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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Francesca Chaouqui, a mulher que traiu o papa Francisco

AFP Na Cidade do Vaticano 03/11/2015

Vincenzo Pinto/AFP
Francesca Chaouqui

A jovem laica Francesca Chaouqui, especialista em relações públicas, bela e sedutora, é a mulher que traiu o papa Francisco ao vazar informações e conversas confidenciais do pontífice no Vaticano.

A italiana, de 33 anos e de origem marroquina, era uma espécie de agente duplo, especialista em marketing, que após sua prisão na semana passada por ordem da procuradoria do Vaticano decidiu confessar tudo o que sabia sobre o novo escândalo Vatileaks.

"Eu não traí o papa", escreveu nesta terça-feira (3) em um tuíte, após ser libertada por colaborar com a justiça.

A única mulher nomeada em 2013 pelo pontífice argentino para fazer parte do comitê que estudou por quase um ano a reforma das instituições econômicas e administrativas da Santa Sé, conhece muitos segredos de uma das questões mais sensíveis para a Igreja: o uso de enormes somas de dinheiro que recebe e que transitam pelo banco do Vaticano.

Chaouqui foi acusada, juntamente com o padre espanhol Lucio Anjo Vallejo Balda, de ter roubado documentos confidenciais do Vaticano, um delito que o Estado pune com até oito anos de prisão.

"Tudo o que fiz foi tentar detê-lo", justificou-se em entrevista ao jornal italiano "La Stampa". "Não tenho nada a ver com corvos, vou provar minha inocência. Estou tranquila, me sinto bem com a minha consciência. Eu só disse a verdade a quem está investigando o vazamento de documentos na Cúria", acrescentou Chaouqui.

Documentos roubados, informações rackeadas de computadores e, especialmente, a gravação de conversas com o papa fazem parte da documentação que irá aparecer em dois livros que serão colocados à venda esta semana em todo o mundo e em várias línguas.

Segundo antecipações da imprensa, os dois livros revelam as dificuldades que o papa argentino encontrou para reformar as estruturas da Cúria Romana e também denunciam o desperdício e a falta de ética na gestão do dinheiro da Santa Sé.

Eles também apontam contra o banco do Vaticano, por seus negócios obscuros, apesar das mudanças e inspeções ordenadas por Francisco desde o início de seu pontificado, em março de 2013.

De acordo com as conversas transcritas no livro "Via Crucis" de Gianluigi Nuzzi, Francisco comenta que "se não sabemos como cuidar do dinheiro, algo que se pode ver, como podemos cuidar das almas dos fiéis, que não vemos?"

Em outro capítulo, o papa diz a um grupo de colaboradores que os custos de gestão da Cúria estão fora de controle.

Especialistas em assuntos do Vaticano argumentam que o vazamento de documentos confidenciais pode ter sido motivado por ambições frustradas.

Nem Vallejo Balda, de 54 anos, próximo ao Opus Dei, nem Chaouqui, conseguiram como desejado uma promoção após a consultoria prestada.

Para alguns observadores, o escândalo também denota a luta interna entre grupos de poder --Opus Dei, jesuítas e setores ultraconservadores-- que não toleraram a chegada do pontífice argentino, sem experiência no manuseio delicado da Cúria Romana e comprometido com a implementação da austeridade, eliminando posições e cargos.



Finanças do Vaticano são alvo de novo escândalo do VatileaksCOMENTE
AFP03/11/2015


Roma, 3 Nov 2015 (AFP) - As obscuras finanças do Vaticano, marcadas pelo desperdício e pela má gestão das doações para a caridade, são alvo do novo escândalo do Vatileaks com as revelações sobre a estagnação das reformas impulsionadas pelo papa Francisco.

Dois livros, com documentos reservados, aportados pelo padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e pela laica italiana Francesca Chaouqui, acusados e detidos pelo Vaticano no último fim de semana por roubo de textos confidenciais, denunciam os grandes males da Cúria Romana.

Os livros, que serão publicados nesta semana, são "Avaricia" de Emiliano Fittipaldi, da revista L'Espresso, e "Via Crucis", de Gianluigi Nuzzi, jornalista do grupo de televisão Mediaset.

Segundo Fittipaldi, o Vaticano emprega os recursos de doações para os pobres em sua administração central.

De acordo com a imprensa italiana, os livros revelam sobretudo a forte oposição interna às reformas financeiras do papa Francisco.

Neles se denunciam as irregularidades atávicas que por décadas foram cometidas com as finanças do Vaticano, como o desvio de 400 milhões de euros do "Óbolo de São Pedro", com doações provenientes de todo o mundo, para a Cúria Romana, ou seja, a gestão da máquina.

Vários cardeais, inclusive aposentados, residem em luxuosos apartamentos às custas da Cúria Romana, afirma Gianluigi Nuzzi, autor de "Via Crucis", escrito com base em roubados do escritório do papa Bento XVI e que marcou o final daquele pontificado.

"Francisco deve saber", escreve e repete no prólogo do livro "Avaricia" Emiliano Fittipaldi.

"Você tem que escrever um livro. Francisco deve saber que a fundação Menino Jesus, que recebe doações para as crianças doentes, pagou a milionária restauração do apartamento do cardeal Tarcisio Bertone (...), que as fundações em nome do papa Ratzinger e do papa Wojtyla mantêm mais de 15 milhões em seus cofres (...) deve saber que o Banco Vaticano não foi limpo", escreve no prólogo Fittipaldi, com a transcrição da conversa com uma de suas fontes dentro do Vaticano.

Para Nuzzi, a má gestão das finanças vaticanas geraram "perdas por diferenças no inventário" e "rombos" de até 700.000 euros no balanço do supermercado do Vaticano e de 300.000 euros no da farmácia vaticana.

Ajudar o papaNuzzi disse ainda que o papa presidiu uma reunião a portas fechadas em 2013, lamentando que "os custos estão fora de controle", após indicar um aumento de 30% do número de funcionários em 5 anos.

Segundo ele, tanto Vallejo como Chaouqui, suas "fontes", queriam "ajudar o papa" com a publicação dos documentos aos que tiveram acesso, como os especialistas da Comissão encarregada de estudar as reformas econômicas da Santa Sé.

"Não é uma maneira de ajudar a missão do Papa", advertiu na segunda-feira o Vaticano, que os considera "traidores" e ameaçou denunciá-los inclusive penalmente se for o caso.

"Este trabalho começou há um ano e baseia em informação verificada", garantiu Fittipaldi.

"Entendo que o Vaticano esteja preocupado (...). A investigação revela a distância entre a posição do papa e o funcionamento real", comentou o jornalista.

Os livros citam e-mails, atas de reuniões, conversas privadas gravadas e notas que demonstram o excesso de burocracia, a má gestão, o desperdício, os fastos milionários com aluguéis.

"A reforma prometida por Francisco tem sido feita lentamente, não puderam completá-la em um ano", explicou Fittipaldi.

Desde o início do seu pontificado, Francisco critica em público a Curia Romana, que para ele é um centro de "intrigas, fofocas panelinhas com ambições de fazer carreira".

No passado, durante as celebrações do Natal, o pontífice descreveu as "15 doenças da Cúria", entre elas o "Alzheimer espiritual".

Para o vaticanista Marco Politi, o escândalo que afeta Francisco, denominado Vatileaks II pela imprensa, é muito diferente do que terminou com a renúncia de Bento XVI.

"No primeiro, surgia com clareza a luta pelo poder interno entre castas e personalidades, diante de um papado frágil como o de Bento XVI", assegurou o especialista.

Desta vez, com documentos que saem de um escritório especializado na reforma da cúria e não do escritório do papa, o golpe parece menos contundente.

"Para mim mais parecem manobras para impedir as reformas de Francisco", afirmou Politi.
http://noticias.uol.com.br/

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