Konstantinos - Uranus

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Nietzsche



 Nietzsche
Vida e Obra
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Karl Ludwig, seu pai, pessoa culta e delicada, e seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira.

Em 1849, seu pai e seu irmão faleceram; por causa disso a mãe mudou-se com a família para Naumburg, pequena cidade às margens do Saale, onde Nietzsche cresceu, em companhia da mãe, duas tias e da avó. Criança feliz, aluno modelo, dócil e leal, seus colegas de escola o chamavam "pequeno pastor"; com eles criou uma pequena sociedade artística e literária, para a qual compôs melodias e escreveu seus primeiros versos.

Em 1858, Nietzsche obteve uma bolsa de estudos na então famosa escola de Pforta, onde haviam estudado o poeta Novalis o filósofo Fichte (1762-1814). Datam dessa época suas leituras de Schiller (1759-1805), Hölderlin (1770-1843) e Byron (1788-1824); sob essa influência e a de alguns professores, Nietzsche começou a afastar-se do cristianismo. Excelente aluno em grego e brilhante em estudos bíblicos, alemão e latim, seus autores favoritos, entre os clássicos, foram Platão (428-348 a.C.) e Ésquilo (525-456 a.C.). Durante o último ano em Pforta, escreveu um trabalho sobre o poeta Teógnis (séc. VI a.C.). Partiu em seguida para Bonn, onde se dedicou aos estudos de teologia e filosofia, mas, influenciado por seu professor predileto, Ritschl, desistiu desses estudos e passou a residir em Leipzig, dedicando-se à filologia. Ritschl considerava a filologia não apenas história das formas literárias, mas estudos das instituições e do pensamento. Nietzsche seguiu-lhe as pegadas e realizou investigações originais sobre Diógenes Laércio (séc. III), Hesíodo (séc. VIII a.C.) e Homero. A partir desses trabalhos foi nomeado, em 1869, professor de filologia em Basiléia, onde permaneceu por dez anos. A filosofia somente passou a interessá-lo a partir da leitura de O Mundo como Vontade e Representação, de Schopenhauer (1788-1860). Nietzsche foi atraído pelo ateísmo de Schopenhauer, assim como pela posição essencial que a experiência estética ocupa em sua filosofia, sobretudo pelo significado metafísico que atribui à música.

Em 1867, Nietzsche foi chamado para prestar o serviço militar, mas um acidente em exercício de montaria livrou-o dessa obrigação. Voltou então aos estudos na cidade de Leipzig. Nessa época teve início sua amizade com Richard Wagner (1813-1883), que tinha quase 55 anos e vivia então com Cosima, filha de Liszt (1811-1886). Nietzsche encantou-se com a música de Wagner e com seu drama musical, principalmente com Tristão e Isolda e com Os Mestres Cantores. A casa de campo de Tribschen, às margens do lago de Lucerna, onde Wagner morava, tornou-se para Nietzsche lugar d "refúgio e consolação". Na mesma época, apaixonou-se por Cosima, que viria a ser, em obra posterior, a "sonhada Ariane". Em cartas ao amigo Erwin Rohde, escrevia: "Minha Itália chama-se Tribschen e sinto-me ali como em minha própria casa". Na universidade, passou a tratar das relações entre a música e a tragédia grega, esboçando seu livro O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música.

O Filósofo e o Músico
Em 1870, a Alemanha entrou em guerra com a França; nessa ocasião, Nietzsche serviu o exército como enfermeiro, mas por pouco tempo, pois logo adoeceu, contraindo difteria e disenteria. Essa doença parece ter sido a origem das dores de cabeça e de estômago que acompanharam o filósofo durante toda a vida. Nietzsche restabeleceu-se lentamente e voltou a Basiléia a fim de prosseguir seus cursos.

Em 1871, publicou O Nascimento da Tragédia, a respeito da qual se costuma dizer que o verdadeiro Nietzsche fala através das figuras de Schopenhauer e de Wagner. Nessa obra, considera Sócrates (470 ou 469 a.C.-399 a.C.) um "sedutor", por ter feito triunfar junto à juventude ateniense o mundo abstrato do pensamento. A tragédia grega, diz Nietzsche, depois de ter atingido sua perfeição pela reconciliação da "embriaguez e da forma", de Dioniso e Apolo, começou a declinar quando, aos poucos, foi invadida pelo racionalismo, sob a influência "decadente" de Sócrates. Assim, Nietzsche estabeleceu uma distinção entre o apolíneo e o dionisíaco: Apolo é o deus da clareza, da harmonia e da ordem; Dioniso, o deus da exuberância, da desordem e da música. Segundo Nietzsche, o apolíneo e o dionisíaco, complementares entre si, foram separados pela civilização. Nietzsche trata da Grécia antes da separação entre o trabalho manual e o intelectual, entre o cidadão e o político, entre o poeta e o filósofo, entre Eros e Logos. Para ele a Grécia socrática, a do Logos e da lógica, a da cidade-Estado, assinalou o fim da Grécia antiga e de sua força criadora. Nietzsche pergunta como, num povo amante da beleza, Sócrates pôde atrair os jovens com a dialética, isto é, uma nova forma de disputa (ágon), coisa tão querida pelos gregos. Nietzsche responde que isso aconteceu porque a existência grega já tinha perdido sua "bela imediatez", e tornou-se necessário que a vida ameaçada de dissolução lançasse mão de uma "razão tirânica", a fim de dominar os instintos contraditórios.

Seu livro foi mal acolhido pela crítica, o que o impeliu a refletir sobre a incompatibilidade entre o "pensador privado" e o "professor público". Ao mesmo tempo, esperava-se com seu estado de saúde: dores de cabeça, perturbações oculares, dificuldades na fala. Interrompeu assim sua carreira universitária por um ano. Mesmo doente foi até Bayreuth, para assistir à apresentação de O Anel dos Nibelungos, de Wagner. Mas o "entusiasmo grosseiro" da multidão e a atitude de Wagner embriagado pelo sucesso o irritaram.

Terminada a licença da universidade para que tratasse da saúde, Nietzsche voltou à cátedra. Mas sua voz agora era tão imperceptível que os ouvintes deixaram de freqüentar seus cursos, outrora tão brilhantes. Em 1879, pediu demissão do cargo. Nessa ocasião, iniciou sua grande crítica dos valores, escrevendo Humano, Demasiado Humano; seus amigos não o compreenderam. Rompeu as relações de amizade que o ligavam a Wagner e, ao mesmo tempo, afastou-se da filosofia de Schopenhauer, recusando sua noção de "vontade culpada" e substituindo-a pela de "vontade alegre"; isso lhe parecia necessário para destruir os obstáculos da moral e da metafísica. O homem, dizia Nietzsche, é o criador dos valores, mas esquece sua própria criação e vê neles algo de "transcendente", de "eterno" e "verdadeiro", quando os valores não são mais do que algo "humano, demasiado humano".

Nietzsche, que até então interpretara a música de Wagner como o "renascimento da grande arte da Grécia", mudou de opinião, achando que Wagner inclinava-se ao pessimismo sob a influência de Schopenhauer. Nessa época Wagner voltara-se, ao mesmo tempo, a recusa do cristianismo e de Schopenhauer; para Nietzsche, ambos são parentes porque são a manifestação da decadência, isto é, da fraqueza e da negação. Irritado com o antigo amigo, Nietzsche escreveu: "Não há nada de exausto, nada de caduco, nada de perigoso para a vida, nada que calunie o mundo no reino do espírito, que não tenha encontrado secretamente abrigo em sua arte; ele dissimula o mais negro obscurantismo nos orbes luminosos do ideal. Ele acaricia todo o instinto niilista (budista) e embeleza-o com a música; acaricia toda a forma de cristianismo e toda expressão religiosa de decadência".

Solidão, Agonia e Morte
Em 1880, Nietzsche publicou O Andarilho e sua Sombra: um ano depois apareceu Aurora, com a qual se empenhou "numa luta contra a moral da auto-renúncia". Mais uma vez, seu trabalho não foi bem acolhido por seus amigos; Erwin Rohde nem chegou a agradecer-lhe o recebimento da obra, nem respondeu à carta que Nietzsche lhe enviara. Em 1882, veio à luz A Gaia Ciência, depois Assim falou Zaratustra (1884), Para Além de Bem e Mal (1886), O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche contra Wagner (1888). Ecce Homo, Ditirambos Dionisíacos, O Anticristo e Vontade de Potência só apareceram depois de sua morte.

Durante o verão de 1881, Nietzsche residiu em Haute-Engandine, na pequena aldeia de Silvaplana, e, durante um passeio, teve a intuição de O Eterno Retorno, redigido logo depois. Nessa obra defendeu a tese de que o mundo passa indefinidamente pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal. De Silvaplana, Nietzsche transferiu-se para Gênova, no outono de 1881, e depois para Roma, onde permaneceu por insistência de Fräulein von Meysenburg, que pretendia casá-lo com uma jovem finlandesa, Lou Andreas Salomé. Em 1882, Nietzsche propôs-lhe casamento e foi recusado, mas Lou Andreas Salomé desejou continuar sua amiga e discípula. Encontraram-se mais tarde na Alemanha; porém, não houve a esperada adesão à filosofia nietzschiana e, assim, acabaram por se afastar definitivamente.

Em seguida, retornou à Itália, passando o inverno de 1882-1883 na baía de Rapallo. Em Rapallo, Nietzsche não se encontrava bem instalado; porém, "foi durante o inverno e no meio desse desconforto que nasceu o meu nobre Zaratustra".

No outono de 1883 voltou para a Alemanha e passou a residir em Naumburg, em companhia da mãe e da irmã. Apesar da companhia dos familiares, sentia-se cada vez mais só. Além disso, mostrava-se muito contrariado, pois sua irmã tencionava casar-se com Herr Foster, agitador anti-semita, que pretendia fundar uma empresa colonial no Paraguai, como reduto da cristandade teutônica. Nietzsche desprezava o anti-semitismo, e, não conseguindo influenciar a irmã, abandonou Naumburg.

Em princípio de abril de 1884 chegou a Veneza, partindo depois para a Suíça, onde recebeu a visita do barão Heinrich von Stein, jovem discípulo de Wagner. Von Stein esperava que o filósofo o acompanhasse a Bayreuth para ouvir o Parsifal, talvez pretendendo ser o mediador para que Nietzsche não publicasse seu ataque contra Wagner. Por seu lado, Nietzsche viu no rapaz um discípulo capaz de compreender o seu Zaratustra. Von Stein, no entanto, veio a falecer muito cedo, o que o amargurou profundamente, sucedendo-se alternâncias entre euforia e depressão. Em 1885, veio a público a Quarta parte de Assim falou Zaratustra; cada vez mais isolado, o autor só encontrou sete pessoas a quem enviá-la. Depois disso, viajou para Nice, onde veio a conhecer o intelectual alemão Paul Lanzky, que lera Assim falou Zaratustra e escrevera um artigo, publicado em um jornal de Leipzig e na Revista Européia de Florença. Certa vez, Lanzky se dirigiu a Nietzsche tratando-o de "mestre" e Nietzsche lhe respondeu: "Sois o primeiro que me trata dessa maneira".

Depois de 1888, Nietzsche passou a escrever cartas estranhas. Um ano mais tarde, em Turim, enfrentou o auge da crise; escrevia cartas ora assinando "Dioniso", ora "o Crucificado" e acabou sendo internado em Basiléia, onde foi diagnosticada uma "paralisia progressiva". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu lentamente até a apatia e a agonia. Nietzsche faleceu em Weimar, a 25 de agosto de 1900.

O Dionisíaco e o Socrático
Nietzsche enriqueceu a filosofia moderna com meios de expressão: o aforismo e o poema. Isso trouxe como conseqüência uma nova concepção da filosofia e do filósofo: não se trata mais de procurar o ideal de um conhecimento verdadeiro, mas sim de interpretar e avaliar. A interpretação procuraria fixar o sentido de um fenômeno, sempre parcial e fragmentário; a avaliação tentaria determinar o valor hierárquico desses sentidos, totalizando os fragmentos, sem, no entanto, atenuar ou suprimir a pluralidade. Assim, o aforismo nietzschiano é, simultaneamente, a arte de interpretar e a coisa a ser interpretada, e o poema constitui a arte de avaliar e a própria coisa a ser avaliada. O intérprete seria uma espécie de fisiologista e de médico, aquele que considera os fenômenos como sintomas e fala por aforismos; o avaliador seria o artista que considera e cria perspectivas, falando pelo poema. Reunindo as duas capacidades, o filósofo do futuro deveria ser artista e médico-legislador, ao mesmo tempo.

Para Nietzsche, um tipo de filósofo encontra-se entre os pré-socráticos, nos quais existe unidade entre o pensamento e a vida, esta "estimulando" o pensamento, e o pensamento "afirmando" a vida. Mas o desenvolvimento da filosofia teria trazido consigo a progressiva degeneração dessa característica, e, em lugar de uma vida ativa e de um pensamento afirmativo, a filosofia ter-se-ia proposto como tarefa "julgar a vida", opondo a ela valores pretensamente superiores, mediando-a por eles, impondo-lhes limites, condenando-a. Em lugar do filósofo-legislador, isto é, crítico de todos os valores estabelecidos e criador de novos, surgiu o filósofo metafísico. Essa degeneração, afirma Nietzsche, apareceu claramente com Sócrates, quando se estabeleceu a distinção entre dois mundos, pela oposição entre essencial e aparente, verdadeiro e falso, inteligível e sensível. Sócrates "inventou" a metafísica, diz Nietzsche, fazendo da vida aquilo que deve ser julgado, medido, limitado, em nome de valores "superiores" como o Divino, o Verdadeiro, o Belo, o Bem. Com Sócrates, teria surgido um tipo de filósofo voluntário e sutilmente "submisso", inaugurando a época da razão e do homem teórico, que se opôs ao sentido místico de toda a tradição da época da tragédia.

Para Nietzsche, a grande tragédia grega apresenta como característica o saber místico da unidade da vida e da morte e, nesse sentido, constitui uma "chave" que abre o caminho essencial do mundo. Mas Sócrates interpretou a arte trágica como algo irracional, algo que apresenta efeitos sem causas e causas sem efeitos, tudo de maneira tão confusa que deveria ser ignorada. Por isso Sócrates colocou a tragédia na categoria das artes aduladoras que representam o agradável e não o útil e pedia a seus discípulos que se abstivessem dessas emoções "indignas de filósofos". Segundo Sócrates, a arte da tragédia desvia o homem do caminho da verdade: "uma obra só é bela se obedecer à razão", formula que, segundo Nietzsche, corresponde ao aforismo "só o homem que concebe o bem é virtuoso". Esse bem ideal concebido por Sócrates existiria em um mundo supra-sensível, no "verdadeiro mundo", inacessível ao conhecimento dos sentidos, os quais só revelariam o aparente e irreal. Com tal concepção, criou-se, segundo Nietzsche, uma verdadeira oposição dialética entre Sócrates e Dioniso: "enquanto em todos os homens produtivos o instinto é uma força afirmativa e criadora, e a consciência uma força crítica e negativa, em Sócrates o instinto torna-se crítico e a consciência criadora". Assim, Sócrates, o "homem teórico", foi o único verdadeiro contrário do homem trágico e com ele teve início uma verdadeira mutação no entendimento do Ser. Com ele, o homem se afastou cada vez mais desse conhecimento, na medida em que abandonou o fenômeno do trágico, verdadeira natureza da realidade, segundo Nietzsche. Perdendo-se a sabedoria instintiva da arte trágica, restou a Sócrates apenas um aspecto da vida do espírito, o aspecto lógico-racional; faltou-lhe a visão mística, possuído que foi pelo instinto irrefreado de tudo transformar em pensamento abstrato, lógico, racional. Penetrar a própria razão das coisas, distinguindo o verdadeiro do aparente e do erro era, para Sócrates, a única atividade digna do homem. Para Nietzsche, porém, esse tipo de conhecimento não tarda a encontrar seus limites: "esta sublime ilusão metafísica de um pensamento puramente racional associa-se ao conhecimento como um instinto e o conduz incessantemente a seus limites onde este se transforma em arte".

Por essa razão, Nietzsche combateu a metafísica, retirando do mundo supra-sensível todo e qualquer valor eficiente, e entendendo as idéias não mais como "verdades" ou "falsidades", mas como "sinais". A única existência, para Nietzsche, é a aparência e seu reverso não é mais o Ser; o homem está destinado à multiplicidade, e a única coisa permitida é sua interpretação.

O Vôo da Águia, a Ascensão da Montanha
A crítica nietzschiana à metafísica tem um sentido ontológico e um sentido moral: o combate à teoria das idéias socrático-platônicas é, ao mesmo tempo, uma luta acirrada contra o cristianismo.

Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundo terrestre como um vale de lágrimas, em oposição ao mundo da felicidade eterna do além. Essa concepção constitui uma metafísica que, à luz das idéias do outro mundo, autêntico e verdadeiro, entende o terrestre, o sensível, o corpo, como o provisório, o inautêntico e o aparente. Trata-se, portanto, diz Nietzsche, de "um platonismo para o povo", de uma vulgarização da metafísica, que é preciso desmistificar. O cristianismo, continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo, repousando em dogmas e crenças que permitem à consciência fraca e escava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a resignação e a renúncia como virtudes. São os escravos e os vencidos da vida que inventaram o além para compensar a miséria; inventaram falsos valores para se consolar da impossibilidade de participação nos valores dos senhores e dos fortes; forjaram o mito da salvação da alma porque não possuíam o corpo; criaram a ficção do pecado porque não podiam participar das alegrias terrestres e da plena satisfação dos instintos da vida. "Este ódio de tudo que é humano", diz Nietzsche, "de tudo que é 'animal' e mais ainda de tudo que é 'matéria', este temor dos sentidos... este horror da felicidade e da beleza; este desejo de fugir de tudo que é aparência, mudança, dever, morte, esforço, desejo mesmo, tudo isso significa... vontade de aniquilamento, hostilidade à vida, recusa em se admitir as condições fundamentais da própria vida".

Nietzsche propôs a si mesmo a tarefa de recuperar a vida e transmutar todos os valores do cristianismo: "munido de uma tocha cuja luz não treme, levo uma claridade intensa aos subterrâneos do ideal". A imagem da tocha simboliza, no pensamento de Nietzsche, o método filológico, por ele concebido como um método crítico e que se constitui no nível da patologia, pois procura "fazer falar aquilo que gostaria de permanecer mudo". Nietzsche traz à tona, por exemplo, um significado esquecido da palavra "bom". Em latim, bonus significa também o "guerreiro", significado este que foi sepultado pelo cristianismo. Assim como esse, outros significados precisariam ser recuperados; com isso se poderia constituir uma genealogia da moral que explicaria as etapas das noções de "bem" e de "mal". Para Nietzsche essas etapas são o ressentimento ("é tua culpa se sou fraco e infeliz"); a consciência da culpa (momento em que as formas negativas se interiorizam, dizem-se culpadas e voltam-se contra si mesmas); e o ideal ascético (momento de sublimação do sofrimento e de negação da vida). A partir daqui, a vontade de potência torna-se vontade de nada e a vida transforma-se em fraqueza e mutilação, triunfando o negativo e a reação contra a ação. Quando esse niilismo triunfa, diz Nietzsche, a vontade de potência deixa de querer significar "criar" para querer dizer "dominar"; essa é a maneira como o escravo a concebe. Assim, na fórmula "tu és mau, logo eu sou bom", Nietzsche vê o triunfo da moral dos fracos que negam a vida, eu negam a "afirmação"; neles tudo é invertido: os fracos passam a se chamar fortes, a baixeza transforma-se em nobreza. A "profundidade da consciência" que busca o Bem e a Verdade, diz Nietzsche, implica resignação, hipocrisia e máscara, e o intérprete-filólogo, ao percorrer os signos para denunciá-las, deve ser um escavador dos submundos a fim de mostrar que a "profundidade da interioridade" é coisa diferente do que ela mesma pretende ser. Do ponto de vista do intérprete que desça até os bas-fonds da consciência, o Bem é a vontade do mais forte, do "guerreiro", do arauto de um apelo perpétuo à verdadeira ultrapassagem dos valores estabelecidos, do super-homem, entendida esta expressão no sentido de um ser humano que transpõe os limites do humano, é o além-do-homem. Assim, o vôo da águia, a ascensão da montanha e todas as imagens de verticalidade que se encontram em Assim falou Zaratustra representam a inversão da profundidade e a descoberta de que ela não passa de um jogo de superfície.

A etimologia nietzschiana mostra que não existe um "sentido original", pois as próprias palavras não passam de interpretações, antes mesmo de serem signos, e se elas só significam porque são "interpretações essenciais". As palavras, segundo Nietzsche, sempre foram inventadas pelas classes superiores e, assim, não indicam um significado, mas impõem uma interpretação. O trabalho do etimologista, portanto, deve centralizar-se no problema de saber o que existe para ser interpretado, na medida em que tudo é máscara, interpretação, avaliação. Fazer isso é "aliviar o que vive, dançar, criar". Zaratustra, o intérprete por excelência, é como Dioniso.

Os Limites do Humano: O Além-do-Homem
Em Ecce Homo, Nietzsche assimila Zaratustra a Dioniso, concebendo o primeiro como o triunfo da afirmação da vontade de potência e o segundo como símbolo do mundo como vontade, como um deus artista, totalmente irresponsável, amoral e superior ao lógico. Por outro lado, a arte trágica é concebida por Nietzsche como oposta à decadência e enraizada na antinomia entre a vontade de potência, aberta para o futuro, e o "eterno retorno", que faz do futuro numa repetição; esta, no entanto, não significa uma volta do mesmo nem uma volta ao mesmo; o eterno retorno nietzschiano é essencialmente seletivo. Em dois momentos de Assim falou Zaratustra (Zaratustra doente e Zaratustra convalescente), o eterno retorno causa ao personagem-título, primeiramente, uma repulsa e um medo intoleráveis que desaparecem por ocasião de sua cura, pois o que o tornava doente era a idéia de que o eterno retorno estava ligado, apesar de tudo, a um ciclo, e que ele faria tudo voltar, mesmo o homem, o "homem pequeno". O grande desgosto do homem, diz Zaratustra, aí está o que me sufocou e que me tinha entrado na garganta e também o que me tinha profetizado o adivinho: tudo é igual. E o eterno retorno, mesmo do mais pequeno, aí está a causa de meu cansaço e de toda a existência. Dessa forma, se Zaratustra se cura é porque compreende que o eterno retorno abrange o desigual e a seleção. Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declínio são apenas a outra face da alegria, da ressurreição e da volta. Por isso, "os homens não têm de fugir à vida como os pessimistas", diz Nietzsche, "mas, como alegres convivas de um banquete que desejam suas taças novamente cheias, dirão à vida: uma vez mais".

Para Nietzsche, portanto, o verdadeiro oposto a Dioniso não é mais Sócrates, mas o Crucificado. Em outros termos, a verdadeira oposição é a que contrapõe, de um lado, o testemunho contra a vida e o empreendimento de vingança que consiste em negar a vida; de outro, a afirmação do devir e do múltiplo, mesmo na dilaceração dos membros dispersos de Dioniso. Com essa concepção, Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer: em lugar do desespero de uma vida para a qual tudo se tornou vão, o homem descobre no eterno retorno a plenitude de uma existência ritmada pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal. O eterno retorno, e apenas ele, oferece, diz Nietzsche, uma "saída fora da mentira de dois mil anos", e a transmutação dos valores traz consigo o novo homem que se situa além do próprio homem.

Esse super-homem nietzschiano não é um ser, cuja vontade "deseje dominar". Se se interpreta vontade de potência, diz Nietzsche, como desejo de dominar, faz-se dela algo dependente dos valores estabelecidos. Com isso, desconhece-se a natureza da vontade de potência como princípio plástico de todas as avaliações e como força criadora de novos valores. Vontade de potência, diz Nietzsche, significa "criar", "dar" e "avaliar".

Nesse sentido, a vontade de potência do super-homem nietzschiano o situa muito além do bem e do mal e o faz desprender-se de todos os produtos de uma cultura decadente. A moral do além-do-homem, que vive esse constante perigo e fazendo de sua vida uma permanente luta, é a moral oposta à do escravo e à do rebanho. Oposta, portanto, à moral da compaixão, da piedade, da doçura feminina e cristã. Assim, para Nietzsche, bondade, objetividade, humildade, piedade, amor ao próximo, constituem valores inferiores, impondo-se sua substituição pela virtù dos renascentistas italianos, pelo orgulho, pelo risco, pela personalidade criadora, pelo amor ao distante. O forte é aquele em que a transmutação dos valores faz triunfar o afirmativo na vontade de potência. O negativo subsiste nela apenas como agressividade própria à afirmação, como a crítica total que acompanha a criação; assim, Zaratustra, o profeta do além-do-homem, é a pura afirmação, que leva a negação a seu último grau, fazendo dela uma ação, uma instância a serviço daquele que cria, que afirma.

Compreende-se, assim, porque Nietzsche desacredita das doutrinas igualitárias, que lhe parecem "imorais", pois impossibilitam que se pense a diferença entre os valores dos "senhores e dos escravos". Nietzsche recusa o socialismo, mas em Vontade de Potência exorta os operários a reagirem "como soldados".

Uma Filosofia Confiscada
Apoiado na crítica nietzschiana aos valores da moral cristã, em sua teoria da vontade de potência e no seu elogio do super-homem, desenvolveu-se um pensamento nacionalista e racista, de tal forma que se passou a ver no autor de Assim Falou Zaratustra um percursor do nazismo. A principal responsável por essa deformação foi sua irmã Elisabeth, que, ao assegurar a difusão de seu pensamento, organizando o Nietzsche-Archiv, em Weimar, tentou colocá-lo a serviço do nacional-socialismo. Elisabeth, depois do suicídio do marido, que fracassara em um projeto colonial no Paraguai, reuniu arbitrariamente notas e rascunhos do irmão, fazendo publicar Vontade de Potência como a última e a mais representativa das obras de Nietzsche, retendo até 1908 Ecce Homo, escrita em 1888. Esta obra constitui uma interpretação, feita por Nietzsche, de sua própria filosofia, que não se coaduna com o nacionalismo e o racismo germânicos. Ambos foram combatidos pelo filósofo, desde sua participação na guerra franco-prussiana (1870-1871).

Por ocasião desse conflito, Nietzsche alistou-se no exército alemão, mas seu ardor patriótico logo se dissolveu, pois, para ele, a vitória da Alemanha sobre a França teria como conseqüência "um poder altamente perigoso para a cultura". Nessa época, aplaudia as palavras de seu colega em Basiléia, Jacob Burckhardt (1818-1897), que insistia junto a seus alunos para que não tomassem o triunfo militar e a expansão de um Estado como indício de verdadeira grandeza.

Em Para Além de Bem e Mal, Nietzsche revela o desejo de uma Europa unida para enfrentar o nacionalismo ("essa neurose") que ameaçava subverter a cultura européia. Por outro lado, quando confiou ao "louro" a tarefa de "virilizar a Europa", Nietzsche levou até a caricatura seu desprezo pelos alemães, homens "que introduziram no lugar da cultura a loucura política e nacional... que só sabem obedecer pesadamente, disciplinados como uma cifre oculta em um número". No mesmo sentido, Nietzsche caracterizou os heróis wagnerianos como germanos que não passam de "obediência e longas pernas". E acabou rompendo definitivamente com Wagner, por causa do nacionalismo e anti-semitismo do autor de Tristão e Isolda: "Wagner condescende a tudo que desprezo, até o anti-semitismo".

Para compreender corretamente as idéias políticas de Nietzsche, é necessário, portanto, purificá-lo de todos os desvios posteriores que foram cometidos em seu nome. Nietzsche foi ao mesmo tempo um antidemocrático e um antitotalitário. "A democracia é a forma histórica de decadência do Estado", afirmou Nietzsche, entendendo por decadência tudo aquilo que escraviza o pensamento, sobretudo um Estado que pensa em si em lugar de pensar na cultura. Em Considerações Extemporâneas essa tese é reforçada: "estamos sofrendo as conseqüências das doutrinas pregadas ultimamente por todos os lados, segundo as quais o estado é o mais alto fim do homem, e, assim, não há mais elevado fim do que servi-lo. Considero tal fato não um retrocesso ao paganismo mas um retrocesso à estupidez". Por outro lado, Nietzsche não aceitava as considerações de que a origem do Estado seja o contrato ou a convenção; essas teorias seriam apenas "fantásticas"; para ele, ao contrário, o Estado tem uma origem "terrível", sendo criação da violência e da conquista e, como conseqüência, seus alicerces encontram-se na máxima que diz: "o poder dá o primeiro direito e não há direito que no fundo não seja arrogância, usurpação e violência".

O Estado, diz Nietzsche, está sempre interessado na formação de cidadãos obedientes e tem, portanto, tendência a impedir o desenvolvimento da cultura livre, tornando-a estática e estereotipada. Ao contrário disso, o Estado deveria ser apenas um meio para a realização da cultura e para fazer nascer o além-do-homem.

Assim Falou Zaratustra
Em Ecce Homo, Nietzsche intitulou seus capítulos: "Por que sou tão finalista?", "Por que sou tão sábio?", "Por que sou tão inteligente?", "Por que escrevo livros tão bons?". Isso levou muitos a considerarem sua obra como anormal e desqualificada pela loucura. Essa opinião, no entanto, revela um superficial entendimento de seu pensamento. Para entendê-lo corretamente, é necessário colocar-se dentro do próprio núcleo de sua concepção da filosofia: Nietzsche inverteu o sentido tradicional da filosofia, fazendo dela um discurso ao nível da patologia e considerando a doença "um ponto de vista" sobre a saúde e vice-versa. Para ele, nem a saúde, nem a doença são entidades; a fisiologia e a patologia são uma única coisa; as oposições entre bem e mal, verdadeiro e falso, doença e saúde são apenas jogos de superfície. Há uma continuidade, diz Nietzsche, entre a doença e a saúde e a diferença entre as duas é apenas de grau, sendo a doença um desvio interior à própria vida; assim, não há fato patológico.

A loucura não passa de uma máscara que esconde alguma coisa, esconde um saber fatal e "demasiado certo". A técnica utilizada pelas classes sacerdotais para a cura da loucura é a "meditação ascética", que consiste em enfraquecer os instintos e expulsar as paixões; com isso, a vontade de potência, a sensualidade e o livre florescimento do eu são considerados "manifestações diabólicas". Mas, para Nietzsche, aniquilar as paixões é uma "triste loucura", cuja decifração cabe à filosofia, pois é a loucura que torna mais plano o caminho para as idéias novas, rompendo os costumes e as superstições veneradas e constituindo uma verdadeira subversão dos valores. Para Nietzsche, os homens do passado estiveram mais próximos da idéia de que onde existe loucura há um grão de gênio e de sabedoria, alguma coisa de divino: "Pela loucura os maiores feitos foram espalhados foram espalhados pela Grécia". Em suma, aos "filósofos além de bem e mal", aos emissários dos novos valores e da nova moral não resta outro recurso, diz Nietzsche, a não ser o de proclamar as novas leis e quebrar o jugo da moralidade, sob o travestimento da loucura. É dentro dessa perspectiva, portanto, que se deve compreender a presença da loucura na obra de Nietzsche. Sua crise final apenas marcou o momento em que a "doença" saiu de sua obra e interrompeu seu prosseguimento. As últimos cartas de Nietzsche são o testemunho desse momento extremo e, como tal, pertencem ao conjunto de sua obra e de seu pensamento. A filosofia foi, para ele, a arte de deslocar as perspectivas, da saúde à doença, e a loucura deveria cumprir a tarefa de fazer a crítica escondida da decadência dos valores e aniquilamento: "Na verdade, a doença pode ser útil a um homem ou a uma tarefa, ainda que para outros signifique doença... Não fui um doente nem mesmo por ocasião da maior enfermidade".



Leia mais: http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm#ixzz2rMI8blkf

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Especialistas debatem o fenômeno do "rolezinho"





Especialistas debatem o fenômeno do "rolezinho"

Cidadania

Thaís Antonio
Repórter do Radiojornalismo da EBC

Brasília - “Rolezinhos” estão sendo programados pelas redes sociais em mais de dez estados para as próximas semanas. Em muitos deles, movimentos sociais e universitários organizam os encontros em protesto à repressão policial contra a reunião que ocorreu em um shopping de Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo. Na linguagem popular, “rolezinho” significa passear ou dar uma volta. Nas últimas semanas, a palavra tem sido bastante usada para descrever reuniões de jovens, principalmente da periferia, em shopping centers.

De acordo com a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivana Bentes, o fenômeno tem um forte caráter político e surpreende por resgatar o espírito das manifestações do ano passado em um cenário inusitado, os shoppings. “Mesmo que não tivesse uma intenção de causar politicamente, ele é político. A simples existência de um jovem negro da periferia dentro de um shopping center, sendo rejeitado, sendo considerado um consumidor indesejado, já é um fato político, independentemente da intencionalidade”, disse. “Acho muito importante que outros grupos sociais tenham se organizado para manifestar solidariedade a esses jovens”, completou.

O chamado “rolezinho” começou em São Paulo, no fim do ano passado. Desde então, vários ocorreram, chegando a reunir milhares de pessoas. No último sábado (11) foi no Shopping Itaquera, teve a participação de 6 mil jovens e terminou em confronto com a Polícia Militar. Daniel de Souza, o MC Danadinho, esteve presente. Ele disse que a origem do “rolezinho” são os chamados encontros de admiradores, em que fãs dos cantores de funk iam aos shoppings para encontrar os ídolos. “Antes do 'rolezinho' tinha o encontro de admiradores, que era com os famosinhos das redes sociais, que faziam o seu encontro e reuniam o povo no shopping”, declarou. “É o único lugar que todo mundo conhece e é público”.

O jovem acredita que os encontros de admiradores cresceram e se tornaram os “rolezinhos” de hoje, atraindo também pessoas que aproveitam a situação para causar tumulto. “Começou a encostar os caras que faz baderna, começou a colar os polícias para tirar a gente do shopping, começou a passar na televisão, começou a vir os caras de longe para tumultuar. Aí, por causa de uns, todos os que vão para curtir pagam do mesmo jeito dos que vão para tumultuar”, disse.

As administrações de alguns shoppings conseguiram, na Justiça, liminares para impedir os encontros. Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Fernando Menezes, o que está em jogo, nesse caso, é o direito de ir e vir e o direito à propriedade. “No caso em que um grupo, se valendo da sua liberdade de ir e vir, combina um encontro de tal volume e de tal tamanho e com tais atitudes que começam a, exageradamente, impedir o exercício de outros direitos e liberdade por outras pessoas, estão abusando do seu direito”, explicou.

O professor da Universidade de Brasília, Alexandre Bernardino, discorda. Na opinião dela, a proibição da entrada nos shoppings está ligada ao perfil dos jovens que fazem os "rolezinhos". “É claramente uma manifestação de preconceito em relação a um determinado grupamento social que se caracteriza por pobreza e por negritude, um grupo que se manifesta politicamente, no sentido mais amplo da palavra, e que não pode ter seu direito de manifestação e de ir e vir cerceado em um lugar público, porque o lugar é privado, mas é aberto ao público, então é publico”, defende.

A professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, Liana Lewis, entende que o fenômeno evidencia contrastes da sociedade brasileira. “Quando a gente trata de 'rolezinho', a gente não pode separar a questão de classe da questão de raça. O 'rolezinho' é um fenômeno de classe e de faixa etária, mas sobretudo de raça”, explicou. Para Liana, existe um estranhamento quando universos diferentes passam a ocupar o mesmo espaço. “O que mais amedronta no 'rolezinho', para além da questão de classe, é que você tem vários garotos negros em um espaço majoritariamente branco”, destacou.



Edição: Aécio Amado

Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. É necessário apenas dar crédito à Agência Brasil

Conferência de paz sobre Síria mostra divisões sobre destino de Assad


Conferência de paz sobre Síria mostra divisões sobre destino de Assad

Por Gabriela Baczynska e Stephanie Nebehay

MONTREUX, Suíça, 22 Jan (Reuters) - O governo e a oposição da Síria, que se reuniram pela primeira vez nesta quarta-feira, demonstraram hostilidade mútua, mas um mediador da Organização das Nações Unidas (ONU) disse que as partes podem estar prontas para discutir trocas de prisioneiros, cessar-fogos locais e ajuda humanitária.

A Rússia afirmou que as delegações sírias rivais prometeram se reunir a partir de sexta-feira para negociações diretas, apesar dos temores de que um impasse na reunião em Montreux sobre o destino do presidente Bashar al-Assad possa dificultar uma solução política para a guerra civil na Síria, que já matou mais de 130.000 pessoas e deixou milhões de desabrigados.

Mesmo que os lados estejam dispostos a negociar sobre medidas limitadas para construção de confiança, as expectativas para o processo de paz permanecem baixas, com uma solução geral ainda distante para a guerra que já dura quase três anos.

Autoridades ocidentais se disseram surpresas com o tom combativo adotado pelo ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, que chegou a resistir ao pedido do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, para encurtar a sua fala. Alguns diplomatas têm dúvidas sobre a possibilidade de as negociações saírem do ponto em que estão.

No entanto, o mediador internacional Lakhdar Brahimi sinalizou que ambos os lados estavam prontos para ir além da retórica. "Nós tivemos algumas indicações bastante claras de que as partes estão dispostas a discutir questões de acesso a pessoas carentes, a libertação de prisioneiros e cessar-fogos locais", disse ele em entrevista coletiva.

Ban também disse a repórteres que pediu ao governo sírio que libertasse os presos como medida de construção de confiança.

A Rússia, que organizou a conferência de Montreux em conjunto com os Estados Unidos, disse que as delegações rivais sírias concordaram em se reunir a partir de sexta-feira para negociações diretas que devem durar sete dias.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, minimizou as recriminações desta quarta-feira, quando a oposição exigiu que Assad entregasse o poder - uma demanda rejeitada por Moualem, que por sua vez descreveu as atrocidades cometidas por rebeldes "terroristas". "Pela primeira vez em três anos do sangrento conflito... os lados... concordaram em se sentar à mesa de negociações ", disse ele a jornalistas.

Lavrov, que disse ter conversado nesta quarta-feira com Moualem e o líder da oposição síria, Ahmed Jarba, exortou a oposição e seus apoiadores estrangeiros a não se concentrarem exclusivamente na mudança de liderança em Damasco.

A reunião desta quarta-feira em um hotel de Montreux expôs diferentes pontos de vista sobre forçar a saída de Assad, tanto entre o governo e a oposição, como entre potências estrangeiras que temem que o conflito esteja se espalhando para além da Síria e encorajando a militância sectária no exterior.

O opositor Jarba acusou o presidente de cometer crimes de guerra ao estilo nazista e exigiu durante o encontro de um dia em Montreux, na Suíça, que a delegação do governo sírio participe de um plano internacional para a entrega do poder.

O chanceler sírio insistiu que Assad não vai ceder às demandas externas e descreveu em sua fala atrocidades de rebeldes "terroristas" apoiados por estados árabes e ocidentais, países que estavam presentes no local.

"A esperança existe, mas é frágil. Devemos continuar porque a solução para este conflito sírio terrível é política e a continuidade das discussões depende de nós", disse o chanceler francês, Laurent Fabius. "Obviamente, quando ouvimos o representante de Bashar al-Assad, cujo tom é radicalmente diferente, sabemos que vai ser difícil."

Moualem pediu às potências internacionais que parem de "apoiar o terrorismo" e que suspendam as sanções contra Damasco.

Referindo-se aos atos dos rebeldes, ele disse: "Na Síria, os ventres das mulheres grávidas são cortados, os fetos são mortos. Mulheres são estupradas, vivas ou mortas... Homens são assassinados na frente de seus filhos em nome da revolução".

Ele insistiu que o futuro de Assad não estava em jogo, dizendo: "Ninguém neste mundo tem o direito de retirar a legitimidade de um presidente ou de um governo... além dos próprios sírios".O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, ecoou a visão dos rebeldes de que não há forma de Assad permanecer no poder sob os termos do acordo internacional de 2012, que defende uma coalizão provisória. No entanto, Lavrov condenou "interpretações unilaterais" do acordo.

A Arábia Saudita, que dá apoio aos rebeldes sunitas, defendeu que o Irã e o grupo xiita Hezbollah tirassem as suas forças da Síria. Os iranianos não compareceram ao encontro, vetados pela oposição síria e pelo Ocidente. O presidente iraniano disse que a exclusão significava que o diálogo provavelmente não teria êxito.

A conferência não conseguiu criar grandes expectativas, particularmente entre os rebeldes islâmicos, que consideram traidores os líderes da oposição que participam do encontro.

CRISE HUMANITÁRIA

O secretário-geral das Nações Unidas iniciou o encontro pedindo o acesso imediato para os comboios com ajuda humanitária para as áreas sob cerco.

"Depois de quase três dolorosos anos de conflito e sofrimento na Síria, hoje é um dia de esperança frágil, mas real", disse Ban, condenando abusos generalizados de direitos humanos. "Há grandes desafios à frente, mas eles não são insuperáveis."

No entanto, não houve sinais de que poderia haver um entendimento sobre o tema central: a permanência de Assad ou um governo de unidade nacional.

O próprio Assad disse que poderia buscar a reeleição no fim do ano. O destino do presidente divide Moscou e Washington. Ambos endossam as conclusões da reunião de 2012, conhecida como Genebra 1, mas divergem se elas significam que Assad deve sair agora.

Jarba pediu aos representantes do governo que se voltassem contra seu presidente antes do início da conferência Genebra 2."Queremos ter certeza de que temos um aliado nesta sala que passe de uma delegação de Bashar al-Assad a uma delegação livre para que todos os poderes executivos sejam retirados de Bashar al-Assad", acrescentou o líder da Coalizão Nacional.

"A minha pergunta é clara. Será que temos um aliado nesta sala?"

(Reportagem adicional de Tom Miles, Dominic Evans, Samia Nakhoul, John Irish, Lesley Wroughton e Johnny Cotton, em Montreux; de Guy Faulconbridge, em Londres; de Laila Bassam e Paris Hafezi em Ancara; e de Alexander Dziadosz, Oliver Holmes e Stephen Kalin, em Beirute)

Francis Bacon, Filósofo inglês



Bacon foi o autor do primeiro esboço racional de uma metodologia científica

Francis Bacon nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1561, e morreu na mesma cidade em 9 de abril de 1626. Sua educação orientou-se para a vida política, na qual alcançou posições elevadas. Filho de Nicholas Bacon e Ann Cooke Bacon, a mãe de Francis Bacon falava cinco idiomas e foi considerada como uma das mulheres mais eruditas de sua época.

Eleito em 1584 para a Casa dos Comuns, sucessivamente desempenhou, durante o reinado de Jaime 1º, as funções de procurador-geral, fiscal-geral, guarda do selo e grande chanceler. Em 1618 foi nomeado barão de Verulam e, em 1621, visconde de St. Albans. Acusado de corrupção pela Casa dos Comuns, foi condenado ao pagamento de pesada multa e proibido de exercer cargos públicos.

A obra de Bacon representa tentativa de realizar o vasto plano de "Instauratio magna" ("Grande restauração"). De acordo com o prefácio do "Novum organum" ("Novo método"), publicado em 1620, a "Grande restauração" deveria desenvolver-se através de seis partes: "Classificação das ciências", "Novo método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza", "Fenômenos do universo ou História natural e experimental para a fundamentação da filosofia", "Escala do entendimento ou O fio do labirinto", "Introdução ou Antecipações à filosofia segunda" e "Filosofia segunda ou Ciência nova".

A realização desse plano compreendia uma série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da época, estudavam o novo método que deveria substituir o de Aristóteles, descreviam o modo de se investigarem os fatos, passavam ao plano da investigação das leis e voltavam ao mundo dos fatos, para nele promoverem as ações que se revelassem possíveis.

Obviamente, a impossibilidade de realizar obra de tamanho vulto foi logo percebida por Bacon, que produziu apenas certo número de tratados. Não obstante, a primeira parte da "Grande restauração" chegou a completar-se e se encontra nos "Nove livros sobre a dignificação e progressos da ciência". O "Novo método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza" apareceu em 1620.


Esboço racional de metodologia científica
Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos: 1º) a poesia ou ciência da imaginação; 2º) a história ou ciência da memória; 3º) a filosofia ou ciência da razão. A história ele a subdivide em história natural e história civil. Na filosofia, distingue entre a filosofia da natureza e a antropologia.

No que se refere ao "Novum organum", Bacon se preocupou inicialmente com a análise dos fatores (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos no domínio da ciência. Classificou-os em quatro grupos: 1º) os ídolos da raça; 2º) os ídolos da caverna; 3º) os ídolos da vida pública; 4º) os ídolos da autoridade. Os primeiros correm por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. Os "ídolos da caverna" resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Os "ídolos da vida pública" vinculam-se à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos. Finalmente, os "ídolos da autoridade" decorrem da irrestrita subordinação à autoridade; por exemplo, a de Aristóteles.

O "Novum organum" é a expressão de uma perspectiva que tanto se afasta do empirismo radical quanto do racionalismo exagerado - ambos duramente criticados por Bacon.

Em função da nova metodologia, e como meio de realizar a busca das formas que se poderão revelar como regularidades no domínio dos fatos, Bacon recomenda o uso de três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua de presença, a tábua de ausência ou de declinação e a tábua de comparação. A primeira registra a presença das formas que se investigam; a segunda possibilita o controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes; finalmente, na última tábua registram-se as variações que as referidas formas manifestam.

Embora Bacon não tenha realizado nenhum progresso nas ciências naturais, ele foi o autor do primeiro esboço racional de uma metodologia científica. E sua teoria dos "ídolos" antecipa, em germe, a moderna sociologia do conhecimento.

Bacon também foi notável escritor: seus "Ensaios" são os primeiros modelos de prosa inglesa moderna.
Sentenças:

- Obedecer a natureza é comandá-la.
- Quem não usa novos remédios vai ter novas doenças.
- É melhor não ter uma opinião sobre Deus do que ter uma má opinião sobre ele.
- A verdade é filha do tempo.
- No teatro humano Deus é o espectador.
- Pouca filosofia gera o ateísmo, muita filosofia nos leva à fé.
- O homem pode tanto quanto sabe.
- A natureza humana é mais estúpida do que sábia.
- A esperança é um bom café da manhã, mas uma péssima janta.
- O dinheiro é bom servo, mas mau patrão.
- Na caridade não existe excessos.
- É triste ter poucos desejos e muitos temores.
- A natureza algumas vezes está escondida, outras dominada, mas raramente extinta.
- As ocasiões tem que ser criadas e não esperadas.
- Suspeita muito quem sabe pouco.
- A amizade duplica as alegrias e divide as angústias.
- Velha madeira para queimar, velho vinho para beber, velhos amigos para confiar e velhos livros para ler.
- O fanático não quer o idiota não pode e o covarde não ousa pensar.
- As maiores obras nasceram de homens sem filhos.
- A vingança é uma justiça selvagem.
- O silêncio é a virtude do imbecil.

Fontes: http://www.filosofia.com.br/http://educacao.uol.com.br/

Anfavea rebate FMI e diz que Brasil crescerá mais que 2,3%



Anfavea rebate FMI e diz que Brasil crescerá mais que 2,3% Daniel Lima
Da Agência Brasil, em Brasília (DF)



Alf Ribeiro
Luiz Moan, presidente da Anfavea: dirigente manda recado ao copo "meio vazio" do FMI
Luiz Moan, presidente da Anfavea: dirigente manda recado ao copo "meio vazio" do FMI
O presidente da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, detalhou nesta quarta-feira (22) para o governo as previsões de crescimento de 1,1% no setor em 2014, em comparação ao último ano, segundo relatório da entidade divulgado no início do mês. Moan esteve reunido pela manhã com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, e também fez um balanço dos resultados do setor em 2013.

Com relação ao relatório do Fundo Monetário Internacional, que reduziu de 2,5% para 2,3% as expectativas de crescimento econômico do Brasil para 2014, Moan enfatizou que não concorda com a previsão. "Tanto é que a formação bruta de capital [investimentos] este ano vai ser surpreendente,  e será crescente nos próximos anos. Quero lembrar que as últimas concessões foram feitas e os últimos leilões da parte de infraestrutura foram extremamente positivos", avaliou.

No entanto, Moan não arriscou citar um valor para o provável crescimento do país este ano.

Sobre 2013, Moan disse que "foi um ano excepcional para o setor, com recordes tanto no setor de autoveículos quanto no de máquinas, incluindo as vendas". O dirigente lembrou que, no caso do setor de máquinas, o resultado foi o recorde absoluto de comercialização no Brasil, com mais de 80 mil unidades. Na área de autoveículos, houve queda de 0,9% em comparação a 2012 -- mas mesmo assim dentro de um patamar muito alto.

Moan também disse esperar que o governo dê resposta, ainda neste primeiro semestre, a algumas reivindicações do setor, como o Inovar-Autopeças, Inovar-Máquinas e Exporta-Auto, correlatos ao Inovar-Auto, que, entre outras coisas, obrigou o aumento da nacionalização dos carros fabricados no Brasil. "No caso do Exportar-Auto, existem vários grupos formados para realizar os estudos dentro do governo", informou.

De acordo com Moan, o mecanismo que faltava para essas definições foi publicado na Medida Provisória 638, que trata, entre outros temas, da rastreabilidade. De acordo com a norma, publicada na segunda-feira (20), os fornecedores de insumos estratégicos e de ferramentas para as empresas habilitadas ao Inovar-Auto e seus fornecedores diretos ficam obrigados a informar os valores e outras características dos produtos fornecidos.

"A rastreabilidade é primordial no programa de autopeças. Estamos caminhando bem, assim como a conjuntura", garantiu. http://carros.uol.com.br/

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Dilma assina decreto que eleva salário mínimo para R$724

Presidente Dilma Rousseff é vista durante coletiva de imprensa em Brasília, em 18 de dezembro. Dilma anunciou nesta segunda-feira que assinou decreto que eleva o salário mínimo para 724 reais a partir de janeiro do ano que vem. 18/12/2013 REUTERS/Ueslei

SÃO PAULO, 23 Dez (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta segunda-feira que assinou decreto que eleva o salário mínimo para 724 reais a partir de janeiro do ano que vem.

"Assinei decreto que reajusta o salário mínimo para 724 reais a partir de janeiro de 2014 --reajuste de 6,78 por cento sobre o valor atual", disse a presidente em sua conta no serviço de microblog Twitter.

No último dia 18, a presidente havia antecipado que o salário mínimo do próximo ano ficaria entre 722 e 724 reais, contra os 678 reais atuais.

A proposta enviada pelo governo ao Congresso em agosto previa salário mínimo de 722,90 reais, mas a proposta aprovada pelos parlamentares foi de 724 reais.

O reajuste do salário mínimo é feito com base na fórmula que leva em conta a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores mais a inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O valor final é definido por decreto da Presidência.

(Reportagem de Eduardo Simões)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Comissão da Verdade de SP declara que Juscelino Kubitschek foi assassinado pela ditadura militar




O ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto num acidente de carro em 1976 em condições bastante suspeitas
POR RODRIGO RODRIGUES

A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, nominada “Comissão Vladimir Herzog” e liderada pela Câmara Municipal, declarou nesta segunda-feira (09) que não há dúvidas sobre o assassinato do ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek, morto num acidente de carro em 1976.

Em relatório que será apresentado nesta terça-feira (10) na Câmara, o presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini (PV), diz ter mais de 90 indícios, evidências e provas de que o JK não sofrera apenas um acidente de carro que o vitimou em 22 de agosto de 1976, durante viagem de carro na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro.

"Não temos dúvida de que Juscelino Kubitschek foi vítima de conspiração, complô e atentado político. Há provas documentais e testemunhos importantes, em mais de 29 páginas do relatório que será apresentado amanhã”, conta Gilberto Natalini.

Depoimentos
Há cerca de um mês e meio, a Comissão da Verdade ouviu o depoimento do motorista Josias Nunes de Oliveira, hoje com 69 anos, apontado durante a Ditadura como o responsável pelo acidente que provou a morte do ex-presidente.

Na ocasião do depoimento, Oliveira disse que depois do acidente dois homens ofereceram, na delegacia e na casa dele, dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente de 76.

O motorista dirigia o ônibus Cometa que bateu contra o carro do ex-presidente, matando Kubitschek e o motorista do carro, Geraldo Ribeiro, que na época dirigia o Chevrolet Opala adorado pelo ex-mandatário brasileiro. “Eles foram na minha casa e disseram que se eu não aceitasse o dinheiro e assumisse a culpa, eles bateriam em mim”, declarou aos vereadores Josias Nunes de Oliveira.

Além de Josias, a Comissão Municipal ouviu Serafim Jardim, que era secretário particular de Juscelino naquela ocasião; Paulo Castelo Branco, que solicitou a reabertura das investigações do caso em 1996; Paulo Oliver, um dos 33 passageiros do ônibus dirigido por Oliveira; e Gabriel Junqueira Villa Forte, filho do proprietário do hotel no qual o ex-presidente ficou hospedado antes do acidente fatal daquela noite.

No depoimento dado à comissão em Agosto, Serafim Melo Jardim disse ter certeza de que JK vinha sendo vigiado. "Acompanhei o presidente desde que voltou do exílio. Sempre que viajávamos ele dizia: "Estão querendo me matar", afirmou o ex-secretário, que acompanhou JK durante os últimos nove meses de vida.

Fraudes
Na época do acidente, Juscelino Kubitschek tinha 73 anos e havia recuperado os direitos políticos cassados pelo regime militar pouco tempo antes. Ele sempre fora tido como “inimigo dos militares” e “ameaça” à estabilidade política daquele período.

Segundo o vereador Gilberto Natalini, a partir desses quatro depoimentos a Comissão começou a investigar o caso e chegou ao veredicto: “Em cima desses depoimentos, fomos atrás de documentos que comprovassem as informações. Descobrimos laudos falsos, erros processuais e de perícia que nos levaram a declarar que Juscelino Kubitschek fora vítima de uma conspiração”, afirma o presidente da comissão.

Os documentos que comprovam a linha de raciocínio defendida pela comissão paulistana serão apresentados em reunião de amanhã, às 11h00 da manhã, na Câmara.

A partir do momento que o relatório for público, a Comissão Vladimir Herzog deve encaminhar os documentos para Brasília, no intuito de que a Comissão Nacional da Verdade também declare o assassinato de Juscelino Kubitschek. “É um caso de Justiça para com os brasileiros, a família do ex-presidente e a história do nosso país”, aponta Natalini, que também já foi perseguido político, torturado pelos militares na época do regime de exceção pela operação Oban.


Os restos do carro onde o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava na noite do acidente, em 30 agosto de 1976 (Foto: Arquivo/AE)

Direitos cassados
Além da declaração de complô contra JK, a Comissão Vladimir Herzog realiza nesta segunda-feira (09) uma cerimônia onde vai restituir o mandato para 42 ex-vereadores, cassados em São Paulo por crimes de opinião, perseguição política e de cunho ideológico.

Os mandatos incluem não apenas os crimes praticados pelos militares da junta de presidentes não eleitos que governou o País após 1964, mas também de todo o período anterior, até 1939.

Além de comunistas e socilistas, a lista incluí dois militantes de extrema direita e do antigo Partido Integralista, de Plínio Salgado. "São personagens cujo único crime foi declarar preferência partidária e ideológica. Independente de que lado estavam, tinham o direito da livre opinião e foram censurados. Apenas dois deles estão vivos. Mas através das famílias, queremos demonstrar a nossa solidariedade e preservação da memória desses valorosos parlamentares", explica Natalini        http://terramagazine.terra.com.br

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Doc: Mandela: O Homem Por Trás da Lenda (Completo e Dublado)//NatGeo

Nelson Mandela morre aos 95 anos






Nelson Mandela morre aos 95 anos
Do UOL, em São Paulo



O líder sul-africano Nelson Mandela, 95, morreu nesta quinta (5) em sua residência, em Johannesburgo, para onde havia sido levado no dia 1º de setembro após passar quase três meses internado para tratamento de uma infecção pulmonar.

O HERÓI AFRICANO

Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra a violência racial na África do Sul, Nelson Mandela - ou Madiba, como é chamado na sua terra natal - passou 27 anos preso e se tornou o primeiro presidente negro daquele país.

O ex-presidente vivia em Johannesburgo com a mulher Graça Machel, viúva de Samora Machel (1933-1986), ex-presidente moçambicano.

Mandela foi o maior símbolo de combate ao regime de segregação racial conhecido como apartheid, que foi oficializado em 1948 na África do Sul e negava aos negros (maioria da população), mestiços e asiáticos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos.

A luta contra a discriminação no país o levou a ficar 27 anos preso, acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo em 1963. Condenado à prisão perpétua, Mandela foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos. Durante sua saída, o líder foi ovacionado por uma multidão que o aguardava do lado de fora do presídio.

Em 1993, Nelson Mandela recebeu o prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o regime do apartheid. Na ocasião, ele dividiu o prêmio com Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul que iniciou o término do regime segregacionista e o libertou da prisão.

Um ano depois, em 1994, Mandela foi eleito presidente da África do Sul, após a convocação das primeiras eleições democráticas multirraciais no país. Sua vitória pôs fim a três séculos e meio de dominação da minoria branca na nação africana.

Ao tomar posse, o líder negro adotou um tom de reconciliação e superação das diferenças. Um exemplo disso foi a realização da Copa Mundial de Rúgbi, em 1995, no país. O esporte era uma herança do período colonial e, por isso, boicotado pelos negros, por representar o governo dos brancos.

Nos dois anos seguintes, a Constituição definitiva e o processo de transição foram concluídos. Entre os anos de 1996 e 1998, o arcebispo Desmond Tutu liderou a Comissão de Verdade e Reconciliação para apurar crimes cometidos durante o apartheid, e foram abertos processos judiciais para pagamentos de indenizações às vítimas do regime.

Mandela deixou a presidência em 1999 e passou a se dedicar a campanhas para diminuir os casos de Aids na África do Sul, emprestando seu prestígio para arrecadar fundos para o combate à doença.

Em 2004, aos 85 anos, ele anunciou que se retiraria da vida pública para passar mais tempo com a família e os amigos. Já aos 92 anos, o líder sul-africano dificilmente participava de qualquer tipo de evento, devido à saúde frágil.

Durante a Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul, Mandela compareceu apenas ao encerramento da Copa, devido à morte de sua bisneta Zenani Mandela, em um acidente de carro logo depois da festa de abertura.

História
Mandela era filho do conselheiro do chefe máximo do vilarejo de Qunu, localizado na atual província do Cabo Oriental, onde nasceu, a 18 de julho de 1918. Aos sete anos, tornou-se o primeiro membro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Aos 16 anos, seguiu para o Instituto Clarkebury, na mesma província, onde teve contato com a cultura ocidental pela primeira vez.

Ele então ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Fort Hare, no município de Alice. Logo no primeiro ano de curso, Mandela se envolveu com o movimento estudantil e com o boicote às políticas universitárias. Tal atitude resultou em sua expulsão da instituição no segundo ano, mas ali ele iniciou sua militância.

A partir de então mudou-se para Johannesburgo e envolveu-se na oposição ao regime do apartheid. Ele começou a fazer parte do partido negro CNA (Congresso Nacional Africano, fundado em 1912) em 1942 e, em 1944, criou a Liga Juvenil do partido, com o manifesto "um homem, um voto".

Depois da eleição de 1948, que deu vitória aos afrikaners do Partido Nacional, apoiadores da política de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no CNA. Ele participou do Congresso do Povo, em 1955, que divulgou a Carta da Liberdade --documento que continha um programa fundamental para a causa antiapartheid.

Comprometido de início apenas com atos não-violentos, Mandela e seus colegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, ocorrido em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180. Em 1961, fundou a ala armada do CNA - Umkhonto we Sizwe (a Lança da Nação) - para combater a discriminação do apartheid.

Prisão
Acusado de crimes capitais no julgamento de Rivonia, em 1963, a declaração que deu, no banco dos réus, foi sua afirmação de posição política: "Tenho defendido o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer". Em 1964, Mandela foi condenado à prisão perpétua.

No decorrer do tempo em que ficou preso, Mandela se tornou de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas antiapartheid em vários países.

Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando foi libertado em 11 de fevereiro, aos 72 anos, pelo presidente Frederik Willem de Klerk, que também revogou a proibição do CNA e de outros movimentos de libertação.

Nelson Rolihlahla Mandela deixou a prisão Victor Verster caminhando ao lado de Winie Madikizela, sua esposa na época. Ele havia passado os últimos 27 anos de sua vida atrás das grades por ousar se opor ao regime racista que dominava a África do Sul. Um mar de pessoas o aguardava nas ruas para dar início finalmente à edificação da democracia sul-africana.

Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandela comandou a transição do regime racista, o apartheid, ganhando respeito internacional.

Em 1999, Mandela conseguiu eleger seu sucessor, Thabo Mbeki, que posteriormente foi obrigado a deixar a presidência, devido a uma manobra política do seu maior rival dentro do CNA, Jacob Zuma.

Casamentos, separações e aposentadoria
Mandela casou-se três vezes. Sua primeira esposa foi Evelyn Ntoko Mase, de quem se divorciou em 1957, após 13 anos de casamento. Em seguida, casou-se com Winie Madikizela, e com ela ficou por 38 anos. O casal se divorciou em 1996, após suas divergências políticas virem a público. No seu 80º aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, com quem esteve até os dias atuais.

Depois de deixar a presidência, Mandela passou a dedicar suas forças ao combate à Aids na África do Sul, levantando milhões de dólares para enfrentar a epidemia da doença. Seu único filho morreu vítima de Aids em 2005.

Ainda fora da Presidência, Mandela ganhou uma série de títulos e homenagens, como a Ordem de St. John, da rainha da Inglaterra, Elizabeth 2ª.; a medalha presidencial da Liberdade, do então presidente dos Estados Unidos George W. Bush; o Bharat Ratna (a distinção mais alta da Índia); a Ordem do Canadá, dentre outros.

Apesar de ter ganho a condecoração de Bush, Mandela realizou uma série de pronunciamentos, em 2003, em que atacava a política externa do presidente americano.

Em junho de 2004, Mandela anunciou que se retiraria da vida pública. Mas a militância continuou. Em 2007, comemorou o 89° aniversário criando um grupo internacional de estadistas idosos e altamente respeitados, incluindo seus colegas Prêmios Nobel da Paz Desmond Tutu e o ex-presidente americano Jimmy Carter, para combater problemas mundiais, que incluem as mudanças climáticas, o combate à Aids e à pobreza.

A comemoração de seu aniversário de 90 anos foi um ato público com shows, que ocorreu em Londres, em julho de 2008, e contou com a presença de artistas e celebridades engajadas nessas lutas.

Em 2009, com aparência frágil, o ex-presidente sul-africano compareceu a um comício eleitoral do CNA para ajudar a eleger Jacob Zuma, atual presidente do país.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ator Paul Walker, de "Velozes e Furiososo", morre em acidente de carro

 Ator norte-americano Paul Walker, apresenta criação da coleção de verão da Colcci's durante a São Paulo Fashion Week, 21 de março de 2013. O ator Paul Walker, conhecido por seus papéis nos filmes de ação "Velozes e Furiosos", morreu no sábado em um acidente de carro no sul da Califórnia, informou seu agente. 21/03/2013 REUTERS/Filipe Carvalho

LOS ANGELES, 1 Dez (Reuters) - O ator Paul Walker, conhecido por seus papéis nos filmes de ação "Velozes e Furiosos", morreu no sábado em um acidente de carro no sul da Califórnia, informou seu agente.

Walker, de 40 anos, que participou de cinco dos seis filmes sobre corridas ilegais de rua, andava como passageiro no carro de um amigo e participaria de evento de caridade, de acordo com mensagem ligada à sua conta no Twitter.

"Infelizmente, tenho que confirmar que Paul morreu esta tarde em um acidente de carro", disse Ame Van Iden, agente de Walker, por email.

O Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles informou em um comunicado que duas pessoas morreram em um acidente de carro em Valencia, uma comunidade na cidade de Santa Clarita, por volta das 15h30, horário local.

Agentes que chegaram ao local encontraram o veículo envolvido em chamas. As vítimas foram declaradas mortas no local, de acordo com o comunicado. Não foram fornecidas as identidades dos mortos, e a causa estava sob investigação.

Nos filmes da série "Velozes e Furiosos", o ator fazia o papel de Brian O'Conner, um policial. O primeiro filme da série, que ainda tem Vin Diesel, saiu em 2011, e o sétimo estava em desenvolvimento no momento da morte de Walker, informou em comunicado a Universal, o estúdio por trás da franquia.

O filme mais recente, que saiu em maio, foi um dos principais sucessos de bilheteria deste ano.

"Vou sentir muita falta de você", disse Diesel em um post no Instragram, acrescentando: "Estou absolutamente sem palavras. O céu ganhou um novo anjo. Descanse em paz."

De acordo com o site sobre filmes IMDb.com, Paul William Walker IV nasceu em Glendale, California, em 1973, e começou a atuar muito novo, aparecendo em muitos comerciais

 Ator norte-americano Paul Walker, apresenta criação da coleção de verão da Colcci's durante a São Paulo Fashion Week, 21 de março de 2013. O ator Paul Walker, conhecido por seus papéis nos filmes de ação "Velozes e Furiosos", morreu no sábado em um acidente de carro no sul da Califórnia, informou seu agente. 21/03/2013 REUTERS/Filipe Carvalho

Segundo o IMDb, Walker tem uma filha chamada Meadow.
A Universal transmitiu suas condolências à família de Walker, dizendo que "todos nós na Universal estamos desolados".

"Paul foi de fato um dos membros mais amados e respeitados de nossa família no estúdio por 14 anos, e essa perda é devastadora para nós, para todos os envolvidos nos filmes Velozes e Furiosos, e para os inúmeros fãs."

(Reportagem de Mary Wisniewski e Piya Sinha-Roy em Los Angeles e Chris Michaud em Nova York)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Termina sem acordo negociação da OMC por texto de tratado global


Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), durante coletiva de imprensa na sede da organização, em Genebra, 9 de setembro de 2013. As exaustivas negociações da OMC a respeito do primeiro acordo global de livre comércio foram abandonadas na madrugada desta segunda-feira, sem um acordo sobre o texto a ser apresentado no mês que vem numa reunião ministerial em Bali. 09/09/2013 REUTERS/Denis Balibouse

Por Tom Miles

GENEBRA, 25 Nov (Reuters) - As exaustivas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) a respeito do primeiro acordo global de livre comércio foram abandonadas na madrugada desta segunda-feira, sem um acordo sobre o texto a ser apresentado no mês que vem numa reunião ministerial em Bali.

O destino do acordo que simplifica procedimentos alfandegários e acelera o comércio global parece agora depender de um acordo direto entre os ministros que irão se reunir na conferência bienal da OMC, a ser realizada na ilha indonésia.

A Câmara Internacional de Comércio diz que o acordo agregaria 960 bilhões de dólares à economia mundial e criaria 21 milhões de empregos, sendo 18 milhões em nações em desenvolvimento. O pacto também reavivaria a confiança na OMC como um fórum para negociações comerciais.

O acordo proposto inclui elementos da Rodada Doha de negociações comerciais, que foi iniciada em 2001, mas fracassou repetidamente na busca por um acordo na década subsequente.

O diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, forçou os diplomatas dos 159 países membros a passarem por árduas dez semanas de negociações, na esperança de definirem o texto a ser aprovado pelos ministros.

Na sexta-feira, Azevêdo disse ter esperança de concluir um acordo no fim de semana. Mas a sessão final de negociação em Genebra terminou às 7h (4h em Brasília) sem acordo.

Taco Stoppels, conselheiro da missão holandesa junto à OMC, disse pelo Twitter que Azevêdo "encerrou a reunião simplesmente agradecendo a todos. O texto não está pronto".

Pessoas envolvidas nas negociações disseram que os participantes chegaram perto de um acordo, mas que o progresso em alguns momentos foi glacial. "Passamos nove horas em um parágrafo hoje de manhã. Mais uma vez, uma experiência de quase morte", disse um participante na noite de domingo.

Questões não resolvidas incluem um plano indiano para estoque de safras que estaria isento das regras da OMC sobre subsídios, e uma contestação ao embargo econômico dos EUA a Cuba. A Turquia também tem preocupações sobre as novas regras a respeito de trânsito de mercadorias, e a América Central resiste à eliminação dos despachantes aduaneiros.

Azevêdo falará aos embaixadores da OMC durante uma reunião do Conselho Geral do organismo na terça-feira, quando o trabalho será formalmente apresentado à conferência ministerial.

domingo, 24 de novembro de 2013

A Universidade Infantil/Performance - X FECON 2013










A Universidade Infantil/Performance

Queremos agradecer a todos os nossos alunos pela capacidade criadora, genialidade construtivista de elaborarem e colocarem em prática uma das feiras mais tecnológicas realizada em nossa instituição que foi a X FECON 2013. Nós mestres estamos muitos satisfeitos com o grande desempenho e determinação. Continuem assim porque acreditamos em vocês e desejamos a todos  que esta meta cumprida venha a somar as muitas e muitas realizações de  vossas vidas. Porque antes de tudo, acreditamos queridos alunos no sucesso de cada um de vocês. Obrigado!!!!

Os professores.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Stuart Angel Jones preso, torturado, morto e dado como desaparecido político brasileiro.



Stuart Angel Jones e sua mãe a estilista Zuzu Angel ambos vítimas do cruel regime militar brasileiro (1964/1985)

Stuart Angel Jones

Stuart Edgart Angel Jones (Salvador, 11 de janeiro de 1946 — Rio de Janeiro, 14 de junho de 1971) foi um integrante da luta armada contra a ditadura militar no Brasil e militante do grupo guerrilheiro revolucionário de extrema esquerda MR-8, preso, torturado, morto e dado como desaparecido político brasileiro.

Stuart era filho do americano Norman Jones e de Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, figurinista e estilista conhecida internacionalmente. Bicampeão carioca de remo pelo Clube de Regatas Flamengo na adolescência, ele foi estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possuía dupla nacionalidade, brasileira e americana.

Na virada das décadas de 60/70, passou a militar no MR-8, grupo de ideologia socialista que fazia a luta armada contra o regime militar, onde usava os codinomes "Paulo" e "Henrique". Preso, torturado e morto por membros do CISA (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica) em 14 de junho de 1971,4 aos 25 anos de idade. Foi casado com a também militante e guerrilheira Sônia Morais Jones, presa, torturada e morta dois anos depois e também dada como desaparecida.

Morte

Preso próximo a seu "aparelho", no bairro do Grajaú, perto da Avenida 28 de Setembro, na Zona Norte do Rio, Stuart foi levado pelos agentes do CISA à Base Aérea do Galeão para interrogatório. Dele, os militares queriam a informação da localização do ex-capitão Carlos Lamarca, chefe do MR-8 e então o grande procurado pelo regime. Negando-se a falar, Stuart foi então barbaramente torturado no pátio da base, vindo a morrer em consequência dos maus tratos.

Documento do SNI sobre Stuart, 1971
A versão mais conhecida e difundida de sua tortura e morte foi dada pelo ex-guerrilheiro Alex Polari, também preso na base, e que assistiu da janela de sua cela as torturas feitas contra Stuart, presenciando inclusive a cena em que ele foi arrastado por um jipe militar, com o corpo completamente esfolado e com a boca no cano de descarga do veículo, pelo pátio interno do quartel, o que causou sua morte por asfixia e envenenamento por gás carbônico.5 Polari escreveu uma carta a Zuzu Angel, contando-lhe o ocorrido com o filho. De posse dela, a estilista denunciou o assassinato de Stuart - que tinha cidadania brasileira e americana - ao senador Edward Kennedy, que levou o caso ao Congresso dos Estados Unidos.

O livro Desaparecidos Políticos, de Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, aponta duas versões para o desaparecimento do corpo do guerrilheiro: " A primeira é de que teria sido transportado por um helicóptero da Marinha para uma área militar localizada na Restinga de Marambaia, na Barra de Guaratiba, próximo à (então) zona rural do Rio, e jogado em alto-mar pelo mesmo helicóptero. Mas, de acordo com outras informações, o corpo de Stuart teria sido enterrado como indigente, com o nome trocado, num cemitério de um subúrbio carioca, provavelmente Inhaúma." Os responsáveis, segundo eles: "os brigadeiros Burnier e Carlos Afonso Dellamora, o primeiro, chefe da Zona Aérea e, o segundo, comandante do CISA; o tenente-coronel Abílio Alcântara, o tenente-coronel Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena – todos do mesmo organismo; o capitão Alfredo Poeck – do CENIMAR; Mário Borges e Jair Gonçalves da Mota – agentes do DOPS".

Em 2013, um novo nome foi descoberto, juntando-se aos demais citados após o cruzamento de dados com depoimentos de sobreviventes: o do sargento Abílio Correa de Souza, codinome "Pascoal", verdadeira identidade do suboficial da Aeronáutica na época apenas identificado como suboficial "Abílio Alcântara", um militar treinado em inteligência de combate e contraespionagem na Escola das Américas, no Forte Gulick, no Panamá. Abílio seria o principal torturador de Stuart e último a vê-lo ainda vivo em sua cela.

Stuart, segundo depoimentos de testemunhas, foi o único preso morto pela Aeronáutica naquela ocasião, entre vários outros guerrilheiros aprisionados. Sua morte veio a causar a transferência de todos os presos das celas do CISA para outros lugares. No fim daquele ano, toda a cúpula da Aeronáutica foi substituída, devido às pressões causadas pela incessante procura e denúncias do desaparecimento de Stuart por sua mãe, Zuzu Angel, usando a imprensa no Brasil e no exterior.

Desaparecido

Pelos anos seguintes, a mãe de Stuart, Zuzu, peregrinou pelo poder militar tentando conseguir explicações e informações sobre o corpo do filho, oficialmente dado como desaparecido. Sua campanha chegou ao mundo da moda, na qual tinha destaque, com desfiles de coleções feitas com roupas estampadas com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Zuzu chegou a realizar em Nova York um desfile-protesto, no consulado do Brasil na cidade.

Usando de sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minnelli e Kim Novak, em sua causa,9 e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da cidadania americana.8

Zuzu morreu em 1976, num suspeito acidente de automóvel no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro, sem jamais conseguir descobrir o paradeiro do corpo de Stuart Angel. Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso sob número de processo 237/96 e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista.

Em 2013, documentos inéditos foram descobertos nos arquivos do extinto SNI disponíveis no Arquivo Nacional, onde consta o informe nº 1008, de 14 de setembro de 1971. O documento, de 167 páginas e classificado como confidencial, demonstra que a morte de Stuart foi bastante documentada pelas agências de repressão política, existindo sobre o título "Stuart Angel Jones — Falecido". Outro documento, "Informação nº 4.057", descoberto nos arquivos do SNI de São Paulo, listam seu nome ao lado de outros 89 guerrilheiros mortos no período, com a data de 16 de setembro de 1971, dois dias depois de seu desaparecimento.

Cinema e literatura

Em 2006, a vida de Stuart e de sua mãe foram levadas ao cinema, com o filme Zuzu Angel, dirigido por Sérgio Rezende, com Daniel de Oliveira e Patrícia Pillar no papel do militante-guerrilheiro e da estilista.
O escritor José Louzeiro escreveu o romance "Em carne viva", com personagens e situações que lembram o drama da morte de Stuart Angel.  Wikipédia, a enciclopédia livre.