Preso, tesoureiro do PT é apontado como operador de esquema de corrupção na Petrobras
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em depoimento na CPI da Petrobras.
REUTERS/Ueslei Marcelino
Por Sergio Spagnuolo
CURITIBA (Reuters) - O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso nesta quarta-feira no âmbito da operação Lava Jato, foi apontado como um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, em meio a acusações de delatores e indícios de pagamentos de propina e lavagem de dinheiro, de acordo com investigadores.
Vaccari foi preso em casa na capital paulista, em caráter preventivo, na manhã desta quarta como parte da 12ª etapa da operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e partidos políticos. Ele foi encaminhado à Polícia Federal de Curitiba, onde estão concentradas as investigações da Lava Jato.
“João Vaccari já vem sendo investigado há muito tempo, já temos indicações de doações para oficiais que escondem operações de lavagem de dinheiro, operações relativas a valores da corrupção na Petrobras, e nós verificamos que ele tem uma trajetória desse tipo de operação desde 2004”, disse o procurador regional da República Carlos Fernando Lima a jornalistas.
Segundo o delegado regional de combate ao crime organizado Igor Romário de Paula, há diversas indicações sobre a atuação dele no esquema. “Vaccari já vem sendo mencionado nas delações de cinco delatores diferentes, (e) há material apreendido contundente demonstrando a responsabilidade dele.”
Os delatores que apontaram para Vaccari são o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, o doleiro Alberto Youssef e os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça, da Toyo Setal, investigada na Lava Jato.
Além dos depoimentos, também foi identificado um pagamento de mais de 1,5 milhão de reais, feito por Mendonça a pedido de Vaccari, a uma gráfica em São Paulo sem que houvesse prestação de serviço. Há fortes indícios de que o dinheiro tenha sido destinado para propinas, sob orientação de Vaccari, segundo os investigadores.
“O serviço nunca foi prestado da forma como foi contratado, e para a investigação fica claro que foi feito para quitar um pagamento de propina”, disse o delegado da PF.
A Editora Gráfica Atitude, segundo a PF, tem histórico de prestação de serviços para campanhas políticas. PAPEL DE OPERADOR
O papel de Vaccari no escândalo de corrupção da Petrobras era de operador, atuando junto à diretoria de Serviços da estatal, cujo diretor era Renato Duque, que também está preso, de acordo com os investigadores. “Acho que hoje não há mais dúvida quanto a isso”, disse o delegado Romário de Paula.
O procurador Lima comparou a atuação de Vaccari com a do doleiro Youssef, apontado como um dos maiores operadores do esquema de corrupção na estatal.
“A posição de João Vaccari é muito semelhante à (do doleiro) Alberto Youssef, no sentido de que ele aparece como um operador, um representante de um esquema político partidário dentro da Petrobras”, disse o procurador.
O Ministério Público Federal solicitou à Justiça a quebra de sigilo bancário de Vaccari, segundo a PF.
Vaccari responde a processo relacionado à Lava Jato sob acusação de receber doações para o PT oriundas de propinas pagas por empreiteiras para a obtenção de contratos com a Petrobras. Segundo o MPF, o tesoureiro do PT tinha conhecimento da origem ilícita das doações.
Vaccari e o PT negam as acusações. O partido convocou uma reunião de emergência em São Paulo nesta tarde após a prisão.
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse nesta quarta-feira que a prisão do tesoureiro não aumenta a pressão sobre o governo da presidente Dilma Rousseff e também não justifica a saída dele da Secretaria de Finanças do partido. Em depoimento à CPI da Petrobras na semana passada, Vaccari negou ter tratado das finanças do partido com executivos da Petrobras investigados no caso de corrupção na estatal, além de afirmar mais de uma vez que não cuidou da parte financeira da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Além da atual investigação, pesa contra ele o fato de ser réu em uma ação penal no Estado de São Paulo por crime contra o sistema financeiro e crime de corrupção, na época em que atuava como presidente da Cooperativa dos Bancários de São Paulo (Bancoop).
“A característica de reiteração criminosa dele é bem clara, até em tom de desafio às instituições”, afirmou o delegado da PF. A prisão preventiva do tesoureiro também teve como fundamento prevenir o perigo de ele “se evadir à aplicação de uma condenação”.
FAMILIARES
O caso contra Vaccari também atingiu alguns de seus familiares, como a mulher, Giselda Rose de Lima, a cunhada Marice Rose de Lima e até sua filha.
“São operações fragmentadas, típicas de lavagem de dinheiro para ocultar a origem dos pagamentos, que não foram justificadas e que demonstram enriquecimento provavelmente ilícito”, disse o delegado Romário de Paula.
Giselda, que teve pedido de prisão coercitiva decretado, prestou depoimento em casa e não foi encaminhada para a polícia. Investigadores dizem que ela recebeu depósitos bancários “significativos”, somando mais de 300 mil reais em três anos.
Marice teve mandado de prisão temporária decretado, mas ainda não foi localizada pela PF. Ela já vinha sendo investigada “por operar junto do João Vaccari em operações de doações partidárias ilegais e operações financeiras relativas a Petrobras”, segundo a polícia
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