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domingo, 13 de março de 2022

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Série: Escritores Latino-Americanos.Machado de Assis Escritor brasileiro


 

Machado de Assis

Escritor brasileiro

Por Dilva Frazão

Biblioteconomista e professora


Biografia de Machado de Assis

Machado de Assis (1839-1908) foi um escritor brasileiro, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira do século XIX. Destacou-se principalmente no romance e no conto, embora tenha escrito crônicas, poesias, crítica literária e peças de teatro.


Machado de Assis escreveu nove romances. Os primeiros – Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia -, apresentam alguns traços românticos na caracterização dos personagens.


A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, teve início sua fase propriamente realista quando revelou seu incrível talento na análise do comportamento humano, descobrindo, por trás dos atos bons e honestos, a vaidade, o egoísmo e a hipocrisia.


Infância e adolescência

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na Chácara do Livramento no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Foi o primeiro filho do mulato Francisco José de Assis, um pintor e decorador de paredes, e da imigrante portuguesa Maria Leopoldina.


Machado de Assis passou sua infância e adolescência no bairro do Livramento. Seus pais viviam na chácara do falecido senador Bento Barroso Pereira e sua mãe era a protegida da dona da casa, D. Maria José Pereira.


Machado fez seus primeiros estudos na escola pública do bairro de São Cristóvão. Tornou-se amigo do padre Silveira Sarmento, o ajudava nas missas e familiarizava-se com o latim.


Quando tinha dez anos perdeu sua mãe. Seu pai resolveu sair da chácara e foi morar em São Cristóvão com Maria Inês da Silva, só vindo a casar-se em 1854.



Sua madrasta trabalhava como doceira em uma escola e levava o enteado para assistir algumas aulas. À noite, Machado ia para uma padaria, local onde aprendia francês com o forneiro. À luz de velas, Machado lia tudo que passava em suas mãos e já escrevia suas primeiras poesias.


Carreira literária

Em busca de um emprego, com 15 anos, Machado conheceu Francisco de Paula Brito, dono da livraria, do jornal e da tipografia da cidade. No dia 12 de fevereiro de 1855, a “Marmota Fluminense”, jornal editado por Paula Brito, trazia na página 3, o poema “Ela”, de Machado de Assis:


"Dos lábios de Querubim

Eu quisera ouvir um sim

Para alívio do coração"...


Daí por diante, Machado não parou de escrever na Marmota e de fazer amizades com os políticos e literatos, frequentadores da livraria, onde o assunto principal era a poesia.


Em 1856, Machadinho, como era conhecido, entrou para a Imprensa Oficial como aprendiz de tipógrafo, mas além de mau funcionário, escondia-se para ler tudo que lhe interessava.


O diretor decidiu incentivar o jovem e o apresentou a três importantes jornalistas: Francisco Otaviano, Pedro Luís e Quintino Bocaiuva.



Otaviano e Pedro dirigiam o Correio-Mercantil e para lá foi Machado de Assis, em 1858, como revisor de provas. Colaborava também para outros jornais. Estreou como crítico teatral na revista “Espelho”.


Com 20 anos, Machado de Assis já frequentava os círculos literários e jornalísticos do Rio de Janeiro, capital política e artística do Império.


machado de assis

Machado de Assis com 20 anos

Em 1960, Machado de Assis foi chamado por Quintino Bocaiuva para trabalhar na redação do “Diário do Rio de Janeiro”. Além de escrever sobre todos os assuntos e manter uma coluna de crítica literária, Machado tornou-se representante do jornal no Senado.


Machado também escrevia no “Jornal das Famílias”, onde suas histórias inconsequentes e açucaradas eram lidas nos serões familiares.


Primeiro livro de poesias

Em 1864, Machado de Assis publicou seu primeiro livro de poesias, Crisálidas, uma coletânea de seus poemas. O livro foi dedicado a seus pais, Maria Leopoldina e a Francisco.


Em 1867, o Imperador concedeu a Machado o grau de "Cavaleiro da Ordem da Rosa", por serviços prestados às letras nacionais. No dia 8 de abril Machado foi nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial, iniciando sua "carreira burocrática".



Em 1868 ele conheceu Carolina Xavier de Novais, uma portuguesa culta, irmã do poeta português Faustino Xavier de Novais, que lhe revelou os clássicos lusitanos.


No dia 12 de novembro de 1869, o casamento de Machado e Carolina é realizado, tendo como testemunhas, Artur Napoleão e o Conde de São Mamede, em cuja residência se realizou a cerimônia. O casal não teve filhos.


Em 1873, ele foi nomeado primeiro oficial da Secretaria do Estado do Ministério da Agricultura. Três anos depois assumiu a chefia da seção.


Machado de Assis com 40 anos

Machado de Assis aos 40 anos

Academia Brasileira de Letras

O primeiro livro de contos de Machado de Assis, Contos Fluminenses (1870) e seu primeiro romance, Ressurreição (1872), sedimentaram a imagem de um escritor que usava muito bem a língua portuguesa e que preferia os relatos psicológicos às narrativas de ação constante.


No dia 30 de janeiro de 1873, a capa do décimo número do “Arquivo Contemporâneo”, periódico do Rio de Janeiro, colocou lado a lado as fotos de José de Alencar, até então o maior romancista do Brasil, e a de Machado de Assis.


Machado de Assis se impôs, antes mesmo de ter publicado suas obras-primas, como a maior expressão da literatura brasileira e, sem muita dificuldade, em 1896, fundou com outros intelectuais, a Academia Brasileira de Letras.



Nomeado para a cadeira n.º 23, tornou-se, em 1897, seu primeiro presidente, cargo que ocupou até sua morte.


Na entrada do prédio há uma estátua de bronze do escritor. Em sua homenagem, a academia chama-se também “Casa de Machado de Assis”.


Obra de Machado de Assis

Machado de Assis teve uma carreira literária ininterrupta, produziu de 1855 a 1908. Escreveu poesias, romances, contos, crônicas, críticas e peças de teatro. O ponto alto de sua produção literária é o romance e o conto, onde se observa duas fases:


Fase Romântica – obras e características

A primeira fase das obras de Machado de Assis apresenta-se presa a algum aspecto do “Romantismo”, com uma história cheia de mistérios, com final feliz ou trágico e uma narrativa linear.


Apresenta também traços inovadores, como uma linguagem menos descritiva, menos adjetivada e sem o exagero sentimental. As personagens têm um comportamento não só movido pelo amor, mas também pela ambição e pelo interesse. São dessa fase os romances:


Ressurreição (1872)

A Mão e a Luva (1874)

Helena (1876)

Iaiá Garcia (1878)

O Realismo – obras e características

A segunda fase das obras de Machado de Assis inicia-se com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), onde retrata a miséria humana, indo até seu último romance, “Memorial de Aires” (1908) - o livro da saudade, escrito após a morte de Carolina.


É nesse período que se encontram suas mais ricas criações literárias. Diferente de tudo quanto havia sido escrito no Brasil, Machado inaugura o “Realismo”.


O estilo realista de Machado de Assis difere de seus contemporâneos, porque ele aprofunda-se na análise psicológica dos personagens desvendando a fragilidade existencial na relação consigo mesmo e com os outros personagens. São dessa fase os romances:


Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Quincas Borba (1891)

Dom Casmurro (1899)

Esaú e Jacó (1904)

Memorial de Aires (1908, seu último romance)

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Em 1881, Machado de Assis publicou o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, que marcou o início da fase acentuadamente realista de sua obra. A obra havia sido publicada, no ano anterior, em folhetins na Revista Brasileira.


Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o narrador era um defunto que resolveu distrair-se um pouco saindo da monotonia da eternidade escrevendo suas memórias, livre das convenções sociais, pois está morto.


O narrador fala não só da vida, mas de todos os que com ele conviveram, revelando a hipocrisia das relações humanas.


Esse romance foi adaptado para o cinema em 2001, sendo considerado o melhor filme do festival de Gramado.


Quincas Borba

O romance Quincas Borba representa um dos pontos altos da obra de Machado de Assis. É rico de vida e substância humana.


O herói da história é o modesto professor Rubião, que recebe, em Barbacena, grande herança do falecido Quincas Borba, com a condição de cuidar de seu cachorro, também chamado Quincas Borba.


Rubião abandona a província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado, explorado e enlouquece, vindo a morrer miserável e solitário em sua cidade natal, Barbacena.


Dom Casmurro

É considerado o ponto culminante de sua ficção. O tema da obra é o adultério relatado pelo próprio marido traído. O romance é narrado na 1.ª pessoa do singular, começando com a amizade infantil entre Bentinho e Capitu.


Da afeição nasce o amor e o casamento. Capitu, como quase todos os tipos machadianos, é cheia de vivacidade e astúcia, porém dissimulada. Trai o esposo com Escobar, o mais antigo e íntimo amigo do casal.


Mais tarde, nasce Ezequiel e as dúvidas de Betinho se dissipam. Torna-se um indivíduo sisudo e casmurro, que vive a rememorar o passado. Quando Escobar morre, Capitu chora diante do cadáver, confirmando as suspeitas de Bentinho.


As personagens femininas de Machado de Assis

As grandes “personagens femininas” das obras de Machado de Assis ou são adúlteras ou estão a ponto de ser como Virgília de Memórias Póstumas que repele Brás Cubas quando podia casar-se com ele, mas torna-se sua amante depois que está casada com outro homem mais importante na escala social.


Sofia, protagonista de Quincas Borba, fica no limiar do adultério, tentando o pobre Rubião até levá-lo à loucura, para tirar dele seu último centavo e assim enriquecer seu esposo.


Capitu, sua heroína mais famosa, personagem de Dom Casmurro, é o protótipo de mulher dissimulada, que engana vilmente o marido.


Apenas Fidélia, de Memorial de Aires, é a mulher honesta e fiel, como seu próprio nome sugere.


Contos e características

Contos Fluminenses (1870)

História da Meia Noite (1873)

Papéis Avulsos (1882)

Histórias Sem Data (1884)

Várias Histórias (1896)

Páginas Recolhidas (1899)

Relíquias da Casa Velha (1906)

Alguns dos melhores contos “realistas” contidos nesses livros e que abordam os mais diversos temas, são:


Cantigas de Esponsais – a desesperada busca da expressão,

Noites de Almirantes – análise de uma desilusão amorosa,

Trio em Lá Menor – o anseio da perfeição,

O Alienista – o problema da loucura. Foi adaptado para o cinema em 1970).

Missa do Galo – o despertar do adolescente para o amor,

Teoria do Medalhão – como vencer na vida sem fazer força,

O Espelho – a dualidade da alma humana.

Últimos anos e morte

Em outubro de 1904 morreu sua esposa, Carolina, companheira de 35 anos, que além de revisora de suas obras era também sua enfermeira, pois Machado de Assis tinha a saúde abalada pela epilepsia.


Após a morte da esposa o romancista raramente saía de casa. Em homenagem à sua amada, escreveu o poema "À Carolina":


À Carolina


"Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos."


Machado de Assis faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro de 1908. Em seu velório, compareceram as maiores personalidades do país. Rui Barbosa, um dos juristas mais aplaudidos da época, fez um discurso de despedida com elogios ao homem e escritor.


Levado em uma carreta do Arsenal de Guerra, só destinada às grandes personalidades, um grande cortejo fúnebre saiu da Academia para o cemitério de São João Batista, onde foi enterrado.


O escritor Machado de Assis é uma figura tão importante para o nosso país que a sua biografia foi escolhida para figurar no artigo A biografia das 20 pessoas mais importantes para a história do Brasil.



https://www.ebiografia.com/machado_assis/

Série Escritores Latino-Americanos: Isabel Allende Escritora chilena


 Isabel Allende

Escritora chilena

Por Dilva Frazão

https://www.ebiografia.com/isabel_allende/

Biografia de Isabel Allende

Isabel Allende (1942) é uma escritora e jornalista chilena. Seu livro mais conhecido, A Casa dos Espíritos, foi adaptado para o cinema em 1993. Suas obras foram traduzidas para vários idiomas.


Isabel Allende Llona nasceu em Lima, no Peru, no dia 2 de agosto de 1942. Seu pai, Thomás Allende, era um diplomata chileno e sua mãe, Francisca Llona, era dona de casa.


Em 1945, seus pais se separaram e sua mãe voltou para Santiago, capital do Chile, levando seus três filhos, onde Isabel passou sua infância e parte de sua juventude.


Após sua mãe casar-se com outro diplomata, em 1953, a família foi morar em La Paz, na Bolívia, onde Isabel estudou em uma escola americana. Em seguida, mudaram-se para Beirute, no Líbano, onde ela ingressou em uma escola inglesa.


Em 1958, Isabel Allende voltou para Santiago e iniciou no curso de jornalismo. Nessa época, começou a escrever contos infantis e peças para o teatro.


Em 1960, Isabel Allende entrou para a seção chilena da Organização das Nações Unidas (FAO), que trabalha pela melhoria do nível de vida da população carente.


Em 1962, Isabel casou-se com Miguel Frias, com quem teve dois filhos, Paula e Nicolás.


Carreira literária

Em 1967, Isabel passou a escrever para uma revista feminina e também pra uma revista infantil. Em 1970 começou a trabalhar na televisão, apresentando um programa de entrevistas. Sua peça de teatro, “O Embaixador”, estreou em 1972.



Em 1973, ocorreu um golpe militar no Chile, encabeçado pelo general Augusto Pinochet, que depôs o presidente Salvador Allende, tio de Isabel Allende. Com a instauração de uma ditadura militar no Chile e a morte de Salvador Allende, Isabel deixou o país, junto com sua família, refugiou-se em Caracas, na Venezuela.


A Casa dos Espíritos (1982)

No dia 8 de janeiro de 1981, Isabel soube que seu avô estava muito doente e, impossibilitada de voltar ao Chile, começou a escrever uma carta para seu avô, que era visto como uma figura paterna para ela, uma vez que não tinha memórias do seu pai.


A carta foi o ponto de partida para o livro A Casa dos Espíritos, publicado em 1982. A obra foi baseada nas lembranças de sua infância e juventude passadas no velho casarão familiar, onde vivia seus avós e seus tios, rodeada de uma atmosfera liberal.


No livro "A Casa dos Espíritos", a família Trueba vê um golpe militar depor um presidente socialista e instalar uma ditadura militar, semelhante ao que se passou no Chile entre 1973 e 1990. época em que o Chile viveu sob o “punho de ferro” de Augusto Pinochet.


A fantasia da escritora vai se desdobrando em meio aos principais acontecimentos políticos da história levando o leitor a se situar nos dramáticos períodos de perseguição e terror da sangrenta ditadura militar.



A obra, publicada em 1982, se tornou um best-seller em diversos países da América do Sul e da Europa e consagrou Isabel Allende como uma das grandes escritoras chilenas.


Onze anos depois, A Casa dos Espíritos foi adaptada para o cinema pelo sueco Bille August, que contou com a colaboração da escritora e com a participação de atores consagrados como: Meryl Streep, Jeremy Irons, Glen Close, Antônio Banderas, Vanessa Redgrave e Winona Ryder.


De Amor e de Sombra (1984)

Dois anos depois da publicação de A Casa dos Espíritos, Isabel Allende publicou De Amor e de Sombra (1984). A obra mescla uma história de amor de dois jovens jornalistas que são forçados a se exilarem depois de investigarem o desaparecimento de uma mulher numa ditadura militar.


A obra relata a descoberta de um cemitério clandestino, em uma mina no norte do Chile, onde estavam sepultados os desaparecidos durante a ditadura.


A obra, que está próxima do chamado “realismo mágico, que mistura fantasia com realidade, recebeu elogios dos leitores e da crítica o que veio selar o êxito internacional da escritora.


Paula (1994)

Isabel Allende viveu na Venezuela até 1987, ano em que se divorciou do marido e se mudou para os Estados Unidos.


Em 1991, morando nos Estados Unidos, Isabel descobriu que sua filha Paula tinha uma grave doença neurológica e, depois de um longo período em coma, acabou morrendo.


Durante o coma da filha, Isabel começou a escrever a obra Paula. O luto e a depressão levaram a escritora a relatar os fatos ocorridos durante a grave doença.


Publicada em 1994, a obra Paula, foi seu primeiro trabalho de não ficção e muitos críticos consideram essa a melhor obra da escritora.


Fundação Isabel Allende

Após a morte de sua filha e da publicação da obra “Paula”, a escritora passou por um forte bloqueio criativo e aceitou o convite de uma amiga para conhecer a Índia na tentativa de superar o luto.


Na Índia, Isabel viveu um momento que mudaria sua vida, quando uma mulher lhe entregou uma criança recém-nascida. O bebê lhe foi oferecido porque o nascimento de uma menina não era bem aceito na sociedade local.


Depois do choque da experiência, a escritora decidiu criar a “Fundação Isabel Allende”, para ajudar mulheres e crianças em situação de risco.


Morando nos Estados Unidos e ainda escrevendo, suas obras estão sempre nos primeiros lugares da lista dos livros mais vendidos nas Américas e na Europa.


Alguns personagens de “A Casa dos Espíritos” voltaram a aparecer nos romances “Filha da Fortuna” (1998) e “Retrato a Sépia” (2000), o que resultou em uma trilogia não oficial.


No livro “Para Lá do Inverno” (2017), a autora escreveu sobre os flagelos da imigração ilegal e dos refugiados. Em “Longa Pétala de Mar” (2019), a autora se inspirou na história dos refugiados espanhóis que chegaram ao Chile a bordo do navio Winnipeg.


Prêmios

Medalha Nacional de Literatura do Chile (2010)

Medalha Presidencial da Liberdade (EUA, 2014)

Obras de Isabel Allende

A Casa dos Espíritos (1982)

A Lagoa Azul (1983)

De Amor e de Sombra (1984)

Eva Luna (1987)

O Plano Infinito (1991)

Paula (1995)

Afrodite (1998)

Filha da Fortuna (1999)

Retrato a Sépia (2000)

A Cidade das Feras (2002)

O Reino do Dragão de Ouro (2003)

O Bosque dos Pigmeus (2004)

Zorro, Começa a Lenda (2005)

Inês da Minha Alma (2006)

A Soma dos Dias (2007)

A Ilha Sob o Mar (2009)

O Caderno de Maya (2011)

O Jogo de Ripper (2014)

O Amante Japonês (2015)

Para Além do Inverno (2017)

Longa Pétala do Mar (2019)

As Mulheres de Minha Alma (2020)

Violeta (2021)

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Última atualização: 05/08/2021

Dilva Frazão

Dilva Frazão

É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.

A origem operária do 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher | Ouça 6 minutos PODCAST

Guerra na Ucrânia: a corrida para salvar tesouros artísticos do país em meio à invasão russa

 



Guerra na Ucrânia: a corrida para salvar tesouros artísticos do país em meio à invasão russa

Katie Razzall

BBC News

Há 3 horas

A Catedral de Santa Sofia, em Kiev

CRÉDITO,GETTY IMAGES


A Ucrânia abriga sete locais que são patrimônio mundial da Unesco, entre eles a Catedral de Santa Sofia, em Kiev


O vídeo mostrava uma fila ziguezagueando do lado de fora do Museu de Belas Artes de Odessa, na Ucrânia. Era domingo, 20 de fevereiro, e, talvez pela última vez, homens, mulheres e crianças aguardavam para observar os seus tesouros: 10 mil obras de arte do século 16 em diante, incluindo as primeiras pinturas do pioneiro da arte abstrata, o russo Wassily Kandinsky, que morou em Odessa. Apenas quatro dias depois, a Rússia invadiu a Ucrânia.


Agora, como muitas outras cidades em todo o país, Odessa prepara-se para ser atacada. Foi fundada por Catarina, a Grande, no final do século 18, com sua arquitetura do século 19 perfeitamente preservada e bela ópera em estilo neobarroco. A diretora em exercício do museu, Oleksandra Kovalchuk, fugiu para a Bulgária para garantir a segurança do seu filho, de um ano de idade. Mas ela está terrivelmente abalada.


"Sinto-me uma traidora", afirma ela. "Decepcionei a minha equipe. É claro que me sinto culpada. O Museu de Belas Artes de Odessa tem sido um filho para mim há muitos anos, de forma que foi basicamente uma decisão sobre qual filho eu queria abandonar. Decidi que sou obrigada a cuidar do meu filho pequeno."


Museu de Belas Artes de Odessa

O Museu de Belas Artes de Odessa está se preparando para a possibilidade de ser atacado


Na capital ucraniana, Kiev, a diretora de outro museu, Olesia Ostrovska-Liuta, tomou uma decisão diferente, mas igualmente difícil. Ela permaneceu, embora diga que "a situação dos museus e instituições culturais não é diferente dos hospitais, escolas e áreas residenciais". "Estamos todos sob bombardeio."


O Arsenal de Mystetskyi é um dos maiores museus de arte da Europa e abriga obras ucranianas de vanguarda e contemporâneas. Protegê-las é sua missão, e Olesia afirma que permanecerá em Kiev "enquanto pudermos proteger nossa instituição". "Quando não for mais possível, a situação muda."

"Estamos enfrentando não apenas um ataque à Ucrânia, mas um ataque à nossa cultura", afirmou ela em uma ligação de vídeo que picotou e travou. Ela está em zona de guerra. Talvez o mais surpreendente é que a ligação tenha sido completada.

A Ucrânia abriga sete locais de patrimônio mundial da Unesco, braço da ONU, incluindo a Catedral de Santa Sofia em Kiev, com suas maravilhosas cúpulas douradas e o deslumbrante afresco bizantino da Virgem Maria, além do conjunto arquitetônico histórico do centro de Lviv, no oeste do país.


Anna Reid, autora do livro Borderland: a Journey through the History of Ukraine ("Zona de fronteira: uma viagem através da história da Ucrânia", em tradução livre), afirma que o bombardeio de Lviv, Odessa, Kiev ou Chernihiv, no norte, com suas igrejas medievais, monastérios e sua inigualável coleção de monumentos arquitetônicos seria "uma perda cultural para a Europa comparável com a destruição de Dresden, na Segunda Guerra Mundial".


Com relação aos museus do país, seus funcionários podem fazer pouco para proteger as construções contra os ataques russos. E, segundo Kovalchuk, os museus "não têm um sistema de combate a incêndios", devido à falta de investimentos.


"Qualquer museu que começar a pegar fogo", segundo ela, "será destruído pelo incêndio e perderemos muitos artefatos históricos, belas obras de arte e patrimônio."


Mas existe uma corrida em andamento para proteger os tesouros no interior dos museus e uma compreensão assustadora do alto preço que já está sendo pago.


Relatos em Ivankiv, cidade a noroeste de Kiev, dão conta de que o museu local e suas obras de arte já foram queimados pelas forças russas. No museu havia 25 quadros da consagrada artista popular ucraniana Maria Prymachenko, cujas cores brilhantes e estilo idílico levaram Pablo Picasso a considerá-la um "milagre artístico".


Os relatos informam que poucas obras de arte se salvaram. Segundo o jornal britânico The Times, um morador entrou correndo no edifício em chamas para resgatar todas as obras que conseguisse. Acredita-se que ele tenha salvado cerca de dez obras de arte grandes do incêndio, embora ainda não se saiba quais foram.


Poucas semanas antes da guerra, segundo o crítico de arte Konstantin Akinsha, nascido em Kiev, o Ministério da Cultura e Política da Informação da Ucrânia publicou orientações de proteção e possível evacuação das coleções dos museus. Akinsha estava desesperado para que as obras de arte fossem evacuadas imediatamente.


"O nosso presidente é um herói, mas [a publicação das orientações] foi em uma época em que ele dizia que não havia motivo para pânico, que não haveria invasão", afirma ele. "As autoridades evitaram a evacuação das obras de arte, porque temiam criar pânico."


Tomamos conhecimento de alguns dos esforços sendo realizados agora nos milhares de museus da Ucrânia. Eles incluem tentativas apressadas de criar um inventário digital completo das obras para o caso delas caírem nas mãos dos russos e de mover as peças para locais não revelados e até casos de funcionários dos museus dormindo em barricadas nos porões com as obras de arte mais preciosas ao seu lado.

Esculturas, pinturas e outros patrimônios culturais estão ameaçados em Chernihiv, no norte da Ucrânia


Ninguém quer falar em público sobre o que está acontecendo, por medo de alertar os invasores russos ou saqueadores. Mas Kovalchuk contou que "em quase todos os museus, os funcionários estão dormindo, ficando por dias para permanecer perto das obras de arte e poder tomar decisões urgentes. Infelizmente, não posso dizer mais".


E, com relação ao Museu de Belas Artes de Odessa, ela conta que fez "todo o possível, tudo o que pudemos, para manter a coleção segura".


Tudo o que Ostrovska-Liuta conta sobre o museu Arsenal de Mystetskyi é que "quando a guerra começou, tínhamos instruções de como agir nessa situação". "Fizemos nossos planos de segurança e estamos seguindo esses planos. O museu está fechado e protegido."


Com os russos se aproximando de Kiev, agora pode ser tarde demais para mover alguns dos tesouros menores para fora da cidade (muitos esperam que isso possa ter ocorrido secretamente, pelo menos em alguns casos).


Mas existe pressão para proteger as obras de arte guardadas em lugares que ainda não estão sob ataque. Anna Reid afirma que as cidades que ainda não foram ocupadas e possuem museus com ricas coleções, como Odessa e Lviv, "deverão receber o máximo de ajuda possível para levarmos essas coleções para um local seguro", seja em abrigos antiaéreos ou mesmo para fora do país.


Já quanto às construções, que naturalmente não podem ser transportadas, a história é outra. "Lviv é como Salzburgo [na Áustria]", afirma ela. "Odessa é uma cidade do século 19 perfeitamente preservada, famosa por suas belas árvores, suas ruas de paralelepípedos e sua orla marítima. É uma joia que precisa de defesas antiaéreas."


Museu de Belas Artes de Odessa

A diretora em exercício do Museu de Belas Artes de Odessa afirma que se sente uma "traidora" por fugir para a Bulgária com seu filho de um ano de idade


Kiev já está sob ataque. Ostrovska-Liuta conta: "Estamos todos correndo grande perigo vindo do céu. É por isso que há um forte apelo de todos os ucranianos para que seja estabelecida uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia".


Claramente, o povo da Ucrânia é a prioridade, e protegê-lo ao máximo possível é fundamental. Mas trata-se de uma nação com orgulho da sua história e um passado recente que viu figuras culturais e obras de arte destruídas pelas antigas administrações soviéticas. O medo é que os russos queiram repetir essa destruição.


Como afirma Kovalchuk: "Acredito que faria sentido para eles destruir obras de arte que demonstrem nosso patrimônio ucraniano, que mostrem que nossa história é diferente, que somos diferentes e não russos. Para essa arte, não haverá lugar na Federação Russa. Ela deixará de existir".



https://www.bbc.com/portuguese/

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sexta-feira, 11 de março de 2022

Marina diz que Bolsonaro é candidato competitivo: ‘Não podemos ser negacionistas

Charles Bukowski, escritor alemão


 Charles Bukowski

Escritor alemão

Por Dilva Frazão

Biblioteconomista e professora

https://www.ebiografia.com/charles_bukowski/


Biografia de Charles Bukowski

Charles Bukowski (1920-1994) foi um escritor alemão, que viveu e morreu nos Estados Unidos. Poeta, contista, romancista e novelista foi considerado o último “escritor maldito” da literatura norte-americana.


Henry Charles Bukowski Jr. (1920-1994) nasceu em Andernach, Alemanha, no dia 16 de agosto de 1920. Filho de um soldado norte-americano e de uma jovem alemã, que fugindo da crise instalada na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, se mudam para os Estados Unidos, quando Charles tinha três anos. Com 15 anos de idade começou a escrever suas primeiras poesias. Instalados em Baltimore, mais tarde vão morar no subúrbio de Los Angeles. Em 1939 ingressou o curso de Literatura na Los Angeles City College, onde permaneceu durante dois anos.


Com 24 anos Charles Bukowski escreveu seu primeiro conto “Aftermath of a Length of a Rejectio Slip”, que foi publicado na Story Magazine. Dois anos mais tarde publica “20 Tanks From Kasseidown”. Depois de escrever durante uma década se desilude com o processo de publicação de seu trabalho e resolve viajar pelos Estados Unidos fazendo trabalhos temporários e morando em pensões baratas.


Em 1952 se empregou como carteiro no Correio Postal de Los Angeles, onde permanece durante 3 anos. Entrega-se à bebida e em 1955 se hospitaliza com uma úlcera hemorrágica muito grave. Quando deixou o hospital começou a escrever poesias. Em 1957 casou-se com a escritora e poeta Barbara Frye, mas depois de dois anos se divorciaram. Continuou bebendo e escrevendo poesia.


No início dos anos 60 voltou a trabalhar nos correios. Mais tarde viveu em Tucson, onde fez amizade com Jon Webb e Gypsy Lon, que o incentivaram a publicar e viver de sua literatura. Começou a publicar alguns poemas em revistas de literatura. Loujon Press publicou “It Catches My Heart in Its Hands” (1963) e “Crucifix in a Deathhand” (1965). Em 1964 teve uma filha com sua namorada Frands Smith.



Em 1969, foi convidado pelo editor John Martin da Black Sparrow Press, por uma boa remuneração, para se dedicar integralmente a escrever seus livros. A maioria de seus livros foi publicada nessa época. Em 1971 publicou “Cartas na Rua”, em que o protagonista, seu alter ego, o acompanhou em quase todos os seus romances. Em 1976 conhece Linda Lee Beighle e se mudou para São Pedro, no sul da cidade de Los Angeles, onde permaneceram juntos até 1985. Bukowski fala dela em suas novelas “Mulheres” (1978) e “Hollywood” (1989), através do personagem Sara.


Charles Bukowski deixou uma vasta obra marcada por seu humor ferino e seu estilo obsceno, sendo comparado com Henry Miller, Louis-Ferdinand e Ernest Hemingway. Sua forma descuidada com a escrita, onde predominam personagens marginais, como prostitutas, corrida de cavalos, pessoas miseráveis etc. Foi visto como um ícone da decadência norte-americana e da representação niilista característica presente após a Segunda Guerra Mundial. Publicou: “Notas de Um Velho Safado”, “Crônicas de Um Amor Louco”, “Ao Sul de Lugar Nenhum” e “O Amor é Um Cão dos Diabos”, entre outros.


Charles Bukouwski faleceu em São Pedro, Califórnia, Estados Unidos, no dia 9 de março de 1994.

O que é o 'Russkiy Mir'? O que é o 'Mundo Russo' que Putin quer unificar /As origens históricas do conflito entre Rússia e Ucrânia



O que é o 'Russkiy Mir'? O que é o 'Mundo Russo' que Putin quer unificar


Fernanda Paúl

BBC News Mundo

A dramática guerra que acontece neste momento na Ucrânia ameaça ser o evento mais transformador e perigoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos dias, o presidente russo, Vladimir Putin, intensificou o ataque às principais cidades do país, como Kherson, Kharkiv e a capital, Kiev.

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E ele não dá sinais de que vai parar, apesar das duras sanções impostas à Rússia pelo Ocidente.
Muitos analistas estão se perguntando recentemente o que está realmente se passando pela cabeça de Putin.

Uma das respostas mais conhecidas em outros países, especialmente nos Estados Unidos, é que a Rússia é e sempre foi um Estado expansionista e que Putin é a personificação desta ambição: construir um novo império russo.
Como Fiona Hill, uma das maiores especialistas em Rússia dos Estados Unidos, disse em entrevista ao site Politico, Putin vem articulando a ideia de que existe um espaço em que ucranianos e russos são "o mesmo povo", e que sua missão é reunir todos os falantes de russo de diferentes lugares que já pertenceram ao czarismo.

Mas como se define exatamente o Russkiy Mir, que sinais Putin deu de que quer unificá-lo e como a invasão da Ucrânia pode ser fundamental para alcançar este objetivo? A seguir, explicamos para você.

O que é o 'Russkiy Mir'?

Embora não haja uma definição acadêmica clara do que Russkiy Mir significa especificamente, diferentes analistas tentaram explicar o conceito.
Para alguns, é o mundo que compreende toda a comunidade associada à cultura russa, que compartilha uma história, uma língua e certas tradições. Pela mesma razão, é difícil definir uma fronteira.
Para outros, há um conjunto territorial básico que poderia ser o núcleo deste mundo e que poderia incluir a própria Rússia, assim como Belarus, Ucrânia e Cazaquistão, entre outros.

"Há dois critérios para definir o Russkiy Mir. O primeiro é o cultural, que engloba a cultura russa como um todo, incluindo fora do território", explica Juan Manuel de Faamiñán Gilbert, professor emérito da Universidade de Jaén, na Espanha.

"O segundo conceito é geográfico e se baseia no que foi o antigo império czarista criado por Catarina, a Grande. Poderia se estender até a região sul, junto ao Mar Negro ou até mesmo à Geórgia", acrescenta.

Mas para Sergey Goryashko, jornalista do serviço de notícias em russo da BBC, a definição do mundo russo na cabeça de Putin não tem fronteiras.

"Alguns anos atrás, alguns alunos de escola perguntaram a Putin onde termina a fronteira russa. E ele respondeu que não termina em lugar nenhum", lembra ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

"E essa pode ser a definição do que o mundo russo realmente significa para Putin. Porque se olharmos para suas ações desde 2014 (quando a Crimeia foi anexada), elas provam exatamente que o mundo russo não termina em lugar nenhum. O mundo russo é o mundo inteiro", acrescenta.

Outro elemento importante a ser considerado ao definir o Russkiy Mir é o papel da Igreja Ortodoxa Russa, com milhões de seguidores em todo o mundo.

Dentro desta religião, se promove a ideia de uma unidade espiritual e cultural da comunidade russa como um todo, que se consagra por meio deste conceito.

Assim, a igreja é uma grande aliada da ideologia por trás do mundo russo.

Que sinais Putin deu?

Putin sempre promoveu o ressurgimento da Rússia como potência mundial.
E criticou fortemente alguns ex-líderes russos que, na sua opinião, condenaram a União Soviética à sua desintegração (que finalmente se materializou em 1991).

"Putin disse muito claramente que (Vladimir Illich) Lenin destruiu o mundo russo e que não estabeleceu uma verdadeira Rússia. Nesse sentido, ele admira mais os czares, como Catarina, a Grande ou Ivan, o Terrível", diz Juan Manuel de Faramiñán Gilbert.

Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética

"Depois, ele disse que Mikhail Gorbachev e Boris Yeltsin são os autores do desmembramento do verdadeiro coração da Rússia", acrescenta o acadêmico.

Para Putin, após a dissolução da União Soviética, as fronteiras foram "definidas de forma absolutamente arbitrária e nem sempre justificada".

Foi o que ele afirmou em um ato de seu movimento político em 2016.

"Donbas, por exemplo, foi transferida para a Ucrânia sob o pretexto de aumentar a porcentagem do proletariado na Ucrânia para ganhar mais apoio social lá. Um disparate", declarou o presidente russo.

Em 12 de julho de 2021, em um longo artigo sobre as relações com a Ucrânia publicado no site do Kremlin, Putin deu mais pistas sobre seu interesse em reunificar o mundo russo.

O mandatário remontou à época do antigo povo rus, considerado o ancestral comum da população da Rússia, Belarus e Ucrânia, e destacou os vários marcos da história comum para defender sua visão de que russos e ucranianos são "um só povo".

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin quer 'construir um império'

Além disso, nos últimos anos, Putin reforçou sua retórica contra países ocidentais, o que para alguns especialistas também faz parte dessa ambição de aumentar o poder da Rússia no mundo.

"Ele diz cada vez mais em seus discursos que tudo de ruim é por causa do Ocidente, por causa de suas ações hostis contra a Rússia", explica Sergey Goryashko.

"Depois de 2014, o que aconteceu na Crimeia, tudo se voltou para a construção do Mundo Russo e também para a retórica hostil do Ocidente", acrescenta.

Em 2007, Putin criou uma fundação chamada Russkiy Mir destinada a promover a língua e a cultura russas no mundo, como um projeto global.

Por que a Ucrânia é importante?


A Ucrânia não é apenas mais um país no mundo para Vladimir Putin.

Um dos momentos mais difíceis de sua longa trajetória como presidente ocorreu em 2004, quando após a "revolução laranja" Viktor Yushchenko, considerado pelo Kremlin um "fantoche" de Washington, venceu as eleições ucranianas.

Foi uma enorme humilhação para Putin, pois foi percebida como se ele tivesse perdido a Ucrânia. Analistas garantem que o presidente russo nunca esqueceu esta derrota e tampouco a perdoou.

"A visão dominante do nacionalismo russo é que a Ucrânia é uma nação irmã eslava e, além disso, é o coração da nação dos rus. É uma ideologia muito poderosa que faz da Ucrânia um elemento central da identidade russa", explica Gerald Toal, professor de Relações Internacionais da Universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, à BBC News Mundo.

"Por isso, há emoções muito fortes quando a Ucrânia como nação se define em oposição à Rússia. Isso causa muita raiva e frustração na Rússia, que se sente traída por um irmão", acrescenta.
"Kiev é desde o início o que se chamou de mãe das cidades russas. Kiev é mais a capital de todo este conjunto do Mundo Russo que Moscou ou São Petersburgo", diz Juan Manuel de Faramiñán Gilbert.

"Se Putin tomar a Ucrânia, tenho certeza de que ele mudaria a capital para Kiev, porque para ele o imaginário espiritual de Kiev é muito mais forte do que o de Moscou."

É que para a Igreja Ortodoxa Russa, Kiev é vital. Tanto que, em 2019, o Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, Kirill, comparou a capital ucraniana com o significado de Jerusalém para o cristianismo global, segundo o meio de comunicação russo TASS.

O que vai acontecer?


De acordo com Fiona Hill, isso não significa que Putin queira anexar todos os territórios "Russkiy Mir", como fez com a Crimeia.

Mas, como disse a especialista ao Politico, "pode ​​estabelecer o domínio margeando os países regionais, garantindo que seus líderes sejam completamente dependentes de Moscou", vinculados às redes econômicas, políticas e de segurança russas.

Em parte, ele já vem fazendo isso.

O Cazaquistão foi nomeado "aliado número um de Moscou", e esta relação próxima foi demonstrada em janeiro deste ano, quando Putin decidiu enviar tropas de apoio ao governo local para conter os violentos protestos que surgiram após o aumento considerável do preço do petróleo no país.

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Belarus, por sua vez, está completamente subjugada a Moscou. E desde a invasão russa da Ucrânia tem desempenhado um papel fundamental, servindo como base para operações militares da Rússia.

Mas para Sergey Goryashko, do serviço de notícias em russo da BBC, ninguém sabe realmente o que vai acontecer.

"Vou ser honesto. Apenas duas semanas atrás, eu tinha 100% de certeza de que não haveria uma guerra real na Ucrânia. E agora acho que a Ucrânia não é o principal objetivo de Putin. É apenas mais um de seus objetivos", conclui.

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