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sábado, 6 de julho de 2013

Governo não aposta no bloco comercial dos EUA e UE


Edla Lula   (elula@brasileconomico.com.br)
Barbosa: “O país terá de correr atrás do prejuízo ou se tornará um mero exportador de commodities”          
Fontes oficiais afirmam que americanos e europeus mantêm interesses conflitantes, difíceis de contornar.
O governo brasileiro ainda não formulou uma posição oficial sobre os impactos da formação do megabloco Estados Unidos/União Europeia, anunciada esta semana.
Mas, nos bastidores, corre o comentário de que "é muito pouco provável este acordo se concretize", conforme opinou ao Brasil Econômico uma alta fonte do governo.Repetindo Shakespeare em inglês, esta fonte falou: "é muito barulho por nada esses comentários que andam fazendo sobre o acordo".
O funcionário do governo brasileiro lembrou que Estados Unidos e União Europeia têm interesses conflitantes que não vão se desfazer facilmente. Citou o setor aeronáutico e a agricultura.
E ressaltou que existem países periféricos na Europa que provavelmente sairiam prejudicados com este acordo. "Eles rifariam um pedaço inteiro da Europa, rifariam o Leste Europeu inteiro, Portugal e até Espanha. Você acha que a União Europeia vai abrir o mercado agrícola para os Estados Unidos?"
Para ele, "é legítimo e um movimento até esperado" das economias maduras quererem se proteger, já que, no seu entender, o anúncio é uma tentativa de reagir ao crescimento dos países emergentes nos últimos anos, com a forte atuação dos Brics - especialmente China.
Já no Itamaraty a informação é de que o governo ainda está levantando o impacto que a decisão anunciada terá na estratégia brasileira de comércio exterior. "O governo brasileiro entende que o novo bloco pode até ser um sinal positivo no sistema de comércio internacional a ponto de vir a destravar a Rodada de Doha", disse um assessor do Ministério das Relações Exteriores.
"O Itamaraty defende que este acordo esteja dentro das regras da Organização Mundial do Comércio", disse o assessor.
Isolado das negociações multilaterais, o Brasil tem recebido crítica de analistas de comércio exterior quanto a inabilidade dos negociadores.
"O Brasil dormiu no ponto, ficou isolado no mundo e agora vai ter que correr atrás do prejuízo se não quiser restringir os manufaturados ao mercado interno e exportar apenas alguns produtos agrícolas", diz o ex-embaixador do país nos Estados Unidos, Rubens Barbosa. Ele desqualifica a tese de que o novo bloco, previsto para valer a partir de 2015 possa ressuscitar a rodada de Doha.
"Doha acabou, não tem como voltar. O Brasil jogou todas as suas fichas em Doha e perdeu", disse Barbosa.
O embaixador recorda que o primeiro bloco pretendido pelos Estados Unidos foi a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e que fracassou, em boa medida por culpa do governo brasileiro.
"Hoje o que se vê é os Estados Unidos fazendo acordos com vários países e blocos. Isto mostra que há 20 anos havia uma estratégia americana pela formação de blocos", diz.
Para Barbosa, atualmente presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, a alternativa imediata para o Brasil é retomar as negociações em torno do acordo com a União Europeia, iniciada em 2004 e interrompida ao longo dos últimos anos por problemas internos ao Mercosul.
"Se o Mercosul não conseguir fazer a oferta, como foi anunciado. A saída para o Brasil é fazer o acordo sozinho", opinou. Durante a Cúpula Mercosul/União europeia, no mês passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o bloco sul-americano fará oferta à União Europeia no segundo semestre deste ano.

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