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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Conferência de paz sobre Síria mostra divisões sobre destino de Assad


Conferência de paz sobre Síria mostra divisões sobre destino de Assad

Por Gabriela Baczynska e Stephanie Nebehay

MONTREUX, Suíça, 22 Jan (Reuters) - O governo e a oposição da Síria, que se reuniram pela primeira vez nesta quarta-feira, demonstraram hostilidade mútua, mas um mediador da Organização das Nações Unidas (ONU) disse que as partes podem estar prontas para discutir trocas de prisioneiros, cessar-fogos locais e ajuda humanitária.

A Rússia afirmou que as delegações sírias rivais prometeram se reunir a partir de sexta-feira para negociações diretas, apesar dos temores de que um impasse na reunião em Montreux sobre o destino do presidente Bashar al-Assad possa dificultar uma solução política para a guerra civil na Síria, que já matou mais de 130.000 pessoas e deixou milhões de desabrigados.

Mesmo que os lados estejam dispostos a negociar sobre medidas limitadas para construção de confiança, as expectativas para o processo de paz permanecem baixas, com uma solução geral ainda distante para a guerra que já dura quase três anos.

Autoridades ocidentais se disseram surpresas com o tom combativo adotado pelo ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, que chegou a resistir ao pedido do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, para encurtar a sua fala. Alguns diplomatas têm dúvidas sobre a possibilidade de as negociações saírem do ponto em que estão.

No entanto, o mediador internacional Lakhdar Brahimi sinalizou que ambos os lados estavam prontos para ir além da retórica. "Nós tivemos algumas indicações bastante claras de que as partes estão dispostas a discutir questões de acesso a pessoas carentes, a libertação de prisioneiros e cessar-fogos locais", disse ele em entrevista coletiva.

Ban também disse a repórteres que pediu ao governo sírio que libertasse os presos como medida de construção de confiança.

A Rússia, que organizou a conferência de Montreux em conjunto com os Estados Unidos, disse que as delegações rivais sírias concordaram em se reunir a partir de sexta-feira para negociações diretas que devem durar sete dias.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, minimizou as recriminações desta quarta-feira, quando a oposição exigiu que Assad entregasse o poder - uma demanda rejeitada por Moualem, que por sua vez descreveu as atrocidades cometidas por rebeldes "terroristas". "Pela primeira vez em três anos do sangrento conflito... os lados... concordaram em se sentar à mesa de negociações ", disse ele a jornalistas.

Lavrov, que disse ter conversado nesta quarta-feira com Moualem e o líder da oposição síria, Ahmed Jarba, exortou a oposição e seus apoiadores estrangeiros a não se concentrarem exclusivamente na mudança de liderança em Damasco.

A reunião desta quarta-feira em um hotel de Montreux expôs diferentes pontos de vista sobre forçar a saída de Assad, tanto entre o governo e a oposição, como entre potências estrangeiras que temem que o conflito esteja se espalhando para além da Síria e encorajando a militância sectária no exterior.

O opositor Jarba acusou o presidente de cometer crimes de guerra ao estilo nazista e exigiu durante o encontro de um dia em Montreux, na Suíça, que a delegação do governo sírio participe de um plano internacional para a entrega do poder.

O chanceler sírio insistiu que Assad não vai ceder às demandas externas e descreveu em sua fala atrocidades de rebeldes "terroristas" apoiados por estados árabes e ocidentais, países que estavam presentes no local.

"A esperança existe, mas é frágil. Devemos continuar porque a solução para este conflito sírio terrível é política e a continuidade das discussões depende de nós", disse o chanceler francês, Laurent Fabius. "Obviamente, quando ouvimos o representante de Bashar al-Assad, cujo tom é radicalmente diferente, sabemos que vai ser difícil."

Moualem pediu às potências internacionais que parem de "apoiar o terrorismo" e que suspendam as sanções contra Damasco.

Referindo-se aos atos dos rebeldes, ele disse: "Na Síria, os ventres das mulheres grávidas são cortados, os fetos são mortos. Mulheres são estupradas, vivas ou mortas... Homens são assassinados na frente de seus filhos em nome da revolução".

Ele insistiu que o futuro de Assad não estava em jogo, dizendo: "Ninguém neste mundo tem o direito de retirar a legitimidade de um presidente ou de um governo... além dos próprios sírios".O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, ecoou a visão dos rebeldes de que não há forma de Assad permanecer no poder sob os termos do acordo internacional de 2012, que defende uma coalizão provisória. No entanto, Lavrov condenou "interpretações unilaterais" do acordo.

A Arábia Saudita, que dá apoio aos rebeldes sunitas, defendeu que o Irã e o grupo xiita Hezbollah tirassem as suas forças da Síria. Os iranianos não compareceram ao encontro, vetados pela oposição síria e pelo Ocidente. O presidente iraniano disse que a exclusão significava que o diálogo provavelmente não teria êxito.

A conferência não conseguiu criar grandes expectativas, particularmente entre os rebeldes islâmicos, que consideram traidores os líderes da oposição que participam do encontro.

CRISE HUMANITÁRIA

O secretário-geral das Nações Unidas iniciou o encontro pedindo o acesso imediato para os comboios com ajuda humanitária para as áreas sob cerco.

"Depois de quase três dolorosos anos de conflito e sofrimento na Síria, hoje é um dia de esperança frágil, mas real", disse Ban, condenando abusos generalizados de direitos humanos. "Há grandes desafios à frente, mas eles não são insuperáveis."

No entanto, não houve sinais de que poderia haver um entendimento sobre o tema central: a permanência de Assad ou um governo de unidade nacional.

O próprio Assad disse que poderia buscar a reeleição no fim do ano. O destino do presidente divide Moscou e Washington. Ambos endossam as conclusões da reunião de 2012, conhecida como Genebra 1, mas divergem se elas significam que Assad deve sair agora.

Jarba pediu aos representantes do governo que se voltassem contra seu presidente antes do início da conferência Genebra 2."Queremos ter certeza de que temos um aliado nesta sala que passe de uma delegação de Bashar al-Assad a uma delegação livre para que todos os poderes executivos sejam retirados de Bashar al-Assad", acrescentou o líder da Coalizão Nacional.

"A minha pergunta é clara. Será que temos um aliado nesta sala?"

(Reportagem adicional de Tom Miles, Dominic Evans, Samia Nakhoul, John Irish, Lesley Wroughton e Johnny Cotton, em Montreux; de Guy Faulconbridge, em Londres; de Laila Bassam e Paris Hafezi em Ancara; e de Alexander Dziadosz, Oliver Holmes e Stephen Kalin, em Beirute)

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