundo.

Mesmo antes de liderar a revolução de 1959 que colocou Cuba no caminho do comunismo e do cenário de Guerra Fria, Fidel Castro se via de maneira grandiosa.

Desde pequeno, ele admirava figuras importantes da história, particularmente Alexandre, o Grande, e acreditava que ele e seus comandados eram parte da tradição.

"Os homens não moldam o seu destino. O destino produz o homem de cada momento", disse ele em 1959.

Castro derrubou o impopular ditador Fulgencio Batista, que era apoiado pelos EUA, ao unir uma oposição fragmentada e levar a melhor sobre um exército cubano muito maior e mais equipado.Sua aliança com a União Soviética colocou-o no centro da Guerra Fria, especialmente quando a crise dos mísseis cubanos em 1962 fez o mundo ficar à beira de uma guerra nuclear.

Ele era uma celebridade global. Sua barba, a roupa militar e os enormes charutos cubanos faziam dele uma figura facilmente reconhecível.

Sua notoriedade se devia, em parte, à geografia. Em busca de reforçar um aliado que ficava a apenas 140 quilômetros dos EUA, Moscou ajudou-o a construir um Estado socialista dando-lhe bilhões de dólares em ajuda e promovendo um comércio em termos favoráveis envolvendo produtos desde petróleo a peças de trator.

Ele procurou preservar a revolução apesar da constante hostilidade norte-americana, mesmo quando Cuba sofreu com o colapso da União Soviética no começo dos anos 1990, mostrando o vigor de um homem que pretendia morrer trabalhando.

Seu governo sobreviveu apesar das inúmeras previsões contrárias e superou uma de suas piores crises econômicas graças à aliança estratégica com o falecido presidente venezuelano, Hugo Chávez, que comandava o quinto maior exportador mundial de petróleo.

Tendo visto a morte de perto após uma séria doença intestinal, Castro se viu forçado a deixar o comando de Cuba em 2006 e formalmente entregou o poder ao irmão mais novo, Raúl Castro, em 2008.

"Cometi erros, mas nenhum estratégico, simplesmente tático... Não tenho nenhum átomo de arrependimento do que fizemos em nosso país", afirmou Fidel depois da doença.

Em seus últimos anos, Castro escreveu colunas de opinião para a imprensa estatal cubana, mas raramente era visto em público. Seus famosos discursos deram lugar ao silêncio, ao menos em público, e confortáveis roupas de corrida substituíram o traje militar de outrora.

Em 17 de dezembro de 2014, Raúl Castro fez acordo para restaurar laços diplomáticos com os EUA. Seis semanas depois, Fidel Castro acenou apenas com um apoio morno ao acordo, levantando dúvidas sobre quando as hostilidades com o antigo inimigo terão fim.   POLÊMICO LEGADO    O legado político de Fidel, aclamado por seus simpatizantes como herói e tachado de tirano por seus críticos, será objeto de debates durante anos.    Mas poucos duvidam da astúcia que lhe permitiu manter-se no poder por mais de 49 anos, mais de quatro décadas de embargo econômico e inúmeros planos de assassinato.    Os "fidelistas" afirmam que a Revolução Cubana, iniciada por um punhado de rebeldes precariamente armados, resgatou a ilha do domínio dos EUA e a transformou em um local com os melhores serviços de educação e saúde pública do Terceiro Mundo.    Já os detratores, sobretudo na comunidade de exilados cubano-americanos na Flórida, dizem que desde o início ele se comportou como um ditador egocêntrico e intolerante.    Como seu camarada argentino Ernesto Che Guevara (1928-67), Fidel se tornou um mito inspirador para a esquerda das décadas de 1960 e 1970.    Poucos dias depois de derrotar Batista, Fidel declarou ao canal CBS, dos EUA, que não pensava em se barbear, já que a barba que deixou crescer na Sierra Maestra significava muito para os cubanos.    "Quando tivermos cumprido nossa promessa de um bom governo, cortarei a barba", disse ele ao jornalista Edward R. Murrow.

REVOLUCIONÁRIO DE FAMÍLIA RICA    Fidel nasceu em 13 de agosto de 1926 em Birán, povoado no leste de Cuba, filho de um fazendeiro espanhol da região da Galícia que se tornou um próspero proprietário de terras. Suas propriedades foram as primeiras a serem expropriadas pelo governo de Fidel, pouco depois do triunfo da revolução.    Embora poucas vezes falasse da sua infância, Fidel dizia ter adquirido desde cedo o sentido de justiça social, ao ver a pobreza dos seus vizinhos e a influência das grandes empresas norte-americanas.    Fidel estudou em escolas jesuítas e depois, na Faculdade de Direito da Universidade de Havana, se envolveu na política estudantil, às vezes violenta. Sua memória fotográfica lhe ajudava a ser aprovado nos exames.    Em 26 de julho de 1953, liderou um ataque quase suicida ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, que terminou com a morte ou prisão da maioria dos participantes. Foi detido com seu irmão Raúl e advogou em causa própria, apresentando um memorável discurso intitulado "A história me absolverá."    Libertado em 1955 graças a uma anistia política concedida por Batista, Fidel viajou para o México, onde conheceu Che e organizou um grupo de exilados cubanos para invadir a ilha.    Isso aconteceu em 1956, quando os rebeldes desembarcaram em um manguezal do oeste de Cuba, onde soldados de Batista os receberam a bala. Os sobreviventes, entre os quais Fidel, Raúl e Che, conseguiram se refugiar na Sierra Maestra.    Em 1958, os rebeldes se espalharam por toda a ilha, obrigando à fuga de Batista de Havana em 1o de janeiro de 1959. Formou-se então um governo provisório, no qual Fidel se tornou chefe das Forças Armadas e depois primeiro-ministro.    Os anos seguintes foram muito agitados na ilha, com a frustrada invasão de exilados cubanos na baía dos Porcos, em 1961, e a crise dos mísseis, em 1962, quando Fidel permitiu a instalação de ogivas nucleares soviéticas na ilha, finalmente retiradas graças a um acordo entre Washington e Moscou.    Após o colapso do bloco socialista, no começo da década de 1990, e a conversão da "madrinha" Rússia ao capitalismo, Fidel reafirmou sua rejeição a abandonar o sistema socialista introduzido em Cuba.    Quando os cubanos começaram a sentir a crise e o embargo norte-americano, Fidel viu-se obrigado a abrir a economia ao turismo e a investimentos estrangeiros.    Sua legitimidade internacional se viu reforçada com a visita do papa João Paulo 2o a Cuba, em janeiro de 1998. Fidel foi o governante mais longevo da história moderna.

GUERREIRO INDESTRUTÍVEL    Apesar da aura de guerreiro indestrutível, os anos foram pesando sobre Fidel Castro e Raúl, eterno número dois, emergiu como sucessor.    Quando a tevê estatal anunciou dia 31 de julho de 2006 que Fidel deixava o poder por questões de saúde, um sentimento de desamparo invadiu muitos na ilha. Sete de cada dez cubanos nasceram depois de 1959 e não conheciam outro governante.

Fidel sempre manteve sua vida privada praticamente secreta. Sabe-se que casou em 1948 com Mirtha Díaz Balart, irmã de um funcionário de Batista, com quem teve seu filho Fidelito.    O casamento acabou em 1955, e desde então Fidel, com fama de sedutor, teve outros casos, como com Naty Revuelta, uma dama da alta sociedade pré-revolucionária.    A filha de ambos, Alina Fernández, partiu de Cuba na década de 1990 e se tornou uma conhecida crítica do seu pai.    Fidel depois passou a viver com uma ex-professora, Dalia Soto del Valle, com quem teve cinco filhos homens, todos com nomes começados pela letra A.    Viveu para ver o aniversário de 50 anos de sua revolução e três semanas depois, a posse de Barack Obama, o primeiro presidente dos Estados Unidos disposto a conversar com Cuba.

Obama diz que história julgará impacto de Castro no mundo
sábado, 26 de novembro de 2016 13:33 BRST Imprimir [-] Texto [+]
 Fidel Castro discursa durante visita a Luanda, Angola, em março de 1984. REUTERS/Prensa Latina (ANGOLA)
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WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ofereceu neste sábado suas condolências à família de Fidel Castro e afirmou que a história julgará o impacto do líder cubano no mundo.

"Neste momento da morte de Fidel Castro, estendemos a mão da amizade ao povo cubano", disse Obama. "A história vai registrar e julgar o enorme impacto desta figura singular sobre as pessoas e o mundo ao redor dele."

Obama acrescentou que durante sua presidência ele trabalhou para "colocar o passado atrás de nós" e para construir um futuro sobre as coisas em comum entre os dois países.

(Por Idrees Ali e Roberta Rampton)
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sábado, 26 de novembro de 2016 14:37 BRSTVocê está aqui:Home > Notícias > Mundo
SAIBA MAIS-"Socialismo ou Morte!" era a marca de discursos de Fidel
sábado, 26 de novembro de 2016
(Reuters) - Fidel Castro, que tomou o poder em Cuba em uma revolução em 1959 que transformou o país em um Estado comunista durante seu governo de cinco décadas, morreu, afirmou a televisão estatal cubana neste sábado. Ele tinha 90 anos.

    Fidel hipnotizava amigos e inimigos com sua oratória, uma das principais características de seu longo governo. A seguir, algumas frases relevantes dos seus longos e inflamados discursos e comentários feitos durante entrevistas:


    - "Condena-me, não importa, a história me absolverá."    Outubro de 1953, advogando em causa própria depois de ser preso no ataque ao quartel Moncada (Santiago de Cuba).

    - "Se me consideram um mito, é mérito dos Estados Unidos."

    - "Que não se preocupem os vizinhos do norte, que não pretendo exercer meu cargo até os 100 anos."    Penúltimo discurso antes da crise de saúde, em 26 de julho de 2006, na cidade de Bayamo.  - "Já que o senhor (George W. Bush) decidiu que nossa sorte está lançada, tenho o prazer de me despedir como os gladiadores romanos que iam combater no circo: Ave, César, os que vão morrer te saúdam."    Discurso em 14 de maio de 2004.



    - "Cometi erros, mas nenhum estratégico, simplesmente tático...Não tenho nem um átomo de arrependimento do que fizemos no nosso país."    Entrevista ao jornalista espanhol Ignácio Ramonet, em "Cem Horas com Fidel" (2006).



    - "Se saio, chego; se chego, entro; se entro, triunfo."    Palavras antes de zarpar do México, em 1956, para iniciar a luta armada em Cuba.



    - "Quando um povo enérgico e viril chora, a injustiça treme!"    Discurso no enterro das vítimas de um atentado contra um avião da empresa Cubana de Aviación, ocorrido em Barbados em outubro de 1976.



    - "Quem tentar se apoderar de Cuba recolherá o pó de sua terra encharcado de sangue, se não perecer na contenda."    Parafraseando o herói da independência Antonio Maceo, em janeiro de 2006.    - "As idéias não necessitam nem das armas, na medida em que sejam capazes de conquistar as grandes massas."    Discurso em 3 de agosto de 1985.



    - "Esta humanidade tem ânsias de justiça."    Cerimônia do Dia do Trabalho, 1o de maio de 2005.



    - "Minha barba significa muitas coisas para o meu país. Quando tivermos cumprido nossa promessa de um bom governo, rasparei a barba."    Entrevista à rede norte-americana CBS poucos dias depois do triunfo da revolução, em 1959.



    - "A meus caros compatriotas, lhes comunico que não aspirarei nem aceitarei, repito, não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e comandante-chefe."    Mensagem de renúncia, publicada no jornal oficial "Granma" em 19 de fevereiro de 2008.
- "Pátria ou Morte, Venceremos! Socialismo ou Morte!"    Bordão com que Fidel costumava encerrar seus discursos.

- "Um dos maiores benefícios da revolução é que mesmo nossas prostitutas fizeram faculdade."

Castro ao cineasta Oliver Stone no documentário de 2003 "Comandante".

-"Entre todos os erros que possamos ter cometido, o maior deles foi que acreditamos que alguém (...) realmente sabia como construir o socialismo (...) Sempre que diziam 'esta é a fórmula', achávamos que eles sabiam. Como se fosse um médico"

Castro em 2005.        - "O modelo cubano já não funciona nem mesmo para nós."

Entrevista de Castro ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg em 2010. Depois, Castro disse que o comentário foi tirado do contexto da entrevista.

    ((Tradução Redação SÃO PAULO, + 55 11 5644-7753))

REUTERS MPP AAJ


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