Konstantinos - Uranus
domingo, 21 de julho de 2019
Bolsonaro indica que diminuição de multa do FGTS pode ser avaliada à frente
Bolsonaro indica que diminuição de multa do FGTS pode ser avaliada à frente
Reuters Staff
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo que eventual diminuição da multa paga pelo empregador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em caso de demissão sem justa causa pode ser estudada pelo governo no futuro.
“Olha, o valor (da multa do FGTS) não está na Constituição, acho que não está. O FGTS está no artigo sétimo da Constituição, acho que valor é uma lei. Tem que pensar lá na frente”, afirmou ele a repórteres.
“Mas antes disso, tenho que ganhar a guerra da informação, eu não quero manchete no jornal amanhã: ‘O presidente está estudando reduzir o valor da multa’. O que eu estou tentando levar para o trabalhador é o seguinte: menos direitos e emprego, ou todos o direitos e desemprego”, acrescentou.
Hoje, a multa paga pelo empregador em caso de demissão sem justa causa é de 40% do FGTS ao trabalhador. Além disso, desde 2001 também é necessário arcar com um adicional de 10% do FGTS para o governo, numa contribuição social criada para compensar perdas inflacionárias do fundo.
Na semana passada, Bolsonaro já havia avaliado que a multa foi concebida para evitar demissões, mas que na realidade estava fazendo os empregadores não contratarem mais.
O presidente reiterou neste domingo que o anúncio sobre as possibilidades de saques do FGTS será feito na quarta-feira, investida bolada pelo governo para dar algum ímpeto ao crescimento econômico. Em suas contas oficiais, a equipe econômica já espera que o Brasil cresça apenas 0,81% este ano, ante patamar de 1,6% visto antes.
Bolsonaro classificou a medida como um “paliativo”, mas destacou que trata-se de uma “vitamina” que o país tem que tomar agora, já que o ano está acabando.
INPE
Após ter acusado o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o levantamento de dados sobre desmatamento no país, de ter divulgado números “mentirosos”, Bolsonaro disse neste domingo que ficou preocupado com os números e que achou que poderiam “não estar condizentes com a verdade”.
Ele pontuou, contudo, que quem vai conversar com o diretor do Inpe, Ricardo Magnus Osório Galvão, a respeito será o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, e “talvez” o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
“O que nós não queremos é uma propaganda negativa do Brasil, não é fugir da verdade”, disse Bolsonaro.
Dados divulgados pelo Inpe mostraram que o desmatamento na Amazônia disparou na primeira metade de julho e superou toda a taxa registrada no mesmo mês no ano passado. Os dados preliminares dos satélites mostram o desmatamento de mais de mil quilômetros quadrados de floresta, 68% a mais do que no mês de julho de 2018.
Por Marcela Ayres
Reuters Staff
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo que eventual diminuição da multa paga pelo empregador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em caso de demissão sem justa causa pode ser estudada pelo governo no futuro.
“Olha, o valor (da multa do FGTS) não está na Constituição, acho que não está. O FGTS está no artigo sétimo da Constituição, acho que valor é uma lei. Tem que pensar lá na frente”, afirmou ele a repórteres.
“Mas antes disso, tenho que ganhar a guerra da informação, eu não quero manchete no jornal amanhã: ‘O presidente está estudando reduzir o valor da multa’. O que eu estou tentando levar para o trabalhador é o seguinte: menos direitos e emprego, ou todos o direitos e desemprego”, acrescentou.
Hoje, a multa paga pelo empregador em caso de demissão sem justa causa é de 40% do FGTS ao trabalhador. Além disso, desde 2001 também é necessário arcar com um adicional de 10% do FGTS para o governo, numa contribuição social criada para compensar perdas inflacionárias do fundo.
Na semana passada, Bolsonaro já havia avaliado que a multa foi concebida para evitar demissões, mas que na realidade estava fazendo os empregadores não contratarem mais.
O presidente reiterou neste domingo que o anúncio sobre as possibilidades de saques do FGTS será feito na quarta-feira, investida bolada pelo governo para dar algum ímpeto ao crescimento econômico. Em suas contas oficiais, a equipe econômica já espera que o Brasil cresça apenas 0,81% este ano, ante patamar de 1,6% visto antes.
Bolsonaro classificou a medida como um “paliativo”, mas destacou que trata-se de uma “vitamina” que o país tem que tomar agora, já que o ano está acabando.
INPE
Após ter acusado o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o levantamento de dados sobre desmatamento no país, de ter divulgado números “mentirosos”, Bolsonaro disse neste domingo que ficou preocupado com os números e que achou que poderiam “não estar condizentes com a verdade”.
Ele pontuou, contudo, que quem vai conversar com o diretor do Inpe, Ricardo Magnus Osório Galvão, a respeito será o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, e “talvez” o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
“O que nós não queremos é uma propaganda negativa do Brasil, não é fugir da verdade”, disse Bolsonaro.
Dados divulgados pelo Inpe mostraram que o desmatamento na Amazônia disparou na primeira metade de julho e superou toda a taxa registrada no mesmo mês no ano passado. Os dados preliminares dos satélites mostram o desmatamento de mais de mil quilômetros quadrados de floresta, 68% a mais do que no mês de julho de 2018.
Por Marcela Ayres
Reino Unido pesa resposta à crise do Golfo com Irã com poucas boas opções
Reino Unido pesa resposta à crise do Golfo com Irã com poucas boas opções
Por Parisa Hafezi e Peter Graff
DUBAI/LONDRES (Reuters) - O Reino Unido estava avaliando neste dominigo seus próximos movimentos na crise envolvendo um petroleiro no Golfo, com poucas boas opções aparecendo na mesa após gravações terem mostrado que as Forças Armadas iranianas desafiaram um navio de guerra britânico quando apreenderam um navio dias atrás.
Poucos indícios foram dados pelo Reino Unido sobre como o país pretende reagir depois que a Guarda Revolucionária iraniana desceu de rapel de helicópteros e tomou o Stena Impero no Estreito de Ormuz, na sexta-feira, em aparente retaliação à captura britânica de um petroleiro iraniano duas semanas antes.
O governo britânico deve anunciar seus próximos passos em um discurso ao Parlamento na segunda-feira. Mas especialistas na região dizem que há poucos passos óbvios que Londres pode adotar em um momento em que os Estados Unidos já impuseram o máximo possível de sanções econômicas, proibindo todas as exportações de petróleo do Irã em todo o mundo.
“Não vejo neste momento que podemos oferecer uma concessão que possa resolver a crise. Fornecer segurança e escoltar futuros navios é uma questão diferente”, disse Tim Ripley, um especialista britânico em defesa que escreve sobre o Golfo para o Jane’s Defence Weekly.
Um dia depois de chamar a ação iraniana de “ato hostil”, altos funcionários britânicos mantiveram-se relativamente quietos neste domingo, deixando claro que eles ainda não haviam decidido responder.
“Vamos analisar uma série de opções”, disse o ministro da Defesa, Tobias Ellwood, à Sky News. “Estaremos falando com nossos colegas, nossos aliados internacionais, para ver o que realmente pode ser feito.”
“Nossa primeira e mais importante responsabilidade é garantir que tenhamos uma solução para a questão do navio atual, certificando-nos que outros navios de bandeira britânica estejam seguros para operar nessas águas e, em seguida, olhar a figura mais ampla”, acrescentou.
A captura iraniana do navio no trecho mais importante do comércio global de petróleo foi a mais recente escalada em três meses de confronto em espiral com o Ocidente, que começou quando novas sanções mais rigorosas dos EUA entraram em vigor no início de maio.
Washington impôs as sanções depois que o presidente Donald Trump desistiu de um acordo assinado por seu antecessor, Barack Obama, que forneceu ao Irã acesso ao comércio mundial em troca de restrições em seu programa nuclear.
Países europeus, incluindo o Reino Unido, foram apanhados no meio. Eles discordaram da decisão dos EUA de renunciar ao acordo nuclear, mas até agora não ofereceram ao Irã outra maneira de receber os prometidos benefícios econômicos do acordo.
O Reino Unido foi empurrado mais diretamente para o confronto em 4 de julho, quando fuzileiros navais britânicos capturaram um petroleiro iraniano na costa de Gibraltar. O Reino Unido acusou o petroleiro de violar sanções à Síria, levando a repetidas ameaças iranianas de retaliação.
Por Parisa Hafezi e Peter Graff
DUBAI/LONDRES (Reuters) - O Reino Unido estava avaliando neste dominigo seus próximos movimentos na crise envolvendo um petroleiro no Golfo, com poucas boas opções aparecendo na mesa após gravações terem mostrado que as Forças Armadas iranianas desafiaram um navio de guerra britânico quando apreenderam um navio dias atrás.
Poucos indícios foram dados pelo Reino Unido sobre como o país pretende reagir depois que a Guarda Revolucionária iraniana desceu de rapel de helicópteros e tomou o Stena Impero no Estreito de Ormuz, na sexta-feira, em aparente retaliação à captura britânica de um petroleiro iraniano duas semanas antes.
O governo britânico deve anunciar seus próximos passos em um discurso ao Parlamento na segunda-feira. Mas especialistas na região dizem que há poucos passos óbvios que Londres pode adotar em um momento em que os Estados Unidos já impuseram o máximo possível de sanções econômicas, proibindo todas as exportações de petróleo do Irã em todo o mundo.
“Não vejo neste momento que podemos oferecer uma concessão que possa resolver a crise. Fornecer segurança e escoltar futuros navios é uma questão diferente”, disse Tim Ripley, um especialista britânico em defesa que escreve sobre o Golfo para o Jane’s Defence Weekly.
Um dia depois de chamar a ação iraniana de “ato hostil”, altos funcionários britânicos mantiveram-se relativamente quietos neste domingo, deixando claro que eles ainda não haviam decidido responder.
“Vamos analisar uma série de opções”, disse o ministro da Defesa, Tobias Ellwood, à Sky News. “Estaremos falando com nossos colegas, nossos aliados internacionais, para ver o que realmente pode ser feito.”
“Nossa primeira e mais importante responsabilidade é garantir que tenhamos uma solução para a questão do navio atual, certificando-nos que outros navios de bandeira britânica estejam seguros para operar nessas águas e, em seguida, olhar a figura mais ampla”, acrescentou.
A captura iraniana do navio no trecho mais importante do comércio global de petróleo foi a mais recente escalada em três meses de confronto em espiral com o Ocidente, que começou quando novas sanções mais rigorosas dos EUA entraram em vigor no início de maio.
Washington impôs as sanções depois que o presidente Donald Trump desistiu de um acordo assinado por seu antecessor, Barack Obama, que forneceu ao Irã acesso ao comércio mundial em troca de restrições em seu programa nuclear.
Países europeus, incluindo o Reino Unido, foram apanhados no meio. Eles discordaram da decisão dos EUA de renunciar ao acordo nuclear, mas até agora não ofereceram ao Irã outra maneira de receber os prometidos benefícios econômicos do acordo.
O Reino Unido foi empurrado mais diretamente para o confronto em 4 de julho, quando fuzileiros navais britânicos capturaram um petroleiro iraniano na costa de Gibraltar. O Reino Unido acusou o petroleiro de violar sanções à Síria, levando a repetidas ameaças iranianas de retaliação.
sexta-feira, 19 de julho de 2019
EXCLUSIVO-Teor de proteína de soja no Brasil cai, coloca vendas à China em risco
EXCLUSIVO-Teor de proteína de soja no Brasil cai, coloca vendas à China em risco
Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O teor de proteína na soja brasileira caiu pela primeira vez em quatro safras em 2018, de acordo com dados preliminares do governo, uma situação que já custou às empresas brasileiras negócios com o maior comprador, a China.
O declínio dos níveis de proteína da soja do Brasil, maior exportador do mundo, causa problemas para exportadores, que enfrentam a possibilidade de cancelamentos, venda de grãos com desconto ou contratos mais rigorosos, que exigem garantias de qualidade para compradores que querem assegurar um produto rico em nutrientes.
O teor de proteína na safra de soja do Brasil de 2018 caiu para uma média de 36,83% —de 37,14% no ciclo anterior—, de acordo com resultados preliminares apurados pela Embrapa, disse à Reuters o pesquisador Marcelo de Oliveira. Em um comunicado, a Embrapa afirmou que as variações anuais do teor de proteína da soja não são estatisticamente significativas e indicam uma estabilidade nas porcentagens deste componente do grão.
Os dados serão ajustados até setembro, quando o relatório final da pesquisa de qualidade será publicado, disse ele.
Cesar Borges, membro do conselho da Caramuru Alimentos, disse em entrevista que a empresa recusou a exigência de um potencial importador chinês, nesta semana, por não ter condições de garantir níveis mínimos de proteína na soja em grão.
A China, que importa a soja para transformá-la em ração animal, compra cada vez mais o produto do Brasil, especialmente após a imposição de tarifas retaliatórias ao grão norte-americano em resposta à taxação de produtos chineses por Washington.
Mais recentemente, a demanda da China arrefeceu por causa da peste suína africana, que obrigou o país a sacrificar milhões de animais de seu plantel de suínos. Isto significa que eles podem ser mais seletivos em suas compras.
A China também importa soja da Argentina, o terceiro maior vendedor da oleaginosa, mas em quantidades menores.
Camilo Motter, um corretor de grãos no Paraná, confirmou que a queda do teor proteico da soja brasileira e a competição argentina podem afetar os prêmios do produto local, que é pago no portos.
Antônio Pípolo, outro pesquisador da Embrapa, disse que os produtores no Brasil estão mais focados no rendimento da lavoura do que nas teores de óleo ou proteína do grão, já que os últimos não afetam o preço pago a eles por exportadores e processadores.
Os níveis de proteína caem à medida que o rendimento aumenta, ele diz.
Nos Estados Unidos, a porcentagem de proteína dos grãos também diminuiu, com produtores buscando produtividades mais altas. Isto ajudou o Brasil, onde o clima é mais quente e os níveis de proteína tendem a ser mais altos, a ultrapassar os americanos como os maiores exportadores de soja do mundo na última década.
A China compra aproximadamente 80% da soja em grão do Brasil.
Se os números da Embrapa se confirmarem, o teor de proteína de soja do Brasil ainda terá sido mais alto do que nos Estados Unidos no ano passado, onde a média estava 34,2%, de acordo com dados qualitativos compilados pela indústria.
“Todos os processadores estão sofrendo”, disse Alessandro Reis, principal executivo de operações da empresa CJ Selecta.
Ele disse à Reuters que a queda dos níveis de proteína da soja brasileira leva a um aumento da necessidade de descascar o grão, diminuindo o peso do mesmo e assim o rendimento do farelo.
A separação da casca, que é rica em fibras, ajuda a aumentar o teor da proteína do farelo, que por contrato deve estar entre 46% e 48%, dependendo do tipo a ser vendido. É possível vender a casca propriamente dita, mas ela vale muito menos no mercado, disse Reis.
“Eu acho que não vamos deixar de entregar nada para a China. Mas se os chineses insistirem na proteína de soja na casa de 35-36%, vender para eles será um problema para nós sim”, disse Reis.
Questionamentos chineses relacionados ao teor de proteína da soja do Brasil levaram a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) a discutir internamente eventuais mudanças no contrato padrão de exportação, disse Lucas de Brito, um executivo da entidade. O contrato estabelece alguns parâmetros de qualidade, incluindo concentração de óleo e umidade máxima permitida.
O chamado contrato Anec 41 não estipula a porcentagem de proteína do grão que o Brasil vende lá fora, mas os exportadores têm a prerrogativa de definir padrões de qualidade em negociações privadas com seus clientes.
Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O teor de proteína na soja brasileira caiu pela primeira vez em quatro safras em 2018, de acordo com dados preliminares do governo, uma situação que já custou às empresas brasileiras negócios com o maior comprador, a China.
O declínio dos níveis de proteína da soja do Brasil, maior exportador do mundo, causa problemas para exportadores, que enfrentam a possibilidade de cancelamentos, venda de grãos com desconto ou contratos mais rigorosos, que exigem garantias de qualidade para compradores que querem assegurar um produto rico em nutrientes.
O teor de proteína na safra de soja do Brasil de 2018 caiu para uma média de 36,83% —de 37,14% no ciclo anterior—, de acordo com resultados preliminares apurados pela Embrapa, disse à Reuters o pesquisador Marcelo de Oliveira. Em um comunicado, a Embrapa afirmou que as variações anuais do teor de proteína da soja não são estatisticamente significativas e indicam uma estabilidade nas porcentagens deste componente do grão.
Os dados serão ajustados até setembro, quando o relatório final da pesquisa de qualidade será publicado, disse ele.
Cesar Borges, membro do conselho da Caramuru Alimentos, disse em entrevista que a empresa recusou a exigência de um potencial importador chinês, nesta semana, por não ter condições de garantir níveis mínimos de proteína na soja em grão.
A China, que importa a soja para transformá-la em ração animal, compra cada vez mais o produto do Brasil, especialmente após a imposição de tarifas retaliatórias ao grão norte-americano em resposta à taxação de produtos chineses por Washington.
Mais recentemente, a demanda da China arrefeceu por causa da peste suína africana, que obrigou o país a sacrificar milhões de animais de seu plantel de suínos. Isto significa que eles podem ser mais seletivos em suas compras.
A China também importa soja da Argentina, o terceiro maior vendedor da oleaginosa, mas em quantidades menores.
Camilo Motter, um corretor de grãos no Paraná, confirmou que a queda do teor proteico da soja brasileira e a competição argentina podem afetar os prêmios do produto local, que é pago no portos.
Antônio Pípolo, outro pesquisador da Embrapa, disse que os produtores no Brasil estão mais focados no rendimento da lavoura do que nas teores de óleo ou proteína do grão, já que os últimos não afetam o preço pago a eles por exportadores e processadores.
Os níveis de proteína caem à medida que o rendimento aumenta, ele diz.
Nos Estados Unidos, a porcentagem de proteína dos grãos também diminuiu, com produtores buscando produtividades mais altas. Isto ajudou o Brasil, onde o clima é mais quente e os níveis de proteína tendem a ser mais altos, a ultrapassar os americanos como os maiores exportadores de soja do mundo na última década.
A China compra aproximadamente 80% da soja em grão do Brasil.
Se os números da Embrapa se confirmarem, o teor de proteína de soja do Brasil ainda terá sido mais alto do que nos Estados Unidos no ano passado, onde a média estava 34,2%, de acordo com dados qualitativos compilados pela indústria.
“Todos os processadores estão sofrendo”, disse Alessandro Reis, principal executivo de operações da empresa CJ Selecta.
Ele disse à Reuters que a queda dos níveis de proteína da soja brasileira leva a um aumento da necessidade de descascar o grão, diminuindo o peso do mesmo e assim o rendimento do farelo.
A separação da casca, que é rica em fibras, ajuda a aumentar o teor da proteína do farelo, que por contrato deve estar entre 46% e 48%, dependendo do tipo a ser vendido. É possível vender a casca propriamente dita, mas ela vale muito menos no mercado, disse Reis.
“Eu acho que não vamos deixar de entregar nada para a China. Mas se os chineses insistirem na proteína de soja na casa de 35-36%, vender para eles será um problema para nós sim”, disse Reis.
Questionamentos chineses relacionados ao teor de proteína da soja do Brasil levaram a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) a discutir internamente eventuais mudanças no contrato padrão de exportação, disse Lucas de Brito, um executivo da entidade. O contrato estabelece alguns parâmetros de qualidade, incluindo concentração de óleo e umidade máxima permitida.
O chamado contrato Anec 41 não estipula a porcentagem de proteína do grão que o Brasil vende lá fora, mas os exportadores têm a prerrogativa de definir padrões de qualidade em negociações privadas com seus clientes.
quinta-feira, 18 de julho de 2019
Há 50 anos, o homem pisava na Lua: o que mudou na corrida espacial desde 1969
Buzz Aldrin na Lua é o título da famosa foto tirada por Neil Armstrong em 20 de julho de 1969, quando o homem chegou lá
Há 50 anos, o homem pisava na Lua: o que mudou na corrida espacial desde 1969
Conquista completa meio século em julho e já começa a inspirar reflexões e homenagens, sobretudo nos EUA, ressaltando o interesse recorrente pelo espaço sideral
Quando tinha oito anos, Luiz Augusto da Silva assistiu, admirado, ao primeiro homem pisar na Lua. Era uma transmissão em preto e branco – em 1969, os aparelhos de televisão em cores eram raros no Brasil –, a imagem era de péssima qualidade, mas lá estava o astronauta norte-americano Neil Armstrong, saindo do módulo lunar Eagle ("águia", em inglês), naquele dia 20 de julho que ficará para sempre marcado na história da humanidade.
Asteroides e Marte: os novos desafios no espaço, 50 anos após a chegada à LuaAsteroides e Marte: os novos desafios no espaço, 50 anos após a chegada à Lua
Confira imagens históricas da Apollo 11, missão que levou o homem à LuaConfira imagens históricas da Apollo 11, missão que levou o homem à Lua
Depois de Armstrong, Buzz Aldrin também desceu, enquanto o bem menos lembrado - mas não menos importante – Michael Collins orbitava o satélite natural da Terra à espera dos dois. "A Águia pousou", havia alertado o comandante da missão, algumas horas antes: foram seis horas e 38 minutos entre a chegada na Lua e o primeiro toque humano na superfície de um novo corpo celeste. Aquela seria apenas uma das várias frases emblemáticas proferidas pelos astronautas na ocasião. Por duas horas e 30 minutos, Armstrong e Aldrin exploraram o local, coletando amostras e tirando fotos.
— Aquilo deixou todo mundo impressionado. Fiquei sensibilizado de ver. Me marcou muito, e talvez até inconscientemente tenha me levado a optar pela carreira que eu escolhi — relembra Luiz Augusto, que hoje, claro, é astrônomo.
Como ele, mais de meio bilhão de pessoas, conforme a Nasa - a agência espacial norte-americana - viram a transmissão naquele dia. Os três astronautas voltaram à Terra sãos e salvos, e dois deles continuam vivos. Armstrong morreu em 2012, aos 82 anos.
É lamentável que essas viagens tenham cessado. O interesse científico permanece, mas não há mais o mesmo interesse político.
LUIZ AUGUSTO DA SILVA
professor de Física e Astronomia na UFRGS
Aldrin e Collins são atualmente alguns dos nomes mais proeminentes no incentivo para que a humanidade retome esse tipo de exploração espacial. Desde aquele dia marcante, outras cinco expedições, todas dos EUA, cumpriram o mesmo feito. A última foi em 1972. Há 50 anos, portanto, um astronauta pisava na Lua. Já faz 47 anos, porém, que nenhum outro volta para lá.
— É lamentável que essas viagens tenham cessado. Cientistas vêm afirmando que a Lua ainda tem muitos segredos que a gente não conhece. O interesse científico permanece, mas não há mais o mesmo interesse político — avalia Luiz Augusto, professor de Física e Astronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Não que a humanidade tenha interrompido seus progressos no espaço. Descobriu-se, de lá para cá, que existe água na Lua e em Marte, que há uma série de exoplanetas potencialmente habitáveis por aí, que Plutão não é exatamente um planeta. Que uma sonda criada por humanos pode cruzar os limites do Sistema Solar (a Voyager 1 e a Voyager 2, lançadas em 1977, entraram no espaço interestelar), sabe-se lá para chegar até onde. E que a união de diversos países consegue erguer e manter ativa uma Estação Espacial Internacional.
Depois de uma década marcada por tantos feitos espaciais quanto a de 1960, essa lista, ainda que deixe de lado inúmeros avanços, parece surpreendentemente curta. Antes de pisar na Lua, a humanidade viu o primeiro homem chegar ao espaço (o soviético Yuri Gagarin, em 1961), a primeira mulher a realizar o mesmo feito (a russa Valentina Tereshkova, em 1963) e a primeira caminhada espacial (do cosmonauta Alexei Leonov, em 1965) - tudo em um curto período de tempo e em meio a muitos testes para avaliar a possibilidade de uma viagem ao satélite ser bem-sucedida.
— Agora, a percepção que tenho é de que as coisas andam mais devagar — comenta o astrônomo gaúcho, que coordenador do Núcleo de Astromídia da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
Mas a mobilização de agências espaciais parece indicar que essa desaceleração não há de continuar por muito tempo. Sem a disputa da Guerra Fria, mais países estão se unindo à retomada do interesse pela exploração espacial com humanos. E ninguém esconde que Marte deve ser o próximo grande marco.
Para marcar os 50 anos da chegada do homem à Lua, evento Nasa Science Says trouxe cientistas ligados à agência espacial norte-americana e levou pessoas de todas as idades ao shopping Iguatemi, em Porto Alegre
De volta à Lua?
Muitas teorias da conspiração foram criadas para apoiar a ideia de que o homem nunca realmente pisou na Lua, e que as imagens difundidas a partir do Programa Apollo não foram mais do que montagens feitas em estúdios de televisão. Depois que isso foi "descoberto", dizem, as viagens deixaram de ser realizadas. A verdade, porém, não tem a ver com qualquer encenação.
China faz primeiro pouso da história na face oculta da LuaChina faz primeiro pouso da história na face oculta da Lua
Você acredita que o homem realmente pisou na Lua?Você acredita que o homem realmente pisou na Lua?
Há 60 anos, satélite soviético tornava-se o primeiro objeto espacial a escapar da gravidade terrestreHá 60 anos, satélite soviético tornava-se o primeiro objeto espacial a escapar da gravidade terrestre
Passada a competição pela "conquista" do espaço, em que os EUA, depois de largarem atrás da Rússia, acabaram mostrando sua soberania, não havia mais motivação política para manter uma corrida espacial. Com o passar dos anos – e sem razões que levassem a crer na necessidade de ter homens e mulheres, e não robôs, viajando até a Lua seria importante –, pisar no satélite começou a perder o interesse. Argumentava-se, inclusive, que o grandioso e custoso programa que fez a humanidade chegar lá foi marcante, mas pouco produtivo do ponto de vista científico.
Com isso, outros projetos começaram a tomar a frente. Satélites, sondas, a Estação Espacial Internacional, a descoberta de outros planetas, a busca por vida fora da Terra passaram a ser questões mais valorizadas não só pela Nasa, mas também pelos outros países que, além da Rússia, passaram a angariar relevância na exploração espacial.
"A verdade é que a Nasa nunca deixou de ir à Lua, ainda que os astronautas não tenham estado lá há algum tempo. Missões envolvendo robôs continuem incrementando nosso conhecimento científico sobre a Lua", afirmou, em nota, a agência espacial norte-americana.
"Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade": assim Armstrong definiu o feito
Mas não foram apenas imagens incríveis, transmissões históricas, frases memoráveis e uma maior noção do alcance da tecnologia humana que o trio de astronautas que primeiro pousou na Lua trouxe consigo no retorno à Terra. O feito também representou uma série de avanços científicos posteriores à missão.
— O Programa Apollo mudou completamente a ideia do que era a Lua. Trouxe uma série de informações a partir do material que foi coletado, analisado em laboratório e comparado. Um dos pontos mais importantes é que, em laboratório, foi possível tratar as rochas (trazidas pela equipe), saber a composição química delas, desde os elementos comuns até aqueles incomuns ou raros na Terra — avalia Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
As contribuições que a exploração espacial deu vão muito além disso – e estão presentes no dia a dia das pessoas, ainda que não se saibam suas origens. Talvez o "travesseiro da Nasa", feito à base de viscoelástico, produto desenvolvido para revestir naves espaciais, seja a faceta mais conhecida dos chamados "spinoffs" – tecnologias feitas para missões espaciais que acabam encontrando uso bem mais abrangente. As áreas são diversas: de saúde a aviação civil, passando por meio ambiente, geração de energia e produtividade industrial, todas contêm elementos desenvolvidos a partir de experiências de pesquisa envolvendo o espaço.
— Quando falamos sobre o interesse pelo espaço, muitos pensam: "É tão caro!". Mas quem está envolvido nessas missões contribui para o desenvolvimento de tecnologias que podem ser usadas no nosso dia a dia. Os cientistas trabalham em projetos de exploração espacial pensando "Ei, sabe o que podemos fazer com isso? Um telefone melhor. Um micro-ondas melhor. Uma iluminação melhor". As luzes LED vieram da Nasa — explica Christensen.
Por meio de iniciativas próprias e do apoio a fundações, o foco das agências espaciais tem sido também atrair as novas gerações. As missões envolvendo a Lua entre as décadas de 1950 e 1970 bastaram para motivar jovens a se interessar pelo espaço naquela época. Mas a falta de avanços tão claros como naquele 20 de julho de 1969, quando se pôde ver um ser humano pisando na Lua, diminuiu essa vontade. Por isso, há um esforço para que os mais novos voltem a olhar para o céu – sabendo que, um dia, também podem chegar lá.
Buzz Aldrin na Lua é o título da famosa foto tirada por Neil Armstrong em 20 de julho de 1969, quando o homem chegou lá
https://gauchazh.clicrbs.com.br/
Há 50 anos, o homem pisava na Lua: o que mudou na corrida espacial desde 1969
Conquista completa meio século em julho e já começa a inspirar reflexões e homenagens, sobretudo nos EUA, ressaltando o interesse recorrente pelo espaço sideral
Quando tinha oito anos, Luiz Augusto da Silva assistiu, admirado, ao primeiro homem pisar na Lua. Era uma transmissão em preto e branco – em 1969, os aparelhos de televisão em cores eram raros no Brasil –, a imagem era de péssima qualidade, mas lá estava o astronauta norte-americano Neil Armstrong, saindo do módulo lunar Eagle ("águia", em inglês), naquele dia 20 de julho que ficará para sempre marcado na história da humanidade.
Asteroides e Marte: os novos desafios no espaço, 50 anos após a chegada à LuaAsteroides e Marte: os novos desafios no espaço, 50 anos após a chegada à Lua
Confira imagens históricas da Apollo 11, missão que levou o homem à LuaConfira imagens históricas da Apollo 11, missão que levou o homem à Lua
Depois de Armstrong, Buzz Aldrin também desceu, enquanto o bem menos lembrado - mas não menos importante – Michael Collins orbitava o satélite natural da Terra à espera dos dois. "A Águia pousou", havia alertado o comandante da missão, algumas horas antes: foram seis horas e 38 minutos entre a chegada na Lua e o primeiro toque humano na superfície de um novo corpo celeste. Aquela seria apenas uma das várias frases emblemáticas proferidas pelos astronautas na ocasião. Por duas horas e 30 minutos, Armstrong e Aldrin exploraram o local, coletando amostras e tirando fotos.
— Aquilo deixou todo mundo impressionado. Fiquei sensibilizado de ver. Me marcou muito, e talvez até inconscientemente tenha me levado a optar pela carreira que eu escolhi — relembra Luiz Augusto, que hoje, claro, é astrônomo.
Como ele, mais de meio bilhão de pessoas, conforme a Nasa - a agência espacial norte-americana - viram a transmissão naquele dia. Os três astronautas voltaram à Terra sãos e salvos, e dois deles continuam vivos. Armstrong morreu em 2012, aos 82 anos.
É lamentável que essas viagens tenham cessado. O interesse científico permanece, mas não há mais o mesmo interesse político.
LUIZ AUGUSTO DA SILVA
professor de Física e Astronomia na UFRGS
Aldrin e Collins são atualmente alguns dos nomes mais proeminentes no incentivo para que a humanidade retome esse tipo de exploração espacial. Desde aquele dia marcante, outras cinco expedições, todas dos EUA, cumpriram o mesmo feito. A última foi em 1972. Há 50 anos, portanto, um astronauta pisava na Lua. Já faz 47 anos, porém, que nenhum outro volta para lá.
— É lamentável que essas viagens tenham cessado. Cientistas vêm afirmando que a Lua ainda tem muitos segredos que a gente não conhece. O interesse científico permanece, mas não há mais o mesmo interesse político — avalia Luiz Augusto, professor de Física e Astronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Não que a humanidade tenha interrompido seus progressos no espaço. Descobriu-se, de lá para cá, que existe água na Lua e em Marte, que há uma série de exoplanetas potencialmente habitáveis por aí, que Plutão não é exatamente um planeta. Que uma sonda criada por humanos pode cruzar os limites do Sistema Solar (a Voyager 1 e a Voyager 2, lançadas em 1977, entraram no espaço interestelar), sabe-se lá para chegar até onde. E que a união de diversos países consegue erguer e manter ativa uma Estação Espacial Internacional.
Depois de uma década marcada por tantos feitos espaciais quanto a de 1960, essa lista, ainda que deixe de lado inúmeros avanços, parece surpreendentemente curta. Antes de pisar na Lua, a humanidade viu o primeiro homem chegar ao espaço (o soviético Yuri Gagarin, em 1961), a primeira mulher a realizar o mesmo feito (a russa Valentina Tereshkova, em 1963) e a primeira caminhada espacial (do cosmonauta Alexei Leonov, em 1965) - tudo em um curto período de tempo e em meio a muitos testes para avaliar a possibilidade de uma viagem ao satélite ser bem-sucedida.
— Agora, a percepção que tenho é de que as coisas andam mais devagar — comenta o astrônomo gaúcho, que coordenador do Núcleo de Astromídia da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
Mas a mobilização de agências espaciais parece indicar que essa desaceleração não há de continuar por muito tempo. Sem a disputa da Guerra Fria, mais países estão se unindo à retomada do interesse pela exploração espacial com humanos. E ninguém esconde que Marte deve ser o próximo grande marco.
Para marcar os 50 anos da chegada do homem à Lua, evento Nasa Science Says trouxe cientistas ligados à agência espacial norte-americana e levou pessoas de todas as idades ao shopping Iguatemi, em Porto Alegre
De volta à Lua?
Muitas teorias da conspiração foram criadas para apoiar a ideia de que o homem nunca realmente pisou na Lua, e que as imagens difundidas a partir do Programa Apollo não foram mais do que montagens feitas em estúdios de televisão. Depois que isso foi "descoberto", dizem, as viagens deixaram de ser realizadas. A verdade, porém, não tem a ver com qualquer encenação.
China faz primeiro pouso da história na face oculta da LuaChina faz primeiro pouso da história na face oculta da Lua
Você acredita que o homem realmente pisou na Lua?Você acredita que o homem realmente pisou na Lua?
Há 60 anos, satélite soviético tornava-se o primeiro objeto espacial a escapar da gravidade terrestreHá 60 anos, satélite soviético tornava-se o primeiro objeto espacial a escapar da gravidade terrestre
Passada a competição pela "conquista" do espaço, em que os EUA, depois de largarem atrás da Rússia, acabaram mostrando sua soberania, não havia mais motivação política para manter uma corrida espacial. Com o passar dos anos – e sem razões que levassem a crer na necessidade de ter homens e mulheres, e não robôs, viajando até a Lua seria importante –, pisar no satélite começou a perder o interesse. Argumentava-se, inclusive, que o grandioso e custoso programa que fez a humanidade chegar lá foi marcante, mas pouco produtivo do ponto de vista científico.
Com isso, outros projetos começaram a tomar a frente. Satélites, sondas, a Estação Espacial Internacional, a descoberta de outros planetas, a busca por vida fora da Terra passaram a ser questões mais valorizadas não só pela Nasa, mas também pelos outros países que, além da Rússia, passaram a angariar relevância na exploração espacial.
"A verdade é que a Nasa nunca deixou de ir à Lua, ainda que os astronautas não tenham estado lá há algum tempo. Missões envolvendo robôs continuem incrementando nosso conhecimento científico sobre a Lua", afirmou, em nota, a agência espacial norte-americana.
"Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade": assim Armstrong definiu o feito
Mas não foram apenas imagens incríveis, transmissões históricas, frases memoráveis e uma maior noção do alcance da tecnologia humana que o trio de astronautas que primeiro pousou na Lua trouxe consigo no retorno à Terra. O feito também representou uma série de avanços científicos posteriores à missão.
— O Programa Apollo mudou completamente a ideia do que era a Lua. Trouxe uma série de informações a partir do material que foi coletado, analisado em laboratório e comparado. Um dos pontos mais importantes é que, em laboratório, foi possível tratar as rochas (trazidas pela equipe), saber a composição química delas, desde os elementos comuns até aqueles incomuns ou raros na Terra — avalia Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
As contribuições que a exploração espacial deu vão muito além disso – e estão presentes no dia a dia das pessoas, ainda que não se saibam suas origens. Talvez o "travesseiro da Nasa", feito à base de viscoelástico, produto desenvolvido para revestir naves espaciais, seja a faceta mais conhecida dos chamados "spinoffs" – tecnologias feitas para missões espaciais que acabam encontrando uso bem mais abrangente. As áreas são diversas: de saúde a aviação civil, passando por meio ambiente, geração de energia e produtividade industrial, todas contêm elementos desenvolvidos a partir de experiências de pesquisa envolvendo o espaço.
— Quando falamos sobre o interesse pelo espaço, muitos pensam: "É tão caro!". Mas quem está envolvido nessas missões contribui para o desenvolvimento de tecnologias que podem ser usadas no nosso dia a dia. Os cientistas trabalham em projetos de exploração espacial pensando "Ei, sabe o que podemos fazer com isso? Um telefone melhor. Um micro-ondas melhor. Uma iluminação melhor". As luzes LED vieram da Nasa — explica Christensen.
Por meio de iniciativas próprias e do apoio a fundações, o foco das agências espaciais tem sido também atrair as novas gerações. As missões envolvendo a Lua entre as décadas de 1950 e 1970 bastaram para motivar jovens a se interessar pelo espaço naquela época. Mas a falta de avanços tão claros como naquele 20 de julho de 1969, quando se pôde ver um ser humano pisando na Lua, diminuiu essa vontade. Por isso, há um esforço para que os mais novos voltem a olhar para o céu – sabendo que, um dia, também podem chegar lá.
Buzz Aldrin na Lua é o título da famosa foto tirada por Neil Armstrong em 20 de julho de 1969, quando o homem chegou lá
https://gauchazh.clicrbs.com.br/
quarta-feira, 17 de julho de 2019
COMO GIGANTES DA TECNOLOGIA DOS EUA ESTÃO AJUDANDO A CONSTRUIR A VIGILÂNCIA EM MASSA DA CHINA
COMO GIGANTES DA TECNOLOGIA DOS EUA ESTÃO AJUDANDO A CONSTRUIR A VIGILÂNCIA EM MASSA DA CHINA
Ryan Gallagher
16 de Julho de 2019,
UMA ORGANIZAÇÃO AMERICANA fundada pelos gigantes da tecnologia Google e IBM vem trabalhando com uma empresa que está ajudando o governo autoritário da China a conduzir uma vigilância em massa contra seus cidadãos, é o que revela uma investigação inédita do Intercept.
A OpenPower Foundation – uma organização sem fins lucrativos liderada por executivos do Google e da IBM com o objetivo de tentar “impulsionar a inovação” – estabeleceu uma colaboração entre a IBM, a empresa chinesa Semptian e a fabricante de chips americana Xilinx. Juntas essas empresas trabalharam para promover uma série de microprocessadores que permitem que os computadores analisem grandes quantidades de dados com mais eficiência.
De acordo com fontes e documentos, a Semptian, com sede em Shenzhen, está usando os dispositivos para melhorar os recursos da tecnologia de vigilância e censura da internet fornecida às agências de segurança que abusam dos direitos humanos na China. Um funcionário da empresa disse que essa tecnologia está sendo usada para monitorar secretamente a atividade na internet de 200 milhões de pessoas.
Semptian, Google e Xilinx não responderam aos pedidos de comentários a respeito do assunto. Em comunicado, a OpenPower Foundation informou que “não se envolve nem procura ser informada a respeito de estratégias, objetivos ou atividades individuais de seus membros”, devido às leis antitruste e de concorrência. Um porta-voz da empresa afirmou que a IBM, “não trabalhou com a Semptian no desenvolvimento conjunto de tecnologia”, mas se recusou a responder a outras perguntas. Conforme uma fonte familiarizada com as operações da Semptian, a empresa havia trabalhado com a IBM através de uma plataforma de nuvem colaborativa chamada SuperVessel, que é mantida por uma unidade de pesquisa da IBM na China.
O senador Mark Warner, vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado norte-americano, disse ao Intercept que ficou alarmado com as revelações. “É preocupante ver que a China recrutou com sucesso empresas e pesquisadores ocidentais para ajudar em seus esforços de controle de informações”, disse Warner.
Para Anna Bacciarelli, pesquisadora da Anistia Internacional, a decisão da OpenPower Foundation de trabalhar com a Semptian levanta questões sobre sua adesão aos padrões internacionais de direitos humanos. “Todas as empresas têm a responsabilidade de realizar a devida diligência em direitos humanos em todas as suas operações e cadeias de fornecimento”, disse Bacciarelli, “inclusive por meio de parcerias e colaborações.”
A Semptian se apresenta publicamente como uma empresa de análise de “big data” que trabalha com provedores de internet e institutos educacionais. No entanto, uma parcela substancial dos negócios da empresa chinesa é, na realidade, gerada por meio de uma empresa de fachada chamada iNext, que vende as ferramentas de vigilância e censura da internet para governos.
A iNext opera nos mesmos escritórios na China como Semptian, com ambas as empresas ocupando o oitavo andar de uma torre no movimentado distrito de Nanshan, em Shenzhen. Semptian e iNext também compartilham os mesmos 200 funcionários e o mesmo fundador, Chen Longsen.
Depois de receber dicas de fontes confidenciais sobre o papel da Semptian na vigilância em massa, um repórter contatou a empresa usando um nome falso e fingindo ser um cliente em potencial. Em resposta, um funcionário da Semptian enviou documentos mostrando que a empresa – sob a forma de iNext – desenvolveu um sistema de vigilância em massa chamado Aegis que, segundo ele, pode “armazenar e analisar dados ilimitados”.
Nos documentos, a empresa afirma que o Aegis pode oferecer “uma visão completa do mundo virtual”, permitindo que espiões do governo vejam “as conexões de todo mundo”, incluindo “informações de localização para todos no país”.
Os documentos mostram que o sistema também pode “impedir que certas informações [na] internet sejam visitadas”, censurando conteúdos que o governo não quer que os cidadãos vejam.
As agências de segurança estatais chinesas provavelmente estão usando a tecnologia para atacar ativistas de direitos humanos.
Segundo duas fontes familiarizadas com o trabalho de Semptian, o equipamento do Aegis foi colocado nas redes de telefone e internet chinesas, permitindo que o governo do país colete secretamente registros de e-mail, telefonemas, mensagens de texto, localizações de celulares e históricos de navegação.
As agências de segurança estatais chinesas provavelmente estão usando a tecnologia para atacar ativistas de direitos humanos, defensores pró-democracia e críticos do regime do presidente Xi Jinping, disseram as fontes, que falaram sob condição de anonimato devido ao medo de represálias.
Nos e-mails, um representante da Semptian afirmou que o sistema de vigilância em massa Aegis da empresa estava processando enormes quantidades de dados pessoais em toda a China.
“O Aegis é ilimitado. Estamos lidando com milhares de Tbps [terabits por segundo] na China. São mais de 200 milhões de habitantes”, escreveu Zhu Wenying, um funcionário da Semptian, em uma mensagem em abril.
A estimativa é de que existem 800 milhões de usuários de internet na China. Isso quer dizer que, se o número de Zhu for preciso, a tecnologia da Semptian está monitorando um quarto da população total do país. O volume de dados que a empresa alega estar sendo manipulado por seus sistemas – milhares de terabits por segundo – é impressionante: uma conexão à internet de 1.000 terabits por segundo poderia transferir 3,75 milhões de horas de vídeo de alta definição a cada minuto.
“Não deve haver muitos sistemas no mundo com esse tipo de alcance e acesso”, disse Joss Wright, pesquisador sênior do instituto de internet da Universidade de Oxford. É possível que a Semptian tenha inflado seus números, disse Wright. No entanto, acrescentou, um sistema com a capacidade de acessar grandes quantidades de dados é tecnologicamente viável. “Há dúvidas sobre quanto processamento [de dados das pessoas] ocorre”, disse Wright, “mas, por qualquer definição significativa, trata-se de um vasto esforço de vigilância.”
As duas fontes familiarizadas com o trabalho da Semptian na China disseram que os equipamentos da empresa não extraem e armazenam dados de milhões de pessoas aleatoriamente. Em vez disso, disseram as fontes, o equipamento tem visibilidade nas comunicações à medida que elas passam pelas redes telefônicas e da internet e pode filtrar informações associadas a palavras, frases ou pessoas específicas.
Em resposta à solicitação de um vídeo contendo mais detalhes sobre como funciona o Aegis, Zhu concordou em enviar um, desde que o repórter disfarçado assinasse um acordo de confidencialidade. O Intercept está publicando um pequeno trecho do vídeo de 16 minutos por conta da impressionante importância pública de seu conteúdo, que mostra como milhões de pessoas na China estão sujeitas à vigilância do governo. O Intercept removeu informações que poderiam infringir a privacidade individual.
A demonstração em vídeo da Semptian mostra como o sistema Aegis rastreia os movimentos das pessoas. Se um agente do governo digitar o número do celular de uma pessoa, o Aegis pode mostrar onde o dispositivo esteve em um determinado período de tempo: os últimos três dias, a última semana, o último mês ou mais.
O vídeo exibe um mapa da China continental e amplia para seguir eletronicamente uma pessoa em Shenzhen enquanto ela percorre a cidade, indo de um aeroporto, atravessando parques e jardins, a um centro de conferências, a um hotel e passando pelos escritórios de uma empresa farmacêutica.
A tecnologia também permite que usuários do governo executem pesquisas por nome de mensagem instantânea, endereço de e-mail, conta de mídia social, usuário de fórum, comentarista de blog ou outro identificador, como um código IMSI de celular ou um endereço MAC de computador, uma série exclusiva de números associado a cada dispositivo.
Em muitos casos, parece que o sistema é capaz de coletar todo o conteúdo de uma comunicação, como o áudio gravado de uma chamada telefônica ou o corpo escrito de uma mensagem de texto, não apenas os metadados, que mostram o remetente e o destinatário de um e-mail, ou os números de telefone para o qual alguém ligou e quando. Se o sistema pode acessar o conteúdo completo de uma mensagem, isso provavelmente depende de ela ter sido protegido com criptografia forte.
Zhu, o funcionário da Semptian, escreveu em e-mails que a empresa poderia fornecer aos governos uma instalação do Aegis com capacidade para monitorar a atividade de 5 milhões de pessoas na internet por um custo entre US$ 1,5 milhão e US$ 2,5 milhões. Para espionar outras comunicações, o custo aumentaria.
“Se adicionarmos chamadas telefônicas, mensagens SMS, localidades”, segundo Zhu, “serão adicionados de US$ 2 a US$ 5 milhões, dependendo da rede.”
EM SETEMBRO DE 2015, a Semptian se juntou à OpenPower Foundation, uma organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos, fundada pelos gigantes da tecnologia Google e IBM. A atual presidente da fundação é Michelle Rankin, da IBM, e seu diretor é Chris Johnson, do Google.
Registrada em Nova Jersey como uma organização de “melhoria da comunidade”, a fundação afirma que seu objetivo é compartilhar os avanços em tecnologia de redes, servidores, armazenamento de dados e processamento. De acordo com seu site, a fundação quer “permitir que os centros de dados de hoje repensem sua abordagem à tecnologia”, bem como “impulsionar a inovação e oferecer mais opções no setor”.
A Semptian se beneficiou da colaboração com empresas americanas obtendo acesso a conhecimento especializado e novas tecnologias. Em seu site, a empresa chinesa se orgulha de estar “trabalhando ativamente com empresas de classe mundial, como a IBM e a Xilinx”. Também afirma que é a única empresa na região da Ásia-Pacífico que pode fornecer a seus clientes novos dispositivos de processamento de dados desenvolvidos com a ajuda dessas empresas dos EUA.
No ano passado, a OpenPower Foundation declarou em seu site que estava “muito feliz” que a Semptian estivesse trabalhando com a IBM, a Xilinx e outras corporações americanas. A fundação afirmou que também estava “trabalhando com grandes universidades e instituições de pesquisa na China”. Em dezembro, os executivos da OpenPower organizaram uma cúpula em Pequim, no hotel cinco estrelas Sheraton Grand, no distrito de Dongcheng. Representantes da Semptian foram convidados a comparecer e demonstrar aos colegas americanos novas tecnologias de análise de vídeo que vêm desenvolvendo para finalidades que incluem “monitoramento da opinião pública”, disse uma fonte ao Intercept.
“Às vezes parece que existe uma política de ‘não perguntar, não contar’, de lucro acima da ética.”
Não está claro por que os gigantes da tecnologia dos EUA escolheram trabalhar com a Semptian. A decisão pode ter sido tomada como parte de uma estratégia mais ampla para estabelecer laços mais estreitos com a China e obter maior acesso ao lucrativo mercado do país do leste asiático. Um porta-voz da OpenPower Foundation se recusou a responder perguntas sobre o trabalho da organização com a Semptian, dizendo apenas que “a tecnologia disponível através da fundação é de uso geral, está comercialmente disponível em todo o mundo e não exige uma licença de exportação dos EUA”.
Segundo Elsa Kania, pesquisadora sênior adjunta do Centro para uma Nova Segurança Americana, um think tank de política, em alguns casos, parcerias comerciais e colaborações acadêmicas entre empresas americanas e chinesas são importantes e valiosas, “mas quando é uma empresa conhecida por estar tão intimamente ligada a censura ou vigilância e é profundamente cúmplice em abusos dos direitos humanos, é algo muito preocupante”.
“Eu esperava que as empresas americanas tivessem processos rigorosos de análise ética antes de qualquer envolvimento”, disse Kania. “Mas às vezes parece que existe uma política de ‘não perguntar, não contar’, de lucro acima da ética.”
A Semptian, que foi fundada em 2003, tem sido uma parceira de confiança do governo da China há anos. O regime concedeu à empresa o status de “Empresa Nacional de Alta Tecnologia”, o que significa que ela passou por várias análises e auditorias conduzidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. As empresas que recebem esse status especial são recompensadas com tratamento preferencial do governo na forma de isenções fiscais e outros tipos de apoio.
Em 2011, a revista alemã Der Spiegel publicou um artigo destacando a estreita relação da Semptian com o estado chinês. A empresa ajudou a estabelecer aspectos do chamado Grande Firewall, um sistema de censura na internet que bloqueia sites que o Partido Comunista considera indesejáveis, como aqueles sobre direitos humanos e democracia. “A tecnologia de controle de rede da Semptian está em uso em algumas das principais cidades chinesas”, informou a Spiegel na época.
Em 2013, a Semptian começou a promover seus produtos em todo o mundo. Os representantes da empresa viajaram para a Europa, onde apareceram em uma feira de segurança realizada em uma sala de conferências no nordeste de Paris. Documentos mostram que, naquele evento, a Semptian ofereceu a funcionários de governos internacionais a chance de copiar o modelo de internet chinês comprando um “Firewall Nacional”, que a empresa disse ser capaz de “bloquear informações indesejáveis da internet”.
Apenas dois anos depois, foi aprovada a participação da Semptian na OpenPower Foundation, e a empresa começou a usar a tecnologia americana para tornar seus sistemas de vigilância e censura mais poderosos.
Tradução: Cássia Zanon
THEINTERCEPT_BRASIL
https://theintercept.com/2019/07/16/vigilancia-em-massa-da-china/
Bolsonaro prevê liberação de recursos do FGTS, equipe econômica propõe alternativas
Bolsonaro prevê liberação de recursos do FGTS, equipe econômica propõe alternativas
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quarta-feira, na Argentina, que o governo vai anunciar esta semana a liberação de recursos de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores e procurou mostrar otimismo sobre a recuperação da economia brasileira.
“Está previsto para essa semana isso aí”, disse Bolsonaro a jornalistas sobre a liberação de recursos do Fundo.
“É uma injeção, uma pequena injeção na economia, né? E é bem-vindo isso aí porque começa a economia, segundo especialistas, aí, a dar sinal de recuperação pelos sinais positivos, em especial, também, que estão vindo do Parlamento”, acrescentou, numa referência a recentes indicadores e à aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência pela Câmara dos Deputados.
Segundo fonte ouvida pela Reuters, a equipe econômica enviará nesta quarta-feira dois projetos para Bolsonaro bater o martelo sobre o tema. Um deles contempla a liberação de contas ativas e inativas do FGTS, com saques escalonados na data de aniversário dos trabalhadores.
O outro projeto envolve apenas as contas inativas, ligadas a vínculos empregatícios já encerrados.
No primeiro caso, as estimativas da equipe econômica apontavam uma liberação mais próxima de 30 bilhões de reais com os saques, em contraposição ao patamar de 42 bilhões de reais apontado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao jornal Valor Econômico desta quarta-feira.
A cifra mais modesta deve-se, de acordo com a fonte, a cálculos que foram atualizados para não colocar em risco o funding da habitação. O FGTS responde por quase metade dos recursos direcionados para a compra de moradia via crédito imobiliário.
Uma segunda fonte com conhecimento do assunto disse à Reuters que a operacionalização dos saques ainda não tinha sido formalmente discutida pelo governo.
Oficialmente, o Ministério da Economia se limitou a dizer que, por enquanto, “não há previsão de anúncio oficial de medidas” sobre o assunto.
Em 2017, o governo do ex-presidente Michel Temer abriu uma janela para que as contas do FGTS fossem liberadas, mas apenas as inativas. Com isso, foram sacados 44 bilhões de reais, numa investida considerada fundamental para aquecer a economia naquele ano.
Em nota desta quarta-feira, o vice-presidente de Habitação Popular do SinduCon-SP, Ronaldo Cury, afirmou que a liberação de depósitos do FGTS para fomentar o consumo poderá colocar em risco a sustentabilidade do fundo no longo prazo.
De acordo com a entidade, o fluxo de caixa do FGTS previsto para 2019 indica uma disponibilidade de 112,145 bilhões de reais e saldo em dezembro de 94,004 bilhões de reais, dos quais 31,634 bilhões referentes à reserva legal para cobertura de saques.
“Já aumentou o volume de saques diminuindo sistematicamente assim o valor do saldo total. O alerta foi dado, e provavelmente devemos encarar uma sucessão de revisões para baixo dos orçamentos futuros como forma de honrar compromissos assumidos e manter o FGTS”, disse Cury.
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quarta-feira, na Argentina, que o governo vai anunciar esta semana a liberação de recursos de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores e procurou mostrar otimismo sobre a recuperação da economia brasileira.
“Está previsto para essa semana isso aí”, disse Bolsonaro a jornalistas sobre a liberação de recursos do Fundo.
“É uma injeção, uma pequena injeção na economia, né? E é bem-vindo isso aí porque começa a economia, segundo especialistas, aí, a dar sinal de recuperação pelos sinais positivos, em especial, também, que estão vindo do Parlamento”, acrescentou, numa referência a recentes indicadores e à aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência pela Câmara dos Deputados.
Segundo fonte ouvida pela Reuters, a equipe econômica enviará nesta quarta-feira dois projetos para Bolsonaro bater o martelo sobre o tema. Um deles contempla a liberação de contas ativas e inativas do FGTS, com saques escalonados na data de aniversário dos trabalhadores.
O outro projeto envolve apenas as contas inativas, ligadas a vínculos empregatícios já encerrados.
No primeiro caso, as estimativas da equipe econômica apontavam uma liberação mais próxima de 30 bilhões de reais com os saques, em contraposição ao patamar de 42 bilhões de reais apontado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao jornal Valor Econômico desta quarta-feira.
A cifra mais modesta deve-se, de acordo com a fonte, a cálculos que foram atualizados para não colocar em risco o funding da habitação. O FGTS responde por quase metade dos recursos direcionados para a compra de moradia via crédito imobiliário.
Uma segunda fonte com conhecimento do assunto disse à Reuters que a operacionalização dos saques ainda não tinha sido formalmente discutida pelo governo.
Oficialmente, o Ministério da Economia se limitou a dizer que, por enquanto, “não há previsão de anúncio oficial de medidas” sobre o assunto.
Em 2017, o governo do ex-presidente Michel Temer abriu uma janela para que as contas do FGTS fossem liberadas, mas apenas as inativas. Com isso, foram sacados 44 bilhões de reais, numa investida considerada fundamental para aquecer a economia naquele ano.
Em nota desta quarta-feira, o vice-presidente de Habitação Popular do SinduCon-SP, Ronaldo Cury, afirmou que a liberação de depósitos do FGTS para fomentar o consumo poderá colocar em risco a sustentabilidade do fundo no longo prazo.
De acordo com a entidade, o fluxo de caixa do FGTS previsto para 2019 indica uma disponibilidade de 112,145 bilhões de reais e saldo em dezembro de 94,004 bilhões de reais, dos quais 31,634 bilhões referentes à reserva legal para cobertura de saques.
“Já aumentou o volume de saques diminuindo sistematicamente assim o valor do saldo total. O alerta foi dado, e provavelmente devemos encarar uma sucessão de revisões para baixo dos orçamentos futuros como forma de honrar compromissos assumidos e manter o FGTS”, disse Cury.
terça-feira, 16 de julho de 2019
Bolsonaro não recorre e processo que considerou esfaqueador inimputável é encerrado
Bolsonaro não recorre e processo que considerou esfaqueador inimputável é encerrado
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O processo que considerou Adélio Bispo de Oliveira, autor de uma facada contra o presidente Jair Bolsonaro quando ele era candidato no ano passado, foi encerrado depois que nem o Ministério Público nem Bolsonaro, que chegou a manifestar inconformismo com a decisão, recorreram, informou a Justiça Federal de Minas Gerais.
“A sentença foi proferida em 14 de junho de 2019. O Ministério Público Federal foi intimado em 17 de junho de 2019 e não apresentou recurso. O excelentíssimo senhor presidente da República, que atuou na ação penal como assistente da acusação, foi intimado em 28 de junho de 2019 e também não recorreu no prazo legal. Por último, a defesa de Adélio Bispo de Oliveira, intimada da sentença, renunciou ao prazo recursal em 12 de julho de 2019”, disse a Justiça em nota.
“Assim, a sentença transitou em julgado em 12 de julho de 2019, não sendo mais cabível a interposição de qualquer recurso”, acrescenta o comunicado.
No mês passado, o juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora (MG) absolveu Adélio ao considerá-lo inimputável por ser portador de uma doença mental, ao mesmo tempo que determinou que ele fosse internado por tempo indeterminado.
Bolsonaro manifestou contrariedade com a decisão, disse estar certo de que o atentado teve um mandante e afirmou que pretendia recorrer da decisão.
“Tentaram me assassinar, sim. Eu tenho a convicção de quem foi, mas não posso falar, não vou fazer pré-julgamento de ninguém”, disse o presidente a jornalistas na ocasião.
“Pretendo fazer (recorrer). Vou ver quanto custa, se der para pagar... Agora, eu não tenho dúvida que acertaram com o Adélio a tentativa de me matar.”
O então candidato foi esfaqueado em setembro do ano passado quando fazia campanha em Juiz de Fora. Após o ataque ele teve de passar por uma cirurgia de emergência, quando foi instalada uma bolsa de colostomia. Posteriormente, transferido para o hospital Albert Einstein, passou por mais uma operação antes de receber alta.
O presidente passou por uma terceira cirurgia no início deste ano para a retirada da bolsa de colostomia.
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O processo que considerou Adélio Bispo de Oliveira, autor de uma facada contra o presidente Jair Bolsonaro quando ele era candidato no ano passado, foi encerrado depois que nem o Ministério Público nem Bolsonaro, que chegou a manifestar inconformismo com a decisão, recorreram, informou a Justiça Federal de Minas Gerais.
“A sentença foi proferida em 14 de junho de 2019. O Ministério Público Federal foi intimado em 17 de junho de 2019 e não apresentou recurso. O excelentíssimo senhor presidente da República, que atuou na ação penal como assistente da acusação, foi intimado em 28 de junho de 2019 e também não recorreu no prazo legal. Por último, a defesa de Adélio Bispo de Oliveira, intimada da sentença, renunciou ao prazo recursal em 12 de julho de 2019”, disse a Justiça em nota.
“Assim, a sentença transitou em julgado em 12 de julho de 2019, não sendo mais cabível a interposição de qualquer recurso”, acrescenta o comunicado.
No mês passado, o juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora (MG) absolveu Adélio ao considerá-lo inimputável por ser portador de uma doença mental, ao mesmo tempo que determinou que ele fosse internado por tempo indeterminado.
Bolsonaro manifestou contrariedade com a decisão, disse estar certo de que o atentado teve um mandante e afirmou que pretendia recorrer da decisão.
“Tentaram me assassinar, sim. Eu tenho a convicção de quem foi, mas não posso falar, não vou fazer pré-julgamento de ninguém”, disse o presidente a jornalistas na ocasião.
“Pretendo fazer (recorrer). Vou ver quanto custa, se der para pagar... Agora, eu não tenho dúvida que acertaram com o Adélio a tentativa de me matar.”
O então candidato foi esfaqueado em setembro do ano passado quando fazia campanha em Juiz de Fora. Após o ataque ele teve de passar por uma cirurgia de emergência, quando foi instalada uma bolsa de colostomia. Posteriormente, transferido para o hospital Albert Einstein, passou por mais uma operação antes de receber alta.
O presidente passou por uma terceira cirurgia no início deste ano para a retirada da bolsa de colostomia.
ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO
ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO
Alexandre Andrada
16 de Julho de 2019
AS ELITES BRASILEIRAS parecem ter um hábito secular de pôr uma pedra sobre o nosso passado. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não há museus sobre o tema e mal estudamos o assunto nas escolas. O desconhecimento do brasileiro médio em relação aos horrores e às consequências da escravidão é enorme. O esquecimento não é um acaso, é um projeto.
O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. Foram mais de 4 milhões de escravizados que desembarcaram em nossos portos, principalmente nos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, entre 1530 e 1850.
Na primeira metade do século 19, mais de 2 milhões de africanos aportaram no Brasil. Era uma multidão de gente. No censo de 1872, o primeiro de nossa história, o país tinha 10 milhões de habitantes e mais da metade (58%) da população era formada por pretos e pardos, incluindo livres, libertos e escravizados.
Os escravizados, nascidos no Brasil e na África, foram a mão de obra utilizada na criação da riqueza derivada do açúcar, do algodão, do ouro, do diamante e do café, principais produtos de exportação do país. Mas eles eram também empregados domésticos, amas de leite, sapateiros, barbeiros, vendedores de rua, pedreiros, pescadores, alfaiates, ferreiros. As ruas e as casas brasileiras do século 19 transbordavam escravidão.
Em 1872, apenas 0,08% dos escravizados eram alfabetizados. Isso, por si, só explica a ausência de relatos em primeira pessoa sobre esse drama. Por sorte, existe uma única autobiografia conhecida de um africano que passou pela experiência do navio negreiro e foi escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua.
Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e frequentou uma escola religiosa localizada no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravizados já era proibido no Brasil desde 1830, graças a um acordo com a Inglaterra, e desde de 1831, por força de uma lei de iniciativa nacional. Se valessem essas leis, Baquaqua deveria ser declarado livre assim que pisasse o solo brasileiro; e seu traficante, preso. Mas esse era o mundo imaginário das leis, não o dos fatos.
Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos Estados Unidos, Baquaqua relata o drama comum aos mais de 4 milhões de africanos escravizados que aqui desembarcaram.
Capa-do-livro-de-Baquaqua-1562012079 Imagem da edição do livro de Mahommah G. Baquaqua. Foto: Bruno Veras (Public domain)
O relato dos horrores vividos no navio negreiro é pujante. Baquaqua conta que ele e seus companheiros de infortúnio foram empurrados “para o porão do navio em estado de nudez”, com “os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro”. Como “o porão era tão baixo”, eles eram obrigados a “se agachar” ou ficar sentados no chão.
A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.
Uma viagem de navio de Angola até o Recife demorava em torno de 30 dias. Amontoados e acorrentados em posição desconfortável, o porão acumulava resquícios de urina, fezes, vômitos sob um forte calor. Relatos dão conta que as pessoas nas cidades primeiro sentiam o mal cheiro desses navios antes mesmo de os verem no horizonte. “A repugnância e a sujeira daquele lugar horrível nunca será apagada da minha memória”, escreveu Baquaqua.
As terríveis condições de higiene e alimentares faziam com que a taxa de mortalidade nas viagens superasse os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.
Baquaqua conta que “a única comida” que eles tiveram durante a viagem era um “milho encharcado e cozido”. A água também era racionada: “um pint (equivalente a 400 ml) por dia era tudo o que era permitido e nada mais”.
“Houve um pobre rapaz que ficou tão desesperado por falta de água, que tentou arrancar uma faca do homem branco que trouxe a água, quando foi levado para o convés e eu nunca soube o que aconteceu com ele. Eu suponho que ele foi jogado ao mar.
A violência era crucial para manter a “ordem”. Baquaqua conta que, “quando qualquer um de nós se tornava desobediente, sua carne era cortada com uma faca”, então, “pimenta ou vinagre” eram esfregados na ferida.
Os grandes traficantes de escravos eram brasileiros e portugueses aqui residentes. Eram ricos comerciantes, cuja fortuna superava a dos produtores de açúcar e algodão. Eles eram os ricaços do Rio, Salvador, Recife etc. No Recife, na década de 1820, o maior traficante era o comerciante português Elias Coelho Cintra, que tinha o costume marcar seus escravos com a letra “E” com ferro em brasa no peito, feito gado.
Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos, sendo que 26 morreram, que se destinavam a Elias Coelho. Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos que se destinavam a Elias Coelho. Vinte e seis morreram na travessia. Fonte: Diário de Pernambuco, 1830
Hoje, um dos bairros ainda hoje mais miseráveis e violentos do centro do Recife é o dos “Coelhos”, nome derivado do fato daquela região ser de propriedade da família do maior traficante de escravos da cidade. Sempre que passo por aquela área, fico pensando que parte dos seus habitantes que sobrevivem em condições desumanas, muitos dos quais em palafitas à beira do rio Capibaribe, pode ser formada por descendentes dos escravizados marcados a ferro quente por Elias.
Ao chegarem no Brasil, esses africanos eram postos em quarentena em portos ou mesmo no interior dos navios. Sobrevivendo a essa fase, os escravizados eram obrigatoriamente batizados na fé católica e recebiam nomes à portuguesa. Viravam todos Josés, Franciscos, Marias, Catarinas – Baquaqua não diz qual era seu nome que teve em seus tempos de Brasil. A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.
A viajante estrangeira Maria Graham, que esteve no país na década de 1820, retrata o horror da visão de uma dessas localidades.
“Mal tínhamos percorrido cinquenta passos no Recife, quando ficamos absolutamente enojados com a primeira vista de um mercado de escravos. Era a primeira vez que (…) estávamos em um país de escravos; e, por mais fortes e pungentes que sejam os sentimentos em casa, quando a imaginação retrata a escravidão, eles não são nada comparados à visão desconcertante de um mercado de escravos. (…) Cerca de cinquenta jovens criaturas, meninos e meninas, com toda a aparência de doença e fome, resultante da escassez de comida e longo confinamento em lugares insalubres, estavam sentados e deitados entre os animais mais sujos das ruas ”.
Ao chegar aqui, sendo ainda “boçal” (termo utilizado para descrever os cativos que não dominavam o português), Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Seu primeiro ofício foi carregar pedras para a construção de uma casa para o seu proprietário.
Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Muitos dos escravizados no Brasil do século 19 eram os chamados “pretos de ganho”, isto é, cativos que trabalhavam na rua vendendo alguma mercadoria ou realizando algum serviço, para garantir uma renda diária ao seu proprietário.
Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870.
Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870. Foto: Acervo/Instituto Moreira Salles
A escravidão não era exclusividade da agricultura para exportação e o escravizado não era “mercadoria” acessível apenas aos ricaços. O Brasil era uma sociedade escravista no sentido mais preciso do termo. Os anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos eram a matéria mais ordinária nas páginas dos jornais brasileiros neste período.
Um viajante escocês que passou pelo Recife em 1820 relata sua visão:
“Acho que nenhuma impressão fica mais profundamente impressa em minha mente do que a visão melancólica de centenas… de milhares de escravos negros que vi na cidade… Você não pode se mover em nenhuma direção, sem que a escravidão, com todas as suas misérias multiplicadas, prenda sua atenção. Se você anda pelas ruas, você encontra os escravos, a cada hora do dia, em centenas, gemendo e suando sob seus fardos, e gastando suas vidas miseráveis no desempenho daqueles trabalhos pesados que são feitos por cavalos na Escócia e na Inglaterra”.
Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. E como tantos outros escravizados, na busca de uma fuga da dureza do cotidiano, abusou do álcool. Além da bebida, Baquaqua imita o comportamento de outros milhares de escravizados: foge. Porém, também como era a regra, acaba recapturado.
Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Era uma luta desigual. Alguns, com sorte, podiam se aquilombar em Catucá, o mais famoso quilombo existente no Recife na primeira metade do século 19, que tanto amedrontava o “cidadão de bem” da cidade.
Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravos fugidos eram parte obrigatório dos jornais brasileiros do período. Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravizados que fugiam eram parte obrigatória dos jornais brasileiros do período. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829.
Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Fonte: Diário de Pernambuco
Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Ilustração: Jacques Arago/Museu Afro Brasil (São Paulo)
Baquaqua conta que, após uma recaptura, saiu para vender pão, mas usou o dinheiro arrecadado para comprar bebida. Voltando a casa do senhor embriagado e sem dinheiro. Foi violentamente espancado. Revoltado e humilhado, Baquaqua tenta o suicídio:
“Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo. Eu então corri para o rio e me joguei, mas sendo visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui resgatado do afogamento.”
Depois disso, ele é posto à venda.
Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Fonte: Diário de Pernambuco
Baquaqua é vendido “para fora da província”. Essa era uma outra forma comum de punição e de controle dos escravizados: os que se comportavam mal eram vendidos sob a condição de serem levados para localidades distantes. Toda a sociabilidade construída pelo escravizado naquela cidade era, de repente, desfeita, em uma repetição das agruras do navio negreiro.
Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Fonte: Diário de Pernambuco
Seu destino foi o Rio de Janeiro, a capital do Império e maior cidade do país. Passou então a trabalhar a bordo de um navio. Após algumas viagens – ele narra passagens por Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, a embarcação teria como destino Nova York.
Em 1847, em solo estadunidense, Baquaqua conseguiu finalmente fugir da condição de escravizado e se tornou, mais uma vez, um homem livre. Seus companheiros no Brasil, porém, teriam que esperar até 1888 para terem a mesma sorte.
Livres, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo “científico” que ganha força no final do século 19 e começo do século 20. Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportavam aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.
Nos EUA, neste exato momento, está em debate no Congresso a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”. O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite.
Dependemos do apoio de leitores como você para continuar fazendo jornalismo independente e investigativo. Junte-se a nós
https://theintercept.com/2019/07/15/baquaqua-escravidao-brasil-elite/
theintercept.com.br
Alexandre Andrada
16 de Julho de 2019
AS ELITES BRASILEIRAS parecem ter um hábito secular de pôr uma pedra sobre o nosso passado. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não há museus sobre o tema e mal estudamos o assunto nas escolas. O desconhecimento do brasileiro médio em relação aos horrores e às consequências da escravidão é enorme. O esquecimento não é um acaso, é um projeto.
O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. Foram mais de 4 milhões de escravizados que desembarcaram em nossos portos, principalmente nos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, entre 1530 e 1850.
Na primeira metade do século 19, mais de 2 milhões de africanos aportaram no Brasil. Era uma multidão de gente. No censo de 1872, o primeiro de nossa história, o país tinha 10 milhões de habitantes e mais da metade (58%) da população era formada por pretos e pardos, incluindo livres, libertos e escravizados.
Os escravizados, nascidos no Brasil e na África, foram a mão de obra utilizada na criação da riqueza derivada do açúcar, do algodão, do ouro, do diamante e do café, principais produtos de exportação do país. Mas eles eram também empregados domésticos, amas de leite, sapateiros, barbeiros, vendedores de rua, pedreiros, pescadores, alfaiates, ferreiros. As ruas e as casas brasileiras do século 19 transbordavam escravidão.
Em 1872, apenas 0,08% dos escravizados eram alfabetizados. Isso, por si, só explica a ausência de relatos em primeira pessoa sobre esse drama. Por sorte, existe uma única autobiografia conhecida de um africano que passou pela experiência do navio negreiro e foi escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua.
Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e frequentou uma escola religiosa localizada no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravizados já era proibido no Brasil desde 1830, graças a um acordo com a Inglaterra, e desde de 1831, por força de uma lei de iniciativa nacional. Se valessem essas leis, Baquaqua deveria ser declarado livre assim que pisasse o solo brasileiro; e seu traficante, preso. Mas esse era o mundo imaginário das leis, não o dos fatos.
Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos Estados Unidos, Baquaqua relata o drama comum aos mais de 4 milhões de africanos escravizados que aqui desembarcaram.
Capa-do-livro-de-Baquaqua-1562012079 Imagem da edição do livro de Mahommah G. Baquaqua. Foto: Bruno Veras (Public domain)
O relato dos horrores vividos no navio negreiro é pujante. Baquaqua conta que ele e seus companheiros de infortúnio foram empurrados “para o porão do navio em estado de nudez”, com “os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro”. Como “o porão era tão baixo”, eles eram obrigados a “se agachar” ou ficar sentados no chão.
A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.
Uma viagem de navio de Angola até o Recife demorava em torno de 30 dias. Amontoados e acorrentados em posição desconfortável, o porão acumulava resquícios de urina, fezes, vômitos sob um forte calor. Relatos dão conta que as pessoas nas cidades primeiro sentiam o mal cheiro desses navios antes mesmo de os verem no horizonte. “A repugnância e a sujeira daquele lugar horrível nunca será apagada da minha memória”, escreveu Baquaqua.
As terríveis condições de higiene e alimentares faziam com que a taxa de mortalidade nas viagens superasse os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.
Baquaqua conta que “a única comida” que eles tiveram durante a viagem era um “milho encharcado e cozido”. A água também era racionada: “um pint (equivalente a 400 ml) por dia era tudo o que era permitido e nada mais”.
“Houve um pobre rapaz que ficou tão desesperado por falta de água, que tentou arrancar uma faca do homem branco que trouxe a água, quando foi levado para o convés e eu nunca soube o que aconteceu com ele. Eu suponho que ele foi jogado ao mar.
A violência era crucial para manter a “ordem”. Baquaqua conta que, “quando qualquer um de nós se tornava desobediente, sua carne era cortada com uma faca”, então, “pimenta ou vinagre” eram esfregados na ferida.
Os grandes traficantes de escravos eram brasileiros e portugueses aqui residentes. Eram ricos comerciantes, cuja fortuna superava a dos produtores de açúcar e algodão. Eles eram os ricaços do Rio, Salvador, Recife etc. No Recife, na década de 1820, o maior traficante era o comerciante português Elias Coelho Cintra, que tinha o costume marcar seus escravos com a letra “E” com ferro em brasa no peito, feito gado.
Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos, sendo que 26 morreram, que se destinavam a Elias Coelho. Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos que se destinavam a Elias Coelho. Vinte e seis morreram na travessia. Fonte: Diário de Pernambuco, 1830
Hoje, um dos bairros ainda hoje mais miseráveis e violentos do centro do Recife é o dos “Coelhos”, nome derivado do fato daquela região ser de propriedade da família do maior traficante de escravos da cidade. Sempre que passo por aquela área, fico pensando que parte dos seus habitantes que sobrevivem em condições desumanas, muitos dos quais em palafitas à beira do rio Capibaribe, pode ser formada por descendentes dos escravizados marcados a ferro quente por Elias.
Ao chegarem no Brasil, esses africanos eram postos em quarentena em portos ou mesmo no interior dos navios. Sobrevivendo a essa fase, os escravizados eram obrigatoriamente batizados na fé católica e recebiam nomes à portuguesa. Viravam todos Josés, Franciscos, Marias, Catarinas – Baquaqua não diz qual era seu nome que teve em seus tempos de Brasil. A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.
A viajante estrangeira Maria Graham, que esteve no país na década de 1820, retrata o horror da visão de uma dessas localidades.
“Mal tínhamos percorrido cinquenta passos no Recife, quando ficamos absolutamente enojados com a primeira vista de um mercado de escravos. Era a primeira vez que (…) estávamos em um país de escravos; e, por mais fortes e pungentes que sejam os sentimentos em casa, quando a imaginação retrata a escravidão, eles não são nada comparados à visão desconcertante de um mercado de escravos. (…) Cerca de cinquenta jovens criaturas, meninos e meninas, com toda a aparência de doença e fome, resultante da escassez de comida e longo confinamento em lugares insalubres, estavam sentados e deitados entre os animais mais sujos das ruas ”.
Ao chegar aqui, sendo ainda “boçal” (termo utilizado para descrever os cativos que não dominavam o português), Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Seu primeiro ofício foi carregar pedras para a construção de uma casa para o seu proprietário.
Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Muitos dos escravizados no Brasil do século 19 eram os chamados “pretos de ganho”, isto é, cativos que trabalhavam na rua vendendo alguma mercadoria ou realizando algum serviço, para garantir uma renda diária ao seu proprietário.
Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870.
Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870. Foto: Acervo/Instituto Moreira Salles
A escravidão não era exclusividade da agricultura para exportação e o escravizado não era “mercadoria” acessível apenas aos ricaços. O Brasil era uma sociedade escravista no sentido mais preciso do termo. Os anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos eram a matéria mais ordinária nas páginas dos jornais brasileiros neste período.
Um viajante escocês que passou pelo Recife em 1820 relata sua visão:
“Acho que nenhuma impressão fica mais profundamente impressa em minha mente do que a visão melancólica de centenas… de milhares de escravos negros que vi na cidade… Você não pode se mover em nenhuma direção, sem que a escravidão, com todas as suas misérias multiplicadas, prenda sua atenção. Se você anda pelas ruas, você encontra os escravos, a cada hora do dia, em centenas, gemendo e suando sob seus fardos, e gastando suas vidas miseráveis no desempenho daqueles trabalhos pesados que são feitos por cavalos na Escócia e na Inglaterra”.
Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. E como tantos outros escravizados, na busca de uma fuga da dureza do cotidiano, abusou do álcool. Além da bebida, Baquaqua imita o comportamento de outros milhares de escravizados: foge. Porém, também como era a regra, acaba recapturado.
Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Era uma luta desigual. Alguns, com sorte, podiam se aquilombar em Catucá, o mais famoso quilombo existente no Recife na primeira metade do século 19, que tanto amedrontava o “cidadão de bem” da cidade.
Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravos fugidos eram parte obrigatório dos jornais brasileiros do período. Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravizados que fugiam eram parte obrigatória dos jornais brasileiros do período. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829.
Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Fonte: Diário de Pernambuco
Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Ilustração: Jacques Arago/Museu Afro Brasil (São Paulo)
Baquaqua conta que, após uma recaptura, saiu para vender pão, mas usou o dinheiro arrecadado para comprar bebida. Voltando a casa do senhor embriagado e sem dinheiro. Foi violentamente espancado. Revoltado e humilhado, Baquaqua tenta o suicídio:
“Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo. Eu então corri para o rio e me joguei, mas sendo visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui resgatado do afogamento.”
Depois disso, ele é posto à venda.
Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Fonte: Diário de Pernambuco
Baquaqua é vendido “para fora da província”. Essa era uma outra forma comum de punição e de controle dos escravizados: os que se comportavam mal eram vendidos sob a condição de serem levados para localidades distantes. Toda a sociabilidade construída pelo escravizado naquela cidade era, de repente, desfeita, em uma repetição das agruras do navio negreiro.
Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Fonte: Diário de Pernambuco
Seu destino foi o Rio de Janeiro, a capital do Império e maior cidade do país. Passou então a trabalhar a bordo de um navio. Após algumas viagens – ele narra passagens por Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, a embarcação teria como destino Nova York.
Em 1847, em solo estadunidense, Baquaqua conseguiu finalmente fugir da condição de escravizado e se tornou, mais uma vez, um homem livre. Seus companheiros no Brasil, porém, teriam que esperar até 1888 para terem a mesma sorte.
Livres, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo “científico” que ganha força no final do século 19 e começo do século 20. Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportavam aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.
Nos EUA, neste exato momento, está em debate no Congresso a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”. O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite.
Dependemos do apoio de leitores como você para continuar fazendo jornalismo independente e investigativo. Junte-se a nós
https://theintercept.com/2019/07/15/baquaqua-escravidao-brasil-elite/
theintercept.com.br
Assinar:
Postagens (Atom)