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segunda-feira, 30 de junho de 2014

GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL O Brasil tem a resposta?





GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL
O Brasil tem a resposta?
por HENRIQUE SUBI em 22/jan/2014 • 15:05 3 Comentários
Fonte: New York Times – 20/01/2014 – Por Joe Nocera

Não muito tempo depois que eu voltei de minha recente viagem para o Brasil, eu chamei alguns economistas para conseguir entender melhor onde o país fica economicamente. Para mim, o Rio de Janeiro pareceu uma pequena Xangai: havia muitas lojas de alto padrão em bairro como Ipanema – e muita pobreza nas favelas. Havia também muita coisa entre esses extremos. O que é mais chocante para um visitante é a quantidade de cidadãos de classe média que parecem existir. Havia carros por toda a parte; engarrafamentos, passei a acreditar, são um sinal da classe média crescente. Eles significam que as pessoas têm dinheiro suficiente para comprar automóveis.

O que eu vi não foi ilusão. Apesar de seu ponto de partida ter sido um pouco extremo, o Brasil é um país que viu a desigualdade na distribuição de renda cair na última década. O desemprego está perto de seu recorde mínimo. E o crescimento da classe média é um tanto surpreendente. Para grande parte das estimativas, mais de 40 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza na última década; a pobreza extrema, diz o governo, foi reduzida em 89 por cento. O ganho “per capita” continuou a aumentar mesmo com a diminuição do crescimento do PIB.

Não obstante, os economistas com quem falei foram uniformemente grosseiros em relação ao futuro de curto prazo da economia brasileira. Eles apontaram, para começar, para a diminuição do crescimento do PIB, a qual eles não esperam que se recupere tão cedo. A despeito dos enormes ganhos econômicos do país desde o começo do século, houve muito pouco ganho de produtividade para acompanhá-los. Deveras, diversos economistas me disseram que a principal razão do desemprego estar tão baixo é que a economia é terrivelmente ineficiente. Uma parte grande demais da economia está nas mãos do Estado, disseram-me, e, mais ainda, é uma economia baseada em consumo à qual falta o necessário investimento. E por aí vai. Eu fiquei com a impressão que muitos economistas acreditam que o Brasil tem sido mais sortudo do que bom e agora essa sorte está acabando. Em um recente artigo sobre a economia brasileira, o “The Economist” colocou de forma crua: “A deterioração”, dizia sua manchete.

Enquanto eu ouvia os economistas, porém, eu não pude evitar pensar em nossa própria economia. Nosso PIB aumentou mais de 4% no terceiro quadrimestre de 2013 e, claro, nossa produtividade aumentou implacavelmente. Mas, apesar do crescimento, apenas recentemente o desemprego caiu para menos de 7 por cento. E a classe média está sendo lenta, mas certamente, eviscerada – graças, ao menos em parte, a esses ganhos de produção. A desigualdade financeira tornou-se um fato da vida nos Estados Unidos e, enquanto políticos negam tal fato, eles parecem incapazes de fazer algo sobre isso. O que me fez imaginar: a economia de quem vai melhor, na verdade?

Alguns anos atrás, Nicholas Lemann, do “The New Yorker”, escreveu um extenso artigo sobre o Brasil, no qual ele citou um e-mail que recebeu da Presidenta do país, Dilma Rousseff. “O principal objetivo do desenvolvimento econômico precisa sempre ser a melhora nas condições de vida”, ela disse a ele. “Você não pode separar os dois conceitos”.

Em outras palavras, o Governo confessadamente de esquerda do Brasil não gasta um monte de tempo se preocupando com o crescimento puro e simples, ao contrário, conecta-o com a redução da pobreza e o aumento da classe média. Com isso, ele tem um alto salário mínimo, por exemplo. Ele tem leis que tornam extremamente difícil demitir um empregado preguiçoso. Ele controla o preço da gasolina, ajudando a manter o ato de dirigir acessível.

E o mais chocante de tudo – ao menos para o ponto de vista de um americano – pelos últimos 10 anos o  Brasil teve um programa chamado Bolsa Família, o qual essencialmente entrega dinheiro a mães pobres. Em retorno, elas devem garantir que seus filhos vão à escola e sejam avaliados pelos serviços de saúde pública. Ninguém questiona que o Bolsa Família foi extremamente efetivo na redução da pobreza.

Em contrapartida, aqui nos Estados Unidos, o Congresso acabou de negar a extensão do seguro-desemprego. As leis agrícolas vislumbram cortar o vale-refeição. Vários outros programas voltados a ajudar os pobres ou desempregados foram reduzidos. Mesmo aqueles que se opõem a tais cortes sem coração afirmam que, tão logo a economia esteja de volta, tudo ficará bem novamente. O crescimento tomará conta de tudo. Assim, nos EUA, nós tendemos a ver o crescimento econômico menos como um meio para um fim do que como um fim em si mesmo.

É possível, claro, que a economia brasileira bata contra a parede e alguns desses ganhos sejam revertidos. Uma nova ênfase em investimento e empreendedorismo pode evitá-lo. Os protestos espontâneos do último verão* foram resultado de uma nova classe média querendo aquelas coisas que a classe média sempre quer: melhores serviços, escolas de boa qualidade, menos corrupção. Ainda assim, o exemplo brasileiro levanta uma questão que nós não perguntamos muito nesse país: qual a vantagem do crescimento econômico se ninguém tem trabalho?

Nota: lembramos que as matérias aqui espelhadas são traduções literais dos textos encontrados na imprensa internacional e nem sempre espelham a nossa opinião. Esse, por exemplo, chamou nossa atenção por ser um americano que contesta o modelo econômico do próprio país e toma como base o Brasil. Isso é raro de encontrar.

* Refere-se à estação do ano na América do Norte. As manifestações foram em junho, começo do inverno aqui no Brasil.
http://www.estudeatualidades.com.br/2014/01/o-brasil-tem-a-resposta/

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