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domingo, 2 de agosto de 2015

Brasil tem déficit primário recorde para junho e, em 12 meses, maior rombo histórico

sexta-feira, 31 de julho de 2015
 Sede do Banco Central, em Brasília.   15/01/2014  REUTERS/Ueslei Marcelino
Por Marcela Ayres e Flavia Bohone

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O setor público brasileiro registrou déficit primário de 9,323 bilhões de reais em junho, pior marca histórica para o mês, acumulando em 12 meses rombo recorde equivalente a 0,80 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), números que ressaltam as dificuldades do governo em equilibrar as contas públicas.

Apesar do resultado ruim, economistas acreditam que o governo ainda consegue cumprir a nova meta de superávit primário para este ano, equivalente a 0,15 por cento do PIB.

"Com o que já foi divulgado até agora é possível atingir a meta deste ano", disse o economista-chefe do BESI Brasil, Jankiel Santos, para quem os cortes adicionais anunciados pelo governo ajudam nesta conta.

O resultado negativo do mês passado veio sobretudo do governo central (governo federal, Banco Central e Previdência), com saldo negativo de 8,566 bilhões de reais no mês, informou o BC nesta sexta-feira, em meio à fraca arrecadação por conta da cambaleante economia.

Empresas estatais tiveram contribuição negativa de 813 milhões de reais, enquanto governos regionais (Estados e municípios) conseguiram ligeiro superávit de 56 milhões de reais no mês.

O déficit primário de junho veio muito abaixo das projeções de analistas, cuja mediana apontava para saldo negativo de 2,0 bilhões de reais em pesquisa da Reuters.

"A despeito das medidas adotadas tanto no âmbito da recuperação de receitas como contenção de despesas desde o início do ano, há impacto significativo da atividade econômica sobre a arrecadação", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.

Na última semana, o governo reduziu a meta de economia para pagamento de juros da dívida deste ano a 8,747 bilhões de reais, equivalente a 0,15 por cento do PIB, contra 1,1 por cento do PIB previsto até então. Também anunciou corte adicional de gastos de 8,6 bilhões de reais. A equipe econômica também deixou em aberto a possibilidade de fechar o ano com déficit primário de mais de 17 bilhões de reais caso não consiga obter algumas receitas com as quais conta e que basicamente dependem da aprovação do Congresso Nacional, em meio à intensa batalha política entre o Executivo e o Legislativo.

"A meta (deste ano) ainda não está perdida", disse o diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, mas ressaltando que o governo terá de fazer esforços adicionais para buscar a meta de 2016, equivalente a 0,7 por cento do PIB.

O BC informou ainda que, no acumulado do primeiro semestre, o resultado primário ficou positivo em 16,224 bilhões de reais, também pior resultado para o período na série iniciada em dezembro de 2001. O número foi fundamentalmente impulsionado pelo desempenho de Estados e municípios, mas bem inferior ao patamar de 29,380 bilhões de reais de igual etapa de 2014.

A fraca economia, que deve encolher pouco menos de 2 por cento neste ano, tem abalado a arrecadação que, em junho, recuou quase 2,5 por cento. Nos primeiros seis meses do ano, esse recolhimento caiu 2,87 por cento.

DÍVIDA

Em junho, a dívida bruta alcançou 63,0 por cento do PIB, acima da projeção do BC de que ficaria em 62,4 por cento e mantendo trajetória de alta. A relação era de 58,9 por cento em dezembro de 2014.

Ao reduzir as metas fiscais, o governo também traçou uma trajetória para a dívida pública do país que não convenceu o mercado e especialistas de modo geral. Passou a prever que a relação dívida bruta/PIB --importante indicador monitorado pelas agências de classificação de risco-- fechará este ano a 64,7 por cento, indo a 66,4 por cento em 2016 e 66,3 por cento em 2017. Para 2018, a vê em 65,6 por cento.

Para julho, a estimativa do BC é que a dívida bruta ficará em 63,50 por cento do PIB. Para a dívida líquida, estima em 34,10 por cento do PIB.

Nesta semana, a agência de classificação de risco Standard & Poor's sinalizou que pode tirar o selo de bom pagador do Brasil, em meio ao cenário fiscal ruim e político conturbado, abalado pelas denúncias de corrupção dentro da operação Lava Jato.


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