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terça-feira, 21 de março de 2023

“Rule by the rich is not democracy” Seen in Dublin, Ireland @ Radical Graffiti/ “Governo dos ricos não é democracia” Visto em Dublin, Irlanda


 “Rule by the rich is not democracy”        

Seen in Dublin, Ireland 

@ Radical Graffiti

“Governo dos ricos não é democracia”

Visto em Dublin, Irlanda


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro


 Imagem: Laerte


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro

 17 de novembro de 2020  Brasil, Destaque Combate Racismo Ambiental

Como pode Bolsonaro dizer tudo o que diz e continuar impune e ainda continuar dizendo?


No A Terra é Redonda

“Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas” (Dante, Divina Comédia, Inferno, Canto 3).


“Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta” (Inscrição tenebrosamente irônica no Portão de Auschwitz)


Mas a sentença mais importante para compreender o lado perverso da racionalidade moderna está inscrita no Portão de Buchenwald: “Jedem das Seine”, que pode ser entendida como “cada um recebe o que merece”.

Direitos Reservados: https://racismoambiental.net.br/2020/11/17/a-geopolitica-do-medo-por-tarso-genro/


A última fala do Presidente Bolsonaro, que será recebida com indignação passageira até a próxima mais violenta, encerra toda a lógica nazifascista acima exposta, de Dante sobre as portas do inferno e do nazismo, nas portas dos Campos: não sejam “maricas” (fracos) todos vamos morrer, não é certo lutar pela vida nestas circunstâncias. Jovens, crianças, idosos -todos- abandonem toda a esperança! Estamos chegando nas portas do inferno e eu sou seu demônio falante – sem medo e sem limites- e assim trato os covardes que me ouvem, que estão entre os que me trouxeram até aqui e os que escolheram ou não puderam resistir aos meus apelos. Com a minha fala alucinada desafio, parece dizer o Presidente – ao contrário de Marx que dizia que “nada do que que é humano me é estranho”- nada do que nos leva à portas do inferno pode ser rejeitado.


Na História do heroísmo, da resistência e da capacidade humana de enfrentar fogo contra fogo, – além de Stalingrado, da Resistência Francesa e dos Partisans italianos (além dos milhões de anônimos que morreram na Guerra contra o Nazismo)- está a desigual Insurreição do Gueto de Varsóvia. Ali foi o lugar onde 1.500 prisioneiros, judeus comunistas, sionistas, socialistas e democratas libertários, escolheram -entre ir para Treblinka ou morrer lutando- ser a vanguarda da dignidade humana. Poemas, canções, romances e ensaios, já celebraram as lutas da racionalidade moderna contra o seu fluxo de razão perversa. Os donos desta face da razão sempre assassinaram sem piedade, a partir da capacidade de arbitrar “que cada um recebe… o que merece”, seja lutando ou aceitando passivamente o seu destino.


Como pode Bolsonaro dizer tudo isso e continuar impune e ainda continuar dizendo? Suponho que se trata da crise radical da democracia liberal, que passa a ser tutelada – na crise ambiental, sanitária e econômica do capital – não mais pela razão de Estado, na qual cabia a democracia política, mas dirigida pelo mito engendrado pelo lado mais forte da racionalidade capitalista. Este vem com alguém que possa deixar de lado as instituições que criou, para que os ricos e super-ricos se vejam em outro espelho: não mais na face de um Churchill ou de um Truman, mas na face diabólica de quem tenha suficiente paixão pelo mal, para dizer quem deve viver e quem deve morrer.


Neste quadro histórico mórbido se digladiam dois discursos: o da velha razão moderna do direito democrático, que a sociedade fragmentada não mais entende porque lida com as questões imediatas da vida e da morte; e o discurso das portas do inferno, que oferece a morte para todos, mas -atenção!-  deixa claro que a maioria pode se salvar porque naturalmente –nos portões do inferno- só os “maricas” (os fracos) passarão em direção à morte, o resto sobreviverá fantasiando suas identidades juntos aos que serão apontados como fortes.


Não acredito na sentença taxativa de Borges, pela qual afirma que “todas as histórias estariam nuns poucos livros: na Bíblia, na Odisseia, no Martin  Fierro”. Trata-se – a fórmula – de mais um dos seus aforismos geniais, nos quais a literatura suprime a filosofia e o gosto pela metáfora esconde um certo deboche irracionalista, próprio de um grande escritor que jamais se acostumou a viver no presente.


Talvez “todas as histórias” estejam mais perto de cada “conjunto de músicas” ou de poesias – de cada época – do que nos livros apontados por Borges. A canção, que se ergue num palco de luzes e cores faiscantes também faz dançar multidões, mas é diferente daquela sussurrada num bar do Harlem. Ambas, porém carregam o desejo, a morte, a felicidade, o heroísmo dos  pleitos humanos da vida cotidiana de cada pessoa concreta, no som da sua multiplicação infinita.


A letra de Woody Guthrie “This Land is your Land” (1940) respondia à bela e apologética “God Bless América”, de Irving Berlin”. Enquanto Guthrie –com seu violão de inscrições antifascistas – dizia “esta terra é sua terra, esta terra é minha terra (…) esta terra foi feita para você e para mim”, Berlin proclamava: “vamos jurar fidelidade a uma terra que é livre (…) vamos todos ser gratos por uma terra tão justa”.


Frequentavam – Guthrie e Berlin – ambientes diferentes. Pensavam em pessoas, espaços, desertos diferentes. Foram almas marcadas por paisagens de cores fortes – mas diversas – no território da América de então, no mesmo solo dos seus desertos, onde corpos de indígenas, de negros escravizados ao sul, de pobres soterrados na ira das vinhas de Steinbeck, tinham seu nervos, músculos e movimentos dos seus corpos, profanados pelo seu empilhamento nos cofres de Wall Street. Ali, todavia, se erguia uma nação.


Maiakowsky – poeta da Revolução Russa – suicidou-se em plena era Stálin aos 36 anos (1930), tempos depois de ter escrito “comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração”, para  declamar, depois seu sofrimento em versos de sarcasmo: “melhor morrer de vodka que de tédio”. Seu mais reconhecido sucessor – como poeta\político na Rússia Soviética – Eugeny Evtushenko, aos 20 anos tornou-se famoso na década de 50, denunciando Stálin e declamando seus versos em lugares públicos: “lembrar-se-ão de tempos estranhos onde a honestidade mais simples chamava-se coragem”.


Os dois poetas viveram tempos diferentes – ambos difíceis e dramáticos – com as suas vidas colidindo nos duros acontecimentos históricos que marcaram suas biografias. No subsolo da revolução, na resistência à barbárie nazista, nos terríveis processos do stalinismo, na liquidação da velha autocracia czarista, que fazia do povo russo um rebanho de indigentes, todavia, se erguia uma nação.


Rússia e América hoje comungam dos mesmos vícios e padecimentos com governos autoritários, líderes dentro do sistema do capital que exploram a geopolítica do medo e os abusos militaristas no interior de uma “guerra fria”, entre os mais diversos interesses do capital. Na América sobrevive em frangalhos a Constituição da Filadélfia, manipulada por um fascista narcísico, que expande a sua raiva negacionista com o uso da canção “Good Bless America”, para manipular seus eleitores. Este, certamente rejeitaria “This land is your land”, se compreendesse a sua letra. Putin, por seu turno detesta Mayakowsky, embora certamente algum verso de Evtushenko ele possa declamar na Praça Vermelha, para promover o olvido do poeta da verdadeira revolução.


A forma com que as canções, a poesia e a literatura, formavam a opinião e as consciências nas sociedades do Século passado, tem relação com os próprios desígnios da democracia republicana. Como o poder – na democracia – não se concentra num corpo único (tirano, ditador, déspota), mas se realiza num “lugar vazio” (Lefort) que a República instituiu – formalmente –  para ser ocupado pelo voto, sua “fala de poder” é disseminada por aqueles que recebem a delegação  para ocupar o lugar institucional do poder.


O contra-discurso ao discurso do poder instituído, na arte, nos livros, nas canções, na  poesia – emitidos nas instâncias de onde as pessoas se socializam e convivem pela aproximação e pelo dissenso – tem racionalidade, mas é de vôos curtos: ele é coerente, mas vem de um lugar disperso e suas fontes não têm um corpo único para representá-las.


G.A.Cohen, num estudo brilhante da “igualdade como norma”, na sociedade moderna, busca esta racionalidade perdida em várias canções -na arte dos lutadores sociais- como na canção “Buddy, Can you spare a Dime” (“Dê-me um níquel parceiro”). Quando o homem diz, na canção, que “eu uma vez construí uma estrada de ferro e a fiz funcionar, que se erguia até o sol…”, ele justifica que “merece o níquel”, pelo fato de que um dia produziu, não porque agora não tem capacidade de produzir: ele se pensa como “credor”, portanto, não como cidadão abstrato, que deve ter garantida a sua vida só porque existe. Assim se estabelece o ritual do discurso necrófilo de Bolsonaro que diz, em última instância,  “se eu não te devo deves morrer”.


Em fevereiro de 2017 a voz quase metálica de Lady Gaga, num intervalo do Super Bowling, impulsiona o seu corpo produzido para girar, flutuar, nadar no ar e cantar “God Bless America”, numa improvável comunhão com “This Land is your land”. A fusão é evidente e lá está Joe Biden para, através dela, dizer – como velha raposa da democracia imperial — que a América a ser salva é aquela que pode assumir a fusão destes dois destinos, que devem guardar um lugar razoável também para os pobres e deserdados.


Estará no fim esta possibilidade na terra do golpismo de Trump, que desafia a própria América democrática a defender outra democracia, que não a dos bilionários Wall Street? Não sei se está no fim, mas parodiando Castells, no seu já clássico “Ruptura”, “assim como está não vai ficar”. Lady Gaga trouxe essa interrogação já desesperada, para o comício final da campanha Democrata em 2 de novembro de 2020, quando a sua voz se ergueu – como arte voluntária de resistência – para fazer a fusão da América imaginária do “God Bless América”, com a América real dos versos do “This Land is your land”.


Impulsionada pelos jovens, comunidades negras, mulheres lutadoras, imigrantes e intelectualidade democrática e libertária, a democracia claudicante dos Pais Fundadores, agora pode ser levada às Portas do Inferno por Donald Trump. Do outro lado desta porta a civilização é esperada por Hitler e seus assassinos fardados e aqui no Brasil o discurso de Bolsonaro – nesta semana de testes terminais do nosso nojo e da nossa paciência-   já nos convidou para a travessia nos arcos dos seus portões malditos. E nada acontece, no espaço finito da democracia, onde a dignidade das instituições – como disse Mayakowsky – aqui sequer chegou perto dos “tempos estranhos” em que a coragem passou a ser uma virtude coletiva.

*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.


Igualdade de Gênero

O que é ETARISMO e qual seu impacto na vida do idoso?

O que é ETARISMO e qual seu impacto na vida do idoso?

Quem nunca ouviu a frase “Você não tem mais idade para isso!”?

Esse tipo de opinião pode ser classificada como etarismo ou ageísmo, que consiste no preconceito, na intolerância, na discriminação contra pessoas com idade avançada. Nos Estados Unidos, o termo é discutido desde a década de 60 e, na Europa, recentemente novas leis foram criadas contra a discriminação etária na esfera profissional. Infelizmente, no Brasil, o termo ainda é pouco conhecido.

O etarismo no dia a dia

Vagas de emprego são negadas “devido à idade” e até mesmo atividades que proporcionem bem-estar à pessoa – como, por exemplo, matricular-se em uma academia – são vistas como não adequadas. Até mesmo o simples fato de a pessoa não querer expor a idade demonstra isso.

Este mês, a cantora Madonna, de 62 anos, foi vítima de etarismo após publicar um vídeo sobre a hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19 em uma rede social, sendo chamada de “velha” e “gagá” por disseminar notícias falsas. O vídeo foi excluído. O preconceito ficou.

O estereótipo de que a idade é um empecilho afeta consideravelmente a vida das pessoas, fazendo com que ela sofra e se afaste do convívio social, ficando mais deprimida e deixando até mesmo de cuidar de sua saúde.

Mas essa não é a maneira correta de pensar e precisamos colocar esse tema em discussão. Negar o envelhecimento de outras pessoas, discriminando-as por isso, é negar a própria vida, pois todos seguirão pelo mesmo caminho – o do envelhecimento que, aliás, é um privilégio.



Direitos Reservados: https://www.sbgg-sp.com.br/o-que-e-etarismo-e-qual-seu-impacto-na-vida-do-idoso/


 

SIMBOLISMO História das Artes > No Mundo > Arte no Século 19 > Simbolismo


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 Figuras com obras dos pintores Simbolistas

1. Jovens Tatianas com flores de manga, Paul Gaugin

2. A Noite,1890, Ferdinand Hodler

3. Autorretrato com retrato de Gaugin, 1888, Émile Bernard

4. O Balão, 1870, Puvis de Chavannes

5. Jasão, 1865, Gustave Moreau

6. Moça no Trigal,  Eliseu Visconti, 1906


SIMBOLISMO

Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de 1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da “alma das coisas”, que a linguagem poética – mais do que qualquer outra – permite alcançar, por detrás das aparências.


A poesia simbolista, de Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-1898) por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. Do mesmo modo, a força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar expressão visual ao que está oculto por meio da linha e da cor que, menos do que representar diretamente a realidade, exprimem ideias.


Os princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações do poeta Jean Moreás (1856-1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886), e no Tratado do Verbo, escrito no mesmo ano por René Ghil (1862-1925). Nos termos de Moreás, a arte deve ser pensada como fusão de elementos sensoriais e espirituais. Reagindo à sociedade industrial, os simbolistas se refugiam em sua torre de marfim, buscando uma beleza ideal e intocada. Desejando salvar o mundo do seu materialismo extremado, identificam-se com a natureza e a religião (Ocultismo, Espiritismo, Rosa-Cruz), buscando seus temas na Bíblia e na mitologia. Aproximam-se também dos Pré-Rafaelitas ingleses.


É conhecida a frase de Maurice Denis: “Antes de representar um cavalo de batalha, uma mulher nua ou uma anedota qualquer, um quadro é essencialmente uma superfície recoberta de cores dispostas em uma ordem determinada.” A pintura não era cópia da realidade, mas sim a sua transposição mágica, imaginativa e alegórica.


Em 1880, alguns escritores se manifestaram contra a falta de conteúdo espiritual da arte naturalista e a crítica que lhe fizeram depressa chegou às artes plásticas. Criticavam o objetivismo da realidade levado a cabo pelos realistas, impressionistas e pontilhistas. Apontavam uma ausência de profundidade espiritual e de uma ideia fundamental nas suas obras.Basearam-se nos estados emocionais e anímicos, angústias, sonhos e fantasias, afastando a arte da representação da natureza.


É possível compreender o simbolismo como uma reação ao cientificismo que acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século 19. Contra as associações frequentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas sublinham um ideal estético amparado na expressão poética e lírica.


O simbolismo surge paralelamente ao neoimpressionismo de Georges Seurat e de Paul Signac, e se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura visualidade defendida pelo impressionismo. Só que, enquanto Seurat e Signac fundam a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e anticientífica: a arte não representa a realidade mas revela, através de símbolos, uma realidade que escapa à consciência.


Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender valores transcendentes – o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado – que se encontram situados no polo oposto a razão analítica. A arte visa a retomar a paixão, o sonho, a fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis.


O simbolismo, ao contrário, mobiliza um imaginário povoado de símbolos religiosos, de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas, dos temas da doença e da morte. A mulher, tema recorrente das obras simbolistas. Ao mesmo tempo musa, deusa, ninfa, adúltera, cortesã e prostituta. É cisne e serpente. Estes sentimentos contraditórios de sensualidade e ascetismo ganham em suas obras uma carga quase mágica ou hipnótica.


A composição se organiza de modo linear, em primeiro plano, com a composição se fechando em alvéolos ou em escorço. Como não se desenvolveu um estilo uniforme, é difícil dar uma definição que englobe todos os quadros, trata-se por isso de um conjunto de quadros elaborados por indivíduos distintos e de artistas que se demarcaram da pintura objetivista materializando as emoções e estados de alma.


Destacamos os artistas:


Paul Gauguin (1848-1903), depois de passar a infância no Peru, Gauguin voltou com os pais para a França, mais precisamente para Orléans. Em 1887, entrou para a marinha e mais tarde trabalhou na bolsa de valores. Aos 35 anos, tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. Começou assim uma vida de viagens e boemia, que resultou numa produção artística singular e determinante das vanguardas do século 20.


Sua obra, longe de poder ser enquadrada em algum movimento, foi tão singular como a de seus amigos Van Gogh ou Cézanne. Apesar disso, é verdade que teve seguidores e que pode ser considerado o fundador do grupo Nabis, que, mais do que um conceito artístico, representava uma forma de pensar a pintura como filosofia de vida. Suas primeiras obras tentavam captar a simplicidade da vida no campo, algo que ele consegue com a aplicação arbitrária das cores, em oposição a qualquer naturalismo, como demonstra o seu famoso Cristo Amarelo. As cores se estendem planas e puras sobre a superfície, quase decorativamente.


No ano de 1891, o pintor parte para o Taiti, em busca de novos temas, para se libertar dos condicionamentos da Europa. Suas telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas. Quando voltou a Paris, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel, voltou ao Taiti, mas fixou-se definitivamente na ilha Dominique.


Ferdinand Hodler (1853 – 1918) pintor suiço, recebeu aulas do  paisagista Ferdinand Sommer de 1868 a 1871, depois estudou na Escola de Belas Artes de Genebra em companhia do professor de desenho Barthélemy Menn,. Fez várias viagens durante sua juventude. Depois de entrar em contato com o simbolismo que imperava na França, ele definiu seu estilo e temática com alusão metafísica, existencialista e filosófica. Não é em vão, os estados oníricos, o peso da morte, os rituais ou os elementos alegóricos passaram a ser a identidade de sua obra. Consagrado desde 1890 como um dos autores simbolistas, através de sua obra “A Noite”. Uma obra escandalosa para a sociedade suíça da época. Representa o sono como prefiguração da morte, ao seu redor homens e mulheres dormindo abraçados, nos rostos estão representados autorretratos e retratos das mulheres que Hodler teve durante a vida: Augustine Dupin, companheira sentimental e mãe de seu filho, e Bertha Stucki, esposa de um curto e cansativo casamento, mas o presidente da Câmara de Genebra não conseguiu ver além dos corpos nus e excluiu-o da exposição.


Émile Bernard (1868 – 1941) pintor e escritor francês. Manteve amizade com os pintores Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Eugène Boch e Paul Cézanne. O seu trabalho mais notável foi realizado em uma idade jovem, nos anos 1886 a 1897. Ele era associado com Cloisonnisme (Alveolismo) e o Sintetismo, dois movimentos artísticos do século 19. Suas obras literárias, como poesia e críticas de arte, são menos conhecidas. Iniciou seus estudos na Escola de Artes Decorativas. Em 1884 juntou-se ao Atelier Cormon onde ele experimentou com o impressionismo e pontilhismo e fez amizade com outros artistas Louis Anquetin e Henri de Toulouse-Lautrec. Depois de ser suspenso pela Escola de Belas Artes porque demostrava tendências expressivas em suas pinturas, ele visitou Bretanha a pé , onde ele se apaixonou pela paisagem. Em agosto 1886, Bernard conheceu Gauguin em Pont-Aven. Ele acreditava que o seu estilo de arte incentivou consideravelmente no desenvolvimento do estilo maduro de Gauguin.


Puvis de Chavannes (1824-1898) pintor francês. Realizou trabalhos de sucesso com decorações em edifícios públicos na Europa e nos Estados Unidos. Atraiu ao mesmo louvor tempo e críticas ferozes. Sua técnica favorita foi o óleo sobre tela, mas com uma característica que o fez muito especial, que foi a de simular o afresco. Organizava as obras sobre telas de grande formato que logo encobria as paredes. Sus temas eram inspirados na mitologia, história e literatura. As referências clássicas na sua forma de trabalhar foram inspiradas nos artistas que conheceu durante sua viajem para Itália. Se dedicou a simplificar o desenho e a aplicação das cores, trabalhava em grandes superfícies em um mesmo tom, alguns consideram antecipar-se à Paul Gauguin nesse quesito. Suas obras apresentam uma atmosfera de quietude. Parecem visões que vão além do tempo e do espaço.


Gustave Moreau (1826-1898) pintor francês. Começou como pintor realista, posteriormente, sob a influência dos impressionistas e pré-rafaelitas, evoluiu para uma pintura mais romântica e espiritual. Teve aulas de artes pelos mestres Chassériau e Picot em seus respectivos ateliês. Suas obras foram expostas pela primeira vez ao público e à crítica no Salão de 1852. Ele pregava que a inspiração nunca seria encontrada no objeto a ser pintado, pois ela seria única e exclusiva do pintor, ou seja, a obra seria executada a partir do que foi sentido por ele. Seus temas favoritos eram as cenas bíblicas, principalmente a história de Salomé, em moda no final do século 19, e as obras literárias clássicas. Mestre da cor, soube representar mulheres de uma beleza rara com traços de anjo e pele aveludada, cobertas apenas por ousadas transparências. A luz foi utilizada por Moreau para obter essa atmosfera ao mesmo tempo mística e mágica, que caracterizou a pintura simbolista.


SaibaMaisNo Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo. O quadro “Recompensa de São Sebastião”, de Eliseu Visconti, medalha de ouro na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904, é um exemplo da influência simbolista nas artes plásticas do Brasil.


COMO CITAR:

Para citar esta página do História das Artes como fonte de sua pesquisa utilize o texto abaixo:

IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Simbolismo. História das Artes, 2023. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/>. Acesso em 21 Mar 2023. Todos os Direitos reservados: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/

Salvador Dalí, Pintor espanhol


Persistência da Memória (1931)




Jogo Lúgubre (1929)

Salvador Dalí Pintor espanhol

Por Dilva Frazão

Biblioteconomista e professora

Direitos reservados: https://www.ebiografia.com/salvador_dali/

Salvador Dalí (1904-1989) foi um pintor espanhol que se destacou por suas composições insólitas e desconexas. Com seu bigode sinuoso e com disposição para escandalizar foi um grande representante da "Estética Surrealista".

Salvador Domingo Dalí Domènech nasceu em Figueras, Catalunha, Espanha, no dia 11 de maio de 1904. Filho do tabelião Salvador Dalí Cusi e de Felipa Domènech, desde cedo revelou talento para o desenho.

Em 1922 foi levado para Madri para estudar na Escola de Belas-Artes de San Fernando, da qual seria expulso anos depois. Na capital espanhola ele fez amizade com o poeta Frederico Garcia Lorca e com o futuro cineasta Luís Bunuel.

Dalí chamava atenção com um figurino que mostrava sua personalidade excêntrica: com cabelos longos, gravata desproporcionalmente grande e uma capa que ia até os pés. Nessa época, realizava pinturas que passavam do realismo para composições cubistas como o Autorretrato com L’Humanité (1923):

Dalí
Autorretrato (1923)
Em 1925, Salvador Dalí realizou sua primeira mostra individual na Galeria Dalmau, em Barcelona. Entre suas criações da primeira fase destaca-se o quadro Moça à Janela (1925):

Salvador Dalí
Moça à Janela (1925)
Em 1926, Dalí foi expulso da Academia de Artes por se desentender com um professor e declarar que ninguém ali era capaz de avaliá-lo. Nesse mesmo ano, viajou para Paris e se encontrou com Picasso.

Em 1927 se instalou em Paris e tornou-se membro oficial do movimento Surrealista, liderado pelo poeta André Breton, que surgiu como reação ao racionalismo e ao materialismo da sociedade ocidental.

Usar o potencial do subconsciente como fonte de imagens fantásticas e de sonhos era o objetivo do grupo surrealista. Em 1929 volta à Espanha e produziu a tela Jogo Lúgubre (1929):

Dali
Jogo Lúgubre (1929)
Ainda em 1929, Dalí fez sua primeira mostra individual em Paris. Nessa época, conheceu Gala (Helena Ivanovna Diakonova), que entrou em sua vida depois de deixar o poeta Paul Éluard. Gala tornou-se sua companheira e modelo.

Em 1930, Dalí mudou-se com Gala para o sul da França e depois para Cadaqués, na Espanha, onde comprou uma casa.

Em 1931 realizou sua segunda exposição individual, em Paris, na Galeria Pierre Colle. Na mostra, entre outras obras, Dalí apresenta a tela Persistência da Memória (1931), com seus relógios derretendo. A obra, adquirida por um colecionador particular, em 1934, foi doada ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Dali
Persistência da Memória (1931)
Na década de 30, Dalí produziu o melhor de sua obra: telas nas quais pessoas, animais, objetos e paisagens se fundem em composições insólitas. O pintor costumava dizer: “ A diferença entre mim e os surrealistas é que eu sou um surrealista”.

Sua pintura desconexa está bem representada na tela Composição Surrealista com Figuras Invisíveis (1936), onde no centro de uma paisagem desolada, uma cama e uma poltrona surgem vazias, mas conservam os contornos dos corpos ausentes:

Dalí
Composição Surrealista (1936)
Dalí se valia daquilo que batizou de “Método Paranoico-Crítico” na tentativa de representar o fluxo do inconsciente e dos sonhos. Suas estranhas imagens de sonhos foram retratadas tão nítida e realisticamente quanto possível em um modo de pintura que se assemelhava à fotografia em cores.

Em 1938, em uma visita a Londres, Salvador Dalí encontra-se com Sigmund Freud, a quem apresenta o quadro Metamorfose de Narciso (1937). Em 1939, o escritor André Breton o expulsou do grupo surrealista e criou um anagrama com o nome do artista para denunciar seu apetite por dinheiro: “Avida Dollars”.

Dali
Metamorfose de Narciso (1937)
Com o início da Segunda Guerra, Dalí refugiou-se nos Estados Unidos acompanhado de Gala, onde permanecem por oito anos. Em 1941, termina a autobiografia “Vida Secreta de Salvador Dalí”, publicada em 1942.

De volta à Espanha, em 1948, inicia a obra de ampliação de sua casa de Port Lligat. Em 1949, pinta a primeira versão da obra A Madona de Port Lligat, que é apresentada ao papa Pio XII, para aprovação.

Dalí
Madona de Port Lligat (1950)
Na década de 50, Salvador Dalí deu início a uma fase inspirada em obras-primas de pintores do passado, entre elas, A Cabeça Rafaelesca, e A Última Ceia:

Salvador Dalí
Cabela Rafaelesca (1951)
Salvador Dalí
A Última Ceia (1955)
Posteriormente, Dali alternou a pintura com o desenho de joias e ilustrações de livros. Em 1974 foi inaugurado em Figueras o Museu Dalí. Oito anos depois morreu Gala, fato que abalou sua atividade artística.

Salvador Dali faleceu em Figueras, Espanha, no dia 23 de janeiro de 1989.

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sábado, 18 de março de 2023

Feminicídio: oito anos após aprovação da lei, casos aumentam


 Feminicídio: oito anos após aprovação da lei, casos aumentam

DIREITOS HUMANOS

https://www.diariodepernambuco.com.br/

Por: Akemi Nitahara - Agência Brasil

Publicado em: 15/01/2023 11:51 | Atualizado em: 15/01/2023 11:52

 (Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)


Passados oito anos da promulgação da Lei 13.104, de 9 de março de 2015, conhecida como Lei do Feminicídio, o assassinato de mulheres em situação de violência doméstica e familiar ou em razão do menosprezo ou discriminação à sua condição aumentaram no país. A lei alterou o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, além de incluí-lo no rol dos crimes hediondos.


O Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP) começou a compilar e divulgar os dados sobre o crime de feminicídio no estado em 2016 e mostra o crescimento dos casos nos últimos anos. Foram 78 em 2020, 85 em 2021 e saltou para 97 no ano passado, ainda sem computar os dados de dezembro. Há notícias de pelo menos mais três casos no último mês de 2022. Quanto às tentativas de feminicídio, foram 270, 264 e 265 em cada ano, respectivamente.


Apenas na favela da Rocinha, foram dois casos no dia 29 de dezembro e mais dois nos primeiros dias deste ano. Em todo o estado do Rio, houve pelo menos quatro casos nos primeiros dias de 2023, além de uma tentativa de feminicídio. A vítima está internada.


A coordenadora executiva da organização Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), a advogada Leila Linhares Barsted, que também integra o Comitê de Peritas do mecanismo de segmento da convenção de Belém do Pará, da Organização dos Estados Americanos, para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, explica que o feminicídio é um fenômeno social grave.


De acordo com ela, o crime foi intensificado pela pandemia de covid-19, quando vítimas e agressores passaram a conviver por mais tempo, bem como reflete o machismo estrutural e os altos índices de violência do país.


“O índice de violência, o incentivo às armas de fogo, esses discursos de ódio, né? Há uma misoginia e um machismo que estão cada vez mais fortes na sociedade brasileira. Ou seja, aquele machismo que se fazia um pouco mais discreto está nas páginas dos jornais, proferido por lideranças das instituições do Estado. Então é como se houvesse uma licença para que homens exercessem o machismo de uma forma mais grave contra as mulheres”.


Casos de 2023

No Dossiê Mulher do ISP, que traz dados de 2016 a 2020, os números mostram que a maioria das vítimas de feminicídio é morta pelo companheiro ou ex-companheiro (59%) e dentro de casa (59%). Barsted explica que o feminicídio normalmente envolve uma relação íntima, na qual o homem considera ter a posse da mulher.


“Ou seja, é o machismo que não admite que a mulher fuja do controle desse homem. Então, muitas vezes esses eventos ocorrem exatamente quando as mulheres não querem mais viver em situações de violência e resolvem se separar. Esse machismo se dá exatamente nesse sentido, da ideia de que o homem tem a posse da mulher e quando ele perde a posse, decide então castigá-la”.


Os feminicídios ocorridos no estado este ano confirmam os dados.


No dia 1º, Stephany Ferreira do Carmo, 25 anos, foi esfaqueada dentro de casa, na Cidade Alta, zona norte da capital, na frente do filho de 7 anos. Ela está internada com quadro estável, após ficar em coma induzido e passar por uma cirurgia. O suspeito, que foi preso, é Adriano Quirino, com quem a vítima mantinha relacionamento há um ano. A briga teria sido por ciúmes.


No dia 2, Gabriela Silva de Souza, 27 anos, foi esganada até a morte pelo marido, Fábio Araújo da Silva, em Belford Roxo, na baixada fluminense. Ele se entregou à polícia. Gabriela havia decidido se separar, depois de descobrir uma traição do companheiro.


Também no dia 2, Rosilene Silva, 39 anos, foi atingida por quatro tiros no Mercado de Peixe de Cabo Frio, onde trabalhava. Ela já havia denunciado o ex-marido, Thiago Oliveira de Souza, por violência doméstica. Ele foi preso no dia seguinte, na BR-101, em Casimiro de Abreu.


No domingo passado (8), Carmem Dias da Silva, 29 anos, foi morta a facadas e com cortes de vidro, na Rocinha, após uma briga com Wendel Luka da Silva Virgílio, preso em flagrante. Era a primeira vez que Carmem se encontrava com Wendel, que conheceu pela internet. Ela era sobrinha do pedreiro Amarildo Souza, morto em 2013 após ser levado para averiguações na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.


Também na Rocinha, Daniela Barros Soares, de 29 anos, levou um tiro na cabeça enquanto dormia, no dia 9, do ex-marido Rios Loureiro de Souza Sablich, que se entregou na Cidade da Polícia. Rios e Wendel tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva na audiência de custódia, ocorridas terça-feira (10).


Enfrentamento à violência

Em sua posse, no dia 1º, o governador Cláudio Castro afirmou que dará prioridade ao combate à violência contra a mulher e ao feminicídio. Ele citou programas já implementados por sua gestão, como o aplicativo Rede Mulher, o atendimento aos familiares das vítimas do feminicídio, a Patrulha Maria da Penha, a Casa Abrigo e o Ônibus Lilás.


Castro também criou a Secretaria da Mulher, que será comandada por Heloísa Aguiar. A reportagem solicitou entrevista com a secretária, mas ainda não obteve retorno.


Outra área que será fortalecida este ano é a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que elegeu a primeira mulher no cargo de defensora-geral em 68 anos de história da instituição. Na cerimônia de posse, na terça-feira (10), Patrícia Cardoso afirmou que traz a perspectiva de gênero, o combate à violência contra a mulher e que pretende implantar essa visão na defensoria.


“São estatísticas absurdas, as mulheres estão sendo mortas cada vez mais. Esse desafio do enfrentamento da violência contra a mulher, da capacitação dessa mulher para que possa arrumar as malas, como a minha avó fez [a mala] do meu avô, essa capacidade, esse empoderamento, são muito importantes. A Defensoria, junto com o governo do estado, tem papel de destaque e eu queria deixar isso registrado”.


Para Basterd, o fato de ter duas mulheres em posições de poder e decisão deve contribuir para o enfrentamento à violência. De acordo com a advogada, é preciso institucionalizar o diálogo entre as diversas instituições que trabalham nessa área, para promover de fato uma rede integrada de proteção à mulher vítima de violência e, assim, prevenir o feminicídio.


“Eu espero sim que a nova secretária possa ter força suficiente e interlocução contínua com os demais poderes e com os movimentos de mulheres. O Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres tem uma comissão de segurança da mulher, a Escola de Magistratura do Rio de Janeiro tem um fórum permanente sobre violência contra as mulheres. Então é importante que a nova gestora de política das mulheres possa abrir um canal de interlocução com os movimentos sociais, com as outras organizações do estado, para que a gente possa realmente fortalecer essa política e colocá-la em prática”.


Ela destaca também a necessidade de garantir orçamento para a implementação das medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e a devida fiscalização para verificar se elas estão funcionando, bem como a produção de dados estatísticos sobre o tema.


“Muitas vezes isso fica escrito em grandes documentos, em grandes propostas, mas os recursos orçamentários, a capacitação, o aumento e o fortalecimento das equipes acabam não se concretizando. Sugerimos que os dados sobre medidas protetivas possam ser mais completos. Que tipo de medida, qual o perfil da mulher que recebeu a medida, qual o perfil do agressor, qual a resposta que essa mulher recebeu do Poder Judiciário? Ou seja, são muitas questões que ainda precisam ser preenchidas.”


Transição federal

No Relatório do Gabinete de Transição Governamental, o grupo que tratou das políticas para as mulheres apontou a gravidade do problema.


“No primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde de feminicídios, registrando cerca de 700 casos no período. Em 2021, mais de 66 mil mulheres foram vítimas de estupro; mais de 230 mil brasileiras sofreram agressões físicas por violência domés­tica. Os dados são do mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Embora todas as mulheres estejam expostas a essas violências, fica evidente o racismo: as mulheres negras são 67% das vítimas de feminicídios e 89% das vítimas de violên­cia sexual.”


Os dados do feminicídio são do relatório Violência contra Meninas e Mulheres do 1º semestre de 2022, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que notificou 699 casos no período analisado. O documento foi lançado em dezembro. Nos anos anteriores, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, da mesma instituição, relata 1.229 feminicídios em 2018, 1.330 em 2019, 1.354 em 2020 e 1.341 em 2021. Os dados completos de 2022 ainda não foram divulgados.


O relatório da transição aponta o desmonte das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher como causa do agravamento da situação, como a paralisação do Disque 180, que teve apenas R$ 6 milhões no ano de 2023 destinados aos serviços de denúncia, acolhimento e orientação das mulheres vítimas de violência doméstica.


“No caso do programa Mulher Viver Sem Violência, os principais eixos que garantiam a capacidade de execução foram retirados da legislação, desobrigando o Estado de cumpri-los. O orçamento do programa foi desidratado em 90%, e a construção de Casas da Mulher Brasileira foi paralisada”.


A coordenadora da Cepia afirma que toda a rede de proteção foi desmontada nos últimos anos, apesar de o país contar com o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, envolvendo as três esferas de governo, lançado em 2007 e atualizado em 2011.


“O que a gente está vendo é que a rede de atendimento às mulheres, nos últimos anos, tem se enfraquecido cada vez mais. São centros de referência com instalações precárias, são equipes desfeitas, as delegacias, o atendimento na área da saúde, esses serviços públicos têm sido enfraquecidos e muitos desmobilizados no Brasil todo”.


De acordo com Basterd, é urgente uma mudança de mentalidade para tirar o país da barbárie imposta por pensamentos como o machismo, o racismo e a homofobia, bem como o aumento da cultura armamentista.


“Então, são políticas públicas de âmbito nacional, o desarmamento da população, a educação da população para padrões civilizatórios. Nós estamos vivendo padrões de barbárie, com discursos de ódio, uma intolerância imensa, e claro que tudo isso incentiva esses criminosos, esses feminicidas, a praticarem esses atos contra as mulheres. Não se trata apenas de punir agressores, de punir criminosos, se trata sim de reeducar a sociedade para padrões civilizatórios das relações entre os indivíduos”.

A Filosofia de Roger Bacon (1214 - 1292)

A Filosofia de Roger Bacon (1214 - 1292)

            A filosofia de Bacon é conhecida principalmente pelo destaque dado ao empirismo, teoria que defende que a experiência sensorial é o que produz em nós o conhecimento. Bacon usou também a matemática, que para ele era a suprema ciência, para entender a natureza.


            O método de conhecimento científico deve seguir a ordem de pesquisa iniciada pela observação da natureza, depois o observador deve levantar hipóteses para entender o fenômeno da natureza e por último deve buscar comprovar suas hipóteses através da experimentação. O processo observação, hipótese e experimentação não têm fim e é aplicado em cadeia de acontecimentos que se relacionam e criam o conhecimento científico. A verdade da ciência se baseia na repetição dos fenômenos observados e para que isso possa ser feito todo o processo tem que ser detalhadamente descrito. A verdade científica vai surgir através do trabalho de muitas pessoas e vai levar o tempo que esse trabalho demorar. Os erros anteriores serão eliminados pelas pesquisas posteriores e assim a ciência alcança seu progresso.


            Existem dois modos de alcançarmos o conhecimento: pela experiência e pelo argumento. O argumento nos dá conclusões e demonstrações racionais, mas são conclusões que não afastam a dúvida, pois não podem ser diretamente comprovadas. A comprovação das verdades somente pode ser feitas através da experiência, que tanto pode ser interna como externa. A experiência externa é a que conseguimos através do sensorial dos nossos sentidos, através dela alcançamos as verdades da natureza. A experiência interna depende diretamente da iluminação divina e através dela conseguimos alcançar as certezas sobrenaturais. As duas verdades levam o homem ao seu objetivo que é atingir a felicidade e a salvação.


            Existem sete níveis de experiência interna: 1  - Iluminação científica; 2 - Virtude; 3 - Dons do Espírito santo; 4 - Bem-aventuranças; 5 - Sentidos espirituais; 6 - Resultados espirituais como a paz de Deus; 7 - Êxtase divino.


            Em seus escritos Bacon reivindica uma reforma na teologia. Para ele a bíblia deve ser o centro das atenções dos estudos da teologia e as análises dos textos sagrados devem ser feitos preferencialmente na língua original em que foram escritos. Bacon condenou diversas interpretações dadas aos textos sagrados que para ele eram adulterações dos textos originais. O mesmo que acontecia com a bíblia acontecia com os textos dos filósofos gregos: continham diversos erros de tradução e de interpretação.


            Nos escritos de Bacon aparecem estudos de matemática, ótica e alquimia. Descreve o processo para fazer a pólvora, enumera o posicionamento dos astros celestes, afirma que a terra é redonda, antecipa invenções que ainda seriam feitas como o microscópio, o telescópio, os óculos, máquina a vapor e máquinas voadoras.


Sentenças:

- A matemática é que nos dá acesso às ciências.

- A experiência é a peça principal da ciência.

- Muitos mistérios da natureza e da arte são conhecidos somente pela magia.

- A verdade é filha do tempo.

- Saber é poder.

- A verdade só se mostra a quem a procura.


Roger Bacon

Responsável: Arildo Luiz Marconatto

Direitos resevados: https://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=53


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quinta-feira, 16 de março de 2023

A nova geopolítica global e o Brasil


 RUBENS BARBOSA

Rubens Barbosa é presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e editor responsável desta revista. Foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington.


Direitos Autorais:https://interessenacional.com.br/author/rubens-barbosa/


A nova geopolítica global e o Brasil

O mundo atravessa um momento de grandes transformações na área política, econômica e social. A geopolítica e a geoeconomia foram se modificando na última década e vão passar, ainda, por uma série de ajustes, depois da saída dos EUA do Afeganistão.


Sem esgotar o assunto e de maneira sumária, cabe mencionar alguns dos aspectos do novo cenário internacional:


Lugar dos EUA no mundo

• Continuará como superpotência – saída do Afeganistão, fim de uma Era: envolvimento militar para mudança de regime e reconstrução nacional

• Crescente isolamento (razões de política doméstica: divisão)

• Foco político e militar passa do Oriente Médio para a Ásia

• Credibilidade afetada: aliados da Otan – Taiwan

• Coalisão contra a China (dificuldade para dividir o mundo – Alemanha, Cingapura)

• Principal foco estratégico: China – terrorismo doméstico

•América do Sul no médio prazo pode vir a ser a nova prioridade (recursos minerais e presença da China)


Lugar da China no mundo

• Superpotência tecnológica, comercial, militar – quer reconhecimento de seu status

• Ásia como polo dinâmico de crescimento econômico e comércio exterior (China é a principal parceira comercial da maioria dos países)

• Adversária dos EUA (na visão do establishment norte-americano – como evitar a confrontação militar?)

• Belt and Road Initiative – projeto para respaldar expansão global


Acirramento na competição global entre China e EUA pela hegemonia política no século XXI (novas bases, diferentes da Guerra Fria EUA-URSS)


Redesenho do mapa geopolítico da Ásia

• Efeito sobre o equilíbrio da região: passa dos EUA–Índia para China–Paquistão

• Possibilidade de hospedar organizações terroristas islâmicas – consumo e tráfico de drogas

• Sudeste da Ásia: foco estratégico dos EUA para conter a China: aliança estratégica Quod (EUA, Índia, Japão e Austrália) – Taiwan – Coreia do Sul e Japão


Avanços tecnológicos (espaço digitalizado mundial, velocidade de

absorção tecnológica)


• Internet – TV

• 5G e inteligência artificial


Meio ambiente e mudança climática como preocupação global

• Amazônia

• Consequências econômicas e comerciais

• New green deal (Europa) – taxa de carbono


Globalização (reordenamento produtivo, cadeias de produção, protecionismo, autonomia soberana, revolução energética, crise no multilateralismo)


Regionalização: espaço expandido econômico sem fronteira (fortalecimento das potências regionais e dos acordos regionais (Nafta, European Union, Ásia: China (RCIP), TPP (Japão), Mercosul, Ásia Central (Rússia), África-acordo comercial) – futuro papel da América do Sul (hoje na periferia)


Multipolaridade (países emergentes – G7 (países mais desenvolvidos) – PIB de US$ 42 trilhões; E7 (países emergentes), PIB de US$ 53 trilhões. Excluída a China, o PIB do E6 fica maior que o do G6 (países desenvolvidos)


Novas ameaças (terrorismo, drogas, ataques cibernéticos, guerra no espaço)


Desigualdade (acelerada pela pandemia, geopolítica da vacina, marginalização dos países mais pobres)


A eleição de Donald Trump e sua atitude de colocar os EUA em primeiro lugar e acelerar o grau de isolamento de Washington, a vitória de Biden, a pandemia e, mais recentemente, a desastrosa saída dos EUA do Afeganistão estão produzindo tensões e consequências em todas as áreas e afetando todos os países.

Na geopolítica e na geoeconomia que estão emergindo, algumas mudanças estão passando despercebidas, mas são forças significativas com relevante impacto sobre todos os países, o que gera incerteza e instabilidade.


Levando em conta esse cenário global, em particular no tocante às questões de meio ambiente e de mudança de clima, do deslocamento do eixo econômico-comercial para a Ásia, em especial para a China, do 5G e da inteligência artificial e da confrontação entre as duas superpotências – o que fazer, segundo a perspectiva do Brasil?


O Brasil, nos últimos dois anos, foi apanhado no contrapé por não se ter acompanhado essas mudanças, o que deveria ser corrigido com uma visão atualizada e dinâmica das transformações globais.


Lugar do Brasil no mundo

• Qual será o lugar do Brasil no mundo que está emergindo?

• Como as grandes transformações econômicas, comerciais, tecnológicas e geopolíticas e geoeconômicas poderão afetar o interesse nacional?

• Como o Brasil se posicionará no contexto hemisférico e regional?

• Como o Brasil deveria reagir com a ampliação da confrontação entre a China

e os EUA?

• Como o Brasil poderá contribuir para o fortalecimento da governança global?

• Como ficarão as políticas em relação às negociações em fóruns multilaterais, ONU (Brasil assume um lugar no CSNU), OMC, OMS?

• Como implementar os objetivos estratégicos e os interesses do Brasil, levando em conta o resguardo da soberania e o fortalecimento da democracia?


A área de influência do Brasil, como definido na Política Nacional de Defesa, abrange América do Sul, Antártica e o Oceano Atlântico até a costa ocidental da África. A referência à integração regional amplia o entorno geográfico por incluir a América Central e a América do Norte. Além disso, o novo status de aliado estratégico dos EUA, extra Otan, e o oferecimento de parceria global da Otan colocam novos desafios para a política externa e de defesa. As rápidas transformações tecnológicas exigem um esforço para estimular a Base Industrial de Defesa a pesquisar para complementar as aquisições externas. As três áreas ressaltadas na Estratégia Nacional de Defesa (cibernética, energia nuclear e espaço) deveriam merecer estímulos, como ocorre nos EUA e na Otan, para que a produção nacional supere as vulnerabilidades cada vez maiores de nossos materiais bélicos e responda aos novos desafios de inteligência artificial.


Nossos interesses diretos do ponto de vista da preservação da soberania incluem, entre outros, a mudança da percepção externa negativa sobre o País, a volta do protagonismo nas negociações sobre meio ambiente e mudança de clima, com uma nova política em relação à proteção da Amazônia, a definição de uma política proativa para a América do Sul, pelo aperfeiçoamento da inteligência e da promoção no comércio exterior, pela parceria comercial ampliada com a Ásia (Asean e RCIP), reativação da participação do Brasil nos organismos multilaterais (políticos e econômico-comerciais) e posição equidistante no confronto EUA–China, definindo em cada caso o interesse nacional acima de considerações ideológicas ou geopolíticas. Dentro desse quadro, quais os desafios para o Brasil?


Desafios internos e externos para o Brasil

Os desafios internos são representados pela perda da competitividade da economia pela produtividade das empresas, pela aprovação das reformas estruturais (tributárias e administrativa) e pela abertura da economia (melhora do ambiente de negócios e privatizações), por um governo enfraquecido e por uma economia que começou a se recuperar, mas que deverá desacelerar em 2022, com mais de 14 milhões de desempregados. O déficit fiscal em crescimento imporá medidas de contenção e de redução dos gastos públicos. O custo do Estado – alta carga tributária, custo do financiamento, logística deficiente e burocracia – acarretou forte perda de competitividade da economia e produtividade da empresa nacional, tornando inadiável uma agenda ampla, mas gradual, de abertura da economia. Com o setor do agronegócio em expansão, a reindustrialização passa a ser uma das prioridades para o crescimento e o emprego. Em ambiente global de baixo crescimento, são urgentes as medidas para restabelecer a confiança dos empresários nacionais e estrangeiros no Brasil, dar segurança jurídica aos investimentos e criar as condições para que o Brasil volte a crescer de 4% a 5% ao ano de forma sustentável. A estabilidade econômica passa também pela consolidação das instituições e a manutenção da ordem democrática com ações moderadas do governo e da oposição.


Os desafios externos não são menos impactantes do que os internos. Profundas e rápidas transformações políticas, econômicas, estratégicas e tecnológicas geram instabilidade e incertezas. O cenário é de insegurança, agravado pela ameaça de confrontação comercial e tecnológica entre os EUA e a China e pela desaceleração da economia global em 2022.


O Brasil está fora dos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior e isolado nas negociações de acordos de comércio. Está atrasado em inovação tecnológica, perdeu poder e influência e registrou um crescimento inferior ao da maioria dos países. Deixando de ser uma das dez maiores economias do mundo, o Brasil terá de recuperar seu lugar no cenário internacional. O desafio é o de promover uma crescente integração do Brasil no comércio internacional, tanto no âmbito comercial, quanto no de serviços e atrair investimentos estrangeiros diretos. O Brasil precisa abrir-se mais para o mundo como parte da estratégia de maior protagonismo do País no cenário global, inclusive para estimular sua autonomia soberana no tocante às cadeias de produção globais.


Os princípios básicos da política externa estão consagrados no artigo 4 da Constituição. Sendo o Itamaraty uma Instituição de Estado, suas ações devem estar acima de interesses partidários e ideológicos.


Para enfrentar o desafio das rápidas mudanças no cenário global, os formuladores de políticas governamentais terão de definir o que o Brasil quer da relação com os EUA (sem alinhamentos automáticos), com a China, com a Ásia, com a Europa e com seu entorno geográfico com objetivos estratégicos claros.


Governo e setor privado terão de enfrentar o desafio de assumir uma atitude proativa no tocante à integração regional. Não poderá ser ignorada a nova geopolítica nas Américas: os governos de esquerda no México e de direita no Brasil, o novo governo em Cuba, a situação deteriorada na Venezuela e na Nicarágua – a trinca da tirania trumpista –, a crise econômica na Argentina, o novo governo no Peru, a continuada baixa prioridade do governo dos EUA na região, enquanto aumenta a presença da China e da Rússia, criando condições para um realinhamento das forças política e econômicas. O relacionamento com a Venezuela deveria merecer atenção especial, já que interessa ao Brasil contribuir para uma solução política para a crise interna e para o acolhimento, a proteção e a assistência aos refugiados e migrantes venezuelanos. 


Uma nova estratégia de negociações comerciais bilaterais (acordos na região e fora dela), regionais (Mercosul e Área de Livre Comércio) e multi e plurilaterais (Organização Mundial de Comércio) deverá ser definida para pôr fim ao isolamento do Brasil, com ênfase na abertura de novos mercados e na integração do Brasil às cadeias produtivas globais, ao aumento dos fluxos do comércio exterior e do investimento externo.


Em relação ao Mercosul, depois de 30 anos não se poderá adiar uma avaliação de seu funcionamento e decidir se as negociações com terceiros países continuarão a ser com uma única voz ou se os entendimentos serão bilaterais, além de decidir o que fazer com a Tarifa Externa Comum. A ratificação dos acordos do Mercosul com a União Europeia e com a EFTA dificilmente será concluída antes de 2023 pelas dificuldades geradas pelas políticas de meio ambiente na Amazônia. Os entendimentos com a Asean (em especial com Cingapura, Indonésia e Vietnã), Japão, Canadá e Coreia do Sul, além do Líbano, deveriam ser acelerados e contatos com os países africanos para entendimentos, visando à negociação de acordo comercial com o Mercosul, deveriam ser iniciados. O Itamaraty não pode ter suas atribuições reduzidas na promoção comercial (Apex) e na negociação externa para outras áreas.


A realidade recomenda que o Brasil continue a participar plenamente nas organizações multilaterais, em particular ONU, OMC e OMS. O papel da chancelaria será relevante para o ingresso do Brasil na OCDE, além de buscar ampliar nossa participação nos Brics, no G-20, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e no acordo Índia, Brasil e África do Sul. Não sendo uma potência militar, o Brasil tem de se afirmar pelo soft power.


O tema ambiental e do desenvolvimento sustentável, como ativos externos do Brasil, mas também com preocupação pelo foco na Amazônia e nos seus ilícitos (desmatamento, garimpagem e incêndios), deveriam passar a se constituir no foco e na prioridade central da política externa com atuação protagonista, visando ao cumprimento das metas assumidas por nós mesmos no Acordo de Paris e em compromissos similares, com os ajustes necessários nas políticas internas para resguardo da soberania.


Não se pode esperar mais do que está sendo feito no atual governo, mas o debate sobre o papel do Brasil no mundo a partir de janeiro de 2023 não poderá ser adiado. O impacto das decisões externas sobre o Brasil não pode ser ignorado. O Brasil não é uma ilha. As decisões de política econômica e de política externa de outros países têm efeitos imediatos sobre o País, como se verifica nas medidas tomadas pelo governo Biden, nas decisões sobre política ambiental na Europa e nos EUA (inclusive a taxa de carbono) e a geopolítica das vacinas.


A nova gestão à frente do MRE começa a fazer planejamento de médio e longo prazos no tocante à presença do Brasil no exterior. Uma das primeiras medidas foi pedir formalmente a adesão do Brasil à Associação das Nações do Sudeste da Ásia (Parceria de Diálogo Setorial), dentro de uma nova e importante parceria com uma área de grande interesse para o agronegócio. A nova atitude e atuação do Itamaraty é bem-vinda porque ajuda a discussão sobre a reconstrução da atuação externa do Brasil e sobre como enfrentar os desafios do novo cenário internacional.


Para voltar a desempenhar o papel de relevo que sempre teve, o Itamaraty terá de adequar a política externa aos novos desafios internos e externos com dinamismo e inovação. Ao renovar-se e atualizar-se, atendendo às demandas dos novos tempos, terá de evitar formalismos, posturas defensivas e tendências burocráticas e ideológicas, que estão acarretando a perda de influência do Brasil na região e seu isolamento em um mundo em crescente transformação.


Será muito importante a discussão, na campanha para a eleição presidencial, sobre o lugar do Brasil no mundo a partir de 1º de janeiro de 2023, com visão de médio e longo prazos.


Conclusão

Definição de objetivos mínimos:

Brasil voltar a ser uma das dez maiores economias do mundo (hoje é a 13ª);

Fazer política da sua geografia e definir uma ação proativa na América do Sul;

Prioridade para inovação e tecnologia (5G e inteligência artificial);

Meta de crescimento sustentável (4% a 5%);

Reindustrialização com modernização e uma política de autonomia soberana em setores sensíveis (Saúde). 