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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Com 77 anos de história, Teatro Paulo Freire está em ruínas no Paulista



Sem teto, parte interna do Teatro foi tomada pela vegetação (Foto: Vinícius Coutinho/Divulgação)


Com 77 anos de história, Teatro Paulo Freire está em ruínas no Paulista

Por: Emannuel Bento

Publicado em: 18/07/2021 

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No ano em que o Brasil comemora o centenário do pernambucano Paulo Freire, um teatro com o nome do educador, localizado no Centro do Paulista, no Grande Recife, encontra-se num estado de total abandono. O Teatro Paulo Freire é o único equipamento cultural público da cidade, com capacidade para 400 pessoas. Foi fundado em 1944 e tem um passado glorioso, mas está fechado desde 2008 e tornou-se uma espécie de mártir para a classe artística do município, que vem protestando pela reabertura.


Quem passa na Avenida Floriano Peixoto sequer repara que ali existe um teatro. Não há mais letreiro, a coloração azul das paredes embranqueceu e o teto caiu. Em 28 de maio deste ano, ativistas aproveitaram os 77 anos do espaço para realizar um ato por reforma e conseguiram acessar o prédio. Fizeram registros internos que reforçam o caráter do abandono: a vegetação já invadiu toda a área, até mesmo o palco que tanto divertiu os paulistenses no passado.


Procurada pela reportagem, a Prefeitura do Paulista, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Juventude e Esportes, disse que a atual gestão "apresentou em audiência pública a ideia de um projeto que integra o teatro, o cinema, a música, o artesanato e a arte em geral para a revitalização do Cine Teatro Paulo Freire e sua ampliação estrutural. A ideia, porém, ainda está em discussão com a classe artística". Trata-se do Centro Cultural Ariano Suassuna, com uma área de 2.000 m2 e visto com ceticismo.



A inauguração do Cine-Teatro Municipal (primeiro nome do espaço) foi realizada pelo prefeito Capitão José Primo de Oliveira com a presença do interventor Agamenon Magalhães, mão de ferro da Era Vargas em Pernambuco, em 1944. A aposentada Bernadete Serpa Lopes tinha 7 anos na inauguração. "Fui aluna da primeira turma do Grupo Escolar Dantas Barreto, que ficava ao lado do cine-teatro, e participei de muitos eventos. Existia uma cena teatral muito forte, quase nunca ficava sem peças em cartaz. Com o tempo, isso mudou, pois o poder público não correspondeu. Até que chegou nesse ponto de calamidade".


Até os anos 1960, o estado tinha mais de 100 cinemas de rua (sendo 28 no Recife). Com a popularização da televisão, muitos cinemas de subúrbio passaram a fechar, e o Cine-teatro Municipal também passou por dificuldades. Ele foi alugado para iniciativa privada e chegou a ter a sua fase de cinema pornô, deixando de ser "cine" há mais de 30 anos. Ninguém sabe sequer informar o paradeiro dos equipamentos de projeção.


O espaço sobreviveu, porque não dependia só da sétima arte. O palco foi ocupado por grupos teatrais como Gente Nossa e Cênico Austro Costa, que encenaram textos conhecidos do teatro nacional, a exemplo de Onde estás felicidade?, de Luiz Iglésias. Quando completou 53 anos, em 1997, foi reinaugurado com o nome Teatro Municipal Paulo Freire, em homenagem ao grande educador, na gestão do prefeito Geraldo Pinho Alves. Essa atual fase de decadência começa na década seguinte. Em 2008, parte do forro acústico de fibra mineral (comprado em 2006 numa reforma orçada em R$ 200 mil) caiu sobre crianças de escolas particulares que assistiam a um espetáculo do projeto Escola Vai ao Teatro, capitaneado pelo ator Vinicius Coutinho. O equipamento foi interditado pela Defesa Civil.


ABANDONO


Apesar da esperança da classe artística, os episódios seguintes só trouxeram revezes. Em 2006, o então prefeito Yves Ribeiro (que voltou a vencer as eleições em 2020) negociou que cartórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco fossem instalados nos anexos do teatro. O contrato tem vigência de 20 anos, a partir de 1º setembro de 2011 - ou seja, só acabará em 2031. Em 2013, já na gestão de Júnior Matuto, artistas chegaram a realizar um protesto, mas a reforma para o TRE foi concluída.


"O teatro esteve razoável até 2003. Ariano Suassuna foi fazer uma aula-espetáculo em 2006, quando fizeram uma maquiagem. Daí surgiram muitos problemas estruturais, como infiltrações", relembra o ator Vinicius Coutinho, membro do Conselho de Cultura do Paulista. "Ele funcionava precariamente porque nós não tínhamos outro espaço para espetáculos. Não tinha uma boa iluminação, os atores que traziam os seus equipamentos. Nos anos anteriores ao fechamento, o movimento era fraco porque nunca tivemos apoio da Prefeitura, nem que fosse para a divulgação".


Em 2018, a Prefeitura do Paulista chegou a afirmar que realizaria um reforma com custo de R$ 270 mil e prazo para finalização em 180 dias. Também prometeram achar um novo local para o TRE. Em 2020, após um novo ato pela reforma, o então Secretário de Esportes e Cultura, Jorge Rocha, informou que o atraso da conclusão da obra se deu por problemas da empresa contratada. No entanto, as imagens registradas em maio de 2021 mostram que nada foi feito.


Confira a nota da Prefeitura do Paulista na íntegra:


A Prefeitura da Cidade do Paulista, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Juventude e Esportes, informa que o Centro Cultural Ariano Suassuna não será um apagamento do passado, pois a ideia é enaltecer a classe artística, apresentando uma melhor estrutura e deixando todos cientes que o CineTeatro Paulo Freire não é tombado. Com isso, o prédio pode, mediante engenharia, ter mudanças em sua estrutura, para garantir a segurança dos artistas e também da população, a exemplo das paredes e tetos do CineTeatro.


A gestão atual apresentou em audiência pública, a priori, a ideia de um projeto que integra o teatro, o cinema, a música, o artesanato e a arte em geral para a revitalização do CineTeatro Paulo Freire e sua ampliação estrutural. A ideia, porém, ainda está em discussão com a classe artística.

    

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