"Cristo crucificado entre dois ladrões", pintura de Peter Paul Rubens [Public domain], via Wikimedia Commons
Crucificação de Jesus Cristo
Por Ana Lucia Santana
O período que antecede a morte de Jesus na Cruz é conhecido como Paixão. Nestes instantes ele verte sobre a Humanidade seu sacrifício maior, em corpo e alma, talvez mais no sentido espiritual do que físico, ao perceber a incompreensão daqueles a quem veio salvar de seus pecados. Os ensinamentos de Jesus não foram bem recebidos pela hierarquia judaica, principalmente pelos sacerdotes do Templo, em grande parte fariseus, pois suas pregações contrariavam profundamente seus interesses. Um exemplo disso é o incidente ocorrido no Templo de Jerusalém, na época da Páscoa.
Era costume dos judeus realizar oferendas a Deus durante as celebrações pascais. Estas ofertas incluíam basicamente animais ou dinheiro. Parte delas era incinerada em louvor ao Pai, a outra era repartida entre os sacerdotes e os pobres. Muitos adquiriam suas oblações na entrada do templo, além de realizar operações de câmbio, trocando moedas gregas e romanas por judaicas. Isto significa que um lugar considerado sagrado, um símbolo hebraico, estava sendo profanado por intensas transações comerciais. Obviamente os religiosos lucravam com essas negociações. Jesus protestou contra esse estado de coisas, denunciando a corrupção sacerdotal. Seu gesto atingiu em cheio esta classe, desencadeando a partir deste momento uma maior perseguição e praticamente assinando sua sentença de morte, pois seus inimigos, que eram muitos, não descansariam até vê-lo pretensamente eliminado.
Antes de sua prisão, Jesus fez uma entrada vitoriosa em Jerusalém, sendo bem recepcionado pelo povo, que revestia seu caminho com panos e ramos de palmeira, e realizou a Última Ceia. Neste momento histórico ele prepara seus apóstolos para os futuros acontecimentos, reparte entre todos o pão e o vinho, deixando seu gesto de humildade e comunhão como herança para a Humanidade. É durante este ritual também que ele demonstra conhecer as intenções de Judas e lhe sinaliza que deve seguir adiante com seus propósitos. Na mesma noite Jesus vai para o Getsêmani, um jardim no Monte das Oliveiras, diante do Templo. Nesse instante começa sua agonia, quando ao orar a Deus ele transpira suor e sangue. Segundo o médico C. Trunan Davis, este sintoma é raro, mas pode ocorrer, em decorrência de um forte stress, que provoca um rompimento das glândulas sudoríparas, unindo o sangue ao suor. As conseqüências são fraqueza, choque e até hipotermia.
Neste local Jesus é preso, denunciado por Judas Iscariotes com um beijo. Segundo alguns, a sua prisão teria sido ilegal, pois durante as festividades da Páscoa, o Sinédrio – corte judaica – não podia se reunir e também não era permitido condenar ninguém ao longo da noite. Por este motivo o Mestre foi levado para a residência do Sumo Sacerdote. Sexta-feira pela manhã, Cristo foi conduzido até Pôncio Pilatos, governador da Judéia. A princípio, este o transferiu para Herodes Antipas, governante da Galiléia, pois Jesus era Galileu, mas ninguém queria ser diretamente responsável por sua condenação, então Ele voltou a ser enviado para Pilatos, que diante dos acontecimentos lavou suas mãos, ato que entrou para a História, e permitiu que o povo escolhesse entre Jesus e Barrabás qual seria o prisioneiro a ser libertado, tradição durante a Páscoa judaica. A multidão então condenou Jesus, deixando Pilatos sem saída, e assim foi decretado que Cristo morreria na cruz, pena comum entre os romanos.
A crucificação era inicialmente restrita aos escravos. Este tipo de execução tinha como objetivo incutir no prisioneiro vergonha e dor, e provocava profundo horror entre as pessoas. Ela tinha início com a flagelação do pretenso criminoso despido de suas vestes. Os soldados pregavam pregos e tudo que pudesse intensificar a tortura no azorrague - instrumento de tortura utilizado na Roma Antiga, composto de elementos cortantes - e muitos não resistiam ao açoitamento, não passando, portanto, desta primeira etapa. Jesus foi submetido a cada estágio desta condenação, o tempo todo humilhado, com uma coroa de espinhos improvisada na cabeça, o que provocava intensa dor e fortes sangramentos; na mão lhe colocaram um cetro de bambu, tudo aludindo à sua realeza, que foi interpretada como um reinado terreno, material. Ele suportou pancadas e zombarias, cuspiram nele e o obrigaram a levar sua própria cruz até o Monte Gólgota – que significa ‘Calvário’ -, onde seria crucificado. Esta caminhada representa o seu Calvário e, simbolicamente, o de toda a Humanidade.
Quando Jesus parece perder as forças, os soldados forçam um homem chamado Simão Cireneu a carregar este fardo ao longo de um trecho da jornada. O Messias chega ao seu destino, e no alto de sua cruz um dizer latino está inscrito INRI – Iesus Nazarenus Rex Iudeorum, Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, reproduzido em grego e hebraico. Ela foi posicionada entre outras duas cruzes, nas quais estavam sendo executados dois ladrões. Os soldados ofereceram vinho e mirra para amenizar as dores de Jesus, mas ele não aceitou. O Mestre morreu três horas depois, sob intenso sofrimento físico, sem poder respirar, com terríveis cãibras por todos os seus músculos, em conseqüência da posição de seus braços; só consegue recuperar o fôlego por alguns momentos, quando pronuncia suas frases famosas na Cruz, pedindo a Deus que perdoe seus ofensores, pois não sabem o que fazem, e perguntando ao Criador porque o abandonou, mas logo depois se entregando incondicionalmente em Suas Mãos. A elite hebraica conseguiu matar o homem, mas não logrou eliminar seus pensamentos e ensinamentos, que se perpetuaram ao longo de milênios e resistem até hoje, apesar de todas as intempéries do caminho.
InfoEscola
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