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terça-feira, 18 de abril de 2023

BBC News, Brasil: Os 120 anos de 'Os Sertões', apontado como primeiro livro-reportagem brasileiro



Os 120 anos de 'Os Sertões', apontado como primeiro livro-reportagem brasileiro
Edison Veiga
Bico de pena de Euclides da Cunha, publicado na década de 1890CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO
Legenda da foto,
Ilustração estilo bico de pena de Euclides da Cunha, publicado na década de 1890

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte." Talvez esta seja a frase mais lembrada quando se trata do livro 'Os Sertões', obra-prima escrita por Euclides da Cunha (1866-1909) e lançada há exatos 120 anos.

O livro, muitas vezes visto como uma epopeia da vida do sertanejo, numa luta diuturna contra as dificuldades impostas pela natureza e enfrentando ainda incompreensão daqueles que formam a elite nacional, é considerado o primeiro livro-reportagem brasileiro, posto que foi escrito como romance de não-ficção.

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Euclides da Cunha, um jornalista de formação militar, foi enviado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 1897 para cobrir a Guerra de Canudos, conflito armado ocorrido em 1896 e 1897 para encerrar a suposta contestação popular ao regime republicano que surgiu no interior da Bahia.

O convite para ser o correspondente de guerra do matutino paulistano foi feito pelo jornalista Júlio de Mesquita (1862-1927), proprietário do jornal. Antes, Euclides da Cunha havia publicado um artigo no periódico, chamado A Nossa Vendeia, no qual traçava um paralelo entre o movimento chefiado pelo líder messiânico Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897), mais conhecido como Antônio Conselheiro, no povoado de Belo Monte, terras onde antes havia um arraial chamado Canudos, com o movimento monarquista francês que pretendia derrubar a república, no fim do século 18.

Um texto redigido pela equipe do acervo do jornal O Estado de S. Paulo enfatiza o nascedouro da obra durante os meses em que Cunha atuou na cobertura especial do conflito. "É em Canudos que começa a escrever as primeiras notas de sua obra-prima 'Os Sertões', cujas primeiras amostras públicas aparecem no Estado, ainda em 1898, sob o título 'Excerto de Um Livro Inédito'", afirma o texto publicado pelo acervo do jornal.

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Segundo conta o biógrafo de Cunha, o diplomata, cientista político e historiador Luís Cláudio Villafañe Santos, o jornalista "já saiu de São Paulo [rumo à Bahia] com a intenção de escrever um livro". "O jornal havia prometido a ele que publicaria um livro, em forma de folhetim. Isso acabou não ocorrendo", comenta Santos, que no ano passado publicou a obra Euclides da Cunha - Uma Biografia.

Pioneirismo no gênero
Os Sertões seria escrito ao longo de cinco anos, de 1897 a 1902. "E, sim, se pode dizer que foi um pioneiro livro-reportagem porque tem muito de um livro que procura ser mais do que literatura, procura ser um livro de não-ficção. Uma não-ficção literária, um livro de jornalismo literário, para usar a expressão mais correta", afirma Santos.

Nesse sentido, Cunha vestiu a carapuça do jornalista que era. "No livro, está a ideia de que ele estava relatando fatos, ainda que o fizesse de forma literária", comenta o biógrafo.
Contudo, o interessante é notar que, ao longo do processo de depuração e escrita do livro, a própria visão de Euclides da Cunha sobre a ocorrência histórica parece ter mudado substancialmente. Se durante o conflito, quando ele reportava ao jornal O Estado de S. Paulo, sua visão era "oficialesca", na obra literária ele se coloca numa postura de denúncia da violência impetrada contra os sertanejos.

Para isso é preciso entender o contexto. Para atuar na cobertura, o jornalista resgatou sua patente militar — era primeiro-tenente, mas havia deixado de exercer — e assim foi que ele atuou e teve os acessos necessários ao trabalho. "O jornal o mandou como jornalista, mas ele também foi a Belo Monte como militar. Levou uniforme, teve ajudante de ordens e uma inserção dentro do comando militar", aponta Santos.

"Depois, a narrativa do livro acabou sendo imensamente diferente da narrativa de suas reportagens publicados ao longo da guerra", compara o biógrafo. "Antes, ele tinha uma visão pró-exército, oficialista, governista. E isso não se verifica quando ele escreveu o livro, cinco anos depois."

Para Santos, isso pode ter decorrido por conta da própria mudança de mentalidade da época. Àquela altura, já eram conhecidas as "muitas denúncias de todos os absurdos" cometidos durante as batalhas em Belo Monte.

Estudioso da obra de Euclides da Cunha reconhecido internacionalmente, o professor Leopoldo Bernucci, da Universidade da Califórnia em Davis, também concorda com a classificação pioneira de Os Sertões como livro-reportagem. Segundo ele, a obra pode ser definida "como um livro que absorve, como nenhum antes dele, um tipo de discurso que chamamos de reportagem".

"O discurso jornalístico é um entre tantos outros que compõem esta obra, sendo que o historiográfico é o que predomina, tanto pela intencionalidade do autor que o anuncia nas suas primeiras páginas como pela própria estrutura cronológica e interpretativa dos fatos", analisa Bernucci, autor de, entre outros, Discurso, Ciência e Controvérsia em Euclides da Cunha.

Ele ressalta que as "outras linguagens" que podem ser detectadas no livro são "a da Bíblia, da geologia, da antropologia, da geologia, do folclore, da meteorologia e das práticas militares".

"O jornal, a partir do século 19, já se comportava como o romance moderno em sua elaboração discursiva. Entravam nele o texto ficcional, o aviso publicitário, as declarações governamentais, comerciais e jurídicas, os relatórios militares, todos justapostos e ocupando um mesmo espaço cultural. Euclides se apropriou da estrutura multifacetada do jornal, fazendo coexistir vários tipos de discurso no seu livro", contextualiza o professor.

"Porém, diferentemente do que ocorre no jornal, as várias linguagens de Os Sertões acham-se organicamente articuladas. Tanto é assim que, pelo fato de os diversos tipos de discurso estarem tão imbricados nessa obra, torna-se praticamente impossível precisar onde termina a linguagem jornalística e onde tem início a linguagem historiográfica, por exemplo", completa ele.

Para Bernucci, "a dívida" que Euclides da Cunha tinha com os jornais da época era enorme, seja porque ele os utilizou como fonte de pesquisa, seja porque ele próprio atuou em diversos. "[Foi] um grande colaborador em conhecidos periódicos, como O Estado de S. Paulo, e os cariocas Jornal do Commercio, Kosmos, O Paiz", enumera. "Via-se confortavelmente nesse meio jornalístico."

"Os Sertões nasceu nas próprias reportagens que o então 'correspondente de guerra especial' do jornal O Estado de S. Paulo enviava àquela publicação, bem como nos telegramas que cobriram pormenorizadamente os dois últimos meses do conflito", acrescenta o publicitário e pesquisador independente Felipe Rissato, co-autor, ao lado de Bernucci, do livro À Margem da História - Euclides da Cunha.

De acordo com levantamento realizado por ele, a cobertura de Cunha constou de 31 edições do jornal — o jornalista teria enviado 64 telegramas à redação com seus relatos.

"Ele não era o único repórter de campo nas operações, assim como não foi o único a publicar um livro a respeito da Guerra de Canudos", ressalta Rissato. "Mas o jovem ex-militar, reformado no ano anterior, em 1896, tinha posição de destaque mesmo em outras folhas, que reproduziam suas reportagens. Além disso, apesar de seu livro aparecer somente em 1902, cinco anos após a guerra, quando fundiu as reportagens, os telegramas e as anotações imprescindíveis que fizera na caderneta que levava consigo para o livro, Euclides manteve na narrativa recursos jornalísticos, como a objetividade mesmo em descrições detalhadas."

"O pioneirismo da obra se dá por ser uma novidade para a época em relação à forma como foi escrita, pois mistura elementos jornalísticos e literários", diz a especialista em dramaturgia Ana Sampaio Machado, professora de ética em comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ao descrever detalhadamente a paisagem, as pessoas e os fatos sem romancear, prezando pela organização, se encaixa no gênero jornalístico, porém não pode ser classificado como tal, por sua extensão, pela escolha do vocabulário incomum e pelo estilo de escrita."

Sucesso repentino
Oficialmente não há uma data exata do lançamento da primeira edição de Os Sertões, mas Rissato aponta para a alta possibilidade de o livro ter saído do prelo em 2 de dezembro de 1902.

"A data exata é incerta, mas ficou como sendo 'oficial' a data da dedicatória mais antiga, 2 de dezembro, encontrada em um exemplar oferecido ao cunhado de Euclides, Octaviano", afirma o pesquisador. "No dia 3, já aparecia a primeira crítica, de José Verissimo, no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro."

O sucesso foi retumbante. Segundo o material publicado pelo acervo do Estadão, o livro foi "recebido com entusiasmo pelos críticos literários da época e a prime ira edição se esgotou em algumas semanas". No ano seguinte, Euclides da Cunha foi eleito como membro da Academia Brasileira de Letras. Ele também foi convidado a integrar e tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. "Costuma se dizer que ele foi dormir desconhecido e acordou famoso. E isso é parcialmente verdade", comenta o biógrafo Santos.

Para o biógrafo, esse sucesso incrível surpreendeu a todos, inclusive ao próprio autor.

Não demorou muito para o livro ser alçado ao panteão dos clássicos da língua portuguesa. "Há vários fatores que contribuem para que seja considerado uma obra canônica da literatura nacional", explica Bernucci. "Poderíamos enumerar alguns desses pontos dizendo o seguinte: um clássico é aquele livro que não somente se lê, mas que é relido em distintas épocas, consideração que faz ressaltar nele seu caráter imperecível e sua característica de artefato cultural duradouro, como as grandes pinturas. Outro fator: os clássicos trazem as marcas das leituras que precedem as nossas. Assim, não poderíamos deixar de encontrar em 'Os Sertões' os traços de muitos outros livros parecidos na cultura ocidental."

Ele ressalta ainda que o livro, ao longo dos 120 anos de sua trajetória, "vem se impondo também como obra que impactou outras culturalmente importantes". "Isto é, como livro fundamental e fundador na tradição dos debates sobre a nossa nacionalidade", aponta.

Para o professor, o livro ainda "atinge uma dimensão universal para que possa ser chamado de clássico". "O livro toca os nossos corações tanto pelas descrições e narrações dos fatos geograficamente localizados quanto por aquelas que, desbordando da esfera local, passam ao mundo dos sentimentos universais, como por exemplo o da solidariedade que todos devemos ter uns com os outros como povo de uma mesma nação", diz.

"A Guerra de Canudos representou o contrário desta noção, porque se configurou como uma verdadeira guerra civil, em que como é típico, indivíduos de um mesmo país lutam uns contra os outros, irmãos contra irmãos destruindo-se", comenta Bernucci.

"Creio também que toda grande obra literária traz algo que é a consciência de sua própria linguagem. A linguagem euclidiana sinaliza direta e indiretamente as pulsações de sua presença e o valor de sua importância, não só como veículo de mensagens, mas também como instrumento ou meio de transformá-las e defini-las", acrescenta o especialista. "Esta definição, grosso modo, serviria para demonstrar a diferença entre o discurso tipicamente jornalístico de fins de século, com o qual Euclides estava tão bem familiarizado, e a apropriação transformadora que o autor faz desse mesmo discurso, recarregando-o de qualidades estéticas."

Machado situa a importância da obra no fato de que ela "trata de questões relevantes não apenas para a época em que se deram os acontecimentos relatados, mas para os nossos dias". "A Guerra de Canudos foi a última revolta contra a República. Uma República, então, que se consolidou a partir de uma postura de indiferença, incompreensão, desprezo e violência dirigida aos pobres", afirma ela.

"Euclides da Cunha foi para Canudos com as ideias propagadas nas grandes cidades. Mas quais eram essas ideias? Fake news", diz Machado. Ela ressalta que o que se propagava era que os jagunços — "o próprio termo já é pejorativo", frisa — estavam armados e "recebiam apoio de potências estrangeiras que tinham interesse em destruir a República".

"Contudo, as armas que os camponeses tinham foram as que eles próprios tomaram dos soldados vencidos nas primeiras campanhas", contexualiza Machado.

Ela recorda que "chegou-se até mesmo a se dizer que os moradores de Canudos, católicos monarquistas, eram comunistas". "A obra de Euclides da Cunha tem enorme força narrativa para o contexto atual. Seria ótimo se mais pessoas se sensibilizassem não apenas com a descrição do massacre de Canudos, mas com os sofrimentos e mortes diárias que ocorrem pela indiferença e ódio em nossa sociedade", compara. "A situação de Canudos persiste, mas está espalhada e devidamente disfarçada."
Já Rissato situa a importância de Os Sertões no fato de que a obra deu a Euclides da Cunha um status de representante da elite intelectual do Brasil. "A guerra ocorrida no sertão baiano passou para a história brasileira como o primeiro grande acontecimento com cobertura diária na imprensa, garantindo ao evento um caráter de interesse então ainda não visto no país", pontua.

"A obra de Euclides, por não ser unicamente jornalística, nem mesmo unicamente literária, recebendo de há muito o caráter de 'inclassificável', reúne estudos de geologia, etnografia, sociologia, antropologia e uma série de ciências, que permitiram ao autor, no ano seguinte à sua publicação, o ingresso na Academia Brasileira de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, colocando-o em posição de destaque da nossa intelectualidade em todos os tempos."

Ciência repleta de falhas e racismo
Mas, segundo o biógrafo Santos, foi essa mistura de conhecimentos que fez com que o autor se perdesse na parte científica do trabalho. "Ele foi muito ambicioso e tentou atuar em várias frentes: geologia, geografia, botânica, filosofia das religiões, filosofia em geral, coisas militares e história também", afirma. "Ele criou uma historiografia sobre Belo Monte que vai durar muitíssimo."

Os Sertões foi dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. "Suas chaves de leitura são o que fazem do livro um tremendo sucesso. A primeira é que o próprio autor dizia que 'Os Sertões' era o consórcio entre a ciência e a arte, a ideia de que a literatura não era só literatura, era também ciência. Ele propunha isso e, no início, a obra foi vista assim, não só como um livro literário, mas como um livro que estava contando a realidade", diz Santos. "Ele se orgulhava de ter escrito um livro assim, dizia que era a nova literatura, que seria assim a literatura dali por diante."

Segundo o biógrafo, essa ideia um tanto enciclopédica de Euclides da Cunha baseava-se no fato de que a sociedade passou a querer uma explicação para o ocorrido em Canudos. "E Os Sertões, como um livro de ciências entre aspas, produz uma explicação que vai encontrar muito respaldo", conta. "E é curiosa porque acaba tirando a responsabilidade."

Isto porque uma das linhas de argumentação do livro é que aquela sociedade, por ser "muito atrasada e isolada" na história, teria um encontro inevitável "com o século 20". E, nesse encontro, a sociedade "atrasada" iria se perder. Segundo Santos, era um meio de "retirar a culpa" pelo massacre.

Ao longo do tempo, contudo, a faceta "científica" do livro acabou sendo derrubada, justamente porque notou-se que a argumentação acadêmica do mesmo não se sustentava. "A face literária é extraordinária, insubstituível na bibliografia brasileira. Já a parte científica, embora extremamente ambiciosa, demonstrou ter problemas graves", pondera o biógrafo.

Engenheiro militar por formação, Euclides da Cunha tinha certos conhecimentos científicos, mas seguramente muito menores do que a ambição do livro pretendia abarcar. "Ele fala de geologia, um assunto que entendia pouco. Fala de botânica, que ele não entendia nada. Fala de história, um assunto em que ele tinha visões complicadas. De antropologia, em que também tinha visões muito complicadas. Fala de arte militar, um ponto onde ele tinha um lugar de fala por falar disso como militar", enumera Santos. "Ele ataca em todas as áreas, faz um livro que tenta ser enciclopédico."

"Aí tem um problema grave: como ele avança por muitas áreas do conhecimento, acaba sendo muito pouco profundo e até frágil", analisa. "Suas investidas pouco a pouco vão sendo postas em questão."

Logo após o lançamento, por exemplo, especialistas encontraram erros primários de botânica na obra. E a própria descrição de Belo Monte, segundo o biógrafo Santos, "era fruto da imaginação" do autor, sem base historiográfica.

"A ciência presente em Os Sertões vai caindo, por conta de muitas falhas", aponta Santos.

Nas áreas de sociologia e antropologia, contudo, estão os aspectos mais condenáveis. "A parte antropológica é, cientificamente, hoje em dia muito mais do que ruim. É inaceitável", afirma Santos.

Residem nesses pontos a questão sobre a visão racista da obra. "A antropologia de Euclides é baseada numa leitura racialista, ou seja, uma ideia muito antiga que já estava em alguma medida até naquele momento já sendo superada", comenta Santos.

A obra basilar dessa ideia, Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas, havia sido publicada pelo filósofo francês Arthur de Gobineau (1816-1882) quase cinco décadas antes. "Então já era uma visão complicada naquele momento", pontua Santos.

"Portanto, eu não concordo que dizer que ele era racista é um anacronismo. Anacronismo é você atribuir ao personagem passado ideias que ele não poderia ter naquele momento, mas naquele momento existiam outras possibilidades [de interpretação do mundo]", comenta o biógrafo.

Para ele, a segunda parte do livro, 'O Homem', é "um terror se lido hoje em dia". "Precisamos dar um desconto pelo fato de que essas visões estavam, na época, mais próximas de uma visão aceitável. Eram aceitáveis em grande medida, mas deve-se dar a justa medida. Isso não quer dizer que, por viver naquele momento, ele necessariamente teria de ter essa visão. Havia outras visões disponíveis que ele poderia ter usado para iluminar as ideias dele, mas ele escolheu essa. Curiosamente, ele escolheu essa", diz.

Bernucci, por sua vez, acredita que leituras anacrônicas "prejudicam enormemente esta questão tão delicada". "'Racista', quando se aplica à visão que Euclides tinha das raças, seria uma palavra fácil para quem não se toma ao trabalho de se debruçar como eu e alguns de meus colegas com a vista cansada dos anos de pesquisa sobre o autor para ler a sua obra em contexto histórico, em conjunto e com profundidade como ela deve ser lida", pondera.

"Acredito que as minhas leituras sempre foram justas e imparciais. A compreensão que Euclides tentava ter sobre o papel das raças em nossa sociedade de maneira particular, e também de modo mais geral, está marcada por teorias raciais vindas da Europa na sua época. Nunca fui, e não é esta a ocasião em que deveria dissimular tal postura, um admirador sem reservas de Euclides da Cunha", acrescenta. "Mas reconheço sempre nele um temperamento prodigiosamente dotado de energia mental e física para dar ao nosso país um impulso capaz de despertá-lo do obscuro remanso em que viviam as pessoas dos seus dias."

O professor recomenda que Os Sertões seja um livro lido "com as lentes do século 19", o mesmo que "produziu grande parte das teorias raciais que o autor utilizou". "As teorias sobre a raça negra se embatem com aquilo que Euclides, na prática, observava e sentia, já que ele nunca foi um racista", argumenta.

Para Machado, Euclides da Cunha "era um homem que partilhava as ideias predominantes de seu tempo, e tais ideias são racistas". "Era uma época dominada pelo pensamento positivista, que acreditava no progresso redentor da ciência, com teorias que se colocavam contra a miscigenação e apregoavam que as condições climáticas de um lugar ou físicas e psicológicas de sua população eram impeditivas ao progresso", comenta ela.

"Chegou-se até mesmo a desenterrar o corpo de Antônio Conselheiro e enviar sua cabeça para ser estudada à luz dessas teorias. Estamos olhando para esse homem com a distância de mais de um século. As gerações futuras também nos julgarão sob uma perspectiva diferente da nossa e provavelmente perceberão ideias inadmissíveis. É muito difícil perceber os vieses de nossas crenças, uma vez que estamos imersos na sociedade cuja forma de pensar herdamos e ajudamos a construir."

"Euclides era um homem de seu tempo. Lia, estudava, refletia e pensava de acordo com as correntes científicas em voga. Ele não foi o único a se constatar que defendia teorias posteriormente caídas em relação à mestiçagem dos povos, mas é preciso buscar estar inserido em seu meio para formular qualquer afirmação ou julgamento", acredita Rissato. "Se a crítica for ponderada a partir desse prisma, será mais feliz e menos simplista."

"O livro nasceu como de ciência e arte, mas hoje é um livro só de literatura. Toda a parte científica de 'Os Sertões' não se sustenta minimamente. E a parte antropológica e sociológica e absolutamente inaceitável", diz Santos. "Isso não tira o mérito do livro hoje em dia. É um livro que não pode ser lido de maneira alguma como livro de ciência mas se sustenta muito como literatura. Continua sendo uma obra extraordinária, uma das maiores da literatura brasileira."

Um autor e múltiplas visões
O biógrafo Santos comenta que, nos últimos anos, a leitura sobre a obra de Euclides da Cunha evoluiu bastante. "Em minha biografia eu recolho um pouco dessas novas visões, especialmente sobre Os Sertões", diz.

Ele diz que um mito comum é que o autor tenha se horrorizado e denunciado o massacre de Canudos quando chegou lá, a serviço do jornal O Estado de S. Paulo. "Não foi nada disso. As reportagens que ele mandou da Bahia são do Euclides que apoia praticamente toda a campanha militar, partilha a visão de que aquilo poderia ter sido um levante monarquista", comenta Santos.

"Ele foi um jornalista totalmente enquadrado ao que era a visão daquele momento, que ele tinha… Essa imagem de que a rebelião em Belo Monte era uma rebelião monarquista, uma nova Vendeia [insurreição contra a Revolução Francesa, em 1793]", ressalta o biógrafo. "Em suas reportagens, ele vende essa ideia da revolta monarquista como uma ameaça à República."

A mudança de postura de Euclides da Cunha ocorreria já em São Paulo, nos anos seguintes, enquanto ele escrevia Os Sertões em uma casa em São José do Rio Pardo, no interior do Estado.

Santos lembra que o primeiro título provisório dado por Cunha para sua obra foi A Nova Vendeia, o que indica que, no princípio, ele ainda insistia nessa versão da história. "Mas nos cinco anos seguintes, a visão sobre o que aconteceu na Bahia, não só dele, mudou muito. Aquela visão monolítica da imprensa de que havia ocorrido um atentado contra a República, isso caiu por terra", contextualiza.

"A opinião pública mudou, com uma série de denúncias acerca dos horrores da guerra e da atuação do exército", acrescenta Santos.

Para o biógrafo, o próprio uso do termo Canudos, adotado por Euclides da Cunha e, de certa forma, consagrado a partir de sua obra, é um indicativo de tentar perpetuar a "história do vencedor".

Isto porque Canudos reforça o nome anterior do arraial, uma fazenda de propriedade privada onde surgiu um povoamento. Naquela época, o povoado fundado por Conselheiro era chamado de Belo Monte. Usar o termo Canudos, como acabou consagrado durante a guerra, era uma maneira de deslegitimar a própria ocupação que ali havia, no entendimento do biógrafo.

"No processo de trabalho do livro, Euclides adaptou sua visão à mudança de visão que já tinha ocorrido na sociedade brasileira de maneira geral. Ele reconhece que a ideia do massacre, aquilo tudo, havia sido um fato absurdo", diz Santos.

"Euclides não apresenta culpado. Ele relata as barbaridades mas não dá nome aos bois. Ele denuncia um crime, Os Sertões é a denúncia de um crime, mas curiosamente ele denuncia um crime sem responsáveis", argumenta o biógrafo.

A obra acaba "jogando a culpa" do ocorrido sobre Antônio Conselheiro, o líder messiânico. Cunha acaba recriando uma figura literária, conferindo uma personalidade própria para Conselheiro, apresentando-o como um desequilibrado, louco. "Assim, se houve um culpado, teria sido Conselheiro, que teria arrastado aquelas pessoas à loucura. Mas nem ele poderia ser culpado, porque ele também estava louco", explica Santos. "E isso funcionou muito bem."

Para o biógrafo, essa narrativa não só foi bem aceita pela sociedade brasileira como também contribuiu para "aliviar a culpa".

"O livro inaugurou uma linha argumentativa que vai fazer muito sucesso na historiografia e na política brasileira: os crimes sem criminoso", comenta Santos.

O sucesso de Os Sertões virou alegria e tormento para Euclides da Cunha. Isto porque, de acordo com seu biógrafo, isso fez com que ele, transformado em personagem relevante no Brasil, "passasse o resto da vida tentando escrever uma outra obra com a mesma qualidade". "Mas ele fica devendo. E isso o atormenta", comenta.

Bernucci lembra ainda que é preciso reconhecer que Os Sertões também se apresenta como um livro importante na defesa de valores como os ideais democráticos e a preocupação ambiental. "Por fim, apesar das críticas que possam ser feitas, fica aqui a última pergunta: embora com algumas imperfeições, se Euclides não tivesse deixado esse magnífico legado histórico e literário para nós, preservando a memória de uma guerra absurda e cruel, quem poderia tê-lo feito?"


- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63820746


 

'Profundamente problemático': as reações de EUA e Europa à visita de chanceler russo e declarações de Lula


 Sergey Lavrov CRÉDITO,EPA   Legenda da foto,

Sergey Lavrov é o rosto da diplomacia de Vladimir Putin há anos


17 abril 2023

O governo brasileiro recebeu nesta segunda-feira (17/04) o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, considerado uma das figuras mais controversas da política internacional atual.

Esta semana, Lavrov está fazendo um giro por Brasil, Venezuela, Nicarágua e Cuba. Os três últimos países são notoriamente críticos aos Estados Unidos — a grande potência rival da Rússia.

Lavrov veio ao Brasil em um momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala em tentar dar início a um diálogo de paz entre Ucrânia e Rússia. Em viagem à China, na semana passada, Lula deu declarações em tom crítico aos EUA.

"É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz pra que a gente possa convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois" disse Lula em referência aos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymir Zelensky.

A fala do presidente se refere ao envio de armas por EUA e países europeus à Ucrânia. Esses países, porém, argumentam que estão apoiando a defesa ucraniana contra a agressão da Rússia, que invadiu o país no início de 2022.

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O governo americano reagiu duramente as falas de Lula nesta segunda-feira. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Lula “está reproduzindo propaganda russa e chinesa”.

"É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra", afirmou em conversa com jornalistas.

Já Peter Stano, porta-voz principal para Assuntos Externos da União Europeia, afirmou que a Rússia é a "única responsável" pela escada de violência no Leste Europeu.

"O fato número um é que a Rússia – e somente a Rússia – é responsável. Ela gerou provocações e agressões ilegítimas contra a Ucrânia. Não há questionamentos sobre quem é o agressor e quem é a vítima", afirmou.

Lula caminha ao lado do presidente chinês
CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto,
Na China, Lula defendeu criação de grupo para mediar paz entre Rússia e Ucrânia

Lavrov: Brasil e Rússia têm 'abordagens similares'
Em sua passagem por Brasília, Lavrov teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio Itamaraty, e depois um encontro reservado com Lula no Palácio do Alvorada.

Em pronunciamento ao lado do chanceler brasileiro, afirmou que Brasil e Rússia têm "abordagens similares" em relação a questões globais.

"Falamos sobre várias questões relevantes da agenda internacional e regional, ressaltando que as abordagens de Brasil e Rússia de questões acontecendo hoje no mundo são similares", disse Lavrov.

"Os dois países estão unidos pelo desejo de contribuir para uma ordem mundial mais democrática e mais policêntrica, baseada no princípio fundamental da soberania e da igualdade dos Estados", acrescentou.

Apesar da fala em prol da democracia, críticos de Putin acusam seu governo de autoritarismo e de perseguir opositores, como Vladimir Kara-Murza, que acaba de ser condenado a 25 anos de prisão, acusa de traição e divulgação de informações falsas relacionadas à guerra na Ucrânia.

Mauro Vieira, por sua vez, usou o pronunciamento ao lado de Lavrov para reafirmar o compromisso do Brasil com a proposta de criar um grupo da paz com países não alinhados a qualquer lado do conflito, buscando um acordo entre Ucrânia e Rússia.

"Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo imediato, de respeito ao direito humanitário, de uma solução negociada para uma paz duradoura", disse Vieira.

Quem é Lavrov?
Por quase 20 anos, Sergey Lavrov tem sido o rosto internacional da Rússia.

Na arena global, ele é a pessoa que mais aparece defendendo a política externa de Vladimir Putin — inclusive a invasão da Ucrânia por tropas russas.

Lavrov é conhecido por seu estilo incisivo e pouco diplomático na defesa dos interesses russos.

Nascido em 21 de março de 1950 em Moscou, Lavrov tem 72 anos e é o ministro das Relações Exteriores que está há mais tempo no cargo desde a queda da União Soviética. Ele assumiu o posto em 2004.

Formado pelo Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou, ele trabalhou como diplomata soviético no Sri Lanka durante parte da Guerra Fria.

Depois de servir como primeiro secretário da embaixada soviética na ONU em Nova York de 1981 a 1988, ele permaneceu no Ministério das Relações Exteriores quando a União Soviética se desfez em 1991. Ele foi nomeado embaixador da Rússia na ONU três anos depois.

Além do russo, ele fala três idiomas: cingalês, inglês e francês.

Inicialmente, Lavrov era visto como um tecnocrata de boa oratória. No começo de seu mandato como ministro, a Rússia vivia um momento de esfriamento das tensões com o Ocidente.

Mas na última década, o perfil internacional da Rússia mudou — com conflitos cada vez mais constantes. Lavrov passou então a ser visto como um defensor contundente da política de Putin.

No ano passado, dias após o começo da guerra, ele disse que os Estados Unidos formaram uma coalizão de países europeus para resolver "a questão russa" da mesma forma que Adolf Hitler buscava uma "solução final" para erradicar judeus da Europa.

Lavrov disse que os EUA usam a "mesma tática de Napoleão e Hitler" para tentar subjugar a Europa e destruir a Rússia.

No mês passado, ele despertou risadas em um plateia de diplomatas do G20 em um encontro na Índia, quando afirmou que a Rússia tenta "impedir uma guerra que foi lançada contra nós pela Ucrânia". Diante das risadas, ele se manteve sério.

Por vezes, os comentários de Lavrov têm repercussões para Putin.

No ano passado, ele disse em uma entrevista na Itália que "Hitler também tinha sangue judeu", ao ser questionado sobre o que ele queria dizer com "desnazificar a Ucrânia", quando o próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é judeu.

"Posso estar errado, mas Hitler também tinha sangue judeu. [Que Zelensky é judeu] significa absolutamente nada. Judeus sábios dizem que os antissemitas mais ardentes são geralmente judeus", disse ele, na ocasião.

Dias depois, Vladimir Putin pediu desculpas a Israel pelos comentários de Lavrov.

 Direitos Reservados:https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxr0r51rpqdo

Homens Que Marcaram O Século XX: Ho Chi Minh, Líder político vietnamita.


 Ho Chi Minh, Líder político vietnamita.

Ao lado do estrategista Vo Nguyen Giap, comandou seus compatriotas na luta pela independência do colonialismo francês; pela manutenção das fronteiras, contra os chineses e pela reunificação do Vietnam, contra os EUA.


Além de proclamar a independência de seu país, em 1945, e de procurar preservar a sua integridade política, Ho Chi Minh chamou atenção do mundo sobre as atrocidades cometidas pelos norte–americanos, numa guerra suja, que sequer foi declarada, contra um povo pobre que visava apenas manter sua liberdade e uma existência digna no lugar em que vivia.


Ainda que não obtivesse apoio material, adquiriu um respeito moral indispensável para enfrentar três grandes potências mundiais, levando, por fim, as forças armadas norte–americanas a uma humilhante derrota.


Ho Chi Minh – Vida

Ho Chi Minh (“aquele que ilumina”), nasceu em 1890 numa pequena aldeia vietnamita, filho de um professor rural.

Tornou-se um dos mais importantes e lendários líderes nacionalistas e revolucionários do mundo do após-guerra.

Viajou muito jovem como marinheiro e tornou-se socialista quando viveu em Paris, entre 1917 e 1923.

Quando ocorreu as Conferências de Versalhes, em 1919, para fixar um novo mapa mundial, o jovem Ho Chi Minh (então chamado de Nguyen Ai quoc, o “patriota”), solicitou aos negociadores europeus que fosse dado ao Vietnã um estatuto autônomo. Ninguém lhe deu resposta, mas Ho Chi Minh tornou-se um herói para o seu povo.


Em 1930 ele fundou o Partido Comunista Indochinês e seu sucessor, o Viet-mihn (Liga da Independência do Vietnã), em 1941, para resistir à ocupação japonesa. Foi preso na China por atividade subversiva e escreveu na prisão os “Diários da Prisão”, em chinês clássico, uma série de poemas curtos, onde enalteceu a luta pela independência.


Com seus companheiros mais próximos, Pahm Van Dong e Vo Nguyen Giap, lançou-se numa guerra de guerrilhas contra os japoneses, obedecendo à estratégia de Mao Tse Tung de uma “guerra de longa duração”.


Finalmente, em 2 de setembro de 1945, eles ocupam Hanói (a capital do norte) e Ho Chi Minh proclamou a independência do Vietnã.

Mas os franceses não aceitaram.

O Gen. Leclerc, a mando do Gen. De Gaulle, recebeu ordesn de reconquistar todo o norte do país, nas mãos dos comunistas de Ho Chi Minh. Isso irá jogar a França na sua primeira guerra colonial depois de 1945, levando-a a derrota na batalha de Diem Biem Phu, em 1954, quando as forças do Viet-minh, comandadas por Giap, cercam e levam os franceses à rendição. Depois de 8 anos, encerrou-se assim a primeira Guerra da Indochina.


Ho Chi Minh foi um dos proeminentes líderes revolucionários comunistas vietnamitas, que lutaram as forças coloniais para a libertação do povo vietnamita.


Sua contribuição para a luta comum para a paz, a independência nacional, da democracia e do progresso social, têm sido imensos.


Criada na tradição confucionista, Minh viajou por todo o mundo, visitar várias cidades e lugares.


Transformou-o como uma pessoa e em forma de sua carreira política. Mais tarde, ele tornou-se o primeiro-ministro (1945-1955) e presidente (1945-1969) da República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte).


Ele desempenhou um papel importante na fundação da República Democrática do Vietnã, em 1945, o Exército Popular do Vietname (PAVN) e os vietcongues (NLF ou VC) durante a Guerra do Vietnã. Com suas idéias revolucionárias e proposição de libertação, Minh liderou o movimento de independência Viet Minh a partir de 1941, eventualmente formando a República Democrática sob regime comunista do Vietnã em 1945. Mesmo depois de deixar a posição de poder, Minh continuou a permanecer uma das pessoas-chave da Vietnam, um líder muito venerado que lutou por um Vietnam unida e comunista.


Infância

Ho Chi Minh nasceu como Nguyen Sinh Cung para Nguyen Sinh Sac. Seu pai, Sinh Sac era um estudioso de Confúcio e professor, que passou a se tornar um magistrado imperial de um pequeno distrito, Binh Khe mas foi demitido da mesma. Jovem Nyugen tinha três irmãos – uma irmã e dois irmãos, dos quais um morreu na infância.


Inicialmente ensinado por seu pai, o primeiro professor formais de Nguyen foi Vuong Thuc Do. Logo, Nyugen domina a arte da escrita chinesa junto com a escrita vietnamita.


De acordo com a tradição confucionista, seu pai lhe deu um novo nome, Nguyen Tat Thanh (realizado), quando ele tinha dez anos de idade.


Durante seus primeiros anos, matriculou-se Nyugen no liceu em Hue para atingir a educação francesa. Enquanto em Hue, Nguyen apoiado demonstração anti-imposto de camponeses pobres que ameaçavam seus estudos.


Sair da escola, Nyugen esperava ir para o estrangeiro. Sua primeira parada foi no Thanh School Duc in Phan Thiet para cerca de seis meses, após o que ele viajou para Sai Gon.


Suas viagens

Nyugen assumiu o cargo de ajudante de cozinha no vapor francês, Amirale de Latouche-Tréville. Ao chegar a França, em Dezembro de 1911, tentou a sorte de obter a admissão na Escola de Administração Colonial francês, mas em vão. Desanimado, ele decidiu continuar a sua viagem e sustentado seu trabalho em navios até 1917, visitando muitos países durante o período.


De 1912 a 1913, Nyugen colocar-se em Nova York e Boston. Retomando biscates para sobreviver, era em que os EUA Nyugen encontraram pela primeira vez com os nacionalistas coreanos que moldaram boa parte de sua visão política.


Entre 1913 e 1919, Nyugen ficado em várias cidades em todo o Reino Unido, tendo-se trabalhos braçais como garçom, padeiro, cozinheiro chefe de pastelaria e assim por diante.


Foi durante a sua estadia em França a partir de 1919 até 1923 que Nyugen levou para a política a sério. Seu amigo Marcel Cachin, camarada do Partido Socialista ajudou no processo.


Juntando-se ao grupo nacionalista vietnamita Nguyen Ai Quoc, Nyugen lutou pelos direitos civis do povo vietnamita. Eles até mesmo levou o assunto para as negociações de paz de Versalhes, mas sem muito sucesso. O fracasso inflamado em Nyugen o espírito de lutar e, em nenhum momento, ele se tornou um dos expoentes do movimento anti-colonial no Vietnã.


Nyugen desenvolveu suas habilidades de escrita e começou a escrever artigos e contos. Ele liderou o grupo nacionalista vietnamita e tornou-se o membro fundador do Partido Comunista Français (FCP).


Nyugen partiu para Moscou, em 1923, para obter-se matriculou na Universidade Comunista dos Trabalhadores do Oriente. Enquanto isso, para se sustentar, ele pegou um emprego no Comintern. No ano seguinte, Nyugen participou do V Congresso Internacional Comunista, cargo que mudou-se para Cantão, China.


Em 1925-1926, Nyugen estava profundamente envolvido com a organização de Educação dos Jovens Classes e palestras jovens revolucionários vietnamitas que vivem em Canton na Academia Militar Whampoa.


Em abril de 1927, Nyugen começou sua jornada em direção a sudeste da Ásia, parando sobre em várias cidades, incluindo Moscou, Paris, Bruxelas, Berlim, Suíça e Itália, finalmente, chegar a Bangkok, na Tailândia, em Julho de 1928.


Ele também viajou para a Índia e, mais tarde Shanghai em 1929. Em 1930, Nyugen organizou uma reunião com os representantes dos dois partidos comunistas vietnamitas em Hong Kong, a fim de fundi-los em uma organização unificada, Partido Comunista do Vietnã.


Para isso, Nyugen foi preso em Hong Kong em 1931.The desassossego causado a partir da ação e as pressões franceses forçou os britânicos a anunciar a sua falsa morte, em 1932. Depois disso, Nyugen foi cautelosamente lançado em 1933.


Ele se mudou para Milão, onde ele pegou um emprego em um restaurante, depois que ele retirou-se para a União Soviética. Foi durante este período que Nyugen perdeu sua posição no Comintern e, com isso, a sua posição entre os camaradas vietnamitas.


Quando tiverem entrada na China, Nyugen começou a servir como um conselheiro com as forças armadas chinesas comunistas. Foi em 1940 que Nyugen mudou seu nome para Cidade de Ho Chi Minh, ou seja, Ele que ilumina em vietnamita.


Movimento de Independência

Minh começou um movimento de independência Viet Minh em 1941. Com mais de 10 mil membros, conseguiu muitas ações militares bem sucedidas contra o francês de Vichy e ocupação japonesa do Vietnã durante a Segunda Guerra Mundial.


Em 1945, Minh fez um acordo com Archimedes Patti, um agente OSS. De acordo com ele, ele concordou em fornecer inteligência para os aliados em troca de ter uma linha de comunicação. Como resultado deste acordo, os membros do movimento de independência foram treinados por oficiais militares de OSS.


Em 1945, Minh foi eleito como o presidente do governo provisório após a Revolução de agosto. Utilizando a nova posição de poder, ele emitiu uma Proclamação da Independência da República Democrática do Vietnã.


Em 1946, quando Ho Chi Minh estava viajando fora do Vietnã, seus partymen preso cerca de 2500 os nacionalistas não comunistas, enquanto vários milhares foram obrigados a fugir. Depois disso, numerosos líderes e pessoas de partidos políticos rivais foram colocados na prisão ou no exílio, depois de um golpe fracassado contra o governo Vietminh.


Com Vietminh tomar o centro do palco, a existência de partidos políticos rivais foi proibido e por isso foi o governo local. Isto levou à formação da República Democrática do Vietnã.


República Democrática do Vietnã

Com a deixar o cargo de imperador Bao Dai em 2 de setembro de 1945, Minh ler a Declaração de Independência do Vietnã. No entanto, a violência de partidos rivais e as forças francesas levou à declaração da lei marcial do comandante general britânico Sir Douglas Gracey, que partidários Viet Minh respondeu a com uma greve geral.


Na sequência da entrada em massa de 200, 000 República da China Exército tropas, Minh finalmente cedeu à exigência de dissolução do Partido Comunista e da procura de uma eleição que levaria ao governo de coalizão.


Os chineses, no entanto, logo voltou para a China, como Minh assinou um acordo com os franceses que permitiu Vietnã para ser reconhecido como um estado autônomo na Federação da Indochina e da União Francesa.


A colaboração com as forças coloniais francesas, Vietminh suprimido todas as partes não-comunistas, mas não conseguiu garantir um acordo de paz com a França.


Bombardeando Haiphong, as forças francesas deixou muito claro que não tinha intenção de dar Vietnã o status de um estado autônomo. Em 19 de dezembro de 1946, Ho, declarou guerra contra os franceses, marcando o início da Guerra da Indochina.


A guerra que se estendeu por vários anos e o Vietminh destruiu sistematicamente toda infra-estrutura significativa. Finalmente, os dois rivais concordaram em negociar, mas os termos estabelecidos eram inaceitáveis para ambos, o que levou a mais de sete anos de guerra.


Enquanto isso, a União Soviética e China reconheceu o governo de Minh. China até concordou em treinar líderes Viet Minh e proporcionar-lhes suprimentos necessários para ganhar a guerra. Com a ajuda da China, Viet Minh foi finalmente capaz de esmagar as forças francesas e sair vitorioso.


Presidência

Na sequência dos Acordos de Genebra, República de Ho Chi Minh Democrática do Vietnã mudou-se para Hanói, onde se formou o governo do Vietnã do Norte, formando assim com sucesso um estado comunista liderada partido único. Enquanto isso, as forças anti-comunistas e pró-democracia se reagruparam no Sul.


A divisão do Vietnã em Norte e Sul levou ao movimento de massas. Embora os Estados Unidos propuseram um plano para a unificação do país e uma única eleição para o conjunto do Vietnã, a proposta foi devidamente rejeitado pelos norte-vietnamitas.


Situação no Vietnã do Norte piorou como as pessoas tiveram que deixar ir de seu direito de falar contra o governo. Qualquer pessoa que foi encontrado fazer tal foi presos ou executados.


Minh liderada governo então introduziu a ‘redução de aluguel’ e ‘programas de reforma agrária “, que teve como objetivo exterminar os inimigos de classe do governo. As vítimas dos programas eram ou tiro, ou decapitados ou claramente espancado até a morte. Tal como muitos como 500 mil norte-vietnamitas reportedly perderam a vida sob o governo.


Em 1959, nomeado Minh Le Duan para servir como o líder do partido de agir. No mesmo ano, o Vietnã do Norte invadiu o Laos. Embora Minh já não controlava o poder, ele, no entanto, manteve-se uma figura-chave no Vietnã através de todos.


Minh desempenhou um papel importante na negociação do acordo de paz em 1963 com o presidente sul-vietnamita, Diem. No entanto, o movimento era de não ajudam muito.


Em 1964, o Vietnã do Norte enfrentou um perigo maior do Vietnã do Sul como os EUA enviaram em mais e mais tropas para apoiar o Vietnã do Sul na guerra.


Foi somente em 1968 que os EUA e os negociadores vietnamitas começaram a discutir as formas de acabar com a guerra. No entanto, as negociações prorrogado até 1969 como concordar com um acordo mutuamente benéfico se tornou impossível. Enquanto isso, Minh exigiu suas forças para continuar a guerra no Vietnã do Sul até que se reencontrou.


Ho Chi Minh

Quem foi

Nascido em Annam 19 de Maio de 1890. Seu nome verdadeiro era Nguyen Tat Than, mas sempre viveu na clandestinidade, o obrigou a usar mais de uma centena de apelidos diferentes para escapar da perseguição policial. O nome de Ho Chi Minh significa iluminação, às vezes era Nguyen Ai Quoc chamada, O Patriota.


Ele era filho de um médico herbalista Nghe An que já lutam contra o colonialismo francês, que tinha invadido o Vietnã em 1860. Estudou em Hue e Saigon, até que em 1912 emigrou como garçom em um navio francês. Foi uma longa jornada de dois anos de porto em porto, até que chegou a Londres, onde trabalhou no Carlton Hotel por três anos.


De lá ele foi para Paris, onde trabalhou como retocador de fotografias. Ele se encontrou com Chou En Lai, Leon Blum, e Longuet Marcel Cachin (sobrinho de Karl Marx), entre outros líderes proeminentes do movimento operário internacional. Ele se juntou ao Partido Socialista francês, em que o Congresso Tours votou com a maioria que decidiu membro do Partido internacionalista à Internacional Comunista. Começou a escrever em L’Humanité, e em seguida, fundou o jornal El Paria, que iria escrever os líderes revolucionários dos países coloniais.


De Paris, ele se mudou para Moscou, onde participou em vários Congressos da Internacional Comunista. Mais tarde mudou-se para a China como um tradutor e assistente de Borodin, conselheiro Kuomintang nas suas relações com o Partido Comunista da China.


Encomendado pelo Internacional tornou-se parte de Huangpu Escola Militar, perto de Cantão, para ensinar as organizações comunistas de arte asiática da Guerra Revolucionária. O diretor era o coronel Chiang Kai-shek e do chefe do departamento político era Zhou Enlai. Na noite de 3 de Abril de 1927, quando Chaing Kai-shek traiu os comunistas com uma enorme matança, Ho Chi Minh conseguiu escapar e escondeu-se organizar a revolução na Birmânia, China, no Sião, da prisão para prisão, de tortura em tortura, promovendo greves, motins e revoltas armadas. Em 1930 veio o surgimento de Yen Bai, destacando a necessidade de um partido revolucionário capaz de conduzir a luta popular até a vitória.


Portanto, o mesmo ano em que fundou na cidade de Ho Chi Minh Thanh Nien Hong Kong ou do Partido Comunista do Vietnã, mas foi parado novamente.


No final dos anos trinta, Vietnã sofre uma grande mudança em sua situação, com a substituição do domínio dos franceses pelos japoneses, que ocuparam o país com 50 imperialistas. 000 mercenários.


Liberto da prisão pelos Aliados em 1940, voltou para casa 28 anos depois dele ter saído. Ele lutou na guerrilha durante os cinco anos da ocupação japonesa.


Para livrar o país da nova invasão, fundou o Doc Lap Vietnam Dong Minh Hoi, mais conhecido pelo Vietminh, ou Frente de Libertação do Vietnã. Ele também cria um exército de guerrilha liderada por Vo Nguyen Giap, um dos generais revolucionários prestígio a maioria do mundo.


Depois da guerra, e derrotou os planos imperialistas japoneses para a independência da região, mas não forneceu uma nova divisão do mundo, que no caso do Vietnã fez com que o nacionalista Kuomintang chinês ocuparam o norte, enquanto o Inglês faria o mesmo para o sul.


Fonte: br.geocities.com/www.thefamouspeople.com/ lmaxilab.com

https://www.portalsaofrancisco.com.br/biografias/ho-chi-minh


domingo, 2 de abril de 2023

Émile Zola Escritor francês


 Émile Zola

Escritor francês

Por Dilva Frazão

Émile Zola (1840-1902) foi um escritor e jornalista francês, o criador do romance "experimental" que desejava que sua obra modificasse a sociedade.


Zola foi o fundador e o principal autor do naturalismo literário, que levou a discrição realista ao extremo, principalmente na denúncia das condições de trabalho da classe operária no século XIX.


Émile-Edouard-Charles-Antoine Zola nasceu em Paris, França, no dia 2 de abril de 1840. Era filho do engenheiro italiano François Zola, e da francesa Émilie Aubert. Em 1843 mudou-se com a família para Aix-en-Provence, no sul da França, onde conheceu Paul Cézanne.


Em 1847, Zola fica órfão de pai e junto com a família passou por dificuldades financeiras. Em 1858 voltou com a mãe para Paris e no ano seguinte ingressou no liceu Saint-Louise, mas logo abandonou os estudos.


Carreira Literária

Influenciado pelo romantismo, Émile Zola começou a escrever contos e poemas para diversos jornais. Em 1862 começa a trabalhar no departamento de vendas da editora Hachette, onde publicou suas primeiras crônicas literárias. Nos artigos sobre política, não poupava críticas a Napoleão.


Em 1864 publicou uma coleção de novelas: “Les Contes à Ninon”. Em 1865 publica seu primeiro romance, de inspiração autobiográfica, “La Confession de Claude”. O autor atraiu a atenção da opinião pública e da polícia. Nessa época, conheceu Claude Manet, Camile Pissarro e Gustave Flaubert.


Em 1867, Zola publicou seu primeiro romance de sucesso, “Thérèse Raquin”, inaugurando o romance naturalista.  Em 1868, consciente da dificuldade de conferir um caráter científico a uma obra de ficção, Émile Zola prende-se à realidade.


Émile Zola torna-se conhecido em Paris como polemista do jornal republicano de Clemenceau. Em 1870, casou-se com Alexandrine Meley, mas foi com sua amante que teve dois filhos.


Os Rougon-Macquart

A partir de 1871, Zola trabalhou em um ciclo de vinte romances de cunho realista-naturalista. “Les Rougon-Macquart”, que tinha como subtítulo "História Natural e Social de uma Família no Segundo Império".


Zola traçou uma evolução genealógica dos Rougon-Macquart ao longo de cinco gerações, onde mais de mil personagens fazem parte de intrigas, invejas e ambições.  O resultado foi uma combinação de precisão histórica, riqueza dramática e um retrato acurado dos personagens.


A Taberna (1876) é o sétimo romance da série dos vinte volumes da obra Os Rougon-Macquart. Considerada uma das obras-primas de Zola, o romance traz um estudo psicológico profundo das consequências do alcoolismo e da pobreza na classe trabalhadora parisiense.


Na obra “Germinal” (1885), o décimo terceiro da série e o de maior destaque, Zola descreve com grande realismo as péssimas condições de vida dos trabalhadores de uma mina de carvão na França.


O último livro da série “Le Docteur Pascal” só foi publicado em 1893. Através dos romances naturalistas, Zola pretendia determinar as leis do comportamento humano e da evolução das sociedades.


Preocupado em escrever a realidade com exatidão absoluta em suas descrições, e sempre denunciando os grandes problemas e injustiças sociais de sua época, Émile Zola publicou mais dois conjuntos de romances “As Três Cidades” (1894-1898) e “Os Quatro Evangelhos” (1899-1902), em cujas intenções didáticas, manteve a violência quase visionária das obras anteriores.


Últimos anos e morte

Em 1898, Émile Zola se envolveu em um caso polêmico de grande repercussão ao defender, em público, o oficial judeu do Exército francês, o Capitão Alfred Dreyfus, num caso de traição montada pelos generais reacionários da França.


Em uma carta aberta ao presidente da República francesa, editada na primeira página do jornal L’Aurore intitulada "Eu Acuso", Zola defende a inocência de Dreyfus e critica a postura antissemita do alto escalão do Exército francês. Por ter acusado o comando militar de ter forjado as provas de acusação, foi perseguido condenado à prisão, tendo que se refugiar na Inglaterra.


Onze meses depois que o processo de Dreyfus foi reaberto e Dreyfus ser solto, Émile Zola e sua mulher retornaram à França.  


O casal morreu em circunstâncias misteriosas, asfixiados por monóxido de carbono enquanto dormiam. Surgiram especulações de que teriam bloqueado a chaminé de seu apartamento para matá-lo.


Posteriormente, a imagem de Zola foi exaltada e seus restos mortais foram transladados para o monumento dos heróis, o Pantheon.


Émile Zola faleceu em Paris, França, no dia 29 de setembro de 1902.


Frases de Émile Zola

"Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhe escapa.”

“O sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito.”

“Privado de uma paixão, o homem ficaria mutilado como se o privassem de um dos sentidos!”

“Se você me perguntar o que eu vim fazer neste mundo, eu lhe direi: eu vim para viver em voz alta.”

“Se você calar a verdade e enterrá-la, ela ficará por lá. Mas, pode ter certeza que, um dia, ela germinará.”


direitos autorais:https://www.ebiografia.com/emile_zola/

quarta-feira, 22 de março de 2023

PROCURANDO UM COLÉGIO COMPLETO ? UI PERFORMANCE NA VANGUARDA DO NOVO ENSINO MÉDIO ( Matrículas Abertas)


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A Apollo 11 foi lançada em 16 de julho de 1969. Quatro dias depois, marcou a história quando Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na superfície da Lua.



 Apollo 11

A Apollo 11 foi lançada em 16 de julho de 1969. Quatro dias depois, marcou a história quando Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na superfície da Lua.

A Apollo 11 foi uma expedição espacial realizada pela Nasa, a agência espacial americana, em julho de 1969. Essa expedição foi executada tendo em vista levar o homem à Lua pela primeira vez, e foi concluída com sucesso. A bordo do módulo de comando chamado Columbia, os astronautas Michael Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong foram enviados para nosso satélite natural, e os dois últimos pisaram em solo lunar.


Corrida espacial

A Apollo 11 fez parte do Programa Apollo, e esse programa só fez sentido dentro daquele contexto histórico específico, uma vez que foi aquele contexto que forneceu as condições políticas que possibilitaram que altíssimas somas de dinheiro fossem liberadas para o investimento no programa espacial e no envio do homem à Lua.


A Apollo 11 e todo o Programa Apollo foram um dos capítulos da corrida espacial, a disputa realizada entre Estados Unidos e União Soviética pela hegemonia da exploração do espaço. Essa disputa, na questão tecnológica e voltada para a exploração do espaço, era apenas uma de muitas áreas que soviéticos e norte-americanos disputavam entre si.


Isso acontecia porque as duas nações saíram como potências mundiais após a Segunda Guerra e apoiadas em ideologias distintas. Desde então, as duas potências começaram a disputar entre si qual delas era a maior do mundo. Essa disputa ficou conhecida como Guerra Fria. Com isso, foram desenvolvidos novos armamentos como forma de manifestar esse poderio.


Os estudos realizados na produção de mísseis foram estendidos para os programas espaciais de cada um dos países, e começaram a ser desenvolvidos estudos para a construção de satélites artificiais, a fim de enviá-los ao espaço.


A corrida espacial abrangeu de 1957 a 1975, e, já na década de 1950, norte-americanos e soviéticos disputaram quem enviaria o primeiro satélite artificial para orbitar a Terra. Os últimos saíram na frente nessa disputa espacial porque lançaram o primeiro satélite artificial em outubro de 1957, o Sputnik 1.


Os soviéticos também foram os primeiros a enviar um ser vivo ao espaço (a cadela Laika, na Sputnik 2), em novembro de 1957. Foram também os primeiros a enviar um ser humano ao espaço, e isso aconteceu quando Yuri Gagarin foi enviado em abril de 1961. Os soviéticos também foram os primeiros a lançar uma mulher ao espaço quando Valentina Tereshkova foi enviada em junho de 1963.


Os norte-americanos procuraram responder as inovações soviéticas e, em 1958, enviaram o Explorer 1, o primeiro satélite artificial norte-americano, e criaram a National Aeronautics and Space Administration (Nasa), a agência espacial do país. O primeiro homem enviado pelos norte-americanos ao espaço foi Alan Bartlett Shepard Jr., em 1961.


Como os Estados Unidos estavam atrás dos soviéticos nos grandes feitos da corrida espacial e como esse assunto tinha grande impacto político, o então presidente John F. Kennedy decidiu ousar e anunciou em um discurso para o Congresso americano, em 1961, a intenção de enviar o homem à Lua até o final da década de 1960. Caso tenha interesse em saber mais sobre esse tema, leia nosso texto: Corrida espacial.


Por que os americanos decidiram enviar o homem à Lua?

O anúncio do presidente John F. Kennedy de enviar o homem à Lua foi realizado no Congresso norte-americano no dia 25 de maio de 1961, logo depois de Alan Bartlett Shepard Jr. ser enviado em seu voo suborbital. Essa foi uma decisão que levava em consideração menos a importância científica desse projeto e muito mais os ganhos políticos que esse anúncio poderia trazer.


A decisão de enviar o homem à Lua tomada pelo presidente Kennedy, então, foi baseada na sua importância política, uma vez que, naquele contexto, a Guerra Fria estava no seu auge. Sendo assim, impor a força do país em todas as disputas contra a União Soviética era muito importante para a popularidade dos presidentes norte-americanos.


Um exemplo claro de como a corrida espacial impactava a imagem desses líderes foi a pressão sobre o presidente Dwight Eisenhower depois que os soviéticos lançaram o satélite artificial primeiro que os norte-americanos, em 1957. Na ocasião, ele sofreu inúmeros ataques públicos e foi acusado de negligência ao permitir que os soviéticos ultrapassassem os EUA no avanço tecnológico.


No seu discurso, John F. Kennedy ensejava claramente o desejo de mostrar ao país que os Estados Unidos estavam à frente e afirmou que aquele era momento para traçar o caminho para levar os EUA à liderança da corrida espacial. Em seu discurso, também ratifica o compromisso de levar o homem à superfície lunar até o final daquela década.


Com isso, fica evidente a intenção de Kennedy em anunciar o papel dos Estados Unidos na liderança da corrida espacial como uma forma de consolidar a força do país tanto em recursos quanto em tecnologia.


Programa Apollo


O Programa Apollo foi o programa que organizou o envio do homem à Lua. A princípio, esse programa foi criado com o objetivo de enviar expedições para a órbita lunar, mas acabou sendo alterado para levar expedições tripuladas ao solo lunar. O desenvolvimento do programa espacial norte-americano contou com outros programas importantes, como o Mercury e o Gemini.


O Programa Gemini, principalmente, foi de extrema importância para o sucesso do Programa Apollo. O primeiro esteve em prática entre 1963 e 1966 e foi um programa de suporte ao ao segundo, pois realizou estudos e realizou testes importantes em sistemas e em manobras que foram utilizadas na Apollo 11.


Todos os estudos e testes feitos com o Gemini concluíram que era possível enviar uma expedição tripulada à Lua e que o homem era apto a passar longos períodos no espaço. A última missão da Gemini foi a Gemini 12, que ocorreu entre 11 e 15 de novembro de 1966. Após essa, foram iniciados os testes dentro do Apollo.


A primeira expedição da Apollo foi a Apollo 1, que terminou em grande desastre. Na ocasião, a nave CSM-012 seria lançada para orbitar a Terra, mas o lançamento no dia 27 de janeiro de 1967 terminou em tragédia. Uma falha elétrica deu início a um incêndio na cápsula da nave, e os três astronautas tiveram queimaduras de terceiro grau e morreram asfixiados por inalação de monóxido de carbono.


O acidente foi investigado por uma comissão que estabeleceu suas causas e determinou drásticas mudanças para a continuidade do programa. Os astronautas que faleceram foram: Gus Grissom, Edward White e Roger Chaffee. A missão seguinte só foi realizada em novembro de 1967 (Apollo 4). Vejamos, a seguir, um resumo das expedições seguintes:


Apollo 4: lançada em 9 de novembro de 1967, foi uma missão não tripulada que testou o foguete Saturno V. Todas as etapas do teste desse foguete foram um sucesso.


Apollo 5: lançada em 22 de janeiro de 1968, foi um teste do módulo lunar que pousaria na superfície da Lua. O teste foi um sucesso.


Apollo 6: lançada em 14 de abril de 1968, foi um novo teste do foguete Saturno V. Houve falhas no funcionamento do foguete que foram analisadas e resolvidas.


Apollo 7: lançada em 11 de outubro de 1968 e tripulada por três astronautas (Wally Schirra, Donn Eisele e Walter Cunningham). Foi uma missão de teste no módulo de comando e serviço no espaço. A missão foi um sucesso.


Apollo 8: lançada em 21 de dezembro de 1968, foi a primeira expedição tripulada a orbitar a Lua. Os três astronautas eram: Frank Borman, James Lovell e William Anders. A missão foi um sucesso.


Apollo 9: lançada em 3 de março de 1969, realizou testes de separação das naves, manobras e acoplamento. Era tripulada por James McDivitt, David Scott e Russell Schweickart e foi um sucesso.


Apollo 10: lançada em 18 de maio de 1969, foi o teste final de todo o sistema utilizado na expedição seguinte. Foi tripulada por Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan, bem como um sucesso.


Por fim, a expedição derradeira e que estabeleceu um grande marco foi a Apollo 11, missão lançada em 16 de julho de 1969, com três astronautas: Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins.


Apollo 11

Apollo 11 foi o nome dado à missão realizada pela Nasa, responsável por levar os primeiros astronautas à Lua. O principal objetivo dessa missão era executar um voo tripulado até o satélite e, em seguida, pousar com segurança sobre sua superfície. Esses objetivos foram definidos de acordo com um discurso proferido pelo então presidente dos Estados Unidos da América, John F. Kennedy, cerca de seis anos antes da expedição acontecer.


Nessa tarefa, foram levados três astronautas para a Lua: Neil Armstrong, Edwin J. Aldrin e Michael Collins. Entretanto, somente Armstrong e Aldrin, nessa ordem, pisaram em solo lunar.


Antes do primeiro pouso tripulado na Lua, a Nasa já havia realizado outras 20 viagens espaciais. No entanto, após o sucesso da missão Apollo 11, houve mais seis missões direcionadas à Lua, de modo que outros 10 astronautas, além de Armstrong e Aldrin, deixaram suas pegadas nela.


Às 13h32min (UTC) do dia 16 de julho de 1969, o foguete Saturn V foi lançado da base do Centro Espacial John F. Kennedy, localizado no Cabo Canaveral, no estado da Flórida.


O foguete levava consigo uma tripulação de três astronautas, o módulo de serviço Apollo CSM-107 (conhecido com Columbia) e o módulo lunar Apollo-LM5 (conhecido como Eagle). Estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenha assistido ao lançamento do foguete Saturn V, o qual foi transmitido ao vivo para mais de seis milhões de espectadores em todo o mundo.

Após pouco mais de 12 minutos de voo, Saturn V deixou a órbita terrestre separando-se em diferentes estágios. O último estágio do foguete foi lançado em direção ao Sol para que não houvesse chances de colidir-se com a espaçonave.


Após a separação entre a espaçonave e os estágios do foguete, uma complexa manobra foi realizada para que os módulos de comando e de serviço encaixassem-se e pudessem ser propelidos em direção à órbita lunar.


A entrada na órbita da Lua, chamada de injeção translunar, começou cerca de 30 minutos após o lançamento. Às 17h21min (UTC) do dia 20 de julho de 1969, a espaçonave entrou na órbita da Lua, pouco mais de 190 km acima de sua superfície.


Após 30 órbitas completas em torno do satélite, o módulo lunar foi desacoplado do Columbia. Nesse momento, Neil Armstrong e Buzz Aldrin, que já se encontravam no interior do módulo lunar Eagle, iniciaram a descida.


O local de pouso do módulo era o Mar da Tranquilidade. Entretanto, quando estava a 91 metros de altura, Armstrong percebeu que sua descida acontecia mais rapidamente do que o programado, e isso poderia levá-los centenas de quilômetros além do local definido para a alunissagem.


Por esse motivo, o astronauta assumiu o controle semimanual do Eagle. Ao avistar o solo lunar, observou que esse era irregular e um pouco acidentado, mas, mesmo assim, conseguiu pousar o módulo em segurança, quando lhe restavam apenas 21 segundos de combustível.


No momento da descida, Armstrong cometeu um erro que poderia ter-lhes custado o sucesso da missão. Quando se aproximassem do solo, o piloto deveria desligar os motores de propulsão, uma vez que havia a possibilidade de que os gases expelidos pelos foguetes da espaçonave fossem refletidos pelo solo rochoso da Lua, ocasionando o seu superaquecimento e, possivelmente, uma grande explosão. Por certo devido ao nervosismo, Armstrong esqueceu-se de fazê-lo, mas, por sorte, nada ocorreu fora do previsto quando se aproximaram do solo.


O módulo Eagle alunissou no dia 20 de julho, às 20h:17min (UTC), após uma longa viagem que durou, aproximadamente, quatro dias. Neil Armstrong foi o primeiro astronauta a descer da espaçonave, às 02h:56min (UTC). Suas primeiras palavras foram transmitidas ao vivo:


“É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.”

Neil Armstrong


Vinte minutos depois dos primeiros passos de Armstrong, Buzz Aldrin saiu do interior do módulo lunar. Juntos, os astronautas coletaram quase 30 kg de amostras do solo e tiraram milhares de fotos. Além disso, instalaram sete instrumentos científicos.


Dentre esses instrumentos, podemos destacar a instalação de um sismômetro, usado para analisar os impactos causados por asteroides; um conjunto de retrorrefletores de laser, usados para determinar a distância e a velocidade da Lua em relação à Terra; detectores de raios cósmicos e vento solar, usados para análise da atividade do Sol; bem como algumas câmeras, usadas para a transmissão ao vivo da atividade dos astronautas. Toda essa atividade foi restringida a um tempo máximo de seis horas: o limite que era suportado por seus trajes.


Pouco tempo depois da instalação dos instrumentos científicos, os astronautas empenharam-se em fixar e hastear a bandeira estadunidense na Lua, todo o processo foi filmado e transmitido ao vivo para a Terra.


Depois de 21 horas na Lua, os astronautas iniciaram o processo de retorno ao Columbia. O módulo Eagle estava equipado por um foguete que deveria ser usado para sua ascensão. Em pouco menos de 20 minutos de subida, o Eagle foi interceptado pelo Columbia.


Depois de descansarem por sete horas, o processo de retorno à Terra foi iniciado, com isso, o módulo foi descartado e caiu em algum lugar da Lua. A bordo do módulo de comando, os astronautas adentraram a atmosfera terrestre, após uma viagem de 195 horas, 18 minutos e 35 segundos (eles se atrasaram cerca de 36 minutos).


A reentrada na atmosfera exigiu uma manobra para que o Columbia entrasse com seu escudo térmico voltado para a Terra, graças à enorme geração de calor produzida pelo atrito do módulo de comando com o ar atmosférico.


Armstrong, Aldrin e Collins foram resgatados pelo porta-aviões estadunidense USS Hornet, no Oceano Pacífico. Assim que recuperados, os astronautas foram trajados com vestuários de isolamento biológico, a fim de evitar-se a remota possibilidade de contaminação por algum agente patológico extraterrestre. Como forma de precaução, além de higienizados, a tripulação da Apollo 11 foi colocada em quarentena durante um período de 21 dias.


Os dias após o fim da quarentena dos astronautas foram marcados por grandes paradas de celebração da chegada do homem à Lua. Em 13 de agosto de 1969, houve diversas homenagens à missão e também um banquete oficial que reuniu 44 governadores estadunidenses e embaixadores de 83 países. Entre 29 de setembro e 5 de novembro, os três astronautas viajaram por 22 países, onde foram homenageados por líderes políticos.


Fonte e direitos reservados: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/apollo-11.htm

terça-feira, 21 de março de 2023

A PUBLICIDADE, O DESEJO E O CONSUMO

A PUBLICIDADE, O DESEJO E O CONSUMO

A propaganda tem como finalidade seduzir o consumidor, ela não vende só o produto, ela atua no imaginário do comprador.


A publicidade exerce um papel tão importante como formadora de opinião que autores dizem que a mesma atua em esferas antes específicas dos meios educacionais, jurídicos, religiosos, mudando conceitos, regras, interferindo nos costumes e comportamentos outrora tidos como tradicionais. É eficaz na sua tarefa além de ser detentora de muita credibilidade face ao poderio conquistado pelo império midiático.

 A estratégia do discurso publicitário visa persuadir e seduzir o cliente, o que faz através de peças publicitárias que levam em conta as especificidades dos destinatários virtuais, suas crenças e valores sociais. Diz Aldrighi (1995, p.54) que “a propaganda trabalha com arte, criatividade, raciocínio, moda, cultura, psicologia, tecnologia, enfim, um complicado conjunto de valores e manifestações da capacidade humana”. 

O discurso publicitário se atém aos imaginários culturais, ao sistema de valores sociais, aos estereótipos consagrados, àqueles já aludidos por Aristóteles que se constituem em um conjunto de crenças socialmente aceitas que aflora com os anúncios persuadindo o sujeito interpretante a se tornar um consumidor seduzido pelas estratégias argumentativas. Neste jogo de interesses, que é a publicidade, o sujeito discursivo é fruto de uma associação da empresa fabricante ou de comerciantes com uma agência de comunicação, divulgação, marketing que não pode obrigar ninguém (sujeito destinatário) a comprar determinado produto; restam, então, as técnicas de persuasão e a sedução. 

No jogo do discurso publicitário, o sujeito discursivo procura esconder a face puramente comercial, mascarando-se ou como “benfeitor” ao mesmo tempo em que prevê uma imagem do interlocutor. Monnerat (2000) atesta que “o sujeito comunicante vai tentar dissolver a identidade de vendedor e a do interlocutor, como mero consumidor, em favor de identidade dos seres discursivos”. 

A relação muda de sentido, tendo um caráter não comercial, mas de “benfeitor-beneficiário”. Desse modo, conforme Pauliukonis (2003, p. 119), “o produto é o instrumento, ou ferramenta, capaz de preencher a carência desse público alvo”.


No processo de persuasão, os argumentos do texto publicitário “ajudam a evocar o produto como benfeitor de um destinatário idealizado, cuja carência será preenchida por seus notórios benefícios, incorporando assim, a fonte para os argumentos e a base para sua credibilidade” (PAULIUKONIS, 2003, p.120).


Recorremos aos elementos da psicanálise para explicar essa carência, no que diz respeito ao desejo, pois este remonta à época do nascimento do sujeito com a ruptura da situação ideal, confortável e prazerosa do indivíduo no útero materno. 

Ao longo da vida, este indivíduo buscará, quer nas relações pessoais como nas relações de consumo, suprir as suas carências, advindas da ruptura sofrida, e da sensação de castração que carrega, de maneira inconsciente, perseguindo um estado de satisfação, de prazer e conforto. Este sujeito é um sujeito em permanente conflito. 

Ele tenta satisfazer seus desejos, pois é um eterno insatisfeito pelas razões já expostas acima, através do consumo, que poderá ser regulado ou desenfreado, configurando, nesta última situação, casos patológicos que necessitarão de atendimento especializado. Convém observarmos que, uma vez satisfeito, o desejo dá lugar a outro numa incessante busca. O sujeito tende a uma satisfação superficial e imediata de seus conflitos interiores que se apresentam sintomaticamente através do consumismo.


O discurso se constrói com uma finalidade, dirigindo-se para alguém e é considerado também uma forma de ação, possuindo, então uma força capaz de conduzir o interlocutor a fazer aquilo para o qual é induzido.


Sob o ângulo psicanalítico, o desejo é o que move o homem. Esse desejo o impulsiona inconscientemente para o consumo, como forma de preencher o vazio interior. Isso não significa que todos sejam consumistas e compulsivos, pois encontramos pessoas que consomem conscientemente, de modo razoável para suprir necessidades materiais ou desejo não desenfreado. “O sujeito do inconsciente é permanentemente desejoso, faltante e singular” (LIMA, 2002, p.64).


A propaganda atua na esfera do imaginário. É um elemento fundamental de persuasão e sedução. Como está lidando com o imaginário, ela vende não só o produto, mas aquilo que ele significa ou representa levando em conta o momento social, histórico e as vivências do sujeito. A propaganda se serve de valores que reforçam a ascensão social, o desejo, o prazer, o poder, a sexualidade.


O homem, naturalmente um ser desejante, é interpelado por toda uma gama de informações que se “encaixam” naquilo que ele acha que é capaz de satisfazer seu desejo latente interpretado pelo interlocutor como necessidade, desejo este amenizado pelo consumo, nunca saciado completamente e em definitivo.


O sujeito interpelado adere ao consumismo com a intenção de saciar o desejo, seduzido pelas argumentações habilmente feitas pelo sujeito discursivo, através do que se denominam formações imaginárias, as quais, como já foram mencionadas, permitem que o sujeito discursivo se coloque no lugar do sujeito interpelado, ou interlocutor, prevendo as suas necessidades, o seu desejo e sua reação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALDRIGHI, Vera. Eficiência Publicitária e pesquisa em comunicação. In: Julio Ribeiro e Outros: Tudo o que você queria saber sobre propaganda e ninguém teve paciência de explicar. São Paulo: Editora Atlas, 1999


BAUDRILLARD, Claudine. Fazer dizer querer dizer. São Paulo: Hucitec, 1992.


BAUDRILLARD, Jean. Da Sedução. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991.


ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2007.


FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do Discurso: Reflexões Introdutórias. São Carlos: Clara Luz, 2007.


FOCAULT, M. Arqueologia do saber. São Paulo; Forence Universitária, 1995.


FOCAULT, M. História da sexualidade. (V.II: O uso dos prazeres), Rio de Janeiro: Graal, 1984.


FREUD, Sigmund (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987. p.118-216. v.VII.


LIMA, Elisane Pinto da Silva Machado de. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Pelotas, Mestrado em Letras, Pelotas, BR, 2002. Orientador: Ernest - Pereira, Aracy.


MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2008.


MELO, Fábio de. Quem me roubou de mim? O seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa. São Paulo, SP: Editora Canção Nova, 2008.

MONNERAT, Rosane S.. Processos de intensificação no discurso publicitário e a construção do ethos. In: PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino & GAVAZZI, Sigrid (orgs).Texto e discurso: mídia, literatura e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003


Extraído do trabalho realizado para obtenção do título de Especialista no curso de Pós-Graduação em Linguagens Verbais Visuais e suas Tecnologias o qual obteve conceito final “A”.


Publicado por: Isabel C. S. Vargas


Direitos reservados: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/publicidade-desejo-consumo%20.htm


 

Sociedade Disciplinar/ Michel Foucault


 Sociedade Disciplinar/ Michel Foucault

 

Mudanças sociais ocorridas no séc. XVIII e XIX levaram a alterações do jogo do poder, que foi sendo gradativamente substituído pelo que Foucault denomina de sociedades disciplinares, as quais atingiram o seu apogeu no séc. XX. A passagem de uma forma de dominação a outra ocorreu quando a economia do poder percebeu ser mais eficaz e rentável “vigiar” do que “punir”.


Duas imagens, portanto da disciplina. Num extremo, a disciplina - bloco, a instituição fechado, estabelecido à margem, e toda voltada para funções negativas: fazer parar o mal, romper as comunicações, suspender o tempo. No outro extremo, com o panoptismo, temos a disciplina - mecanismos: um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das coersões subtis para uma sociedade que está por vir. O movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema da disciplina de excepção ao de uma vigilância generalizado, repousa sobre uma transformações histórica: a extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar.


Foucault, (1997), pag:173


Coube às sociedades disciplinares organizar os grandes meios de confinamento, os quais tinham como objectivo concentrar e compor, no tempo e no espaço, uma forma de produção cujo efeito deveria ser superior à soma das partes. O indivíduo não cessava de passar de um espaço fechado ao outro: família, escola, fabrica, universidade e eventualmente prisão ou hospital.


A existência de mecanismos disciplinares é anterior ao período que Foucault denominou como sociedade disciplinar, mas antes existiam de forma isolada, fragmentada. O padrão de visibilidade das sociedades disciplinares projectou-se no interior dos prédios das instituições, que passaram a ser construídos para permitir o controle interno.


Foucault afirma que as instituições não têm essência ou inferioridade, nem são fontes de poder. São mecanismos operatórios práticos que fixam relações. Têm necessariamente dois pólos: aparelhos e regras. O pólo negativo compreende a táctica do poder em sujeitar e reprimir. O pólo positivo consiste em produzir, mobilizar tipos de forças que constituem o poder, provocando um corpo - a - corpo. Quanto mais poder conseguir produzir, mais deverá sujeitar e administrar. Nesse confronto retira-se um efeito útil, uma notável solução, diria Foucault: o aparecimento da disciplina. A disciplina dissocia o poder desse corpo - a - corpo e reduz o perigo da inversão de um equívoco dessa polarização.


Ao estudar o nascimento da prisão, Foucault observa que passou por três fases: primeiramente, nas sociedades soberanas, no séc.XVII, existe paralelamente a outras administrações de punição, como o manicómio e o asilo. Com a queda da soberania, a lei e o poder adquirem uma forma regular de administração, isto é, a sua transmissão e continuidade ganham nova forma, quando acontece a estatização da justiça penal.


Como Foucault observa a prisão não é então uma pena e direito, não fez parte do sistema penal dos séculos XVII e XVIII. Os legistas são perfeitamente claros a este respeito. Estes afirmam que, quando a lei pune alguém, a punição será a condenação à morte, a ser queimado, a ser esquartejado, a ser marcado, a ser banido, a pagar uma multa, etc. a prisão não é uma punição.


Quando o indivíduo perde o processo e é declarado culpado, deve uma reparação à sua vítima, isto é, exige-se do culpado a reparação da ofensa que cometeu contra o soberano, a lei e o poder monárquico. Assim é que aparecem os mecanismos da multa, da condenação à morte, do esquartejamento, do banimento etc.


O segundo momento de consolidação da prisão ocorre no final do séc. XVIII e inicio do séc.XIX. É caracterizada pela reforma e reorganização do sistema judiciário e penal nos diferentes países da Europa e do mundo. Nesse momento, ao contrario do período anterior, a prisão passa a difundir-se em todas as direcções, por se efectuarem em alto grau as exigências do diagrama da disciplina, vencida, obviamente a má reprodução que vinha do seu papel precedente.


Foucault denomina esse período de sociedade disciplinar, pois traz como características essenciais a distribuição dos indivíduos em espaços individualizados, classificatórios, combinatórios, isolados, hierarquizados, capazes de desempenhar funções diferentes segundo o objectivo especifico que deles exige. Estabelece uma sujeição do individuo ao tempo, com o objectivo de produzir com o máximo de rapidez e eficácia.


A vigilância também se expressa como um dos seus instrumentos de controle, de maneira contínua, perpetua e permanente.


No âmbito do direito penal, passa-se a enunciar os crimes e os castigos que preconizam o controle e a reforma psicológica e moral das atitudes e do comportamento dos indivíduos, diferente daquela prevista no séc. XVIII, que visava tão somente a defesa da sociedade.


Ressalta Foucault que a prisão, nesse momento remete a palavras e conceitos completamente diferentes, como a delinquência e o delinquente, que exprimem uma nova maneira de enunciar as infracções, as penas e os sujeitos.


A terceira fase consiste na reforma penitenciária, pois destitui a prisão da sua exemplaridade, fazendo-a voltar ao estado de agenciamento localizado, restrito e separado.


As técnicas disciplinares serão substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização. Funcionará como terapêutica da rectificação do individuo, e a sentença judicial será inscrita entre os discursos do saber, implicando num baixo grau de exigências do diagrama da disciplina.


Nesse estudo topológico de interrogar as formações históricas, Foucault descobriu uma engenharia que atravessa quase meio século, praticamente despercebida, enquanto estratégias ou táctica de poder. Aparece contudo, como uma mecânica de observação individual, classificatória e modificadora do comportamento, uma arquitectura formulada para o espaço da prisão, ou para outras administrações, tais como: a fabrica, a escola, o manicómio. Essa maquinaria era o Panóptico. 


O Panóptico é a utopia de uma sociedade e de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que actualmente conhecemos – utopia que efectivamente se realizou. Este tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo. Vivemos numa sociedade onde reina o panoptismo.


Com o Panóptico vai-se produzir algo totalmente diferente. Não há mais inquérito, e sim vigilância e exame. O Panóptico teve uma tríplice função a vigilância, o controle e a correcção.


Segundo Foucault (1990), o poder é uma prática social e, por isso mesmo, é constituído historicamente e articula-se com a estrutura económica. O que Foucault chamou microfísica do poder significa tanto um deslocamento do espaço de análise quanto ao nível que este se efectua. De acordo com a sua categorização, as sociedades e os seus respectivos regimes de visibilidade podem ser divididos em: sociedades de soberania, onde o rei ou senhor exercia o poder, por meio de uma vigilância externa e geral; sociedade disciplinar, na qual as instituições são um dos maiores dispositivos de visibilidade, principalmente com relação ao funcionamento dos operários institucionais; e sociedade de controle,  veio substituir a sociedade disciplinar, na qual ocorre a implementação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação, ou seja, o exercício do poder à distancia.


Actualmente, encontramo-nos numa crise generalizada de todos os meios de confinamento da sociedade disciplinar e assistimos à instalação de uma sociedade que controla à distância. Desse modo, a crise das instituições modernas representa a implantação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação. A lógica da sociedade disciplinar é analógico, ou seja, descontinua e diferenciada em cada confinamento, enquanto a da sociedade de controle é numérica e constante. 


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“Rule by the rich is not democracy” Seen in Dublin, Ireland @ Radical Graffiti/ “Governo dos ricos não é democracia” Visto em Dublin, Irlanda


 “Rule by the rich is not democracy”        

Seen in Dublin, Ireland 

@ Radical Graffiti

“Governo dos ricos não é democracia”

Visto em Dublin, Irlanda


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro


 Imagem: Laerte


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro

 17 de novembro de 2020  Brasil, Destaque Combate Racismo Ambiental

Como pode Bolsonaro dizer tudo o que diz e continuar impune e ainda continuar dizendo?


No A Terra é Redonda

“Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas” (Dante, Divina Comédia, Inferno, Canto 3).


“Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta” (Inscrição tenebrosamente irônica no Portão de Auschwitz)


Mas a sentença mais importante para compreender o lado perverso da racionalidade moderna está inscrita no Portão de Buchenwald: “Jedem das Seine”, que pode ser entendida como “cada um recebe o que merece”.

Direitos Reservados: https://racismoambiental.net.br/2020/11/17/a-geopolitica-do-medo-por-tarso-genro/


A última fala do Presidente Bolsonaro, que será recebida com indignação passageira até a próxima mais violenta, encerra toda a lógica nazifascista acima exposta, de Dante sobre as portas do inferno e do nazismo, nas portas dos Campos: não sejam “maricas” (fracos) todos vamos morrer, não é certo lutar pela vida nestas circunstâncias. Jovens, crianças, idosos -todos- abandonem toda a esperança! Estamos chegando nas portas do inferno e eu sou seu demônio falante – sem medo e sem limites- e assim trato os covardes que me ouvem, que estão entre os que me trouxeram até aqui e os que escolheram ou não puderam resistir aos meus apelos. Com a minha fala alucinada desafio, parece dizer o Presidente – ao contrário de Marx que dizia que “nada do que que é humano me é estranho”- nada do que nos leva à portas do inferno pode ser rejeitado.


Na História do heroísmo, da resistência e da capacidade humana de enfrentar fogo contra fogo, – além de Stalingrado, da Resistência Francesa e dos Partisans italianos (além dos milhões de anônimos que morreram na Guerra contra o Nazismo)- está a desigual Insurreição do Gueto de Varsóvia. Ali foi o lugar onde 1.500 prisioneiros, judeus comunistas, sionistas, socialistas e democratas libertários, escolheram -entre ir para Treblinka ou morrer lutando- ser a vanguarda da dignidade humana. Poemas, canções, romances e ensaios, já celebraram as lutas da racionalidade moderna contra o seu fluxo de razão perversa. Os donos desta face da razão sempre assassinaram sem piedade, a partir da capacidade de arbitrar “que cada um recebe… o que merece”, seja lutando ou aceitando passivamente o seu destino.


Como pode Bolsonaro dizer tudo isso e continuar impune e ainda continuar dizendo? Suponho que se trata da crise radical da democracia liberal, que passa a ser tutelada – na crise ambiental, sanitária e econômica do capital – não mais pela razão de Estado, na qual cabia a democracia política, mas dirigida pelo mito engendrado pelo lado mais forte da racionalidade capitalista. Este vem com alguém que possa deixar de lado as instituições que criou, para que os ricos e super-ricos se vejam em outro espelho: não mais na face de um Churchill ou de um Truman, mas na face diabólica de quem tenha suficiente paixão pelo mal, para dizer quem deve viver e quem deve morrer.


Neste quadro histórico mórbido se digladiam dois discursos: o da velha razão moderna do direito democrático, que a sociedade fragmentada não mais entende porque lida com as questões imediatas da vida e da morte; e o discurso das portas do inferno, que oferece a morte para todos, mas -atenção!-  deixa claro que a maioria pode se salvar porque naturalmente –nos portões do inferno- só os “maricas” (os fracos) passarão em direção à morte, o resto sobreviverá fantasiando suas identidades juntos aos que serão apontados como fortes.


Não acredito na sentença taxativa de Borges, pela qual afirma que “todas as histórias estariam nuns poucos livros: na Bíblia, na Odisseia, no Martin  Fierro”. Trata-se – a fórmula – de mais um dos seus aforismos geniais, nos quais a literatura suprime a filosofia e o gosto pela metáfora esconde um certo deboche irracionalista, próprio de um grande escritor que jamais se acostumou a viver no presente.


Talvez “todas as histórias” estejam mais perto de cada “conjunto de músicas” ou de poesias – de cada época – do que nos livros apontados por Borges. A canção, que se ergue num palco de luzes e cores faiscantes também faz dançar multidões, mas é diferente daquela sussurrada num bar do Harlem. Ambas, porém carregam o desejo, a morte, a felicidade, o heroísmo dos  pleitos humanos da vida cotidiana de cada pessoa concreta, no som da sua multiplicação infinita.


A letra de Woody Guthrie “This Land is your Land” (1940) respondia à bela e apologética “God Bless América”, de Irving Berlin”. Enquanto Guthrie –com seu violão de inscrições antifascistas – dizia “esta terra é sua terra, esta terra é minha terra (…) esta terra foi feita para você e para mim”, Berlin proclamava: “vamos jurar fidelidade a uma terra que é livre (…) vamos todos ser gratos por uma terra tão justa”.


Frequentavam – Guthrie e Berlin – ambientes diferentes. Pensavam em pessoas, espaços, desertos diferentes. Foram almas marcadas por paisagens de cores fortes – mas diversas – no território da América de então, no mesmo solo dos seus desertos, onde corpos de indígenas, de negros escravizados ao sul, de pobres soterrados na ira das vinhas de Steinbeck, tinham seu nervos, músculos e movimentos dos seus corpos, profanados pelo seu empilhamento nos cofres de Wall Street. Ali, todavia, se erguia uma nação.


Maiakowsky – poeta da Revolução Russa – suicidou-se em plena era Stálin aos 36 anos (1930), tempos depois de ter escrito “comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração”, para  declamar, depois seu sofrimento em versos de sarcasmo: “melhor morrer de vodka que de tédio”. Seu mais reconhecido sucessor – como poeta\político na Rússia Soviética – Eugeny Evtushenko, aos 20 anos tornou-se famoso na década de 50, denunciando Stálin e declamando seus versos em lugares públicos: “lembrar-se-ão de tempos estranhos onde a honestidade mais simples chamava-se coragem”.


Os dois poetas viveram tempos diferentes – ambos difíceis e dramáticos – com as suas vidas colidindo nos duros acontecimentos históricos que marcaram suas biografias. No subsolo da revolução, na resistência à barbárie nazista, nos terríveis processos do stalinismo, na liquidação da velha autocracia czarista, que fazia do povo russo um rebanho de indigentes, todavia, se erguia uma nação.


Rússia e América hoje comungam dos mesmos vícios e padecimentos com governos autoritários, líderes dentro do sistema do capital que exploram a geopolítica do medo e os abusos militaristas no interior de uma “guerra fria”, entre os mais diversos interesses do capital. Na América sobrevive em frangalhos a Constituição da Filadélfia, manipulada por um fascista narcísico, que expande a sua raiva negacionista com o uso da canção “Good Bless America”, para manipular seus eleitores. Este, certamente rejeitaria “This land is your land”, se compreendesse a sua letra. Putin, por seu turno detesta Mayakowsky, embora certamente algum verso de Evtushenko ele possa declamar na Praça Vermelha, para promover o olvido do poeta da verdadeira revolução.


A forma com que as canções, a poesia e a literatura, formavam a opinião e as consciências nas sociedades do Século passado, tem relação com os próprios desígnios da democracia republicana. Como o poder – na democracia – não se concentra num corpo único (tirano, ditador, déspota), mas se realiza num “lugar vazio” (Lefort) que a República instituiu – formalmente –  para ser ocupado pelo voto, sua “fala de poder” é disseminada por aqueles que recebem a delegação  para ocupar o lugar institucional do poder.


O contra-discurso ao discurso do poder instituído, na arte, nos livros, nas canções, na  poesia – emitidos nas instâncias de onde as pessoas se socializam e convivem pela aproximação e pelo dissenso – tem racionalidade, mas é de vôos curtos: ele é coerente, mas vem de um lugar disperso e suas fontes não têm um corpo único para representá-las.


G.A.Cohen, num estudo brilhante da “igualdade como norma”, na sociedade moderna, busca esta racionalidade perdida em várias canções -na arte dos lutadores sociais- como na canção “Buddy, Can you spare a Dime” (“Dê-me um níquel parceiro”). Quando o homem diz, na canção, que “eu uma vez construí uma estrada de ferro e a fiz funcionar, que se erguia até o sol…”, ele justifica que “merece o níquel”, pelo fato de que um dia produziu, não porque agora não tem capacidade de produzir: ele se pensa como “credor”, portanto, não como cidadão abstrato, que deve ter garantida a sua vida só porque existe. Assim se estabelece o ritual do discurso necrófilo de Bolsonaro que diz, em última instância,  “se eu não te devo deves morrer”.


Em fevereiro de 2017 a voz quase metálica de Lady Gaga, num intervalo do Super Bowling, impulsiona o seu corpo produzido para girar, flutuar, nadar no ar e cantar “God Bless America”, numa improvável comunhão com “This Land is your land”. A fusão é evidente e lá está Joe Biden para, através dela, dizer – como velha raposa da democracia imperial — que a América a ser salva é aquela que pode assumir a fusão destes dois destinos, que devem guardar um lugar razoável também para os pobres e deserdados.


Estará no fim esta possibilidade na terra do golpismo de Trump, que desafia a própria América democrática a defender outra democracia, que não a dos bilionários Wall Street? Não sei se está no fim, mas parodiando Castells, no seu já clássico “Ruptura”, “assim como está não vai ficar”. Lady Gaga trouxe essa interrogação já desesperada, para o comício final da campanha Democrata em 2 de novembro de 2020, quando a sua voz se ergueu – como arte voluntária de resistência – para fazer a fusão da América imaginária do “God Bless América”, com a América real dos versos do “This Land is your land”.


Impulsionada pelos jovens, comunidades negras, mulheres lutadoras, imigrantes e intelectualidade democrática e libertária, a democracia claudicante dos Pais Fundadores, agora pode ser levada às Portas do Inferno por Donald Trump. Do outro lado desta porta a civilização é esperada por Hitler e seus assassinos fardados e aqui no Brasil o discurso de Bolsonaro – nesta semana de testes terminais do nosso nojo e da nossa paciência-   já nos convidou para a travessia nos arcos dos seus portões malditos. E nada acontece, no espaço finito da democracia, onde a dignidade das instituições – como disse Mayakowsky – aqui sequer chegou perto dos “tempos estranhos” em que a coragem passou a ser uma virtude coletiva.

*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.