Dilma e Aécio disputam 2o turno e mantêm 20 anos de polarização PT x PSDB
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Candidatos à Presidência da República, presidente Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), votam em Porto Alegre e Belo Horizonte, respectivamente. 5/10/2014 REUTERS/Paulo Whitaker / Washington Alves
Por Alexandre Caverni e Cesar Bianconi
SÃO PAULO (Reuters) - Em uma arrancada final impressionante, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, garantiu no domingo uma vaga no segundo turno da eleição presidencial com muito mais facilidade do que as últimas pesquisas apontavam e ainda se aproximou da primeira colocada, a presidente Dilma Rousseff (PT), como em nenhum momento da campanha.
"A minha primeira constatação é de que esse sentimento de mudança, amplamente presente em todo o Brasil, já foi vitorioso no primeiro turno", disse Aécio, em seus primeiros comentários após os resultados da votação.
"A minha candidatura não é mais a candidatura de um partido político ou de um conjunto de alianças", acrescentou. "É o sentimento mais puro de todos os brasileiros que ainda têm a capacidade de se indignar, mas principalmente a capacidade de sonhar."
A conta de Aécio é simples. Dilma teve 41,6 por cento dos votos válidos, ou quase 43,3 milhões, enquanto o tucano ficou com 33,6 por cento, o equivalente a 34,9 milhões.
Somando os votos de Aécio aos 22,2 milhões (ou 21,3 por cento) depositados nas urnas para Marina Silva (PSB), a oposição conseguiu uma larga vantagem sobre a presidente.
"Os votos no Aécio e na Marina apontam que a oposição está forte para o segundo turno", disse o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael. "O segundo turno vai ser bastante disputado e sem favoritos."
Ao comentar o primeiro turno, Marina --que durante mais de um mês teve uma folgada vantagem sobre Aécio na disputa do segundo lugar-- deu declarações que podem ser interpretadas como uma sinalização de apoio ao tucano na nova etapa da eleição.
"Nós vamos fazer a discussão e obviamente que estatisticamente a sociedade mostra isso (desejo de mudança)", disse Marina a jornalistas e aliados em São Paulo. "Não há o que tergiversar com o sentimento do eleitor, de 60 por cento, que fez esse movimento", acrescentou ela, arredondando todos os votos válidos que não foram para Dilma.
A ex-senadora ressaltou que "nosso programa é a base de qualquer diálogo para a mudança que o Brasil já assinalou que deseja".
Esse pode ser outro sinal em direção a Aécio. Embora tenha defendido durante toda a campanha o fim da polarização PT X PSDB, várias partes do programa de governo apresentado por Marina no fim de agosto, especialmente nos temas econômicos, têm grande afinidade com as propostas defendidas pelo PSDB.
Se Aécio deve bater na tecla da mudança e do desejo manifestado nas urnas neste domingo, Dilma já mostrou qual deve ser o tom de sua campanha nas próximas semanas.
"O PSDB quebrou o país três vezes", repetiu a presidente em seu primeiro pronunciamento após a votação, acrescentando que "o povo brasileiro não quer" a volta a um tempo em que o país "se ajoelhava diante do FMI (Fundo Monetário Internacional)".
FATOR SÃO PAULO
Parte da reviravolta na corrida presidencial pode ser explicada pelo desempenho do tucano no Estado de São Paulo. Há cinco dias, o Ibope mostrava Dilma e Marina com 29 por cento das intenções de voto cada entre os paulistas, contra 22 por cento de Aécio. Mas nas urnas o tucano teve uma vitória arrasadora no maior colégio eleitoral do país.
O senador mineiro obteve 44,2 por cento dos votos válidos, ou quase 10,2 milhões. Dilma ficou com 25,8 por cento (5,9 milhões) e Marina com 25,1 por cento (5,8 milhões). Por outro lado, Aécio perdeu em Minas Gerais, que duas vezes o elegeu governador no primeiro turno. Dilma teve 43,5 por cento dos votos válidos (4,8 milhões) e o tucano somou 39,8 por cento (4,4 milhões). Marina alcançou 14 por cento (1,6 milhão).
O deputado federal Marcos Pestana, presidente do PSDB em Minas, reconheceu que o partido cometeu "uma série de erros na campanha" no Estado e que serão corrigidos agora no segundo turno".
Talvez os erros tenham contribuído para o que deve ter sido a pior notícia para Aécio neste domingo: a vitória em primeiro turno do candidato do PT ao governo mineiro, Fernando Pimentel, tirando do PSDB o Estado pela primeira vez em 12 anos.
Dos quase 143 milhões de brasileiros habilitados a votar, quase 27,7 milhões não compareceram às zonas eleitorais neste domingo. Embora alto, o percentual de 19,4 por cento de abstenções em relação ao eleitorado total está em linha com o histórico das eleições presidenciais.
Os votos nulos e brancos, que totalizaram 11 milhões , ou 9,6 por cento do total, também não destoaram de eleições passadas.
UMA ONDA QUE PASSOU
Marina surgiu como um furacão na disputa, ao substituir Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 13 de agosto, como cabeça de chapa do PSB, transformando a eleição na mais disputada desde 1989.
Logo após ser alçada à condição de candidata, pesquisas mostraram a nova candidata do PSB à frente de Aécio e se aproximando de Dilma em primeiro turno, e superando a presidente com até 10 pontos de vantagem na simulação de segundo turno. Sob fortes ataques de Dilma e de Aécio, Marina foi perdendo fôlego a partir de meados de setembro, ao mesmo tempo em que o tucano recuperava lentamente terreno até conseguir o impulso final no dia da votação.
Para quem se colocava como alternativa à polarização PT X PSDB e chegou em dado momento da campanha a ser considerada favorita para vencer, o resultado final de Marina é frustrante, tendo um desempenho não muito melhor do que há quatro anos, quando teve 19,3 por cento dos votos válidos aos disputar a Presidência pelo PV.
Naquela ocasião, ela se manteve neutra no segundo turno.
(Reportagem adicional de Leonardo Goy, Eduardo Simões, Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello)
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