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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Exército derruba presidente e anuncia transição no Egito


Por Tom Perry e Yasmine Saleh

CAIRO, 3 Jul (Reuters) - As Forças Armadas do Egito derrubaram o presidente islâmico Mohamed Mursi na quarta-feira, desencadeando uma festa nas ruas com a perspectiva de novas eleições, enquanto políticos de várias tendências manifestavam apoio a uma nova transição política.
Mursi estava retido em um quartel da Guarda Republicana depois de denunciar um "golpe militar" que interrompeu seu mandato, iniciado há pouco mais de um ano. Enquanto tanques e soldados ocupavam a área, dezenas de milhares de partidários da Irmandade Muçulmana, de Mursi, faziam um protesto nos arredores contra a deposição dele.
A dramática queda de Mursi, primeiro presidente eleito livremente na história egípcia, marca outra reviravolta na crise que envolve a mais populosa nação árabe desde a revolução popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em janeiro de 2011.
O principal negociador da oposição liberal com os militares, Mohamed El Baradei, disse que o plano acertado na quarta-feira com os generais garantirá a continuidade da revolução de 2011, que foi parte da chamada Primavera Árabe.
Dizendo ter um mandato popular para agir, diante de protestos que reuniram milhões de pessoas contra Mursi, o comandante do Exército, general Abdel Fattah al Sisi, disse que Mursi estava sendo deposto por ter ignorado as reivindicações de unidade nacional.
"Os que estavam na reunião concordaram com um mapa para o futuro que inclua passos iniciais rumo a obter a construção de uma sociedade egípcia forte, que seja coesa e não exclua ninguém, e que acabe com o estado de tensão e divisão", disse Sisi em um pronunciamento solene, transmitido ao vivo pela TV estatal.
Ele disse que as forças de segurança manterão a ordem. Houve confrontos isolados entre facções rivais em vários pontos do país, mas sem atingir até agora a escala de violência das últimas semanas, quando mais de 40 pessoas morreram e centenas ficaram feridas.
As forças de segurança disseram que pelo menos 10 pessoas morreram na quarta-feira
Sisi discursou tendo ao seu lado a cúpula militar e líderes políticos - incluindo liberais e um barbado representante do partido ultraislâmico Nour. Também estavam presentes um clérigo muçulmano graduado e o papa copta. Líderes juvenis presentes no ato receberam uma menção especial de Sisi.
As menções à vontade popular e a apresentação de uma frente política unificada e com um rosto civil - algo que ganhará contornos mais completos na quinta-feira, com a posse do chefe da Corte Constitucional como presidente interino - têm o claro objetivo de aplacar preocupações internacionais sobre um golpe militar.
Os Estados Unidos vinham apoiando as declarações de Mursi sobre sua legitimidade democrática, mas o pressionavam cada vez mais para partilhar poderes com seus adversários. O presidente Barack Obama expressou profunda preocupação com a deposição do presidente egípcio e pediu um rápido retorno a um governo civil democraticamente eleito.
Os EUA entregam 1,3 bilhão de dólares em ajuda militar ao Egito, e podem ser pressionados a impor sanções se houver a impressão de que Mursi foi vítima de um golpe. A instabilidade no Egito já vinha causando grande preocupação entre aliados ocidentais do Cairo e em Israel, país com o qual o Egito estabeleceu um tratado de paz em 1979.

"EGITO PARA TODOS"

Refletindo as esperanças da "juventude revolucionária" que liderou a rebelião contra Mubarak, o jovem que passou a encarnar a oposição contra Mursi disse que o novo período de transição não deverá repetir os erros do passado recente.
"Queremos construir um Egito com todos e para todos", disse Mahmoud Badr, um jornalista de 28 anos que há dois meses teve a ideia de iniciar um abaixo-assinado pela renúncia de Mursi. No fim de semana passado, o movimento "Tamarud - Rebelde!" já tinha 22 milhões de apoiadores, dos quais muitos foram às ruas no domingo.
O Exército se mostrava cada vez mais alarmado com a possibilidade de Mursi envolver o Egito no conflito sectário da Síria, e a presença popular nas ruas deu a Sisi uma justificativa para impor na segunda-feira um prazo de 48 horas para que o presidente aceitasse partilhar poderes ou renunciar.
Depois das revoluções da Primavera Árabe, em 2011, vários políticos de tendência islâmica assumiram o poder em seus países. Mursi é o primeiro deles a ser derrubado, e o fato irá despertar questionamentos em toda a região, especialmente na Tunísia.
O país que foi o berço do movimento democrático árabe há dois anos e meio agora também tem seu próprio movimento "Tamarud", buscando o fim do domínio islâmico no Parlamento.
Na praça Tahrir, no Cairo, epicentro da rebelião egípcia de 2011, centenas de milhares de pessoas dançavam e soltavam rojões, celebrando a deposição de Mursi. "O povo e o Exército são uma só mão", gritava a multidão.
Os últimos quatro dias pareceram para muita gente uma repetição acelerada dos 18 dias que levaram à queda de Mubarak, quando o Exército, após décadas de apoio ao regime, percebeu que o tempo dele havia se esgotado.
Sisi anunciou a suspensão imediata da Constituição aprovada em referendo em 2012, com viés islâmico, e divulgou um "mapa" para o retorno ao regime democrático, sob regras revistas.
O presidente da Corte Constitucional substituirá Mursi. Um governo tecnocrata será empossado até a realização de novas eleições presidenciais e parlamentares - datas não foram mencionadas.
A Constituição será revista por um painel representativo de todos os setores da sociedade. A liberdade de imprensa, ameaçada durante o governo de Mursi, será protegida.
Sisi mencionou Mursi nominalmente apenas em um preâmbulo no qual detalhou como o comandante militar - nomeado pelo presidente no ano passado - havia repetidamente tentando convencê-lo a acabar com a polarização profunda da política egípcia. O presidente, afirmou o general, "deixou de atender às exigências do povo egípcio".

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