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terça-feira, 4 de março de 2014

Carnaval de Pernambuco: Silvio Botelho e seus bonecos gigantes





Silvio Botelho e seus bonecos gigantes
 

Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br

A minha vida está toda montada na arte. E eu me chamo BAZAR DAS ÉPOCAS. Para cada seis meses eu tenho uma função. Logo que acaba o Carnaval, eu descanso um período e vou pintar meus quadros, vou montar quadros para pintores meus clientes, vou fazer móveis, vou decorar ambientes... E, também, uma coisa que me deixa de certa maneira organizado é que, quando termina o Carnaval, já recomeça o trabalho para o Carnaval do ano que vem! Quando paro é para projetar na prancheta, durante a noite, o Carnaval do próximo ano... Riscando fantasias, modelos e máscaras de gigantes, porque eu também sou desenhista... (Silvio Botelho citado por BONALD NETO, 2007).

Silvio Romero Botelho de Almeida nasceu no dia 14 de maio de 1956, no bairro do Amparo, em Olinda, Pernambuco. Autodidata, desde cedo começou a trabalhar com esculturas em madeira, gesso e barro, influenciado pelos ceramistas de Caruaru, principalmente pelo Mestre Vitalino.

Aprendiz do artesão olindense Roque de Lima, conhecido como Roque Fogueteiro, Silvio aprendeu com ele diversas técnicas, como a implantação de cabelo nos bonecos, fazer a massa da modelagem, combinar cores, misturar solventes e tintas, além de preparar pólvora para os fogos de artifícios. Posteriormente, foi descobrindo outras técnicas em viagens pelo Brasil.

Iniciou-se em projetos carnavalescos na década de 1970, confeccionando máscaras e alegorias. Em 1974, criou seu primeiro boneco gigante O Menino da Tarde, “filho” do encontro entre O Homem da Meia-Noite e A Mulher do Dia (SILVIO, 2007).

O primeiro boneco que fiz [...] foi O Menino da Tarde. Ernandes Lopes foi a pessoa que me pediu para fazer. Nessa época, só existia O Homem da Meia-Noite e A Mulher do Dia. Era o filho dos dois. O maior desafio foi entender o que era fazer um boneco gigante. Um boneco com 2 metros e 90 centímetros de altura. Em dois meses O Menino da Tarde ficou pronto. O boneco pesava 35 quilos e foi confeccionado em madeira, capim, papelão duro e papel. Ao ver o resultado, o renomado artesão Roque Fogueteiro ficou impressionado com a beleza da obra e me aconselhou a prosseguir no caminho da arte.

Silvio Botelho vem aperfeiçoando cada vez mais a sua técnica de criação de bonecos, evoluindo da tradicional modelagem em barro para a modelagem direta em bloco de isopor, conseguindo leveza e versatilidade nos Gigantes. O corpo é feito com fibra de vidro. Atualmente, os bonecos chegam a medir três metros de altura e pesar de treze a quinze quilos, bem diferente dos primeiros que pesavam cerca de cinquenta quilos.

Há 20 anos eu fazia meus bonecos utilizando em primeiro lugar argila para levantar as peças e depois cobria com papel empastelando-os até formar uma camada grossa para depois tirá-los e fechar com outro papel, dando assim o acabamento com massa acrílica. Em 1995, introduzi a fibra de vidro, possibilitando a rapidez na execução. Pra você ter uma ideia, O Homem da Meia Noite por exemplo, pesa 50 quilos. (ENTREVISTA..., 2012).

A confecção de cada boneco leva em torno de vinte dias e se constitui em um processo de criação contínua para o aprimoramento das técnicas. Por ser o látex uma matéria prima muito cara, o artesão se ressente da impossibilidade de utilizá-lo nas suas criações.

Foi o idealizador do Encontro de Bonecos Gigantes de Olinda, cuja 26ª edição, aconteceu em 2013, reunindo bonecos dele e de outros artesãos, na  terça-feira de Carnaval,  em Olinda.

O primeiro Encontro dos Bonecos Gigantes de Olinda aconteceu num sábado de 1987. Fiz o encontro para brincar. Fechava a rua com os bonecos para pedir dinheiro as pessoas que passavam e, depois, tomar cerveja. A ideia ficou e vem acontecendo todos os anos. Em 1990, fizemos uma inovação com o casamento d’O Homem da Meia-Noite com A Mulher do Dia para legitimar os filhos O Menino do Dia e A Menina da Tarde. (SILVIO, 2007).

Silvio já criou centenas de bonecos gigantes para o Carnaval, campanhas publicitárias e políticas, casamentos e até enterros:

Recebo encomendas o ano inteiro para os mais diversos eventos, como feiras e festas. Já fiz muitos bonecos para casamentos. A encomenda parte da família, geralmente como uma surpresa para os noivos. Também já fiz bonecos que foram utilizados em enterro, como forma de homenagem. Os gigantes são a cara do Carnaval, mas vão além, é uma tradição consolidada da nossa cultura. (GATIS, 2011).

Com mais de novecentos bonecos gigantes, criados e confeccionados por ele e sua equipe, Silvio Botelho é considerado o “Pai dos Bonecos Gigantes de Olinda” e o mais conhecido bonequeiro de Pernambuco, com reconhecimento nacional e internacional. A seguir uma relação alfabética com alguns dos seus bonecos gigantes:

A BOCHECHA
A BRUXA
O CALIFA
CAPIBA
CAPITÃO ALCEU VALENÇA
CARLINHOS BROWN
O CUECÃO
O DEMO
DEVASSO
DONA CAROLINA
DR. FAISÃO
ENÉAS FREIRE
A ESPOTELA
O FILHO DO HOMEM DA MEIA NOITE
FOFOQUEIROS DE OLINDA
GAROTO DA VASSOURA
O GONZAGÃO
A HOMELHADA
O INCRÍVEL HUCK
O JACARÉ
JOHN TRAVOLTA
LADY OLINDA
LAMPIÃO
LIA DE ITAMARACÁ
LUIZ GONZAGA
A LUANA EM FOLIA
MÃE OLINDA
MAESTRO FORRÓ
MANOEL BOMBARDINO
MARIA BATALHÃO DO PORTO SEGURO
MARIA BONITA
MAROCAS DE OLINDA
A MENINA DA TARDE
O MENINO DA TARDE
O MENINO DO RIO DOCE
MENINO SERAPIÃO
A NORDESTINA
A PADILHA
PALHAÇO DE GRAVATÁ
PALHAÇO TRINCA DE ÁS
PARALELO
PEDRINHO DA PILAR
O PERIQUITO
O PROFESSOR
O PROFETA
RAPOSÃO (ANTIGO FAUSTÃO)
RECRIANÇA
SEXTA-FEIRA
A SOLDADA DA MEIA-NOITE
O SOLDADO DA MEIA-NOITE
TABACO
O TARADO DA SÉ
ZÉ PEREIRA
ZEU DE OLINDA

Em 1993, a boneca LADY OLINDA, com três metros de altura, desfilou no Carnaval de Santa Fé (Novo México, Estados Unidos), a convite da antropóloga americana Katarina Real (Kate), uma apaixonada pelo Carnaval pernambucano.

Em setembro de 2008, o ateliê do artista situado na Rua do Amparo, nos Quatro Cantos, Olinda, sofreu um incêndio sendo interditado. Antes da interdição recebia a anualmente a visita de milhares de pessoas interessados na sua arte. Hoje o ateliê passa por reformas estruturais.

Segundo Silvio Botelho o boneco que lhe deu mais alegria foi O Menino da Tarde. Boneco não me dá tristeza, só me dá alegria. Vivo deles. (SILVIO, 2007).

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