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sexta-feira, 11 de março de 2022

O que é o 'Russkiy Mir'? O que é o 'Mundo Russo' que Putin quer unificar /As origens históricas do conflito entre Rússia e Ucrânia



O que é o 'Russkiy Mir'? O que é o 'Mundo Russo' que Putin quer unificar


Fernanda Paúl

BBC News Mundo

A dramática guerra que acontece neste momento na Ucrânia ameaça ser o evento mais transformador e perigoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos dias, o presidente russo, Vladimir Putin, intensificou o ataque às principais cidades do país, como Kherson, Kharkiv e a capital, Kiev.

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E ele não dá sinais de que vai parar, apesar das duras sanções impostas à Rússia pelo Ocidente.
Muitos analistas estão se perguntando recentemente o que está realmente se passando pela cabeça de Putin.

Uma das respostas mais conhecidas em outros países, especialmente nos Estados Unidos, é que a Rússia é e sempre foi um Estado expansionista e que Putin é a personificação desta ambição: construir um novo império russo.
Como Fiona Hill, uma das maiores especialistas em Rússia dos Estados Unidos, disse em entrevista ao site Politico, Putin vem articulando a ideia de que existe um espaço em que ucranianos e russos são "o mesmo povo", e que sua missão é reunir todos os falantes de russo de diferentes lugares que já pertenceram ao czarismo.

Mas como se define exatamente o Russkiy Mir, que sinais Putin deu de que quer unificá-lo e como a invasão da Ucrânia pode ser fundamental para alcançar este objetivo? A seguir, explicamos para você.

O que é o 'Russkiy Mir'?

Embora não haja uma definição acadêmica clara do que Russkiy Mir significa especificamente, diferentes analistas tentaram explicar o conceito.
Para alguns, é o mundo que compreende toda a comunidade associada à cultura russa, que compartilha uma história, uma língua e certas tradições. Pela mesma razão, é difícil definir uma fronteira.
Para outros, há um conjunto territorial básico que poderia ser o núcleo deste mundo e que poderia incluir a própria Rússia, assim como Belarus, Ucrânia e Cazaquistão, entre outros.

"Há dois critérios para definir o Russkiy Mir. O primeiro é o cultural, que engloba a cultura russa como um todo, incluindo fora do território", explica Juan Manuel de Faamiñán Gilbert, professor emérito da Universidade de Jaén, na Espanha.

"O segundo conceito é geográfico e se baseia no que foi o antigo império czarista criado por Catarina, a Grande. Poderia se estender até a região sul, junto ao Mar Negro ou até mesmo à Geórgia", acrescenta.

Mas para Sergey Goryashko, jornalista do serviço de notícias em russo da BBC, a definição do mundo russo na cabeça de Putin não tem fronteiras.

"Alguns anos atrás, alguns alunos de escola perguntaram a Putin onde termina a fronteira russa. E ele respondeu que não termina em lugar nenhum", lembra ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

"E essa pode ser a definição do que o mundo russo realmente significa para Putin. Porque se olharmos para suas ações desde 2014 (quando a Crimeia foi anexada), elas provam exatamente que o mundo russo não termina em lugar nenhum. O mundo russo é o mundo inteiro", acrescenta.

Outro elemento importante a ser considerado ao definir o Russkiy Mir é o papel da Igreja Ortodoxa Russa, com milhões de seguidores em todo o mundo.

Dentro desta religião, se promove a ideia de uma unidade espiritual e cultural da comunidade russa como um todo, que se consagra por meio deste conceito.

Assim, a igreja é uma grande aliada da ideologia por trás do mundo russo.

Que sinais Putin deu?

Putin sempre promoveu o ressurgimento da Rússia como potência mundial.
E criticou fortemente alguns ex-líderes russos que, na sua opinião, condenaram a União Soviética à sua desintegração (que finalmente se materializou em 1991).

"Putin disse muito claramente que (Vladimir Illich) Lenin destruiu o mundo russo e que não estabeleceu uma verdadeira Rússia. Nesse sentido, ele admira mais os czares, como Catarina, a Grande ou Ivan, o Terrível", diz Juan Manuel de Faramiñán Gilbert.

Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética

"Depois, ele disse que Mikhail Gorbachev e Boris Yeltsin são os autores do desmembramento do verdadeiro coração da Rússia", acrescenta o acadêmico.

Para Putin, após a dissolução da União Soviética, as fronteiras foram "definidas de forma absolutamente arbitrária e nem sempre justificada".

Foi o que ele afirmou em um ato de seu movimento político em 2016.

"Donbas, por exemplo, foi transferida para a Ucrânia sob o pretexto de aumentar a porcentagem do proletariado na Ucrânia para ganhar mais apoio social lá. Um disparate", declarou o presidente russo.

Em 12 de julho de 2021, em um longo artigo sobre as relações com a Ucrânia publicado no site do Kremlin, Putin deu mais pistas sobre seu interesse em reunificar o mundo russo.

O mandatário remontou à época do antigo povo rus, considerado o ancestral comum da população da Rússia, Belarus e Ucrânia, e destacou os vários marcos da história comum para defender sua visão de que russos e ucranianos são "um só povo".

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Além disso, nos últimos anos, Putin reforçou sua retórica contra países ocidentais, o que para alguns especialistas também faz parte dessa ambição de aumentar o poder da Rússia no mundo.

"Ele diz cada vez mais em seus discursos que tudo de ruim é por causa do Ocidente, por causa de suas ações hostis contra a Rússia", explica Sergey Goryashko.

"Depois de 2014, o que aconteceu na Crimeia, tudo se voltou para a construção do Mundo Russo e também para a retórica hostil do Ocidente", acrescenta.

Em 2007, Putin criou uma fundação chamada Russkiy Mir destinada a promover a língua e a cultura russas no mundo, como um projeto global.

Por que a Ucrânia é importante?


A Ucrânia não é apenas mais um país no mundo para Vladimir Putin.

Um dos momentos mais difíceis de sua longa trajetória como presidente ocorreu em 2004, quando após a "revolução laranja" Viktor Yushchenko, considerado pelo Kremlin um "fantoche" de Washington, venceu as eleições ucranianas.

Foi uma enorme humilhação para Putin, pois foi percebida como se ele tivesse perdido a Ucrânia. Analistas garantem que o presidente russo nunca esqueceu esta derrota e tampouco a perdoou.

"A visão dominante do nacionalismo russo é que a Ucrânia é uma nação irmã eslava e, além disso, é o coração da nação dos rus. É uma ideologia muito poderosa que faz da Ucrânia um elemento central da identidade russa", explica Gerald Toal, professor de Relações Internacionais da Universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, à BBC News Mundo.

"Por isso, há emoções muito fortes quando a Ucrânia como nação se define em oposição à Rússia. Isso causa muita raiva e frustração na Rússia, que se sente traída por um irmão", acrescenta.
"Kiev é desde o início o que se chamou de mãe das cidades russas. Kiev é mais a capital de todo este conjunto do Mundo Russo que Moscou ou São Petersburgo", diz Juan Manuel de Faramiñán Gilbert.

"Se Putin tomar a Ucrânia, tenho certeza de que ele mudaria a capital para Kiev, porque para ele o imaginário espiritual de Kiev é muito mais forte do que o de Moscou."

É que para a Igreja Ortodoxa Russa, Kiev é vital. Tanto que, em 2019, o Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, Kirill, comparou a capital ucraniana com o significado de Jerusalém para o cristianismo global, segundo o meio de comunicação russo TASS.

O que vai acontecer?


De acordo com Fiona Hill, isso não significa que Putin queira anexar todos os territórios "Russkiy Mir", como fez com a Crimeia.

Mas, como disse a especialista ao Politico, "pode ​​estabelecer o domínio margeando os países regionais, garantindo que seus líderes sejam completamente dependentes de Moscou", vinculados às redes econômicas, políticas e de segurança russas.

Em parte, ele já vem fazendo isso.

O Cazaquistão foi nomeado "aliado número um de Moscou", e esta relação próxima foi demonstrada em janeiro deste ano, quando Putin decidiu enviar tropas de apoio ao governo local para conter os violentos protestos que surgiram após o aumento considerável do preço do petróleo no país.

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Aleksander Lukashenko, presidente de Belarus, ofereceu seu país como base para tropas russas invadirem a Ucrânia

Belarus, por sua vez, está completamente subjugada a Moscou. E desde a invasão russa da Ucrânia tem desempenhado um papel fundamental, servindo como base para operações militares da Rússia.

Mas para Sergey Goryashko, do serviço de notícias em russo da BBC, ninguém sabe realmente o que vai acontecer.

"Vou ser honesto. Apenas duas semanas atrás, eu tinha 100% de certeza de que não haveria uma guerra real na Ucrânia. E agora acho que a Ucrânia não é o principal objetivo de Putin. É apenas mais um de seus objetivos", conclui.

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terça-feira, 1 de março de 2022

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01/03/22

BIOGRAFIA 


Volodymyr Olexandrovytch Zelensky (em ucraniano: Володимир Олександрович Зеленський; Krivoi Roh, 25 de janeiro de 1978) é um político, ator, roteirista, comediante e produtor/diretor cinematográfico ucraniano. É o atual presidente da Ucrânia, cargo para o qual foi empossado em maio de 2019.

Zelensky cresceu em Kryvyi Rih, uma região falante de russo localizada no sudeste da Ucrânia.Se formou em direito na Universidade Nacional de Economia de Kyiv. Depois, seguiu carreira como comediante e fundou o estúdio Kvartal 95, que produz filmes, desenhos e programas de televisão como a série Servo do Povo, onde Zelensky faz o papel do presidente da Ucrânia. A série durou de 2015 a 2019 e foi extremamente popular. Em março de 2018, os empregados do Kvartal 95 criaram um partido político com o mesmo nome do programa.

No dia 31 de dezembro de 2018, Zelensky anunciou sua candidatura para a eleição presidencial ucraniana de 2019 ao mesmo tempo que o discurso de Ano Novo do presidente Petro Poroshenko no canal de televisão 1+1. Por ser alguém de fora da política, as pesquisas não o retrataram com chances reais de vitória. Ele disputou o segundo turno com Poroshenko e venceu com 73,2% dos votos. Ele se identifica como populista, e diz ser antissistema e anticorrupção.

Na presidência, Zelensky foi um defensor do governo eletrônico e da união entre as metades falante de russo e ucraniano do país. Ele utiliza redes sociais como seu principal meio de comunicação, principalmente o Instagram.  Seu partido obteve vitória esmagadora em eleições antecipadas do legislativo que ocorreram logo após sua chegada na presidência. Durante sua administração, supervisionou a suspensão da imunidade legal dos membros do Verkhovna Rada, o parlamento ucraniano  e a resposta do país à pandemia de COVID-19 e a subsequente recessão econômica, e obteve algum progresso em sua luta contra a corrupção.  Seus críticos alegam que ele está tirando o poder dos oligarcas como um meio de centralizar autoridade e fortalecer a si mesmo.

Em sua campanha presidencial, Zelensky prometeu acabar com a Guerra Russo-Ucraniana e tentou dialogar com o presidente russo Vladimir Putin. Sua administração resultou em uma escalada de tensões com a Rússia que culminou em uma invasão russa em fevereiro de 2022. Sua estratégia durante o fortalecimento das forças russas foi de acalmar a população ucraniana e assegurar à comunidade internacional que a Ucrânia não revidaria. Ele inicialmente se distanciou dos avisos de guerra iminente ao mesmo tempo que pedia garantias de segurança e suporte militar da OTAN para resistirem à ameaça. Depois do início da invasão, Zelensky declarou lei marcial por toda Ucrânia e mobilização geral.

Em Outubro de 2021, a Pandora Papers revelou uma rede de empresas offshore fundada e mantida por Volodymyr Zelensky e a sua comitiva. Entre as disposições financeiras estão pelo menos dez empresas que lhe pagaram dividendos (cujo montante permanece desconhecido) após a sua chegada à cabeça do país. Através destas empresas, é proprietário de bens imobiliários de luxo no coração da capital britânica Londres.


Juventude, família e educação



Volodymyr Oleksandrovych Zelensky é filho de um casal de judeus. Nasceu em 25 de janeiro de 1978 na cidade de Kryvyi Rih, então parte da República Socialista Soviética da Ucrânia. Seu pai, Oleksandr Zelensky, é um matemático e professor, além de responsável pelo departamento de cibernética do Instituto de Economia de Kryvyi Rih. Sua mãe, Rymma Zelenska, era engenheira. Seu avô paterno, Semyon (Simon) Ivanovych Zelenskyy, serviu no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial; o pai de Semyon e três irmãos foram mortos no Holocausto. Além de Semyon, uma avó de Zelensky escapou dos nazistas ao ser evacuada para o Cazaquistão.

Zelenskyy referiu que cresceu em uma "família judia soviética comum", não muito religiosa, eis que a religião era reprimida pela União Soviética.  Quando era criança, sua família se mudou para a cidade de Erdenet, na Mongólia, diante de compromissos profissionais de Oleksandr  Ali a família permaneceu durante quatro anos e Zelensky aprendeu a língua mongol, embora posteriormente afirmou que, por conta da falta de prática, não sabia mais pronunciar nenhuma palavra em mongol. Também é um falante nativo de russo, assim como muitos moradores da região de Dnipropetrovsk, e atingiu fluência em ucraniano e inglês.

Após quatro anos na Mongólia, Zelensky e sua família retornaram para Kryvyi Rih, onde ingressou no ensino primário. Durante a juventude, tinha a aspiração de ser guarda fronteiriço; posteriormente, desejava seguir carreira diplomática. Aos 16 anos, foi aprovado no Teste de Inglês como uma Língua Estrangeira e recebeu uma bolsa de estudos para estudar em Israel, mas seu pai não permitiu a mudança para aquele país. Em 1995, matriculou-se no Instituto de Economia de Kryvyi Rih e graduou-se em Direito por esta instituição em 2000. Zelensky não exerceu nenhuma atividade jurídica.

Em 2003, Zelensky se casou com Olena Zelenska. Ambos eram colegas de escola em Kryvyi Rih, embora só se conheceram durante a universidade. Relacionaram-se durante oito anos antes do casamento. Tiveram dois filhos: Oleksandra, nascida em julho de 2004, e Kyrylo, nascido em janeiro de 2013.

Carreira no entretenimento


Aos 17 anos de idade, Zelensky ingressou em uma equipe da Klub Vesyólykh i Nakhódchivykh (KVN), traduzido em língua portuguesa para "Clube das Pessoas Divertidas e Inventivas". Trata-se de uma competição de humor criada em 1961 em que seus participantes são geralmente estudantes universitários. Sua equipe venceu a competição em 1997 e, no mesmo ano, criou sua própria equipe, a Kvartal 95. De 1998 a 2003, o Kvartal 95 atuou na liga principal da KVN, levando os membros da equipe a passarem muito tempo em Moscou e a realizarem excursões nos antigos países soviéticos. Em 2003, a Kvartal 95 começou a produzir programas televisivos para o canal de TV ucraniano 1+1 e, em 2005, a equipe mudou-se para o canal ucraniano Inter.

Em 2008, Zelensky estrelou o longa-metragem Love in the Big City e sua sequência Love in the Big City 2. Nos anos a seguir, participou dos filmes Office Romance. Our Time (2011), Rzhevsky Versus Napoleon (2012), Love in the Big City 3 (2014) e 8 First Dates (2012, 2015 e 2016). De 2010 a 2012, integrou o conselho administrativo e ocupou o cargo de produtor-geral do canal de televisão Inter.

Em 2014, Zelenskyy manifestou-se contrariamente à intenção do Ministério da Cultura ucraniano de banir artistas russos do país. A partir de 2015, os ucranianos começaram a banir obras culturais da Rússia. Em 2015, os russos baniram o filme Love in the Big City 2, estrelado por Zelensky. Quando a mídia ucraniana relatou que a Kvartal 95 havia doado recursos financeiros ao exército do país, alguns políticos russos demandaram a proibição de suas obras na Rússia.

Em 2015, Zelensky se tornou a estrela da série de televisão O Servo do Povo, interpretando o papel de presidente da Ucrânia. Seu personagem era um professor de história do ensino médio na casa dos 30 anos que ganhou a eleição presidencial depois que um vídeo viral o mostrou fazendo um discurso contra a corrupção do governo ucraniano. A série tornou-se o programa com maior audiência do país.

Campanha presidencial de 2019 


Em março de 2018, membros do Kvartal95 registram o Servo do Povo como um partido político. No mesmo ano, Zelensky tinha em torno de 10% das intenções de votos para a eleição presidencial de 2019. Em 31 de dezembro de 2018, no especial de final de ano do canal 1+1, anunciou sua candidatura à presidência.  Sua campanha foi quase que inteiramente virtual, através das redes sociais, evitando engajar-se em entrevistas com jornalistas. Zelensky rapidamente assumiu a liderança nas pesquisas de opinião.

A ascendência de Zelensky nas pesquisas foi fruto da rejeição às elites e aos políticos, vistos por boa parte da população como incapazes de superar as dificuldades econômicas e os escândalos de corrupção. Além de cultivar a imagem de ousider, defendeu a renovação da política e o combate à corrupção. Afirmou que buscaria diminuir a burocracia, promover a meritocracia na escolha dos cargos governamentais, despolitizar o Poder Judiciário e eliminar o foro privilegiado dos deputados, juízes e do presidente. Propôs ainda estipular a realização de referendos e afirmou que não seria candidato à reeleição.

Na política externa, Zelensky externou o desejo de terminar com a guerra com a Rússia, assim como a retirada das forças militares russas no país e de exigir uma compensação pelos conflitos. Zelensky prometeu manter a aproximação com o mundo ocidental e defendeu a entrada da Ucrânia na União Europeia (UE) e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Não obstante, preferia que ambas as questões fossem decididas em um referendo.

No primeiro turno, no final de março, Zelensky recebeu 30,2% dos votos, superando o presidente Petro Poroshenko, que atingiu 15,9%, e Iúlia Timochenko, com 13,4%. O presidente Poroshenko então buscou explorar a inexperiência política de Zelensky, afirmando que seria o único capaz de enfrentar a Rússia e garantir a integridade territorial ucraniana.Também foi questionada sua ligação com o oligarca bilionário Ihor Kolomoyskyi.

Zelensky foi eleito presidente em 21 de abril, derrotado Poroshenko com facilidade. Em uma votação com participação de 62,8% dos eleitores, alcançou 13,5 milhões de votos, ou 73,22%, ante os 4,5 milhões de votos do presidente incumbente, correspondente a 24,45%. Zelensky venceu em quase todas as regiões, salvo em Lviv; nas demais, atingiu 60% em Kiev, 70% na região de Kiev, 86% em Kharkiv e 89% em Luhansk. Em seu discurso de vitória, declarou: "Embora eu ainda não seja presidente, posso falar como cidadão da Ucrânia: a todos os países da antiga União Soviética, olhe para nós. Tudo é possível."


Presidente da Ucrânia


Cerimônia de posse de Zelensky na presidência ucraniana
Zelensky foi empossado como presidente da Ucrânia em 20 de maio de 2019. Tornou-se o presidente mais jovem da história do país, o primeiro judeu[nota 1] e o sexto desde sua independência. Em seu discurso de posse, anunciou a dissolução do Parlamento (Verkhovna Rada) e convocação de eleições legislativas antecipadas. Na formação de seu governo, escolheu Andriy Bohdan como seu assessor mais importante; Bohdan era funcionário do controverso bilionário Ihor Kolomoyskyi. Antigos membros do Kvartal95 foram nomeados para cargos-chave. Ivan Bakanov, ex-CEO do grupo, foi designado para a chefia do Serviço de Segurança.

Na primeira semana de governo, o Parlamento rejeitou sua proposta de alterar a legislação eleitoral. Zelensky propunha mudar o sistema de maioria simples para o de representação proporcional, com lista fechada, além de reduzir a cláusula de barreira de 5% para 3%. A proposta necessitava de 226 votos (metade dos 450 deputados), mas alcançou apenas 92 votos a favor. Em junho, os parlamentares rejeitaram outras duas propostas do presidente: a remoção dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa e do chefe do Serviço de Segurança e a responsabilização criminal por atos de enriquecimento ilícito.

Em julho de 2019, o Servo do Povo, partido do presidente, venceu as eleições legislativas, conquistando a primeira maioria absoluta na história política da Ucrânia. O partido recebeu 43% dos votos válidos, elegendo 254 deputados. O partido Plataforma de Oposição - pela Vida ficou em um distante segundo lugar, com 13% dos votos e 43 cadeiras. Os partidos liderados por Yulia Tymoshenko e Poroshenko tiveram 8% dos votos cada e elegeram 26 e 25 parlamentares, respetivamente. A revista The Economist pontuou que os resultados refletiam o desgosto dos eleitores com sua elite dominante e deram fôlego às reformas defendidas por Zelensky.

Política doméstica


Reformas eleitoral e política
O presidente Zelensky introduziu uma agenda reformista que incluiu alterações nos processos eleitorais e políticos. Em setembro de 2019, sancionou mudanças na legislação sobre o impeachment presidencial. O jornalista Mikhail Minakov considerou que as modificações tornaram "impossível" remover um presidente do cargo. Em dezembro, o Parlamento aprovou o código eleitoral proposto por Zelensky. As normas estabeleceram um sistema de votação por representação proporcional com listas partidárias abertas para eleições parlamentares e locais. Também eliminou o voto distrital e estabeleceu cota de gênero de 40% para parlamentares mulheres, que naquele momento detinham 20% das cadeiras.

Em setembro de 2019, Zelensky sancionou a emenda à Constituição que extinguiu o foro privilegiado de parlamentares. As normas existentes impediam a detenção ou responsabilização dos deputados sem o consentimento do Parlamento. A falta de autorização parlamentar impedia investigações de deputados mesmo em face de claras evidências de cometimento de crimes. A proposta já havia sido apoiada pelo presidente anterior, Poroshenko, que a apresentou em 2017. Durante a campanha, Zelensky comprometeu-se ainda a eliminar o foro privilegiado de juízes e do presidente, mas a ideia não avançou.


Relações com a imprensa


O partido Servo do Povo propôs reformas nas leis de mídia com a intenção de aumentar a concorrência e afrouxar o domínio dos oligarcas ucranianos nas emissoras de televisão e de rádio. Os críticos alegaram que a proposta poderia aumentar o risco de censura pois a previsão de responsabilização criminal pela distribuição de desinformação poderia ser má utilizada. Zelensky defendeu a necessidade de combater notícias falsas e a propaganda russa – para tanto, propôs impedir que cidadãos russos possuíssem ou financiassem veículos midiáticos.

Entre 10 e 11 de outubro de 2019, Zelensky realizou a mais longa entrevista coletiva da história mundial, com duração de 14 horas. O recorde foi registrado no Guinness Book e superou o previamente estabelecido por Alexander Lukashenko. O presidente respondeu a cerca de 500 perguntas, formuladas por 300 jornalistas.

Reforma agrária
Uma das metas de Zelensky em seu primeiro ano como presidente era a reforma agrária. Em 2001, foi sancionada a proibição da venda de terras agrícolas, sob o argumento de que era necessário regulamentar o mercado e impedir que fosse tomado por estrangeiros. A moratória foi prorrogada nos anos seguintes. Seus apoiadores argumentavam que a proibição evitava a monopolização do mercado e garantia a autonomia nacional, enquanto seus opositores previam um considerável aumento dos investimentos com seu término. A União Europeia manifestou apoio à abertura do mercado. No entanto, as pesquisas de opinião indicaram que a ampla maioria da população a rejeitava. A proposta ocasionou protestos violentos, inclusive no Parlamento, que presenciou uma luta entre deputados durante o debate sobre a matéria.

Em maio de 2021, Zelensky sancionou a reforma agrária. O texto permitiu a compra e a venda de terras agrícolas, desde que entre pessoas físicas ou jurídicas ucranianas, nomeadamente os cidadãos, as entidades jurídicas, as comunidades territoriais (uma espécie de unidade administrativa) e o Estado. Foram impostas limitações sobre o domínio da propriedade: um único indivíduo não poderia possuir mais de 35% das terras agrícolas de uma comunidade territorial, 8% de um oblast ou 0,5% do território nacional. Apenas um referendo poderia permitir a atuação de cidadãos e empresas estrangeiras no mercado. Zelensky defendeu a nova legislação referindo que esta devolvia às comunidades o direito de dispor sobre suas terras. A reforma agrária, juntamente com a bancária, era um dos requisitos para a concessão de um empréstimo pelo Fundo Monetário Internacional.


Pandemia de COVID-19


Zelensky foi vacinado contra a COVID-19 em março de 2021
Diante da pandemia de COVID-19, Zelensky determinou a introdução da quarentena e medidas de distanciamento social e de uso de máscaras. O presidente defendeu as ações como forma de salvaguardar as vidas e a economia. O modo de combater a pandemia foi semelhante ao adotado nos demais países europeus.  Zelensky recusou-se a comprar a vacina russa Sputnik V, arguindo que sua efetividade não foi comprovada. O presidente foi vacinado com a vacina Oxford-AstraZeneca e incentivou a população a também ser imunizada, como forma de "nos permitir viver sem restrições novamente. No entanto, o ritmo da imunização era um dos menores da região, com metade dos habitantes recusando a vacina. Apenas 36% dos ucranianos estava completamente imunizado em fevereiro de 2022 e, na mesma época, o país havia registrado 112 mil mortos pela doença.


Reforma judicial


Zelensky prometeu promover reformas no Poder Judiciário, visando garantir sua independência e o Estado de Direito, bem como combater a corrupção. As demandas para a concretização de tal reforma possuíam apoio do eleitorado e dos parceiros internacionais do país. Em novembro de 2019, sancionou uma lei modificando o processo de escolha dos membros da Alta Comissão de Qualificações Judiciais, responsável pela seleção de juízes e condução de processos disciplinares. Também reduziu o salário e o número de membros da Suprema Corte, de 200 para 100 magistrados. Foi formada ainda uma comissão junto ao Conselho Superior de Justiça para lidar com questões disciplinares envolvendo os integrantes da Suprema Corte e demais cortes superiores. A comissão poderia fiscalizar as atividades dos juízes e seus rendimentos e ativos financeiros. O Tribunal Constitucional anulou os efeitos da legislação pois julgou que suas disposições feriam a independência judicial.

Em março de 2021, Zelensky revogou a nomeação de dois magistrados da Corte Constitucional, inclusive a de Oleksandr Tupytsky, o presidente do tribunal que ocupava o cargo desde 2013. Tupytsky havia sido implicado em um escândalo de corrupção, com gravações que demonstrariam seu suposto envolvimento em esquemas de corrupção. Ainda assim, a autoridade do presidente para remover-lhe do cargo foi questionada. Nos meses anteriores, Zelensky e o Tribunal Constitucional estavam em conflito diante da decisão da corte de revogar normas que visavam impedir a corrupção de funcionários públicos. O impasse envolvendo o Poder Judiciário manteve-se nos meses seguintes e o presidente afirmou que continuaria tentando reformá-lo. Em julho, Zelensky sancionou a criação de um painel independente responsável pela nomeação de juízes.



Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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