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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Planalto tenta desconstruir delação e criar agenda alternativa para desviar atenção de denúncias

Planalto tenta desconstruir delação e criar agenda alternativa para desviar atenção de denúncias

 Temer participa de reunião no Palácio do Planalto.   REUTERS/Adriano Machado

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Depois de dias de intensa pressão, o Palácio do Planalto investe em estratégias para desviar a atenção da sequência de denúncias que atingiu boa parte do primeiro escalão do governo, com o anúncio de medidas econômicas, possivelmente esta semana, e uma tentativa de desconstruir a delação premiada do ex-diretor de relações institucionais da Odebrechet Cláudio Melo Filho.

A carta assinada pelo presidente Michel Temer e enviada nesta segunda-feira ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo que a PGR acelere as investigações e as delações dos executivos da Odebrecht, foi gestada durante a manhã em uma reunião.

No encontro, além de Temer, estavam os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Justiça, Alexandre de Moraes, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o secretário do Programa de Parcerias Investimentos, Moreira Franco.

A avaliação do grupo, hoje o mais próximo de Temer, é que o governo precisa insistir na tese de que a delação de Melo Filho mostra um retrato não verdadeiro, faz um recorte para causar o "máximo impacto possível", mas é cheio de incongruências.

"Vamos lembrar que essa época (2014) era a época do 'vice decorativo'. O PMDB não tinha poder de decisão. Onde está o capítulo do Palácio do Planalto?", disse uma fonte palaciana.

O governo alega, por exemplo, que a denúncia de que Temer teria negociado uma doação de 10 milhões de reais não tem qualquer crime, já que a doação foi legal, comprovada por um depósito na conta de campanha do PMDB em 2014.

A ideia de que a delação completa da Odebrecht pode exonerar de alguma forma o PMDB e voltar o foco para o PT, ocupantes anteriores do Planalto, está presente na estratégia, mas o governo admite que não há como pedir quebra de sigilo das delações.

"O sigilo só pode cair depois que todas as delações forem homologadas pelo Supremo Tribunal Federal", diz a fonte.
Aliados de Temer irão reforçar às críticas ao vazamento --o que foi confirmado por uma nota do PMDB, que chama o fato de "vazamento criminoso" de uma proposta de delação não homologada.

A estratégia de pedir a anulação, no entanto, não vingou. Isso porque, ao contrário do caso do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, a delação de Melo Filho já foi assinada, mesmo que ainda não tenha sido homologada. A do executivo da OAS era ainda apenas uma proposta de delação em negociação.

O governo também tenta reforçar a base aliada, especialmente a relação com o PSDB, que alimenta boatos de que pode desembarcar do governo se a situação não melhorar. Temer já garantiu aos tucanos que a Secretaria de Governo, que era de Geddel Vieira Lima, irá para o partido, sendo o nome mais forte o do líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

MEDIDAS

No domingo, em reunião no Palácio do Jaburu, acertou que o governo iria acelerar medidas que já estavam sendo discutidas, como a possibilidade de liberar parte do FGTS para pagamento de dívidas, que possam injetar mais recursos na economia sem ser via subsídios ou desonerações.

Temer cancelou uma viagem que faria ao Pará e ao Piauí na quinta-feira para fechar, em uma reunião com a equipe econômica e seus auxiliares mais próximos, o pacote de ações. A intenção é tentar anunciá-lo já na sexta-feira.

A decisão é uma tentativa de criar fatos positivos e buscar uma reação um pouco mais rápida da economia, já que a instabilidade política, as denúncias de corrupção, somadas à estagnação econômica têm alimentado a insatisfação popular com o governo.

Apesar de auxiliares do presidente terem dito que ele sabe ser impopular e não se importar com isso, a última pesquisa Datafolha, em que 63 por cento dos entrevistados disseram ser favoráveis à renúncia do presidente, preocupou o Planalto.


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domingo, 11 de dezembro de 2016

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou hoje (10), na cerimônia em que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, na Noruega, que a guerra em seu país “terminou”.




O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou hoje (10), na cerimônia em que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, na Noruega, que a guerra em seu país “terminou”.

“Após seis anos de intensas e difíceis negociações, posso anunciar ao mundo com profunda humildade que o povo da Colômbia está fazendo o possível e o impossível. A guerra que causou tanto sofrimento e angústia a nossa população terminou”, disse Santos após receber o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (R$ 2,9 milhões).

Ele doará o prêmio às vítimas do conflito, que em cinco décadas deixou 220 mil mortos e forçaram mais de 6 milhões de pessoas a fugir, segundo os dados oficiais. Sete vítimas da guerra estiveram presentes na cerimônia, entre elas a ex-candidata à presidência Ingrid Bittencourt, que foi sequestrada e ficou seis anos sob poder de guerrilheiros.

Santos recebeu o Prêmio Nobel ainda que um primeiro acordo de paz entre seu governo e as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) tenha sido rejeitado pelo povo colombiano em um referendo realizado no início de outubro.

Um novo acordo para encerrar o conflito, assinado entre o governo colombiano e as Farc, foi ratificado no início deste mês pelo Parlamento colombiano, e Santos anunciou que o novo texto não será submetido a consulta popular.

Nenhum representante das Farc compareceu à cerimônia do Prêmio Nobel da Paz, sob a alegação de impedimentos legais. À época do anúncio de Santos como vencedor, o líder do movimento guerrilheiro, Timoléon Jiménez, cumprimentou o presidente colombiano por seus esforços de paz.

Bob Dylan

O cantor Bob Dylan foi a principal ausência na cerimônia de entrega dos Prêmios Nobel, segundo a Agência Ansa. Em mensagem, que foi lida em público, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura agradeceu a academia sueca pelo título. "Lamento não poder estar com vocês pessoalmente, mas, por favor, saibam que estou definitivamente com vocês em espírito e honrado em receber um prêmio tão prestigioso", disse Dylan.

A mensagem foi lida por Azita Raji, embaixadora norte-americana na Suécia. Na entrega do Nobel, a cantora Patti Smith interpretou a canção de Dylan "A Hard Rain's A Gonna Fall". Dylan demorou para aceitar o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (US$ 870 mil), o que frustou a academia, que anunciou seu nome para o Nobel de Literatura em 13 de outubro.

*Com informações das Agências Telam, France Presse e Ansa Brasil // Ampliada em 11/12/2016 às 19h36

Edição: Aécio Amado
http://agenciabrasil.ebc.com.br/


Desaprovação ao governo Temer sobe para 51%, diz Datafolha



Desaprovação ao governo Temer sobe para 51%, diz Datafolha

SÃO PAULO (Reuters) - A desaprovação ao governo do presidente Michel Temer subiu para 51 por cento em dezembro, ante 31 por cento em julho, acompanhada da queda na confiança na economia, mostrou pesquisa Datafolha divulgada neste domingo.

Segundo o levantamento, realizado entre 7 e 8 de dezembro, antes de surgirem detalhes de delação da Odebrecht com citações a Temer, 51 por cento dos brasileiros consideram a gestão de Temer ruim ou péssima.

Aqueles que consideram o governo do presidente como regular reduziram-se a 34 por cento. Na pesquisa anterior, durante a interinidade do peemedebista, eram 42 por cento.

O índice de ótimo/bom de Temer caiu de 14 por cento em julho para 10 por cento em dezembro. Não souberam avaliar o governo 5 por cento dos entrevistados.

Nos últimos meses, a situação econômica do país piorou na avaliação de 65 por cento da população e se manteve como estava para 25 por cento; 9 por cento disseram que houve melhora.

No futuro próximo, 41 por cento acham que a economia se deteriorará, 27 por cento, que não se alterará e 28 por cento apostam em melhora. Em julho esses números eram 30 por cento, 27 por cento e 38 por cento, respectivamente.

De acordo com o Datafolha, 63 por cento da população é favorável à renúncia do presidente Temer ainda neste ano para que haja eleição direta.

No questionário anterior, o Datafolha perguntou se o entrevistado era "a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano". Das pessoas ouvidas pelo instituto à época, 62 por cento defenderam a renúncia de ambos.

O Datafolha ouviu 2.828 pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

(Por Tatiana Ramil)

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Temer convoca reunião de emergência para avaliar delações da Odebrecht, diz mídia

Temer convoca reunião de emergência para avaliar delações da Odebrecht, diz mídia

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Michel Temer convocou ministros e líderes da base para uma reunião de emergência na noite desde domingo para avaliar as delações do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho, segundo matérias veiculadas na mídia nesta tarde.

O jornal O Estado de S.Paulo relata que no encontro, que acontecerá no Palácio do Jaburu, Temer também discutirá medidas para a retomada da economia ainda este ano.

A temperatura política voltou a subir em Brasília com o vazamento de delação do ex-executivo da Odebrecht, que citou recursos repassados a líderes peemedebistas.

    Foram citados o presidente Michel Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o secretário do Programa de Parcerias de Investimento, Moreira Franco, o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (RR), além de políticos de outros partidos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os políticos negaram qualquer irregularidade.

(Por Marta Nogueira)

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sábado, 10 de dezembro de 2016

Como o Brasil entrou, sozinho, na pior crise da história




Como o Brasil entrou, sozinho, na pior crise da história

Desde os anos 1930 não havia recuo do PIB em dois anos seguidos. As consequências vão nos acompanhar por muito tempo
GRAZIELE OLIVEIRA E MARCOS CORONATO
Queima de café em Santos nos anos 30. Com a queda no preço da commoditie o governo brasileiro tomou uma medida drástica para salvar a economia. Na crise atual, a solução não é tão fácil. (Foto: Acervo Laire José Giraud)
 Reportagem publicada na edição 926 de ÉPOCA

Era junho e uma gigantesca fogueira ardia na cidade de Santos, no litoral paulista. Mas não era festa junina. Corria o ano de 1931 e o governo mandara queimar café, a fim de destruir estoques e tentar forçar o aumento do preço do grão no mercado internacional. A cotação havia caído a um terço da registrada dois anos antes. Era um dos efeitos, no Brasil, da Grande Depressão, que nasceu nos Estados Unidos e destroçou a economia global. Estima-se que tenhamos torrado em fogueiras como a de Santos mais de 71 milhões de sacas de café, ou mais de 4 bilhões de quilos, o suficiente para garantir o consumo mundial de café por três anos. No pior triênio daquela crise, que virou referência de desastre no Brasil e no mundo, a economia nacional encolheu a um ritmo médio de 1,4% ao ano. Na crise atual, será pior. No triênio de 2014 a 2016, a economia deverá encolher a um ritmo médio de 2,4% ao ano.

Desta vez, ao menos, não temos a ilusão de haver uma solução tão fácil quanto queimar café. A economia está muito mais complexa – e os problemas também. O cenário atual não dá espaço para nenhum otimismo. A produção do país, medida pelo PIB, diminuiu em 2015 e deverá recuar novamente neste ano. “É a maior crise do período pós-industrialização. Teremos dois anos seguidos de queda do PIB e existe, sim, a possibilidade de mais um ano de queda”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP. A crise será muito mais duradoura que esse biênio catastrófico. Para que um país com o nível de pobreza e o perfil demográfico do Brasil prospere realmente, a produção precisa crescer num ritmo médio próximo de 2,5% ao ano, no mínimo, durante vários anos consecutivos. Estamos abaixo desse ritmo desde 2014 e não há previsão de quando voltaremos a ele. Certamente não antes de 2018. Os mais pessimistas acreditam que isso só será possível após 2020. “Não podemos nem dizer que se trata de um ciclo de três anos. Ele é muito mais longo do que isso”, diz Otto Nogami, professor de economia da escola de negócios Insper.

>>Para brasileiro, corrupção é um problema dos outros

Países que entram em crises severas, como a atual, dificilmente saem delas sem sofrer mudanças – todas profundas, muitas certamente ruins, talvez algumas boas (leia o quadro abaixo). Do lado positivo, Lacerda explica que, se a taxa de câmbio se mantiver entre R$ 3,80 e R$ 4, as exportações continuarão estimuladas. O encarecimento da produção na China e a disposição daquele país em desacelerar também facilitarão a produção da indústria no Brasil. O Brasil ainda tem infraestrutura precária – faltam portos e estradas. É uma deficiência, mas a crise pode forçar o surgimento de  condições que atraiam investidores. “No G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), somos o país que oferece melhores oportunidades para isso”, diz. No cenário ideal, a crise tornará evidente a necessidade de reformas como a da Previdência, a das leis trabalhistas e a das contas públicas. Um governo minimamente organizado conseguiria encaminhá-las e compartilhar com o Congresso a responsabilidade por seu avanço. Mas a possibilidade de ocorrência de boas mudanças não escondem o dano que será causado pela crise.

>>“A crise corroeu os avanços. Teremos de refazer 15 anos”, diz economista

O desemprego assusta apenas pela velocidade com que avança. O país levou dez anos para reduzi-lo de 10% para 5%, mas precisará de apenas dois anos para que ele avance e retorne ao nível anterior. Os problemas que ele provoca se espraiam pela sociedade. “Desemprego dessa magnitude tem consequências sociais graves e de longo prazo”, diz o economista José Pastore, especialista em economia do trabalho. “As famílias que ficam inadimplentes vão perder reputação, o nome limpo e a capacidade de usar crédito no futuro.” Ele adverte que, num cenário de estagnação e inflação, as famílias conseguem investir menos na formação dos jovens. A sociedade vai perdendo a capacidade de investir em capital humano, que é diferente de construir uma fábrica. Capital humano não se recupera rapidamente, com uma decisão ou um momento de guinada econômica. A preparação de um cidadão educado, crítico, produtivo e apto a aprender continuamente ao longo da vida exige investimento seguido, por vários anos. Não sabemos ainda quão profunda será essa chaga nos anos à frente.



>>O desajuste nas contas públicas prejudica os mais pobres

O mercado de trabalho travado acarretará outros problemas em prazo mais curto. “Uma economia estagnada apresenta um custo social crescente, com o aumento do desalento”, diz Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Desalento é aquela situação em que o cidadão desiste de procurar emprego. O perigo é que ele desista de se atualizar e de aprender – ou seja, torne-se menos produtivo e reduza ainda mais suas chances de voltar a encontrar emprego no futuro, mesmo que o país volte a crescer. Carmo lembra que os danos sociais não param por aí. A família média brasileira sofre muito mais, numa fase de desemprego, do que a família média de um país com renda mais elevada.

As explicações para termos chegado a esse ponto envolvem, obrigatoriamente, a crise política. Encaminhar reformas econômicas sempre foi difícil. Com Executivo e Legislativo paralisados, pela falta de horizonte quanto ao mandato da presidente da República, encaminhá-las tornou-se impossível. A crise política anda de braços dados com as investigações da Operação Lava Jato – que disseminou pânico numa população de políticos e empresários que se consideravam invulneráveis, a despeito de seus desmandos com a coisa pública. A investigação, porém, afeta o ritmo de trabalho de grandes empresas de construção e infraestrutura. É parte do preço a pagar pela mudança na cultura da impunidade.

A maior parte do problema nasceu de uma política econômica desastrosa e arrogante (porque mantida mesmo após sinais claros de que estava equivocada). O governo apostou em baixar juros à força, incentivar o consumo e beneficiar setores e companhias seletivamente, em vez de promover reformas que facilitassem os negócios no país. O barateamento forçado dos combustíveis e da energia elétrica apresenta seu custo agora, na forma de inflação elevada. Permitiu-se que as contas públicas saíssem de controle.  “Ficou clara a situação de desequilíbrio, com a estagnação do PIB ao mesmo tempo que a inflação aumenta”, diz Carmo, da FEA-USP. Contra inflação alta, a solução tradicional é aumentar os juros. Mas a maioria dos especialistas concorda que não há mais sentido em aumentá-los agora – isso inflaria ainda mais rapidamente a dívida pública, com pouco efeito na disparada de preços. Agora, resta esperar que termine o ajuste nos custos da produção no país, e que a falta de poder de consumo das empresas e famílias puxe a inflação para baixo.

E o cenário global? O resto das economias relevantes não vai mal. Nogami, do Insper, acredita que o fator externo responde por apenas 20% da recessão atual do Brasil. Ou seja: a retração econômica atual, a maior por que o Brasil já passou, parte de uma das maiores crises da história do país, foi gerada por aqui mesmo. Que deixe junto com suas sequelas, ao menos, lições duradouras.
http://epoca.globo.com/



Entenda de vez a crise no Brasil (+ 3 dicas para superar)





Entenda de vez a crise no Brasil (+ 3 dicas para superar)

A crise no Brasil é assunto o dia todo, todos os dias.

O governo põe a culpa na crise internacional. A oposição, no governo. A mídia culpa qualquer um, desde que dê Ibope.

Dos três, a mais inconstante parece a mídia, que navega conforme o vento: apoia medidas faraônicas do governo, quando lhe interessam (como a Copa do Mundo de 2014) e depois, se a situação muda, simplesmente desconversa.

http://carteirarica.com.br/crise-no-brasil/


Enfim, melhor analisarmos somente os argumentos do governo e da oposição e ver a parcela de culpa internacional e a parcela que se refere à má gestão.

No final do artigo, ainda damos algumas sugestões para que você tire algum proveito dessa situação a que chegamos.

Os BRICs
A expressão BRIC surgiu em 2001 para se referir a países que despontavam com alto potencial de crescimento (posteriormente, o termo incorporou o “s” da África do Sul):

Brasil, o celeiro do mundo;
Russia, o botijão de gás do mundo;
Índia, o call-center (em inglês!) do mundo;
China, a grande chaminé fabril do mundo.
Veja bem, estar na lista não significa o país ser desenvolvido. Pelo contrário, México e Coréia do Sul ficaram de fora justamente por serem considerados mais desenvolvidos que os quatro. Estar na lista significa: ter uma imensa população (e por isso, um mercado interno promissor), alto nível de integração ao comércio mundial e infraestrutura suficiente para receber capitais externos ou grandes riquezas naturais.

Basicamente, eram países subdesenvolvidos, que tinham potencial de crescimento. Crescimento que se concretizou ao longo de mais de uma década, puxado, principalmente, pela China que crescia as taxas superiores a 10% ao ano.

china
fonte: Wikipedia
Por que o fôlego acabou?

Três fatores foram desconsiderados nas projeções de crescimento chinês à taxa infinita de 10%:

Parte do crescimento chinês se deve à simples urbanização. Em outras palavras, mesmo que um país não produza nada além do que produzia antes, só pelo fato de um serviço que antes você mesmo fazia, passar a ser contratado, passa a integrar as estatísticas econômicas. A urbanização se estabilizando, esse “crescimento” diminui;
O crescimento da base de comparação. Crescer 10% de 10 é fácil, basta produzir 1 a mais. Mas para crescer 10% de 50, é necessário produzir 5! Em outras palavras, quanto mais o país se desenvolve, menores suas taxas de crescimento;
Atividade econômica “forçada” pelo planejamento estatal. Parte do crescimento econômico chinês se deve a construções de grandes cidades-fantasmas, além de outras obras estatais realizadas somente para ocupar a população. Sim, planejamento econômico estatal muito forte acaba nessas aberrações.
O Brasil nessa história

Agora a economia chinesa resolveu crescer à módica taxa de 4 ou 5% ao ano e os preços das commodities que o Brasil envia para a china despencaram do precipício.

Veja nesse gráfico a pauta de exportações brasileiras:



Em primeiro lugar, a China “monopoliza” as exportações brasileiras, sendo responsável por 15% das exportações nacionais. E o que é enviado para a China? Soja, minério, petróleo, celulose e açúcar.

Em dólares, o preço da soja caiu, o do petróleo caiu pela metade, o do minério, nem se fala:

minério

Essa é a parcela de “culpa” internacional da crise no Brasil. Em outras palavras, tudo o que o Brasil produz, simplesmente não tem mais valor, ou, o preço anterior estava sobrevalorizado.

E o governo tem culpa?

Colocar a culpa no exterior e sair pela tangente é uma ótima estratégia. Mas depende de quem ouvir acreditar.

Se a culpa fosse só da crise internacional, países com pauta de exportação como o Peru estariam em situação idêntica à brasileira. Mas por que não estão? Por que a cotação de Real/Sol peruano foi de 0,80 a 1,23, ou seja, uma valorização de 50% do sol perante o Real no último ano, se o Peru exporta a mesma coisa que o Brasil?

Tem algo de estranho no ar, não tem?

Segundo os liberais, o governo deve manter um Estado enxuto controlando a economia somente pela política monetária. Segundo os keynesianos, o governo deve poupar nas épocas de fartura e gastar na época de recessão, para amenizar o impacto da queda da economia. Mas o governo não fez nem um, nem outro. Gastou tudo enquanto havia, típico de brasileiro.

O que o governo brasileiro fez?

1 O primeiro erro foi esse: tentar colocar o país em um modo “turbo”, gastando tudo o que podia e não podia na época de fartura. Agora a recessão veio e não há dinheiro, justo quando ele é mais necessário.

O paralelo nas finanças pessoais é aquele que recebe um aumento salarial e compra um carro novo, faz viagens exuberantes, etc. Depois é mandado embora e aquele dinheiro faz uma enorme falta.

O governo estava no grupo daqueles que fizeram projeções de crescimento chinês infinito e, com base nessa loucura, simplesmente convocou a festa:

Gastança no serviço público (você já viu nosso artigo sobre os juízes?),
Na previdência com o aumento do mínimo, no Bolsa isso/Bolsa aquilo;
Desonerações além do que poderia conceder sem colocar as finanças em risco;
Obras que nada contribuem para a população, como estádios para Copa do Mundo, Olimpíadas, a Transposição do São Francisco e por aí vai.
2 Não apenas se acomodou, como deixou o real ficar sobrevalorizado (poderia ter comprado dólares com o dinheiro que poupasse) e deixou setores nacionais como a indústria sofrerem e até fecharem.

Tudo bem que os países europeus estão enviando suas fábricas para a China, tirando a poluição da própria terra e produzindo mais barato. Mas raras são as empresas brasileiras que mandaram parte de suas fábricas para fora (Marcopolo, Arezzo, etc.), a maioria não fecha aqui para abrir lá, a maioria simplesmente fecha.

Como resultado, o governo incentivou a produção justamente daquilo que era mais dependente: das commodities agrícolas e do minério! Se incentivasse a exportação da indústria leve e de ponta ou o setor de serviços, não teríamos o atual problema (a Embraer continua sendo a exceção das exceções).

Isso tudo só amplificou o tombo, que viria quando o preço das commodities se retraísse.

3 Não bastasse isso tudo, o governo segurou artificialmente a inflação. O controle dos preços administrados para segurar a inflação, por si só, foi uma bomba.

Por que? Porque passada a eleição, o governo percebeu que a situação estava ficando insustentável (principalmente do setor elétrico) e foi obrigado a liberar a inflação represada.

Enfim, justo agora, que a atividade econômica está retraindo e seria necessário reduzir juros para incentivar a economia, o governo tem que fazer o contrário, aumentá-los para conter a inflação! Isso leva a mais recessão.

Enfim, há parcela de culpa internacional, mas pode o governo dormir tranquilo nessa hora? Creio que não.

E eu, o que posso fazer?
Dizem que o ideograma japonês para crise é o mesmo de oportunidade. Mesmo que não seja verdade, é um dito que já se consolidou. Vamos a rápidas dicas:

Pequeno empresário

Talvez você tenha feito como o governo e deixado seus gastos expandirem além do necessário durante a época de fartura. Hora de deixar a comodidade de lado e passar em vista todos os gastos de sua empresa para cortar aqueles supérfluos com os quais você foi conivente nos últimos tempos. Talvez seja hora de pensar em novos nichos.

Empregado

Acomodou-se também e agora está com o risco de demissão? Volte a investir no seu network, que andava meio esquecido. Atualize seu currículo ou seu portfólio, coloque a pasta debaixo do braço e bata em algumas portas. Faça um bom perfil no Linkedin, e não deixe esses contatos esfriarem. Mesmo que não apareça nada por agora, faça com que se lembrem de você no futuro.

Desempregado

A situação é mais complicada se você tiver dívidas. Se não tiver, talvez seja a hora de investir o acerto que você receber em um novo negócio. Mas cada caso é um caso.

Quem não tem problemas?
Engraçado como a crise é capaz de, inclusive, alavancar os lucros de alguns setores. Quer exemplos? Os escritórios de advocacia trabalhista (afinal, há muitos acertos de contas), as lojas de consertos de roupas e celulares e algumas que vendem produtos usados, já que, na crise muita gente substitui o novo por uma “guaribada” no usado.

O importante mesmo é ter uma mentalidade voltada para o sucesso. Assim você simplesmente sai de qualquer crise em uma situação melhor do que antes. Se o seu interior for inabalável, não será uma marolinha que o derrubará!

Ex-diretor da Odebrecht diz que Temer recebeu R$10 milhões da empreiteira, segundo Veja

Ex-diretor da Odebrecht diz que Temer recebeu R$10 milhões da empreiteira, segundo Veja

(Reuters) - O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho disse em seu acordo de delação premiada que o presidente Michel Temer pediu 10 milhões de reais ao ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht em 2014 e que esse valor foi pago a pessoas próximas do ex-presidente, como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o assessor especial da Presidência José Yunes, disse a revista Veja em seu site.

De acordo com a publicação, os recursos foram entregues em dinheiro vivo. A revista afirma ter tido acesso à íntegra dos anexos da delação do ex-diretor e a uma lista "suprapartidária" de políticos que, segundo Melo Filho, receberam recursos da Odebrecht.

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A crise brasileira e a geopolítica mundial

 Leonardo Boff
A crise brasileira e a geopolítica mundial


Seria errôneo pensar a crise do Brasil apenas a partir do Brasil. Este está inserido no equilíbrio de forças mundiais do âmbito na assim chamada nova guerra fria que envolve principalmente os EUA e a China. A espionagem norte-americana, como revelou Snowden atingiu a Petrobrás e as reservas do pre-sal e não poupou até a presidenta Dilma. Isto é parte da estratégia do Pentágono de cobrir todos os espaços sob o lema:”um só mundo e um só império”. Eis alguns pontos que nos fazem refletir.

No contexto global há um ascensão visível da direita no mundo inteiro, a partir dos próprios EUA e da Europa. Na América Latina está se fechando um ciclo de governos progressistas que elevaram o nível social dos mais pobres e firmaram a democracia. Agora estão sendo assolados por uma onda direitista que já triunfou na Argentina e está se pressionando todos os países sul-americanos. Falam, como entre nós, de democracia mas, na verdade, querem torná-la insignificante para dar lugar ao mercado e à internacionalização da economia.

O Brasil é o principal atingido e o impedimento da presidenta Dilma é apenas um capítulo de uma estratégia global, especialmente das grandes corporações e pelo sistema financeiro articulado com os governos centrais. Os grandes empresários nacionais querem voltar ao nível de ganho que tinham sob as políticas neo-liberais, anteriores a Lula. A oposição à Dilma e o apoio ao seu impedimento possui um viés patronal. A Fiesp com o Skaf, a Firjan, as Federações do Comércio de São Paulo, a Associação Brasileira da Indústria Eletrônica e Eletrodomésticos (Abinee), entidades empresariais do Paraná, Espírito Santo, Pará e muitas redes empresariais estão já em campanha aberta pelo impedimento e pelo fim do tipo de democracia social implantada por Lula-Dilma.

A estratégia ensaiada contra a “primavera árabe” e aplicada no Oriente Médio e agora no Brasil e na América Latina em geral consiste em desestabilizar os governos progressitas e alinhá-los às estratégias globais como sócios agregados. É sintomático que em março de 2014 Emy Shayo, analista do JB Morgan coordenou uma mesa redonda com publicitários brasileiros ligados à macroeconomia neoliberal com o tema:”como desestabilizar o governo Dilma”. Armínio Fraga, provável ministro da fazenda num eventual governo pós-Dilma vem do JB Morgan (cf.blog de Juarez Guimarães,”Por que os patrões querem o golpe”).

Noam Chomski, Moniz Bandeira e outros advertiram que os EUA não toleram uma potência como o Brasil no Atlântico Sul que tenha um projeto de autonomia, vinculado aos BRICS. Causa grande a preocupação à política externa norte-americana a presença crescente da China, seu principal contendor, pelos vários países da América Latina, especialmente e no Brasil. Fazer frente a outro anti-poder que significam os BRICS implica atacar e enfraquecer o Brasil, um de seus membros com uma riqueza ecológica sem igual.

Talvez o nosso melhor analista da política internacional. Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de “A segunda Guerra Fria – geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos” (Civilização Brasileira 2013) e o deste ano “A desordem internacional”(da mesma editora) nos ajude a entender os fatos. Ele trouxe detalhes de como agem os EUA: ”Não é só a CIA… especialmente as ONGs financiadas pelo dinheiro oficial e semi-oficial como a USAID, a National Endwoment for Democracy, atuam comprando jornalistas e treinando ativistas”. O “The Pentagon´s New Map for War & Peace” enuncia as formas de desestabilização econômica e social através dos meios de comunicação, jornais, redes sociais, empresários e infiltração de ativistas Moniz Bandeira chega a afirmar que “não tenho dúvida de que no Brasil os jornais estão sendo subsidiados…e que jornalistas estão na lista de pagamento dos órgãos citados acima e muitos policiais e comissários recebem dinheiro da CIA diretamente em suas contas”(cf. Jornal GGN de Luis Nassif de 09/03/2016). Podemos até imaginar quais seriam esses jornais e os nomes de alguns jornalistas, totalmente alinhados à ideologia desestabilizadora de seus patrões.

Especialmente o pré-sal, a segunda maior jazida de gás e de petroleo do mundo, está na mira dos interesses globais. O sociólogo Adalberto Cardoso da UERJ numa entrevista à Folha de São Paulo (26/04/2015) foi explícito“Seria ingenuidade imaginar que não há interesses internacionais e geopolíticos de norte-americanos, russos, venezuelanos, árabes. Só haveria mudança na Petrobras se houvesse nova eleição e o PSDB ganhasse de novo. Nesse caso, se acabaria o monopólio de exploração, as regras mudariam. O empeachment interessa às forças que querem mudanças na Petrobrás: grandes companhias de petróleo, agentes internacionais que têm a ganhar com a saída da Petrobrás da exploração de Petróleo. Parte desses agentes quer tirar Dilma “.

Não estamos diante de um pensamento conspiratóro, pois já sabemos como agiram os norte-americanos no golpe militar em 1964, infiltrados nos movimentos sociais e politicos. Não é sem razão que a quarta frota norte-americana do Atlântico Sul está perto de nossas águas.

Devemos nos conscientizar de nossa importância no cenário mundial, resistir e buscar o fortalecimento de nossa democracia que represente menos os interesses das empresas e mais as demandas tão olvidadas de nosso povo e na construção de nosso própro caminho rumo ao futuro.

Leonardo Boff é articulista do JB online e escritor.

https://leonardoboff.wordpress.com/


Ministério Público é formado por elite masculina, branca e rica


Ministério Público é formado por elite masculina, branca e rica

07/12/2016

Ministério Público é formado por elite masculina, branca e rica
Segundo estudo, MP não é uma instituição democrática sob o aspecto da participação popular e do ingresso de minorias e das camadas mais baixas da sociedade

Maurício Thuswohl, para a Rede Brasil Atual

Rio de Janeiro – Uma das três instituições públicas mais confiáveis aos olhos da sociedade brasileira, segundo pesquisa divulgada este ano pela Fundação Getúlio Vargas, o Ministério Público viu aumentar seu prestígio desde o início da Operação Lava Jato. Identificados com o atual momento de apelo popular ao combate à corrupção no meio político e empresarial brasileiro, os promotores e procuradores que compõem o MP em nível federal e nos estados, no entanto, estão longe de formar uma instituição que possa ser considerada democrática sob os aspectos da participação popular e do ingresso das minorias e das camadas mais baixas da sociedade em suas fileiras.

Essa é uma das principais conclusões da pesquisa “Ministério Público: guardião da democracia brasileira?”, realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e divulgada hoje (6) no Rio de Janeiro. O estudo mostra que o representante médio do Ministério Público é homem, branco, com 43 anos de idade e com foco de atuação no combate à corrupção. O perfil coincide com os procuradores que compõem a força-tarefa da Lava Jato.

“Os membros do MP constituem um segmento fortemente elitizado da sociedade”, afirma a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do CESeC e da pesquisa, ao lado da professora e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG Ludmila Ribeiro e das consultoras Leonarda Mesumeci (professora do Instituto de Economia da UFRJ) e Thaís Duarte (pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Uerj).

A instituição, segundo a pesquisa, tem ainda uma excessiva representação masculina, com 70% de homens, e branca, já que 77% dos entrevistados se identificaram como tal. No entanto, o elemento que mais caracteriza a elitização do MP, segundo as pesquisadoras, é a origem social elevada da maioria de seus integrantes. Essa origem se mede pela alta escolaridade dos genitores dos promotores e procuradores, já que 60% dos pais e 47% das mães dos entrevistados têm curso superior. No restante da população brasileira com mais de 50 anos, esta proporção é de somente 9% para homens e 8,9% para mulheres.


Outro importante elemento identificado pela pesquisa que caracteriza a elitização na composição do Ministério Público é a dificuldade colocada para quem deseja ingressar na instituição. Além do nível elevado da prova, há a exigência de três anos de trabalho prévio na área jurídica: “Essas exigências funcionam como enormes barreiras para a entrada de pessoas de extratos sociais mais baixos no Ministério Público”, diz Julita.

Opção por cargo estável pesa mais na escolha da carreira do que combate a criminalidade ou defesa dos mais pobres

Finalmente, uma olhada nos motivos que levaram os procuradores a querer ingressar no MP mostra que o sentimento difuso de “realização da justiça” aparece em primeiro lugar com 98% das citações, enquanto “atuar no combate à criminalidade” foi citada por 75%, aparecendo em terceiro lugar. Curiosamente, no segundo e quarto lugares aparecem “estabilidade no cargo”, com 92% de citações, e “boa remuneração”, com 74%. Em um honroso quinto lugar, aparece o desejo de “proteger a população de baixa renda”, citado por 64% dos entrevistados: “Esse resultado mostra que, aliado a um conceito de ‘fazer justiça’ que é comum às classes dominantes no Brasil e quase sempre é aplicado no pobre, preto e favelado, a boa qualidade de vida proporcionada pelo cargo é também elemento fundamental para os que buscam entrar no MP”, diz Ludmila Ribeiro.

Atribuições preteridas

Outro objetivo da pesquisa era verificar se, quase 30 anos depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, o Ministério Público, na prática, se afastou das atribuições a ele conferidas pela carta magna. Algumas das prioridades traçadas constitucionalmente naquela ocasião, como a defesa dos direitos coletivos e difusos, a supervisão das penas de prisão e o controle externo das polícias, são, segundo o que revela o estudo, preteridas pela tarefa de atuar como parte acusatória nos processos penais.

As três maiores prioridades dos integrantes do MP, segundo os ouvidos pela pesquisa, são: combate à corrupção (para 62% dos entrevistados), investigação criminal (49%) e infrações penais envolvendo crianças e adolescentes (47%): “Observa-se que as três maiores prioridades são relativas à punição e prisão, o que revela a prioridade que o MP dá a esta esfera de atuação em detrimento de outras”, diz Ludmila.

Faca de dois gumes

Garantida pela Constituição de 1988, a conquista da independência em relação aos demais poderes da República serve, em tese, para que o MP possa cumprir com as atribuições para ele previstas. No entanto, segundo revela a pesquisa, esta autonomia funcional é uma faca de dois gumes. Para 91% dos entrevistados, ela é imprescindível para garantir a isenção do trabalho dos promotores. Mas, para 49% essa falta de controle facilita a omissão. Some-se a este dado o fato de que 90% dos entrevistados avalia que a população não tem conhecimento sobre as atribuições do MP: “Não existe um verdadeiro e efetivo controle externo do MP”, diz Julita, lembrando que quem preside o Conselho Nacional do Ministério Público é o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A pesquisa do CESeC não obteve recursos públicos para sua realização nem despertou o interesse do CNMP que, embora convidado, sequer compareceu à apresentação dos resultados do estudo. Iniciada em 2013, o trabalho contou com recursos privados do Fundo de Investimento Social da Família A Jacob e Betty Lafer. Foram ouvidos 899 promotores e procuradores em todo o Brasil, em uma amostra representativa dos 12.326 integrantes dos MPs federais e estaduais existentes no Brasil em janeiro de 2015, quando a pesquisa começou efetivamente a ser realizada.

O envio das respostas pelos promotores e procuradores entrevistados aconteceu entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016. Além disso, a enquete – que trazia 37 perguntas e que levou, em média, 45 minutos para ser respondida, também ficou disponível no site do CNMP por três meses. Segundo as pesquisadoras, a dificuldade do Ministério Público em lidar com a pesquisa foi notável: “Esta foi a pesquisa com maior dificuldade para recolher dados que eu já fiz”, resume Julita Lemgruber.

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A PEC 55 e os impactos sobre as mulheres


A PEC 55 e os impactos sobre as mulheres

Juliane Furno, Cristina Pereira Vieceli, Priscila Von Dietrich, Marsala Maciel Machado e Anelise Manganeli

Os impactos da PEC sobre as mulheres estão relacionados de forma direta com a sua inserção no mercado de trabalho, o que se traduz nos nichos de trabalho feminino, diferenças salariais e no fato de serem elas as principais responsáveis pelos trabalhos reprodutivos
A Proposta de Emenda Constitucional nº 55 visa a instituir o Novo Regime Fiscal que limita os gastos do poder executivo, supremo tribunal federal, senado federal, ministério público e defensoria pública da união. Pela nova regra definida pela PEC 55, os limites de despesas serão calculados para 2017 pela despesa primária paga no exercício de 2016 corrigida em 7,2% e, após este período, pela variação do IPCA calculado nos últimos 12 meses do exercício anterior[1].

Esta regra valerá para os próximos 20 anos, o que incorrerá no congelamento dos gastos com bens e recursos públicos essenciais à população e demandará necessariamente reformas estruturais no país, como a previdência social e a lei de valorização do salário mínimo.

Os impactos da PEC sobre as mulheres estão relacionados de forma direta com a sua inserção no mercado de trabalho, o que se traduz nos nichos de trabalho feminino, diferenças salariais e no fato de as mulheres serem as principais responsáveis pelos trabalhos reprodutivos, ou seja, aqueles destinados ao cuidado e manutenção da casa e de seus membros.

Com a aprovação da PEC, a tendência é aprofundar as desigualdades de gênero, na medida em que a proposta possui impacto direto sobre as populações mais vulneráveis. Isto ocorre tanto pela revisão das regras para previdência social e da lei de valorização do salário mínimo, como também pelos impactos em setores onde as mulheres possuem maior representatividade, como a saúde e educação.  Vejamos cada uma delas:

No que tange à previdência social, a necessidade de limitar os gastos públicos trará como contrapartida a mudança nas regras previdenciárias hoje vigentes. Tal reforma acarretará impactos importantes sobre as mulheres, na medida em que as propostas apontam para a equiparação da idade mínima entre homens e mulheres, revisão das regras de pensão, proibição do acúmulo de pensão e aposentadoria, além da perda da possibilidade de antecipação da aposentadoria para os professores de educação básica, o que afeta principalmente as mulheres, devido ao seu maior peso nessa categoria.

Atualmente a previdência social possui um papel importante para a diminuição das desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho. A diferença entre o tempo de aposentadoria para homens e mulheres teria a finalidade de compensar o maior tempo feminino dedicado aos afazeres domésticos e, por conseguinte, a menor capacidade de as mulheres contribuírem para a previdência.

A necessidade de “caberem” as atuais demandas sociais no congelamento dos gastos trata a necessidade imediata de outra importante reforma, a saber: a revisão da política nacional de valorização do salário mínimo.

Isso porque a PEC 55 prevê, entre as sanções no caso de descumprimento da lei, a proibição de reajuste de despesa obrigatória acima da variação da inflação. Segundo Laura Carvalho (2016), como boa parte das despesas obrigatórias são indexadas ao salário mínimo, atropelaria a lei de reajuste, impedindo sua valorização real, mesmo se a economia estiver crescendo.

A revisão da Lei de Valorização do Salário Mínimo afetaria principalmente as mulheres, uma vez que elas estão superrepresentadas nessa faixa salarial. Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, 33,7% das mulheres e 25,7% dos homens tinham rendimento mensal de até um salário mínimo. Dentre as mulheres, 40,3% eram mulheres negras e 50,5% alocadas em zonas rurais. Entre as regiões brasileiras, a Nordeste possui maior representação de mulheres na faixa salarial de até um salário mínimo, totalizando 48,5% das mulheres ocupadas, sendo 50,8% das mulheres negras e 59,3% das que vivem nas zonas rurais.

Por definir regras que congelam os recursos destinados para a saúde e a educação, a PEC afeta marcadamente as mulheres. Isto ocorre tanto pelo lado da diminuição da oferta de recursos pelo Estado, incorrendo na sobrecarga de trabalho feminino para o cuidado das crianças e idosos, mas também por serem setores que empregam majoritariamente força de trabalho feminina.

Além disso, como as mulheres vivem mais do que os homens, dependem mais dos recursos na sua fase final de vida, tendendo a ter doenças crônicas e dependendo de remédios de uso contínuo.

Quanto à distribuição das mulheres por agrupamento de atividades, os dados da PNAD – IBGE de 2014 indicam maior presença das mulheres em setores afetados diretamente pela PEC, principalmente “educação, saúde e serviços sociais”, que correspondem a 18,2% do total das ocupadas em comparação com 4,3% dos homens.



O terceiro setor com maior presença feminina, seguido de comércio e reparação (17,5%) é o emprego doméstico, com 13,9% das mulheres ocupadas. Esta categoria será impactada diretamente pela revisão da lei do salário mínimo, já que grande parte das empregadas domésticas está alocada nessa faixa salarial. Além disso, o congelamento salarial e da carreira dos servidores públicos federais impacta em um segmento com alta presença feminina de maior escolaridade, e que possui maior igualdade salarial por gênero.

A menor presença do Estado como provedor de recursos voltados para as atividades reprodutivas tende a aprofundar o papel da mulher como ofertante desses recursos de forma não remunerada. A desigualdade de tempo entre homens e mulheres destinadas para essas atividades já é bastante relevante, segundo dados da PNAD/IBGE de 2012: enquanto quase a totalidade das mulheres maiores de 16 anos afirmam exercer atividades domésticas, entre os homens o percentual é de 50%. Neste ano, as mulheres despenderam, em média, 23,56 horas semanais aos afazeres domésticos e os homens apenas 6 horas.

É importante pontuar que o impacto da sobrecarga de trabalhos reprodutivos afeta principalmente as mulheres de baixa renda, por terem menor acesso aos recursos privados (escolas de educação infantil, escola em tempo integral, lavanderia, restaurantes etc.) e dependerem principalmente da oferta de recursos públicos.

Famílias de baixa renda, em geral, estão alocadas em regiões periféricas ou zonas rurais, despendendo mais tempo para deslocamento ao trabalho, hospitais e escolas. As regiões, muitas vezes, não têm saneamento básico adequado e as famílias não têm condições de adquirir eletrodomésticos, que diminuem o tempo de trabalho destinado aos afazeres domésticos.

São a partir, prioritariamente, desses elementos que identificamos que a PEC 55 trará consequências nefastas para o conjunto dos trabalhadores. No entanto, “a classe trabalhadora tem dois sexos”, e, nessa pesagem desigual, conseguimos identificar que as mulheres serão demasiadamente afetadas.
http://jornalggn.com.br/noticia/

REFERÊNCIAS

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estatísticas de gênero, uma análise do Censo Demográfico. 2010. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=288941> Acesso em 18 nov 2016

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE). A PEC e as mulheres. Out. 2016

CARVALHO, LAURA. Entrevista Comissão de Assuntos Econômicos. 11 de outubro de 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FcQyEe4eteE>

[1]Exceto para saúde e educação. Só a partir de 2018, o gasto mínimo com saúde passará a ser corrigido pelo IPCA, e não mais pela variação da Receita Corrente Líquida.

Juliane Furno é graduada em ciências sociais pela UFRGS, doutoranda em desenvolvimento econômico na Unicamp e militante do Levante Popular da Juventude

Cristina Pereira Vieceli é doutoranda em Economia pela UFRGS e do grupo de estudos EcoFem da UFRGS

Priscila Von Dietrich é graduanda em Economia pela UFRGS e do grupo de estudos EcoFem da UFRGS

Marsala Maciel Machado é graduanda em Economia pela UFRGS e do grupo de estudos EcoFem da UFRGS

Anelise Manganeli é mestre em Economia pela PUC-RS e do grupo de estudos EcoFem da UFRGS

4 vezes em que Michelle Obama foi certeira ao falar sobre racismo



4 vezes em que Michelle Obama foi certeira ao falar sobre racismo

HuffPost Brasil

Publicado: 18/11/2016 09:53 BRST Atualizado: 18/11/2016 09:53 BRST MICHELLE OBAMA
Na última semana, a primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, foi alvo - mais uma vez - de comentários racistas.

"Será revigorante ter uma primeira-dama elegante, bonita e digna na Casa Branca. Estou cansada de ver uma macaca de salto“, comentou no Facebook Pamela Ramsey Taylor, diretora da Clay county Delvelopment Corp., empresa de filantropia voltada a idosos e pessoas pobres.

Após o comentário, a autoridade local da Virgínia Ocidental foi afastada do cargo. A prefeita da cidade Beverly Walling também renunciou ao cargo por ter apoiado o comentário racista de Taylor.

Michelle ainda não se manifestou sobre esse caso específico, mas ao longo de oito anos na Casa Branca, a primeira-dama dos EUA já falou algumas vezes sobre o preconceito do qual ela e a família - sendo seu marido, Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA - são vítimas.

alabama

"Meu marido e eu sabemos o quão frustrante a experiência de que os outros assumam quem você é baseado em suas noções de mundo pode ser. Nós dois sentimos o peso desses sinais diários nossa vida inteira - as pessoas que atravessavam a rua temendo pela sua segurança; os seguranças que ficavam de olho em lojas de departamento; as pessoas que presumiam que éramos os 'ajudantes' em eventos - e aqueles que questionaram nossa inteligência, nossa honestidade, e até mesmo nosso amor por esse país", contou ela durante um discurso na Alabama's Tuskegee University, no ano passado.
michelle barack obama young

"Antes de ser presidente, Barack Obama era um homem negro que vivia na região sul de Chicago que tinha problemas em pegar um taxi", contou ela em uma entrevista à People, falando ainda que sofrer racismo "não é algo novo".
michelle obama speech

"Minha experiência em Princeton me tornou muito mais ciente de minha 'negritude' do que nunca antes. Eu descobri que em Princeton, não importa o quão liberal e abertos fossem meus professores e colegas, algumas vezes eu me sentia como uma visitante no campus; como se eu realmente não pertencesse aquele lugar. Independente das circunstâncias sob as quais eu estivesse com meus colegas brancos em Princeton, frequentemente parecia que, para eles, eu sempre seria primeiro negra, e depois estudante", contou Michelle sobre os anos em que frequentou a renomada instituição norte-americana.
michelle obama jackson state university

"O ponto, caros formandos, não é se você vai se deparar com esse tipo de situação, mas sim como vai encará-la", disse Michelle, durante um discurso na Jackson State University. Levante sua cabeça e faça o que Barack Obama sempre fez, como ele mesmo diz, 'quando eles vão para baixo, eu vou para cima'. Essa foi a escolha que Barack e eu fizemos. Foi isso que nos manteve sãos durante os anos".
http://www.brasilpost.com.br/

PEC 55 terá impacto 'severo' nos mais pobres, denuncia relator da ONU

PEC 55 terá impacto 'severo' nos mais pobres, denuncia relator da ONU

A PEC 55, que prevê o congelamento dos gastos públicos no país por 20 anos, terá um impacto "severo" na camada mais pobre da população - alertou a ONU nesta sexta-feira (9).

Se adotada, a proposta do governo Michel Temer para relançar o crescimento "bloqueará gastos em níveis inadequados e rapidamente decrescentes na saúde, educação e segurança social", denuncia o relator especial da ONU para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alson, em um comunicado.

Segundo ele, isso coloca "toda uma geração futura em risco de receber uma proteção social muito abaixo dos níveis atuais".

Alson denuncia ainda que a PEC 55 vai agravar as desigualdades sociais.

"Essa é uma medida radical, desprovida de toda nuance e compaixão", criticou.

"Vai atingir com mais força os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, aumentando os níveis de desigualdade em uma sociedade já extremamente desigual e, definitivamente, assinala que, para o Brasil, os direitos sociais terão uma prioridade muito baixa nos próximos 20 anos", completou o relator.

O fato de Temer ter assumido o cargo após o polêmico processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff "destaca preocupações ainda maiores", já que o peemedebista nunca apresentou seu programa ao eleitorado, completou Alson.

O texto prevê a manutenção de um teto de gastos públicos por duas décadas, período durante o qual o orçamento não poderá ser aumentado acima da inflação anual. Isso inclui os recursos para educação e saúde.
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Democratia vivo loquar et non habent ius. Hoc septimana elit magnum habui non ut causam defendere vellem in meus blog. Coactus sum quia male accipere et post. Quomodo potest homo vivere potest democratia subire sententiam. Vere in Democratia vivimus. Libertas est opinio iustitiam cuncto !!! Latina lingua exprimere Apologies eligendi.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Governo acerta medidas de ajuste fiscal com Estados e cobra carta assinada por governadores

Governo acerta medidas de ajuste fiscal com Estados e cobra carta assinada por governadores

SÃO PAULO (Reuters) - O governo federal recebeu o compromisso de governadores com medidas de ajuste fiscal dos Estados, mas condicionou a divisão dos recursos decorrentes da lei de repatriação ao recebimento de uma carta assinada pelos governadores, informou a Presidência da República.

Em nota divulgada na noite de quinta-feira, o governo informou que, após reunião com o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, os governadores prometeram enviar medidas de ajustes fiscais para as Assembleias Legislativas.

As medidas a serem adotadas pelos Estados propõem um novo regime fiscal com o limite de despesas por 10 anos e aumento da contribuição previdenciária de servidores, inativos e pensionistas, com implementação até 2019.

Segundo a nota do governo federal, "os governadores concordaram que a implementação das medidas de ajuste será uma das condições para a concessão de avais pela União aos Estados".

O governo também informou que os recursos provenientes da multa do programa de regularização de ativos de brasileiros no exterior só serão divididos depois que uma carta com os pontos do pacto for assinada pelos governadores.

As medidas de ajuste fiscal dos Estados foram denominadas “Pacto de Austeridade pela Retomada do Crescimento”, acrescentou a nota do governo.

(Por Luiz Guilherme Gerbelli)

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