Konstantinos - Uranus

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Homens Que Marcaram O Século XX: David Ben-Gurion

 

David Ben-Gurion

Estadista israelense 

16 de outubro de 1886, Plonsk (Polônia)

1º de dezembro de 1973, Tel-Aviv (Israel)

Ben-Gurion ocupou o cargo de primeiro-ministro de Israel até 1963

David Ben-Gurion estudou na Universidade de Constantinopla, aderindo desde cedo ao socialismo e ao sionismo. Em 1906 estabeleceu-se na Palestina, onde organizou um corpo de guarda para a defesa dos estabelecimentos agrícolas judaicos na região.


Ben-Gurion fundou e dirigiu o movimento Poale Sion (sionismo socialista-democrático), bem como o semanário Ha-Achdut (A União). Pouco após o início da Primeira Guerra Mundial, foi expulso da Palestina pelos turcos e mudou-se para Nova York, onde organizou o movimento sionista.


Em 1918 voltou para a Palestina como soldado e transformou aquele movimento em partido, conhecido desde 1930 como MAPAI, Mifleghet Poalei Eretz Israel (Partido dos Trabalhadores da Terra de Israel).


Ben-Gurion foi secretário-geral da Histadrut (Federação dos Sindicatos). Convencido de que os judeus necessitavam de um Estado independente, dedicou-se a lutar por sua obtenção e organizou a Haganah como força de combate.


Embora não estivesse presente à assembléia da ONU, sua ação diplomática contribuiu para a resolução favorável a Israel - e a 14 de maio de 1948 leu a declaração de independência em Tel-Aviv. Tornou-se primeiro-ministro e ministro da Defesa do novo Estado. Sua meta era levar para Israel o maior número possível de judeus, e na primeira década os imigrantes chegaram a um milhão.


Liderança

Em 1956, por ocasião do conflito de Suez, Ben-Gurion mobilizou as forças israelenses, enviando-as ao Sinai. Em cinco dias o exército israelense ocupara a maior parte da península a leste do canal, destruindo bases egípcias e pretendendo abrir uma passagem através do golfo de Aqaba.


Um ultimato franco-britânico ordenou o cessar-fogo, mas Ben-Gurion declarou que Israel só retiraria seus homens quando as tropas inglesas e francesas fossem substituídas por uma força da ONU. Sua atuação nessa crise fortaleceu enormemente sua autoridade.


No campo interno, após cada eleição, Ben-Gurion era obrigado a formar um governo de coalizão, mas o MAPAI manteve sua posição de maioria relativa. Em 1959, após a quarta eleição geral, surgiu o escândalo de espionagem conhecido como caso Lavon, envolvendo um secretário do MAPAI, o que levou Ben-Gurion a pedir demissão, por não concordar com a posição do partido.


Embora Lavon tenha sido demitido e Ben-Gurion tenha voltado ao MAPAI, em 1965 separou-se definitivamente do partido, formando a chapa Rafi.


Presidente da Agência Judaica e do Executivo Sionista desde 1935, e autor do programa mínimo do sionismo (Programa de Biltmore, 1942), Ben-Gurion ocupou o cargo de primeiro-ministro de Israel até 1963.


Vivendo retirado na colônia Sedeh Boker, em Neguev, Ben-Gurion continuou a exercer forte influência na política de Israel.


Enciclopédia Mirador Internacional

https://educacao.uol.com.br/biografias/ben-gurion.jhtm


Por que julgamento de Bolsonaro no TSE não mobiliza bolsonaristas?

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Mulheres Que Marcaram o Século XX: Golda Meir

 


Golda Meir

Golda Meir (em hebraico: גולדה מאיר; em árabe: جولدا مائير; nascida Golda Mabovitch) (Kiev, Império Russo, 3 de maio de 1898 — Jerusalém, 8 de dezembro de 1978 foi uma fundadora e primeira-ministra do Estado de Israel. Emigrou para a Terra de Israel no ano de 1921, onde atuou no sindicato Histadrut e no partido trabalhista Mapai. Além de primeira embaixadora israelense, na extinta União Soviética, em 1948, ela foi ministra do Interior, ministra das Relações Exteriores, ministra do Trabalho e secretária-geral do Mapai.


Conhecida pela firmeza de suas convicções, estava à frente do Estado de Israel em seu momento mais dramático: a Guerra do Yom Kipur, na qual tropas egípcias e sírias atacaram Israel, cuja população estava distraída pelas comemorações do Dia do Perdão judaico. David Ben-Gurion, certa vez, disse, dela: "Golda Meir é o único homem do meu gabinete".


Biografia


Em 1959 (Arquivo Nacional).
Proveniente de uma humilde família judaica, em 1906, emigra com a família para Milwaukee, em Wisconsin, nos Estados Unidos. Após a conclusão dos seus estudos, Golda foi, durante algum tempo, professora primária em Milwaukee e delegada da secção americana do Congresso Judaico Mundial.


Em 1917, casou com Morris Myerson, tendo emigrado em 1921 à Palestina. Golda Meir tornou-se, então, membro do Kibutz Merchavia e, três anos mais tarde, aderiu à Histadrut (Confederação Geral do Trabalho), passando entre 1932 e 1934 a ser a sua representante no estrangeiro, nomeadamente nos Estados Unidos da América.


Nos anos que antecederam e durante a Segunda Guerra Mundial, Golda Meir ocupou lugares fulcrais na hierarquia política: foi chefe do departamento político da Agência Judaica (a maior autoridade em Israel sob administração britânica) e da Organização Sionista Mundial.


Após a Declaração de Independência do Estado de Israel, em 1948, Golda Meir foi nomeada pelo primeiro-ministro, David Ben-Gurion, para o cargo de embaixadora de Israel na União Soviética, por quatro anos. Posteriormente à nomeação, entre 1949 e 1956, Golda exerceu a função de ministra do Trabalho e, na década seguinte (1956-1966), foi ministra dos Negócios Estrangeiros, bem como representante máxima da delegação israelita enviada aos Estados Unidos da América. Foi secretária-geral do Mapai entre 1966 e 1968.


Desde a sua fundação, o novo Estado dotou-se de instituições democráticas: tinha uma câmara única - o Knesset - e foram fundados vários partidos políticos. O partido mais representativo de todos era o Mapai (movimento socialista). Sob o impulso de Golda Meir, o Mapai, o Ahduth Haavoda (União do Trabalho) e o Rafi (Movimento de Esquerda) fundiram-se em Julho de 1968, com o objetivo de formarem o Partido Trabalhista. No ano seguinte, esse novo partido uniu-se ao Mapam (Partido Operário Unificado) constituindo uma aliança eleitoral - a Maarakh (Frente Operária).


Em 1969, após a morte do Primeiro-ministro Levi Eshkol, Golda Meir forma governo sendo primeira-ministra de Israel por cinco anos (1969-1974). Em sua primeira coletiva de imprensa como primeira-ministra, bradou, aos vizinhos árabes, que estaria disposta a qualquer coisa pela paz, exceto o suicídio nacional. E convidou, explicitamente, o então presidente do Egito, Nasser, para a mesa de negociações, dizendo que iria até mesmo ao Cairo, caso necessário, para negociar devoluções de território pacificamente. Embora este tenha recusado, seu sucessor Sadat atendeu aos pedidos. Nesse mesmo ano, Golda Meir profere sua famosa declaração, de que "Não há algo assim como palestinos (...) Não é como se houvesse um povo palestino na Palestina considerando a si mesmo como um povo e nós viéssemos, os jogássemos fora e tomássemos deles o seu país. Eles não existem e têm em Arafat, nascido no Egito, o seu líder.", no The Sunday Times (Londres) de 15 de junho de 1969.


Durante esse período, não acatou as resoluções da Organização das Nações Unidas, que invalidavam a anexação israelita de Jerusalém Oriental e que ordenavam a retirada de Israel dos territórios árabes ocupados em 1967 na guerra dos seis dias, por entender que, como não haveria contrapartida para impedir ataques dos palestinos e de nações árabes, tais medidas colocariam, em risco, a existência do Estado de Israel.


Golda Meir aplicou uma política de medidas extremas contra membros de organizações que realizavam atentados, chegando a ordenar o assassinato de suas lideranças.


Em 6 de Outubro de 1973, deu-se a quarta guerra do conflito árabe-israelense, chamada "Guerra do Yom Kippur" (os israelitas celebram, nesse dia, a grande data religiosa de "Yom Kippur", onde se faz jejum completo por 25 horas, daí o nome atribuído ao conflito).


No início da guerra, os israelenses foram apanhados completamente de surpresa, por acreditarem que seriam respeitados no dia mais importante de seu calendário religioso, por invasões pelo Egito e Síria.


A Síria atacou pelas Colinas do Golan, ao norte de Israel e o Egito se encarregou da península do Sinai e no canal de Suez, ao sul do país, desencadeando, assim, uma guerra com duas frentes. Os ataques árabes causaram enormes perdas às forças de defesa de Israel. Porém, após três semanas, as tropas de Israel obrigaram as tropas agressoras a recuarem. Penetraram com tanques e artilharia no território sírio a precisamente 32 quilômetros da capital Damasco (que teve seus subúrbios bombardeados) e a 100 quilômetros de Cairo, capital egípcia.


Como consequência do conflito, os países árabes decidiram parar de exportar petróleo para os Estados Unidos e países que apoiavam a sobrevivência de Israel, o que levou à crise do petróleo.


Em Abril de 1974, Golda Meir apresenta a sua demissão dadas as críticas à sua atuação e à do seu Ministro da Defesa, Moshe Dayan (herói da guerra dos seis dias), na Guerra do Yom Kippur, e pelos baixos resultados alcançados nas eleições pelo Partido Trabalhista. Meir foi substituída pelo General Yitzhak Rabin.


A 5 de Março de 1976, Golda Meir regressou ainda à cena política como dirigente do seu Partido, em virtude da demissão de Meir Zarmi do cargo de Secretário-Geral, tendo publicado, nesse mesmo ano, um livro de carácter autobiográfico: A minha vida.


Nesse livro, que, no Brasil, foi publicado em 1976 pela Bloch Editores, Golda Meir lança uma luz sobre alguns pontos até hoje controvertidos ligados à criação de Israel. Um desses pontos foi o apoio do então bloco socialista ao nascente Estado Judeu, não só o reconhecendo prontamente, mas também (e este é um fato pouco divulgado) armando Israel na sua Guerra da Independência. Sobre isso, escreve Golda:


Quanto ao reconhecimento soviético, que se seguiu ao americano, possuía outras raízes. Não tenho agora mais dúvida alguma de que a principal razão soviética foi tirar os britânicos do Oriente Médio. Mas no decorrer de todos os debates ocorridos nas Nações Unidas no outono de 1947, me parecera que o bloco soviético nos apoiava também devido ao terrível preço que os próprios russos haviam pago na guerra mundial e seu consequentemente profundo sentimento de que os judeus, que do mesmo modo haviam tão cruelmente sofrido nas mãos dos nazistas, mereciam ter seu Estado. [...] Não fossem as armas e munições que pudemos comprar na Tchecoslováquia e transportar através da Iugoslávia e outros países balcânicos, naqueles dias negros do início da guerra, e não sei se teríamos podido resistir até o refluxo da maré, conforme aconteceu em junho de 1948.
Golda Meir revela também que não era desejo do recém-fundado Estado Judeu que suas populações árabes debandassem (como acabou acontecendo, dando origem ao trágico problema dos refugiados).


Em abril de 1948 eu mesma fiquei durante horas na praia de Haifa, literalmente implorando aos árabes da cidade que não saíssem. Além do mais, foi uma cena que provavelmente nunca esquecerei. A Haganah (o exército judeu) acabara de assumir o controle de Haifa, e os árabes começaram a fugir — porque sua liderança tão eloquentemente lhes assegurara ser essa a atitude mais inteligente a tomar e os britânicos tão generosamente puseram dezenas de caminhões à sua disposição. Nada do que a Haganah disse ou fez adiantou — nem os apelos via alto-falantes, montados em caminhonetas, nem os impressos que, então, fizemos chover sobre os bairros árabes da cidade ("Não temam!" diziam em árabe e hebraico. "Saindo estarão trazendo para si pobreza e humilhação. Permaneçam na cidade que é tanto sua quanto nossa.") [...] Por que queríamos que ficassem? Havia dois bons motivos: primeiro, e antes de tudo, queríamos provar ao mundo que judeus e árabes podiam viver juntos [...]; segundo, sabíamos perfeitamente bem que se meio milhão de árabes saíssem então da Palestina, tal fato acarretaria ao país um sério transtorno econômico.


A 8 de dezembro de 1978, Golda Meir morre de câncer em Jerusalém com 80 anos de idade. Encontra-se sepultada no Cemitério Nacional do Monte.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



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domingo, 28 de maio de 2023

Love to Love You, Donna Summer | Official Trailer | HBO



O novo documentário "Love to Love You, Donna Summer" conta a história da lendária vocalista, desde sua infância até sua morte em 2012. O Access Hollywood sentou-se exclusivamente com as filhas de Donna – Mimi, Brooklyn e Amanda Sudano – antes da estreia do filme estréia no tapete, e eles compartilharam memórias de sua amada mãe. "Ela era muito divertida. Ela adorava trotes, ligar para nossos amigos e muitas piadas, bobagens e união." "Love to Love You, Donna Summer" estreia em 20 de maio na HBO Max.




segunda-feira, 24 de abril de 2023

Galileu (1564-1642)

Galileu (1564-1642) é em geral considerado o fundador da ciência moderna. Pelo menos, é indiscutivelmente o seu símbolo.


Tendo vivido em pleno Renascimento, Galileu  vai  rebelar-se contra  o aristotelismo escolástico. Como mostra Koyré, a importância dada por Galileu à Matemática provém de uma forte influência platónica, que se tinha já feito sentir na Antiguidade em Arquimedes.   Contestando os dogmas da Igreja àcerca da filosofia natural, fundamentalmente assentes na autoridade indiscutível de Aristóteles, Galileu  pretendia investigar a Natureza directamente, com base nos dados fornecidos pelos sentidos, isto é,  na observação e  na experiência empírica.  Por outro lado, considerava que, para observar a Natureza era necessário conhecer a língua em que estava escrito o "Grande Livro do Mundo": a Matemática. É justamente a conjugação destes dois factores, ou seja, a valorização da experiência e da matemática, que faz de Galileu o fundador do método  experimental e, portanto, de uma nova atitude em relação à ciência.


Na verdade,  Galileu considerava a matemática como um instrumento de obtenção de certeza superior à própria lógica. Assim sendo,  defendia que se deve medir tudo o que pode ser medido e tornar mensurável o que não pode ser medido. Quando uma relação matemática podia ser encontrada na Natureza, aceitava-a como correcta e  tratava de desmentir todas as declarações  que com ela conflituassem.  As discrepâncias entre as relações  matemáticas e os eventos físicos eram sempre atribuídas a causas subjectivas, decorrentes de erros praticados pelos investigadores. Em momento algum Galileu aceitava que o equilíbrio entre a Natureza e a matemática pudesse ser posto em causa.  O que significa que Galileu não adoptou a perspectiva  platónica segundo a qual  o nosso mundo é uma cópia distorcida do mundo "ideal". Pelo contrário, a matemática era a expressão correcta da Natureza. O trabalho de matematização do real podia começar.


Galileu: um investigador incansável


Galileu é indiscutivelmente um grande matemático. As sua ideias  sobre as questões da matemática pura eram bastante originais, como transparece da sua observação «nem o número de quadrados é menor do que o da totalidade dos números, nem o último é maior que o primeiro». Esta defesa do infinito actual (sustentada por Salviati nos Discorsi) foi conscienciosamente dirigida contra as posições aristotélica e escolástica (representadas por Simplício).


Não se pense porém que Galileu era  um matemático puro. Muitos dos seus textos, correspondência, notas e livros dão-nos  a imagem de um Galileu   investigador,  mudando de opinião, usando a experimentação para criticar e rever a teoria, usando a teoria para criticar e rever a experimentação, decidindo-se, flutuando, metendo-se em becos sem saída, precisamente o que seria de esperar de uma pessoa com a sua inteligência penetrante trabalhando activamente durante mais de 50 anos, inclusive depois de cego.  



 Um problema para Galileu


            Um dia, já estava Galileu no seu retiro em Arcetri, um indivíduo dirigiu-se-lhe para lhe colocar o seguinte problema: tendo aberto um poço muito profundo, no jardim, não consegue que a água suba acima  dos 10 metros e 30, pois a partir desta altura a bomba deixa de aspirar a água.


            Galileu fica intrigado, pois a água deveria seguir o êmbolo da bomba aspiradora como se a ele aderisse, para não permitir a criação de vácuo, contrária ao que se acreditava ser as leis da natureza. Mas, se a água não subia era porque, de facto, se criava um espaço vazio de água e de ar.


            Depois de muito reflectir no problema, Galileu encontra uma solução que expõe nos Diálogos, em 1638: uma corda amarrada pela extremidade superior pode partir pelo seu próprio peso, se é muito comprida, o mesmo deve ter acontecido a esta "corda de água" que se quebra quando a sua altura a torna muito pesada.


            A partir desta conclusão de Galileu, Torricelli e Pascal desenvolveram uma série de experiências que levaram à descoberta da pressão atmosférica e à invenção do barómetro.


https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/


 

 

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Tiradentes, Líder da Inconfidência Mineira


 Tiradentes

Líder da Inconfidência Mineira

Por Dilva Frazão


Tiradentes (1746-1792) foi o líder da Inconfidência Mineira, movimento de tentativa de libertação colonial do Brasil.


Tiradentes, mártir da independência, foi executado e esquartejado no dia 21 de abril. Mais tarde, já sob a república, o dia de sua morte foi declarado feriado nacional.


Infância e juventude

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes, nasceu na Fazenda do Pombal, entre a Vila de São José, hoje Tiradentes, e São João del-Rei, Minas Gerais.


Era filho do português Domingos da Silva Santos, proprietário rural, que se dedicava à mineração, e da brasileira Maria Antônia da Encarnação Xavier. Era o quarto filho entre sete irmãos. Batizou-se no dia 12 de novembro de 1746.


O Apelido de Tiradentes

Aprendeu as primeiras letras com o irmão mais velho e não fez os estudos regulares. Com nove anos ficou órfão de mãe e aos 11, de pai. Foi criado na casa do padrinho, o cirurgião Sebastião Ferreira Leite, que lhe ensinou noções práticas de odontologia.  


Tornou-se sócio de uma botica de assistência à pobreza na ponte do Rosário, em Vila Rica e se dedicou também às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe rendeu o apelido de Tiradentes.


A decadência da mineração

Ainda jovem, Tiradentes foi tropeiro e mascate. Trabalhou no transporte de mercadorias entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro com uma tropa de burros. Tentou a mineração, mas não obteve êxito.


Nessa época, o auge da mineração de Minas Gerais já havia passado e os portugueses acusavam o povo da colônia de burlar a coroa, quando estes diziam que as minas estavam esgotadas.


A Cobrança do Reino

Tiradentes começou a sentir a pressão do reino. Portugal exigia que grandes recursos humanos fossem aplicados exclusivamente na mineração, proibindo o estabelecimento de engenhos na região de Minas e punindo todos os contrabandistas.


Não só os mineiros, mas toda a população era obrigada a pagar elevados impostos, o que promovia um descontentamento geral na colônia.


Primeiras ideias de rebelião

Em 1787, Tiradentes pediu licença do exército e seguiu para o Rio de Janeiro onde foi tentar vida nova. Interessado pela engenharia, elaborou projetos para construir armazéns no cais para proteção e guarda das mercadorias. Projetou a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhoria do abastecimento de água da cidade e aguardava a liberação do financiamento. 


Tiradentes permaneceu um ano na capital. Nessa época, já pregava a liberdade da colônia. Em setembro de 1788, procurou o filho do capitão-mor de Vila Rica, José Álvares Maciel, que chegara recentemente da Europa e também alimentava os sonhos da independência.


A Organização dos Conspiradores

Em dezembro de 1788, terminada a licença, Tiradentes foi requisitado para acompanhar a Minas Gerais a família do novo governador da colônia, Luís Antônio Furtado de Mendonça (o Visconde de Barbacena).


O Visconde estava trazendo a incumbência de decretar a derrama, ou seja, a cobrança de todos os impostos atrasados, motivo que intensificou ainda mais o sonho de liberdade.  


Tiradentes passou a fazer propaganda, em Vila Rica e em seus arredores a favor da independência do Brasil. A primeira reunião dos conspiradores ocorreu na casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire.


A eles uniram-se o Padre Carlos Correia de Toledo e Melo - vigário de São João del-Rei, homem rico e influente, e pessoas de certa projeção social, como Cláudio Manuel da Costa, poeta e antigo secretário de governo, Tomás Antônio Gonzaga, poeta e ex-ouvidor da Comarca e o minerador, Inácio José de Alvarenga Peixoto.


Os Planos Para Tomar o Poder

A Inconfidência Mineira, como ficou conhecida a rebelião - já que os revoltosos estavam negando fidelidade à Coroa portuguesa, foi planejada. Um projeto de constituição chegou a ser efetivamente redigido. A nova capital, sugerida pelos inconfidentes, deveria ser São João Del-Rei.


Tiradentes propôs que a bandeira da Nova República fosse um triângulo vermelho com fundo branco, simbolizando a Santíssima Trindade. Alvarenga sugere a inscrição tomada ao poeta latino Virgílio: “Libertas quae sera tamen” – “Liberdade ainda que tardia”.


Bandeira Inconfidência Mineira


O Delator e a procura por Tiradentes

No dia 15 de março de 1789, o coronel Silvério dos Reis, fazendeiro e minerador, introduzido no movimento, delata a conspiração em troca do perdão para as suas dívidas.


Nessa época, Tiradentes encontrava-se no Rio de Janeiro em busca de conquistar novos adeptos à causa revolucionária.


No dia 1 de maio, Silvério chega ao Rio, e vai em busca de Tiradentes.


A prisão de Tiradentes

No dia 10 de maio de 1789, a casa de Domingos Fernandes da Cruz, onde Tiradentes se encontrava, foi cercada e Tiradentes foi preso.


Dias depois, em Vila Rica, os seus companheiros também foram detidos, e iniciou-se a investigação e o processo dos acusados. No dia 4 de julho, Cláudio Manuel da Costa foi encontrado enforcado na cela.


A condenação de Tiradentes

No dia 22 de maio, na primeira audiência da devassa, Tiradentes foi interrogado. No dia 18 de janeiro de 1790, diante do quarto interrogatório, Tiradentes confessa a conspiração e assume toda a responsabilidade, como comprovam as atas do processo.


No dia 19 de abril de 1792, os inconfidentes receberam as suas penas: onze condenações à morte, cinco a degredo perpétuo e várias condenações à prisão. Todos perderam os seus bens.


A Morte de Tiradentes

No dia 20 de abril de 1792, a rainha D. Maria I concede a comutação da pena de enforcamento para prisão perpétua àqueles indiciados, exceto a Tiradentes, que seria enforcado, decapitado e esquartejado


Tiradentes foi enforcado no Largo da Lampadosa (atual Praça Tiradentes) no Rio de Janeiro, no dia 21 de abril de 1792. O seu corpo foi esquartejado, a sua cabeça exposta em Vila Rica e os seus membros espalhados em postes no caminho entre Minas e o Rio de Janeiro.


O reconhecimento do mérito de Tiradentes só veio em 1867, época em que foi erguido um monumento em Ouro Preto. Mais tarde é que o 21 de abril foi declarado feriado nacional pela lei 4.897, de 9 de dezembro de 1965, e ele foi proclamado “patrono cívico da nação brasileira”.


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Mulheres Que Marcaram O Século XX: Angela Davis


 Angela Davis (1944) 

personalidades negras importantes da história

Angela Yvonne Davis nasceu no Alabama, EUA, e tornou-se uma dos principais mulheres negras na luta pelos direitos civis na década de 1960 - 1970. Cresceu em um dos estados do sul americano onde a segregação racial era mais dura, e organizações civis como a Ku Klux Klan tinha o hábito de perseguir, linchar e enforcar pessoas negras. 


No fim da adolescência Ângela conseguiu uma bolsa para estudar filosofia em Nova York, onde conheceu ideais socialistas e passou a militar em favor dos direitos civis, igualdade de gêneros, entre outras causas. Quando tinha por volta de 20 anos, associou-se ao partido dos Panteras Negras, chegou a ser uma das dez pessoas mais procuradas no país pelo FBI, mas depois foi inocentada de todas as acusações. 


Desde então, Ângela é símbolo de resistência negra, acadêmica respeitada nos estudos étnicos e de gênero. Em 1977-1978 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz. 


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Homens Que Marcaram O Século XX: Kwame Nkrumah


 Kwame Nkrumah (1909 - 1972)

personalidades negras importantes da história

Se hoje consideramos líderes negros Martin Luther King Jr., Malcolm X, e outros, um dos responsáveis é este líder ganense, principal voz por trás da lutas de libertação africanas das colônias europeias. 


Educado em uma escola católica durante a sua infância, na juventude partiu para o EUA formando-se em teologia e fazendo um mestrado em filosofia. Foi desenvolvendo as suas ideias de um continente africano livre e desenvolvido até que ajudou a fundar o Pan-Africanismo. 


Aos 38 anos retornou ao Gana, seu país de origem, já como um político respeitado. Aos poucos, foi recrutando pessoas para sua causa: implantar um autogoverno no país, na época colônia do Reino Unido. Gana foi o primeiro país africano a tornar-se independente em 1957 e a luta e ideais de Nkrumah inspirou líderes africanos e negros em todo mundo pela conquista de liberdade. 

https://www.ebiografia.com/biografia_personalidades_negras_importantes_historia/

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Gonçalves Dias: 3 perguntas ainda sem resposta sobre vídeo que derrubou ministro de Lula /// BBC News, Brasil


 Gonçalves Dias: 3 perguntas ainda sem resposta sobre vídeo que derrubou ministro de Lula

Homem caminhando CRÉDITO,REPRODUÇÃO

Legenda da foto,

Gonçalves Dias aparece em imagens de segurança do Planalto no dia da invasão


20 abril 2023

Atualizado Há 6 horas

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve sua primeira baixa nesta semana quando o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, entregou seu cargo, em meio ao vazamento de imagens de câmeras de segurança onde ele aparece interagindo com pessoas que invadiram o Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.


As imagens reveladas pela CNN Brasil mostram Dias caminhando no terceiro andar do Palácio do Planalto e conversando com invasores.


Aparentemente ele está mostrando a saída de emergência aos invasores. Outros funcionários do GSI aparecem dando água para alguns dos invasores.




O dia 8 de janeiro foi marcado pela invasão violenta e quebradeira das sedes do Três Poderes em Brasília.


As imagens levantam dúvidas sobre a atuação de Gonçalves Dias e do GSI no dia. O ministro entregou seu cargo alegando que isso facilitaria investigações sobre as imagens. O ministério, sob novo comando, já determinou a investigação.


A crise que derrubou 1° ministro do governo Lula

19 abril 2023

Existe também a possibilidade de instauração de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos violentos do dia 8 de janeiro em Brasília.


Inicialmente a CPMI era uma reivindicação da oposição, mas há sinais de que o próprio governo pode apoiar a iniciativa agora.


Em entrevista à BBC News Brasil em Londres nesta quinta-feira (20/4), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que o pedido de criação da CPMI será lido no Congresso em 26 de abril e que a polêmica envolvendo o GSI "é um fato que tem que ser esclarecido".


Após sua saída, ele concedeu entrevistas — mas ainda há diversas dúvidas que ainda não foram esclarecidas.


1. Por que houve um tratamento aparentemente tão cordial aos invasores?

Essa é a questão mais importante na queda do ministro — e segundo interlocutores do governo foi a que mais irritou o presidente. Ela foi determinante na queda do ministro.


As imagens mostram que os invasores não eram pacíficos. Eles aparecem destruindo vidros e um relógio histórico.


As imagens revelam uma série de evidências de um comportamento cordial por parte dos funcionários e seguranças do GSI — alguns deles militares:


Em alguns trechos, os funcionários do GSI aparecem conversando calmamente com todos os invasores;

Em algumas imagens, os funcionários cumprimentam cordialmente os vândalos;

Em outras, um homem pega um extintor de incêndio, que foi usador por diversos vândalos para destruir os prédios. Um funcionário do GSI assiste passivamente e não fala nada;

Um dos militares aparece abrindo uma porta de onde os invasores tiram garrafas de água para se refrescar;

Gonçalves Dias aparece caminhando ao lado dos invasores, aparentemente mostrando a saída para eles.

As investigações precisarão esclarecer porque não houve prisão imediata dos invasores — e porque os funcionários e o ex-ministro não parecem estar tentando evitar as invasões ou chamar reforços.


Dias se defendeu afirmando que suas ações e da equipe naquele dia tiveram o objetivo de tirar os invasores de locais sensíveis e levá-los ao segundo andar para serem presos.


"Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão no segundo", disse o agora ex-ministro à Globonews.


"Na sala ao lado (da sala) do presidente, eu retirei três pessoas que estavam lá dentro e mandei descer pro segundo (andar). Eu fui verificar se as portas estavam fechadas e se não houve nenhuma depredação lá dentro."


"Prendemos mais 250 pessoas pessoas aqui dentro, que invadiram, que depredaram tudo. Minha amiga, ninguém fala, mas nós preservamos praticamente o terceiro piso todinho — o coração do Planalto, que é a sala do presidente, ela foi preservada."


O ex-ministro defendeu também que condutas como a do funcionário que foi filmado distribuindo água aos invasores sejam punidas.


"Aquilo é um desvio de atitude", disse, referindo-se à cena.


Ainda assim, Dias defendeu que a escolha de imagens como essa, de um funcionário distribuindo água, foi seletiva demais.


"O major distribuindo águas a manifestantes, fizeram um corte específico na produção dos vídeos que vocês olharem (sic). Aquilo é um absurdo para minha imagem. "


2. Por que essas imagens demoraram tanto para aparecer?

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Lula teria pedido diversas vezes ao general as imagens do sistema de segurança daquele dia. Uma das explicações dadas anteriormente era de que uma das câmeras tinha sido quebrada.


De acordo com o jornal, o presidente teria sido surpreendido pelo vazamento das imagens nesta semana.


Oficialmente, o governo diz que a Polícia Federal está investigando todas as imagens do dia.


Dias depois do ataque, o governo chegou a divulgar imagens da invasão do Palácio do Planalto — como as que mostram um invasor derrubando o relógio histórico — mas os trechos eram editados.


Gonçalves Dias nega que tenha impedido acesso do presidente às imagens, e disse que tudo foi distribuído aos órgãos competentes que investigam as invasões.


3. Por que Gonçalves Dias estava em Brasília naquele domingo?

Ainda não está claro porque o ministro estava no gabinete no dia dos ataques. As imagens mostram que ele anda sem escolta em meio aos invasores.


Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-comandante militar do Palácio do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, enviou reforços do Batalhão da Guarda Presidencial para o Palácio do Planalto dois dias antes dos ataques para Brasília.


Mas a presença do efetivo foi dispensada pelo GSI no dia 7 de janeiro — um dia antes da invasão. Não se sabe porque esse efetivo foi dispensado, justamente na véspera dos atos violentos.


https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n7lzm6md6o

Homens Que Marcaram O Século XX: Chiang Kai-shek


 Chiang Kai-shek


Chiang Kai-shek (  3 de outubro de 1887 – 5 de abril de 1975), também conhecido como Generalíssimo Chiang ou Chiang Chungcheng, romanizado como Chiang Chieh-shih ou Jiang Jieshi, foi um político e militar chinês que serviu como Presidente da República da China, de forma intermitente, de 1928 e 1949, e depois de Taiwan de 1950 a 1975. Ele foi reconhecido como legítimo governante de toda a China até 1971, período em que as Nações Unidas passaram a Resolução 2 758.


Chiang foi um influente membro do movimento Kuomintang (KMT), o Partido Nacionalista Chinês, além de um grande aliado de Sun Yat-sen. Chiang se tornou o comandante da Academia Militar Whampoa e substituiu Sun como líder do KMT após o Golpe de Canton, em 1926. Após ter neutralizado a ala esquerdista do partido, Chiang liderou a Expedição do Norte, conquistando toda a China após derrotar o Governo de Beiyang e pacificado os Senhores da guerra da China.[2]


De 1928 a 1948, Chiang serviu como presidente e generalíssimo do Governo Nacional da República da China. Chiang era um nacionalista, promovendo a cultura tradicional chinesa no chamado "movimento nova vida". Incapaz de manter as boas relações que seu antecessor tinha com o Partido Comunista da China (PCC), Chiang tentou expurga-los do país através do massacre de Xangai de 1927 e depois reprimiu várias rebeliões, primeiro na região de Cantão e depois em outros territórios. Com o passar dos anos, seu governo foi ficando cada vez mais autoritário, embora perdesse apoio nas zonas rurais e ainda havia a crescente ameaça dos socialistas que, apresar das repressões, ganhavam apoiadores e atiçavam uma guerra civil contra o governo de Chiang Kai-shek.[3]


No começo da Segunda Guerra Sino-Japonesa, que mais tarde se tornou o teatro de operações da China na Segunda Guerra Mundial, o marechal Zhang Xueliang sequestrou Chiang e o obrigou a estabelecer a Segunda Frente Unida com os Comunistas. Após a derrota dos japoneses, o plano americano (a "Missão Marshall"), tentou negociar um governo de coalizão, mas falhou. Em 1946, a Guerra Civil Chinesa recomeçou a todo o vapor, com as forças do Partido Comunista, lideradas por Mao Zedong, derrotando os exércitos do KMT e proclamando a República Popular da China em 1949. O governo de Chiang e o que sobrou de suas tropas recuaram para Taiwan, onde ele impôs lei marcial e perseguiu todos os socialistas, críticos e opositores do seu regime na ilha no que ficou conhecido como "Terror Branco". Após evacuar para Taiwan, o governo de Chiang e seus apoiadores continuaram a declarar sua intenção de, um dia, retomar a China dos comunistas. Chiang governaria Taiwan como presidente e Diretor-geral do Kuomintang até sua morte em outubro de 1975, um ano antes da morte de Mao.[4][5]


Assim como Mao, Chiang Kai-shek é considerado uma figura controversa. Seus apoiadores o creditam por ter desempenhado um grande papel durante a vitória dos Aliados da Segunda Guerra Mundial e ter unificado a nação, sendo também um símbolo nacional e uma figura importante na resistência contra os japoneses, os soviéticos e os comunistas. Detratores e críticos o denunciam como um ditador, um autocrata autoritário que reprimiu e expurgou seus opositores a todo o custo, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos a todos que não apoiavam o Kuomintang e outros.[6]


Fonte e Direitos autorais: Wipedia

terça-feira, 18 de abril de 2023

BBC News, Brasil: Os 120 anos de 'Os Sertões', apontado como primeiro livro-reportagem brasileiro



Os 120 anos de 'Os Sertões', apontado como primeiro livro-reportagem brasileiro
Edison Veiga
Bico de pena de Euclides da Cunha, publicado na década de 1890CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO
Legenda da foto,
Ilustração estilo bico de pena de Euclides da Cunha, publicado na década de 1890

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte." Talvez esta seja a frase mais lembrada quando se trata do livro 'Os Sertões', obra-prima escrita por Euclides da Cunha (1866-1909) e lançada há exatos 120 anos.

O livro, muitas vezes visto como uma epopeia da vida do sertanejo, numa luta diuturna contra as dificuldades impostas pela natureza e enfrentando ainda incompreensão daqueles que formam a elite nacional, é considerado o primeiro livro-reportagem brasileiro, posto que foi escrito como romance de não-ficção.

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Euclides da Cunha, um jornalista de formação militar, foi enviado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 1897 para cobrir a Guerra de Canudos, conflito armado ocorrido em 1896 e 1897 para encerrar a suposta contestação popular ao regime republicano que surgiu no interior da Bahia.

O convite para ser o correspondente de guerra do matutino paulistano foi feito pelo jornalista Júlio de Mesquita (1862-1927), proprietário do jornal. Antes, Euclides da Cunha havia publicado um artigo no periódico, chamado A Nossa Vendeia, no qual traçava um paralelo entre o movimento chefiado pelo líder messiânico Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897), mais conhecido como Antônio Conselheiro, no povoado de Belo Monte, terras onde antes havia um arraial chamado Canudos, com o movimento monarquista francês que pretendia derrubar a república, no fim do século 18.

Um texto redigido pela equipe do acervo do jornal O Estado de S. Paulo enfatiza o nascedouro da obra durante os meses em que Cunha atuou na cobertura especial do conflito. "É em Canudos que começa a escrever as primeiras notas de sua obra-prima 'Os Sertões', cujas primeiras amostras públicas aparecem no Estado, ainda em 1898, sob o título 'Excerto de Um Livro Inédito'", afirma o texto publicado pelo acervo do jornal.

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Segundo conta o biógrafo de Cunha, o diplomata, cientista político e historiador Luís Cláudio Villafañe Santos, o jornalista "já saiu de São Paulo [rumo à Bahia] com a intenção de escrever um livro". "O jornal havia prometido a ele que publicaria um livro, em forma de folhetim. Isso acabou não ocorrendo", comenta Santos, que no ano passado publicou a obra Euclides da Cunha - Uma Biografia.

Pioneirismo no gênero
Os Sertões seria escrito ao longo de cinco anos, de 1897 a 1902. "E, sim, se pode dizer que foi um pioneiro livro-reportagem porque tem muito de um livro que procura ser mais do que literatura, procura ser um livro de não-ficção. Uma não-ficção literária, um livro de jornalismo literário, para usar a expressão mais correta", afirma Santos.

Nesse sentido, Cunha vestiu a carapuça do jornalista que era. "No livro, está a ideia de que ele estava relatando fatos, ainda que o fizesse de forma literária", comenta o biógrafo.
Contudo, o interessante é notar que, ao longo do processo de depuração e escrita do livro, a própria visão de Euclides da Cunha sobre a ocorrência histórica parece ter mudado substancialmente. Se durante o conflito, quando ele reportava ao jornal O Estado de S. Paulo, sua visão era "oficialesca", na obra literária ele se coloca numa postura de denúncia da violência impetrada contra os sertanejos.

Para isso é preciso entender o contexto. Para atuar na cobertura, o jornalista resgatou sua patente militar — era primeiro-tenente, mas havia deixado de exercer — e assim foi que ele atuou e teve os acessos necessários ao trabalho. "O jornal o mandou como jornalista, mas ele também foi a Belo Monte como militar. Levou uniforme, teve ajudante de ordens e uma inserção dentro do comando militar", aponta Santos.

"Depois, a narrativa do livro acabou sendo imensamente diferente da narrativa de suas reportagens publicados ao longo da guerra", compara o biógrafo. "Antes, ele tinha uma visão pró-exército, oficialista, governista. E isso não se verifica quando ele escreveu o livro, cinco anos depois."

Para Santos, isso pode ter decorrido por conta da própria mudança de mentalidade da época. Àquela altura, já eram conhecidas as "muitas denúncias de todos os absurdos" cometidos durante as batalhas em Belo Monte.

Estudioso da obra de Euclides da Cunha reconhecido internacionalmente, o professor Leopoldo Bernucci, da Universidade da Califórnia em Davis, também concorda com a classificação pioneira de Os Sertões como livro-reportagem. Segundo ele, a obra pode ser definida "como um livro que absorve, como nenhum antes dele, um tipo de discurso que chamamos de reportagem".

"O discurso jornalístico é um entre tantos outros que compõem esta obra, sendo que o historiográfico é o que predomina, tanto pela intencionalidade do autor que o anuncia nas suas primeiras páginas como pela própria estrutura cronológica e interpretativa dos fatos", analisa Bernucci, autor de, entre outros, Discurso, Ciência e Controvérsia em Euclides da Cunha.

Ele ressalta que as "outras linguagens" que podem ser detectadas no livro são "a da Bíblia, da geologia, da antropologia, da geologia, do folclore, da meteorologia e das práticas militares".

"O jornal, a partir do século 19, já se comportava como o romance moderno em sua elaboração discursiva. Entravam nele o texto ficcional, o aviso publicitário, as declarações governamentais, comerciais e jurídicas, os relatórios militares, todos justapostos e ocupando um mesmo espaço cultural. Euclides se apropriou da estrutura multifacetada do jornal, fazendo coexistir vários tipos de discurso no seu livro", contextualiza o professor.

"Porém, diferentemente do que ocorre no jornal, as várias linguagens de Os Sertões acham-se organicamente articuladas. Tanto é assim que, pelo fato de os diversos tipos de discurso estarem tão imbricados nessa obra, torna-se praticamente impossível precisar onde termina a linguagem jornalística e onde tem início a linguagem historiográfica, por exemplo", completa ele.

Para Bernucci, "a dívida" que Euclides da Cunha tinha com os jornais da época era enorme, seja porque ele os utilizou como fonte de pesquisa, seja porque ele próprio atuou em diversos. "[Foi] um grande colaborador em conhecidos periódicos, como O Estado de S. Paulo, e os cariocas Jornal do Commercio, Kosmos, O Paiz", enumera. "Via-se confortavelmente nesse meio jornalístico."

"Os Sertões nasceu nas próprias reportagens que o então 'correspondente de guerra especial' do jornal O Estado de S. Paulo enviava àquela publicação, bem como nos telegramas que cobriram pormenorizadamente os dois últimos meses do conflito", acrescenta o publicitário e pesquisador independente Felipe Rissato, co-autor, ao lado de Bernucci, do livro À Margem da História - Euclides da Cunha.

De acordo com levantamento realizado por ele, a cobertura de Cunha constou de 31 edições do jornal — o jornalista teria enviado 64 telegramas à redação com seus relatos.

"Ele não era o único repórter de campo nas operações, assim como não foi o único a publicar um livro a respeito da Guerra de Canudos", ressalta Rissato. "Mas o jovem ex-militar, reformado no ano anterior, em 1896, tinha posição de destaque mesmo em outras folhas, que reproduziam suas reportagens. Além disso, apesar de seu livro aparecer somente em 1902, cinco anos após a guerra, quando fundiu as reportagens, os telegramas e as anotações imprescindíveis que fizera na caderneta que levava consigo para o livro, Euclides manteve na narrativa recursos jornalísticos, como a objetividade mesmo em descrições detalhadas."

"O pioneirismo da obra se dá por ser uma novidade para a época em relação à forma como foi escrita, pois mistura elementos jornalísticos e literários", diz a especialista em dramaturgia Ana Sampaio Machado, professora de ética em comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ao descrever detalhadamente a paisagem, as pessoas e os fatos sem romancear, prezando pela organização, se encaixa no gênero jornalístico, porém não pode ser classificado como tal, por sua extensão, pela escolha do vocabulário incomum e pelo estilo de escrita."

Sucesso repentino
Oficialmente não há uma data exata do lançamento da primeira edição de Os Sertões, mas Rissato aponta para a alta possibilidade de o livro ter saído do prelo em 2 de dezembro de 1902.

"A data exata é incerta, mas ficou como sendo 'oficial' a data da dedicatória mais antiga, 2 de dezembro, encontrada em um exemplar oferecido ao cunhado de Euclides, Octaviano", afirma o pesquisador. "No dia 3, já aparecia a primeira crítica, de José Verissimo, no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro."

O sucesso foi retumbante. Segundo o material publicado pelo acervo do Estadão, o livro foi "recebido com entusiasmo pelos críticos literários da época e a prime ira edição se esgotou em algumas semanas". No ano seguinte, Euclides da Cunha foi eleito como membro da Academia Brasileira de Letras. Ele também foi convidado a integrar e tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. "Costuma se dizer que ele foi dormir desconhecido e acordou famoso. E isso é parcialmente verdade", comenta o biógrafo Santos.

Para o biógrafo, esse sucesso incrível surpreendeu a todos, inclusive ao próprio autor.

Não demorou muito para o livro ser alçado ao panteão dos clássicos da língua portuguesa. "Há vários fatores que contribuem para que seja considerado uma obra canônica da literatura nacional", explica Bernucci. "Poderíamos enumerar alguns desses pontos dizendo o seguinte: um clássico é aquele livro que não somente se lê, mas que é relido em distintas épocas, consideração que faz ressaltar nele seu caráter imperecível e sua característica de artefato cultural duradouro, como as grandes pinturas. Outro fator: os clássicos trazem as marcas das leituras que precedem as nossas. Assim, não poderíamos deixar de encontrar em 'Os Sertões' os traços de muitos outros livros parecidos na cultura ocidental."

Ele ressalta ainda que o livro, ao longo dos 120 anos de sua trajetória, "vem se impondo também como obra que impactou outras culturalmente importantes". "Isto é, como livro fundamental e fundador na tradição dos debates sobre a nossa nacionalidade", aponta.

Para o professor, o livro ainda "atinge uma dimensão universal para que possa ser chamado de clássico". "O livro toca os nossos corações tanto pelas descrições e narrações dos fatos geograficamente localizados quanto por aquelas que, desbordando da esfera local, passam ao mundo dos sentimentos universais, como por exemplo o da solidariedade que todos devemos ter uns com os outros como povo de uma mesma nação", diz.

"A Guerra de Canudos representou o contrário desta noção, porque se configurou como uma verdadeira guerra civil, em que como é típico, indivíduos de um mesmo país lutam uns contra os outros, irmãos contra irmãos destruindo-se", comenta Bernucci.

"Creio também que toda grande obra literária traz algo que é a consciência de sua própria linguagem. A linguagem euclidiana sinaliza direta e indiretamente as pulsações de sua presença e o valor de sua importância, não só como veículo de mensagens, mas também como instrumento ou meio de transformá-las e defini-las", acrescenta o especialista. "Esta definição, grosso modo, serviria para demonstrar a diferença entre o discurso tipicamente jornalístico de fins de século, com o qual Euclides estava tão bem familiarizado, e a apropriação transformadora que o autor faz desse mesmo discurso, recarregando-o de qualidades estéticas."

Machado situa a importância da obra no fato de que ela "trata de questões relevantes não apenas para a época em que se deram os acontecimentos relatados, mas para os nossos dias". "A Guerra de Canudos foi a última revolta contra a República. Uma República, então, que se consolidou a partir de uma postura de indiferença, incompreensão, desprezo e violência dirigida aos pobres", afirma ela.

"Euclides da Cunha foi para Canudos com as ideias propagadas nas grandes cidades. Mas quais eram essas ideias? Fake news", diz Machado. Ela ressalta que o que se propagava era que os jagunços — "o próprio termo já é pejorativo", frisa — estavam armados e "recebiam apoio de potências estrangeiras que tinham interesse em destruir a República".

"Contudo, as armas que os camponeses tinham foram as que eles próprios tomaram dos soldados vencidos nas primeiras campanhas", contexualiza Machado.

Ela recorda que "chegou-se até mesmo a se dizer que os moradores de Canudos, católicos monarquistas, eram comunistas". "A obra de Euclides da Cunha tem enorme força narrativa para o contexto atual. Seria ótimo se mais pessoas se sensibilizassem não apenas com a descrição do massacre de Canudos, mas com os sofrimentos e mortes diárias que ocorrem pela indiferença e ódio em nossa sociedade", compara. "A situação de Canudos persiste, mas está espalhada e devidamente disfarçada."
Já Rissato situa a importância de Os Sertões no fato de que a obra deu a Euclides da Cunha um status de representante da elite intelectual do Brasil. "A guerra ocorrida no sertão baiano passou para a história brasileira como o primeiro grande acontecimento com cobertura diária na imprensa, garantindo ao evento um caráter de interesse então ainda não visto no país", pontua.

"A obra de Euclides, por não ser unicamente jornalística, nem mesmo unicamente literária, recebendo de há muito o caráter de 'inclassificável', reúne estudos de geologia, etnografia, sociologia, antropologia e uma série de ciências, que permitiram ao autor, no ano seguinte à sua publicação, o ingresso na Academia Brasileira de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, colocando-o em posição de destaque da nossa intelectualidade em todos os tempos."

Ciência repleta de falhas e racismo
Mas, segundo o biógrafo Santos, foi essa mistura de conhecimentos que fez com que o autor se perdesse na parte científica do trabalho. "Ele foi muito ambicioso e tentou atuar em várias frentes: geologia, geografia, botânica, filosofia das religiões, filosofia em geral, coisas militares e história também", afirma. "Ele criou uma historiografia sobre Belo Monte que vai durar muitíssimo."

Os Sertões foi dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. "Suas chaves de leitura são o que fazem do livro um tremendo sucesso. A primeira é que o próprio autor dizia que 'Os Sertões' era o consórcio entre a ciência e a arte, a ideia de que a literatura não era só literatura, era também ciência. Ele propunha isso e, no início, a obra foi vista assim, não só como um livro literário, mas como um livro que estava contando a realidade", diz Santos. "Ele se orgulhava de ter escrito um livro assim, dizia que era a nova literatura, que seria assim a literatura dali por diante."

Segundo o biógrafo, essa ideia um tanto enciclopédica de Euclides da Cunha baseava-se no fato de que a sociedade passou a querer uma explicação para o ocorrido em Canudos. "E Os Sertões, como um livro de ciências entre aspas, produz uma explicação que vai encontrar muito respaldo", conta. "E é curiosa porque acaba tirando a responsabilidade."

Isto porque uma das linhas de argumentação do livro é que aquela sociedade, por ser "muito atrasada e isolada" na história, teria um encontro inevitável "com o século 20". E, nesse encontro, a sociedade "atrasada" iria se perder. Segundo Santos, era um meio de "retirar a culpa" pelo massacre.

Ao longo do tempo, contudo, a faceta "científica" do livro acabou sendo derrubada, justamente porque notou-se que a argumentação acadêmica do mesmo não se sustentava. "A face literária é extraordinária, insubstituível na bibliografia brasileira. Já a parte científica, embora extremamente ambiciosa, demonstrou ter problemas graves", pondera o biógrafo.

Engenheiro militar por formação, Euclides da Cunha tinha certos conhecimentos científicos, mas seguramente muito menores do que a ambição do livro pretendia abarcar. "Ele fala de geologia, um assunto que entendia pouco. Fala de botânica, que ele não entendia nada. Fala de história, um assunto em que ele tinha visões complicadas. De antropologia, em que também tinha visões muito complicadas. Fala de arte militar, um ponto onde ele tinha um lugar de fala por falar disso como militar", enumera Santos. "Ele ataca em todas as áreas, faz um livro que tenta ser enciclopédico."

"Aí tem um problema grave: como ele avança por muitas áreas do conhecimento, acaba sendo muito pouco profundo e até frágil", analisa. "Suas investidas pouco a pouco vão sendo postas em questão."

Logo após o lançamento, por exemplo, especialistas encontraram erros primários de botânica na obra. E a própria descrição de Belo Monte, segundo o biógrafo Santos, "era fruto da imaginação" do autor, sem base historiográfica.

"A ciência presente em Os Sertões vai caindo, por conta de muitas falhas", aponta Santos.

Nas áreas de sociologia e antropologia, contudo, estão os aspectos mais condenáveis. "A parte antropológica é, cientificamente, hoje em dia muito mais do que ruim. É inaceitável", afirma Santos.

Residem nesses pontos a questão sobre a visão racista da obra. "A antropologia de Euclides é baseada numa leitura racialista, ou seja, uma ideia muito antiga que já estava em alguma medida até naquele momento já sendo superada", comenta Santos.

A obra basilar dessa ideia, Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas, havia sido publicada pelo filósofo francês Arthur de Gobineau (1816-1882) quase cinco décadas antes. "Então já era uma visão complicada naquele momento", pontua Santos.

"Portanto, eu não concordo que dizer que ele era racista é um anacronismo. Anacronismo é você atribuir ao personagem passado ideias que ele não poderia ter naquele momento, mas naquele momento existiam outras possibilidades [de interpretação do mundo]", comenta o biógrafo.

Para ele, a segunda parte do livro, 'O Homem', é "um terror se lido hoje em dia". "Precisamos dar um desconto pelo fato de que essas visões estavam, na época, mais próximas de uma visão aceitável. Eram aceitáveis em grande medida, mas deve-se dar a justa medida. Isso não quer dizer que, por viver naquele momento, ele necessariamente teria de ter essa visão. Havia outras visões disponíveis que ele poderia ter usado para iluminar as ideias dele, mas ele escolheu essa. Curiosamente, ele escolheu essa", diz.

Bernucci, por sua vez, acredita que leituras anacrônicas "prejudicam enormemente esta questão tão delicada". "'Racista', quando se aplica à visão que Euclides tinha das raças, seria uma palavra fácil para quem não se toma ao trabalho de se debruçar como eu e alguns de meus colegas com a vista cansada dos anos de pesquisa sobre o autor para ler a sua obra em contexto histórico, em conjunto e com profundidade como ela deve ser lida", pondera.

"Acredito que as minhas leituras sempre foram justas e imparciais. A compreensão que Euclides tentava ter sobre o papel das raças em nossa sociedade de maneira particular, e também de modo mais geral, está marcada por teorias raciais vindas da Europa na sua época. Nunca fui, e não é esta a ocasião em que deveria dissimular tal postura, um admirador sem reservas de Euclides da Cunha", acrescenta. "Mas reconheço sempre nele um temperamento prodigiosamente dotado de energia mental e física para dar ao nosso país um impulso capaz de despertá-lo do obscuro remanso em que viviam as pessoas dos seus dias."

O professor recomenda que Os Sertões seja um livro lido "com as lentes do século 19", o mesmo que "produziu grande parte das teorias raciais que o autor utilizou". "As teorias sobre a raça negra se embatem com aquilo que Euclides, na prática, observava e sentia, já que ele nunca foi um racista", argumenta.

Para Machado, Euclides da Cunha "era um homem que partilhava as ideias predominantes de seu tempo, e tais ideias são racistas". "Era uma época dominada pelo pensamento positivista, que acreditava no progresso redentor da ciência, com teorias que se colocavam contra a miscigenação e apregoavam que as condições climáticas de um lugar ou físicas e psicológicas de sua população eram impeditivas ao progresso", comenta ela.

"Chegou-se até mesmo a desenterrar o corpo de Antônio Conselheiro e enviar sua cabeça para ser estudada à luz dessas teorias. Estamos olhando para esse homem com a distância de mais de um século. As gerações futuras também nos julgarão sob uma perspectiva diferente da nossa e provavelmente perceberão ideias inadmissíveis. É muito difícil perceber os vieses de nossas crenças, uma vez que estamos imersos na sociedade cuja forma de pensar herdamos e ajudamos a construir."

"Euclides era um homem de seu tempo. Lia, estudava, refletia e pensava de acordo com as correntes científicas em voga. Ele não foi o único a se constatar que defendia teorias posteriormente caídas em relação à mestiçagem dos povos, mas é preciso buscar estar inserido em seu meio para formular qualquer afirmação ou julgamento", acredita Rissato. "Se a crítica for ponderada a partir desse prisma, será mais feliz e menos simplista."

"O livro nasceu como de ciência e arte, mas hoje é um livro só de literatura. Toda a parte científica de 'Os Sertões' não se sustenta minimamente. E a parte antropológica e sociológica e absolutamente inaceitável", diz Santos. "Isso não tira o mérito do livro hoje em dia. É um livro que não pode ser lido de maneira alguma como livro de ciência mas se sustenta muito como literatura. Continua sendo uma obra extraordinária, uma das maiores da literatura brasileira."

Um autor e múltiplas visões
O biógrafo Santos comenta que, nos últimos anos, a leitura sobre a obra de Euclides da Cunha evoluiu bastante. "Em minha biografia eu recolho um pouco dessas novas visões, especialmente sobre Os Sertões", diz.

Ele diz que um mito comum é que o autor tenha se horrorizado e denunciado o massacre de Canudos quando chegou lá, a serviço do jornal O Estado de S. Paulo. "Não foi nada disso. As reportagens que ele mandou da Bahia são do Euclides que apoia praticamente toda a campanha militar, partilha a visão de que aquilo poderia ter sido um levante monarquista", comenta Santos.

"Ele foi um jornalista totalmente enquadrado ao que era a visão daquele momento, que ele tinha… Essa imagem de que a rebelião em Belo Monte era uma rebelião monarquista, uma nova Vendeia [insurreição contra a Revolução Francesa, em 1793]", ressalta o biógrafo. "Em suas reportagens, ele vende essa ideia da revolta monarquista como uma ameaça à República."

A mudança de postura de Euclides da Cunha ocorreria já em São Paulo, nos anos seguintes, enquanto ele escrevia Os Sertões em uma casa em São José do Rio Pardo, no interior do Estado.

Santos lembra que o primeiro título provisório dado por Cunha para sua obra foi A Nova Vendeia, o que indica que, no princípio, ele ainda insistia nessa versão da história. "Mas nos cinco anos seguintes, a visão sobre o que aconteceu na Bahia, não só dele, mudou muito. Aquela visão monolítica da imprensa de que havia ocorrido um atentado contra a República, isso caiu por terra", contextualiza.

"A opinião pública mudou, com uma série de denúncias acerca dos horrores da guerra e da atuação do exército", acrescenta Santos.

Para o biógrafo, o próprio uso do termo Canudos, adotado por Euclides da Cunha e, de certa forma, consagrado a partir de sua obra, é um indicativo de tentar perpetuar a "história do vencedor".

Isto porque Canudos reforça o nome anterior do arraial, uma fazenda de propriedade privada onde surgiu um povoamento. Naquela época, o povoado fundado por Conselheiro era chamado de Belo Monte. Usar o termo Canudos, como acabou consagrado durante a guerra, era uma maneira de deslegitimar a própria ocupação que ali havia, no entendimento do biógrafo.

"No processo de trabalho do livro, Euclides adaptou sua visão à mudança de visão que já tinha ocorrido na sociedade brasileira de maneira geral. Ele reconhece que a ideia do massacre, aquilo tudo, havia sido um fato absurdo", diz Santos.

"Euclides não apresenta culpado. Ele relata as barbaridades mas não dá nome aos bois. Ele denuncia um crime, Os Sertões é a denúncia de um crime, mas curiosamente ele denuncia um crime sem responsáveis", argumenta o biógrafo.

A obra acaba "jogando a culpa" do ocorrido sobre Antônio Conselheiro, o líder messiânico. Cunha acaba recriando uma figura literária, conferindo uma personalidade própria para Conselheiro, apresentando-o como um desequilibrado, louco. "Assim, se houve um culpado, teria sido Conselheiro, que teria arrastado aquelas pessoas à loucura. Mas nem ele poderia ser culpado, porque ele também estava louco", explica Santos. "E isso funcionou muito bem."

Para o biógrafo, essa narrativa não só foi bem aceita pela sociedade brasileira como também contribuiu para "aliviar a culpa".

"O livro inaugurou uma linha argumentativa que vai fazer muito sucesso na historiografia e na política brasileira: os crimes sem criminoso", comenta Santos.

O sucesso de Os Sertões virou alegria e tormento para Euclides da Cunha. Isto porque, de acordo com seu biógrafo, isso fez com que ele, transformado em personagem relevante no Brasil, "passasse o resto da vida tentando escrever uma outra obra com a mesma qualidade". "Mas ele fica devendo. E isso o atormenta", comenta.

Bernucci lembra ainda que é preciso reconhecer que Os Sertões também se apresenta como um livro importante na defesa de valores como os ideais democráticos e a preocupação ambiental. "Por fim, apesar das críticas que possam ser feitas, fica aqui a última pergunta: embora com algumas imperfeições, se Euclides não tivesse deixado esse magnífico legado histórico e literário para nós, preservando a memória de uma guerra absurda e cruel, quem poderia tê-lo feito?"


- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63820746


 

'Profundamente problemático': as reações de EUA e Europa à visita de chanceler russo e declarações de Lula


 Sergey Lavrov CRÉDITO,EPA   Legenda da foto,

Sergey Lavrov é o rosto da diplomacia de Vladimir Putin há anos


17 abril 2023

O governo brasileiro recebeu nesta segunda-feira (17/04) o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, considerado uma das figuras mais controversas da política internacional atual.

Esta semana, Lavrov está fazendo um giro por Brasil, Venezuela, Nicarágua e Cuba. Os três últimos países são notoriamente críticos aos Estados Unidos — a grande potência rival da Rússia.

Lavrov veio ao Brasil em um momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala em tentar dar início a um diálogo de paz entre Ucrânia e Rússia. Em viagem à China, na semana passada, Lula deu declarações em tom crítico aos EUA.

"É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz pra que a gente possa convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois" disse Lula em referência aos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymir Zelensky.

A fala do presidente se refere ao envio de armas por EUA e países europeus à Ucrânia. Esses países, porém, argumentam que estão apoiando a defesa ucraniana contra a agressão da Rússia, que invadiu o país no início de 2022.

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O governo americano reagiu duramente as falas de Lula nesta segunda-feira. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Lula “está reproduzindo propaganda russa e chinesa”.

"É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra", afirmou em conversa com jornalistas.

Já Peter Stano, porta-voz principal para Assuntos Externos da União Europeia, afirmou que a Rússia é a "única responsável" pela escada de violência no Leste Europeu.

"O fato número um é que a Rússia – e somente a Rússia – é responsável. Ela gerou provocações e agressões ilegítimas contra a Ucrânia. Não há questionamentos sobre quem é o agressor e quem é a vítima", afirmou.

Lula caminha ao lado do presidente chinês
CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto,
Na China, Lula defendeu criação de grupo para mediar paz entre Rússia e Ucrânia

Lavrov: Brasil e Rússia têm 'abordagens similares'
Em sua passagem por Brasília, Lavrov teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio Itamaraty, e depois um encontro reservado com Lula no Palácio do Alvorada.

Em pronunciamento ao lado do chanceler brasileiro, afirmou que Brasil e Rússia têm "abordagens similares" em relação a questões globais.

"Falamos sobre várias questões relevantes da agenda internacional e regional, ressaltando que as abordagens de Brasil e Rússia de questões acontecendo hoje no mundo são similares", disse Lavrov.

"Os dois países estão unidos pelo desejo de contribuir para uma ordem mundial mais democrática e mais policêntrica, baseada no princípio fundamental da soberania e da igualdade dos Estados", acrescentou.

Apesar da fala em prol da democracia, críticos de Putin acusam seu governo de autoritarismo e de perseguir opositores, como Vladimir Kara-Murza, que acaba de ser condenado a 25 anos de prisão, acusa de traição e divulgação de informações falsas relacionadas à guerra na Ucrânia.

Mauro Vieira, por sua vez, usou o pronunciamento ao lado de Lavrov para reafirmar o compromisso do Brasil com a proposta de criar um grupo da paz com países não alinhados a qualquer lado do conflito, buscando um acordo entre Ucrânia e Rússia.

"Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo imediato, de respeito ao direito humanitário, de uma solução negociada para uma paz duradoura", disse Vieira.

Quem é Lavrov?
Por quase 20 anos, Sergey Lavrov tem sido o rosto internacional da Rússia.

Na arena global, ele é a pessoa que mais aparece defendendo a política externa de Vladimir Putin — inclusive a invasão da Ucrânia por tropas russas.

Lavrov é conhecido por seu estilo incisivo e pouco diplomático na defesa dos interesses russos.

Nascido em 21 de março de 1950 em Moscou, Lavrov tem 72 anos e é o ministro das Relações Exteriores que está há mais tempo no cargo desde a queda da União Soviética. Ele assumiu o posto em 2004.

Formado pelo Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou, ele trabalhou como diplomata soviético no Sri Lanka durante parte da Guerra Fria.

Depois de servir como primeiro secretário da embaixada soviética na ONU em Nova York de 1981 a 1988, ele permaneceu no Ministério das Relações Exteriores quando a União Soviética se desfez em 1991. Ele foi nomeado embaixador da Rússia na ONU três anos depois.

Além do russo, ele fala três idiomas: cingalês, inglês e francês.

Inicialmente, Lavrov era visto como um tecnocrata de boa oratória. No começo de seu mandato como ministro, a Rússia vivia um momento de esfriamento das tensões com o Ocidente.

Mas na última década, o perfil internacional da Rússia mudou — com conflitos cada vez mais constantes. Lavrov passou então a ser visto como um defensor contundente da política de Putin.

No ano passado, dias após o começo da guerra, ele disse que os Estados Unidos formaram uma coalizão de países europeus para resolver "a questão russa" da mesma forma que Adolf Hitler buscava uma "solução final" para erradicar judeus da Europa.

Lavrov disse que os EUA usam a "mesma tática de Napoleão e Hitler" para tentar subjugar a Europa e destruir a Rússia.

No mês passado, ele despertou risadas em um plateia de diplomatas do G20 em um encontro na Índia, quando afirmou que a Rússia tenta "impedir uma guerra que foi lançada contra nós pela Ucrânia". Diante das risadas, ele se manteve sério.

Por vezes, os comentários de Lavrov têm repercussões para Putin.

No ano passado, ele disse em uma entrevista na Itália que "Hitler também tinha sangue judeu", ao ser questionado sobre o que ele queria dizer com "desnazificar a Ucrânia", quando o próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é judeu.

"Posso estar errado, mas Hitler também tinha sangue judeu. [Que Zelensky é judeu] significa absolutamente nada. Judeus sábios dizem que os antissemitas mais ardentes são geralmente judeus", disse ele, na ocasião.

Dias depois, Vladimir Putin pediu desculpas a Israel pelos comentários de Lavrov.

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