Tesoureiro do PT depõe na PF; delator fala em propina de até US$200 mi ao partido
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Vista da sede da Petrobras no Rio de Janeiro. 04/02/2015 REUTERS/Ricardo Moraes
Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi levado nesta quinta-feira pela Polícia Federal para prestar depoimento como parte de nova fase da Operação Lava Jato, diante de informações de que o petista teria arrecadado até 200 milhões de dólares em propina para o partido durante uma década.
Vaccari figura entre suspeitos de operar esquemas de corrupção nomeados pela PF na mais recente rodada da Lava Jato, que em sua nona fase teve desdobramentos na BR Distribuidora, controlada da Petrobras.
"Nós queremos saber informações a respeito de doações que ele solicitou, legais ou ilegais, envolvendo pessoas que mantinham contratos com a Petrobras", disse a repórteres o procurador-regional da República Carlos Fernando Lima, sobre o tesoureiro do partido.
Segundo depoimento do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro José Barusco Filho à PF, mediante delação premiada, o tesoureiro petista teria arrecadado o valor "aproximado de 150 a 200 milhões de dólares" em propinas para o partido sobre cerca de 90 contratos da estatal entre 2003 e 2013.
Em nota, o advogado de Vaccari diz que o PT "não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a lei", e que seu cliente "permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos".
No mesmo tom, a assessoria de imprensa do PT disse que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral.
A PF deu início na manhã desta quinta à nova etapa da Lava Jato, deflagrada após depoimentos de Barusco. A operação investiga lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos, principalmente em contratos de obras da Petrobras.
Cerca de 200 policiais federais, com apoio da Receita Federal, cumpriram 62 mandados judiciais, incluindo prisões e busca e apreensão, em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina. O operação fez buscas em 26 empresas, a maior parte delas de fachada, segundo a PF "Tão poderoso quanto (o doleiro Alberto) Youssef seriam poucos (operadores), mas efetivamente são pessoas com muitas relações com agentes públicos, principalmente dentro da Petrobras", disse o procurador Lima.
Os operadores atuavam na intermediação entre pagamento de recursos desviados de empreiteiras e agentes públicos, explicou a PF.
Policiais fizeram buscas e apreenderam grande quantidade de dinheiro em endereços de uma empresa em Itajaí (SC).
"É uma empresa de construção de tanques de combustível e também de caminhões tanque. Ela tem contratos com a BR Distribuidora. É uma segunda vertente de investigação", afirmou o delegado da PF Igor Romário de Paula.
Segundo o Ministério Público, os desvios envolvendo a BR Distribuidora ocorreram até 2014.
O procurador Lima disse que ainda não há clareza sobre a data de início dos acontecimentos. "A importância desse fato é que desta vez estamos trabalhando fora das diretorias de Serviços, Abastecimento ou Internacional (da Petrobras). Estamos trabalhando com a BR Distribuidora. Também estamos trabalhando com fatos que aconteceram até o ano passado", disse ele.
Fases anteriores da Lava Jato já resultaram nas prisões dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró, e de altos executivos de importantes empreiteiras do país.
A Petrobras, que está no centro de um escândalo bilionário de corrupção, comunicou na quarta-feira a renúncia da presidente Maria das Graças Foster e de cinco diretores. A decisão surpreendeu integrantes do governo, uma vez que a saída da diretoria estava prevista apenas para o fim do mês.
Em comunicado, a empresa informou que novos executivos serão eleitos na sexta-feira em reunião do Conselho de Administração. Continuação...
(Reportagem adicional de Caroline Stauffer, Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Jeferson Ribeiro em Brasília)
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