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terça-feira, 3 de agosto de 2021

Espiões, palácio e cueca envenenada: quem é Alexei Navalny, rival de Putin

5 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O SEGUNDO REINADO ANTES DE ASSISTIR 'NOS TEMPOS DO IMPERADOR'



 5 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O SEGUNDO REINADO ANTES DE ASSISTIR 'NOS TEMPOS DO IMPERADOR'

Nova novela da Globo narrará trajetória de dom Pedro II. Conheça mais detalhes sobre seus anos de poder!


FABIO PREVIDELLI 



dom Pedro II será vivido por Selton Mello

dom Pedro II será vivido por Selton Mello - Museu Nacional de Belas Artes e Divulgação/TV Globo/Paulo Belote

Conforme noticiado pela equipe do site do Aventuras na História, no próximo dia 9 de agosto, a rede Globo vai estrear sua nova novela: “Nos tempos do Imperador”. Ambientada entre os anos de 1856 e 1870, a trama narrará a trajetória de Dom Pedro II. 


A história destacará, segundo a autora Thereza Falcão, “a relação dele [Pedro II] com ensino, cultura, patrocínio à ciência”, feitos pelo qual ela considera justo o monarca ter sido eleito “O maior brasileiro de todos os tempos”. 


Mas antes da estréia, nós do site do Aventuras separamos 5 coisas que você precisa saber sobre o Segundo Império antes de começar acompanhar a nova novela. Confira nossa lista: 


1. O começo de tudo 

O segundo reinado começou em 23 de julho de 1840, quando dom Pedro II assumiu o trono. Porém, isso só foi possível graças ao chamado Golpe da Maioridade. Como explica matéria da InfoEscola, o imperador só poderia assumir o poder quando completasse 15 anos — o que só aconteceria em dezembro. 


Porém, com o apoio do Partido Liberal, essa data foi adiantada. A intenção do grupo era que, com a coroação de Pedro II, os conflitos que se passavam no país pudessem ser resolvidos.  


Como explica o Brasil Escola, antes disso, durante o Período Regencial, a política brasileira era dividida em dois partidos: o Conservador e os Liberais — cada qual com suas ideias e pensamentos. Como naquela época a disputa entre os dois era intensa, o gabinete ministerial tentou reduzir as rusgas como um revezamento de liderança, mas as coisas não adiantaram muito. Assim, coube ao novo imperador cuidar da situação.


2. Meu reino, minhas regras 

Com sua ascensão ao poder, dom Pedro II promoveu uma série de mudanças políticas no país que, em tese, seriam inspiradas no parlamentarismo britânico — onde o monarca deixa as principais tomadas de decisões nas mãos de um primeiro-ministro, que tem que prestar contas somente ao parlamento. Quando necessário, os parlamentares julgam destituí-lo ou não do cargo.  


Porém, como explica José Murilo de Carvalho em ‘A construção da ordem: a elite política imperial’, as coisas por aqui acabaram sendo do “avesso”, com o imperador tendo total liberdade para interferir na política sempre que achasse necessário, ou então da maneira que lhe garantisse seus interesses. Ou seja, caso um primeiro-ministro não lhe agrasse, o monarca tinha total liberdade para tirá-lo de sua função.


3. Café, a obra prima da consolidação econômica 

No Segundo Reinado, o país se consolidou economicamente com a produção cafeeira. De início, o plantio começou no Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, conforme aponta o Toda Matéria, e, posteriormente, o cultivo se espalhou por São Paulo.  


Com isso, o país começou a exportar mais do importar a matéria prima, o que aumentou a necessidade de uma maior mão de obra. Dessa maneira, as regiões que plantavam o grão logo se tornaram as principais compradoras de escravos — o que fez com que os fazendeiros não vissem de maneira muito animadora a abolição da escravatura. 

 


Além disso, outra área que também teve um crescimento exponencial foi a indústria, que passou por uma enorme revolução, explica o Brasil Escola. Entre os anos de 1840 e 1860, por exemplo, as receitas do país aumentaram quatro vezes.  


Parte disso aconteceu por conta da Lei Eusébio de Queirós, que passou a proibir o tráfico negreiro. Dessa maneira, os recursos que eram usados para a compra de escravos passaram a ser investidos. Logo, as exportações aumentaram e o país começou seu plano de expansão em estradas de ferro.


4. A escravidão 

Um dos principais temas tratados na política da época era a abolição da escravatura. Como explica o Toda Matéria, o tema já era abordado por parte da sociedade e também por jornais. Além do mais, escravos, por meio dos quilombos e de irmandades religiosas, buscavam sua alforria na Justiça.

 


O primeiro passo dado para o fim da escravidão aconteceu em 1850, quando a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico negreiro no país, foi sancionada. Entretanto, o processo todo ocorreu de forma mais contida, só acabando de fato em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Antes disso, outras leis já haviam entrado em vigor, como a Lei de Terras, do Ventre Livre e do Sexagenários.


5. O fim do Império 

O fim do reinado de dom Pedro II acabou em 15 de novembro de 1889, quando Marechal Deodoro da Fonseca, liderando tropas militares, proclamou a República no Brasil, se tornando o primeiro presidente do país.   


Porém, o império começou a ruir muito antes, como explica o Brasil Escola, principalmente depois que Dom Pedro II se desgastou com três importantes frentes: a elite rural, a igreja e os militares — esse último sendo o príncipal grupo responsável pela queda, já que estavam insatisfeitos com o império desde o fim da Guerra do Paraguai.


https://aventurasnahistoria.uol.com.br/

TSE pode declarar Bolsonaro inelegível em 2022? Entenda o que está em jogo com investigação


 TSE pode declarar Bolsonaro inelegível em 2022? Entenda o que está em jogo com investigação

Nathalia Passarinho

Da BBC News Brasil em Londres


TSE abriu inquérito para apurar ataques ao sistema eletrônico de votação e à legitimidade do processo eleitoral


Após ataques reiterados de Jair Bolsonaro (sem partido) ao sistema de urnas eletrônicas e à legitimidade das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reagiu e tomou duas decisões com potencial de impactar a candidatura do presidente da República à reeleição no ano que vem.


Os ministros da Corte decidiram por unanimidade pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que investigue Bolsonaro por disseminação de fake news contra a urna eletrônica. Na mesma sessão, na segunda-feira (2/8), o TSE votou pela abertura de um inquérito administrativo para investigar ataques ao sistema eletrônico de votação e à legitimidade da eleição de 2022.


Mas quais são os possíveis desdobramentos dessas investigações? Bolsonaro pode ser impedido de se candidatar, se for comprovado abuso de poder ou propaganda eleitoral antecipada?


Como Copa, Olimpíada e Bolsonaro implodiram imagem do Brasil no exterior

A BBC News Brasil ouviu fontes do TSE e ex-ministros da Corte e, segundo eles, o inquérito administrativo pode em tese abrir caminho para impedir a candidatura de Bolsonaro, mas isso depende das provas que serão coletadas e de eventual iniciativa de partidos políticos, que poderiam usar evidências, caso sejam obtidas na investigação, para impugnar a chapa do presidente.


"Após as investigações, o TSE pode oficiar ao Ministério Público o material colhido. Eventualmente, o tribunal pode concluir que houve procedimentos ilegais, por exemplo, de campanha fora de época. O inquérito pode resultar na inelegibilidade, dependendo da gravidade", disse Carlos Velloso, ex-presidente do TSE, à BBC News Brasil.


O ex-ministro Marcelo Ribeiro, que foi atuou por mais de sete anos no TSE, destaca que a Corte permite que irregularidades cometidas antes da eleição possam ser utilizadas para pedir a inelegibilidade de um candidato.


"Os registros para a candidatura à eleição de 2022 serão feitos em agosto do ano que vem. E é da jurisprudência do tribunal que fatos anteriores à eleição possam ser considerados. Se você provar que houve prática de ato ilícito e que ele visava a eleição, isso pode levar até à inelegibilidade do candidato", disse Ribeiro.


Já a inclusão de Bolsonaro no chamado "inquérito das fake news", que tramita no STF, pode, eventualmente, resultar em processo penal contra o presidente, mas essa possibilidade é mais remota, porque depende da apresentação de denúncia pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e de autorização de dois terços da Câmara dos Deputados.


Aras é considerado aliado de Bolsonaro, assim como Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e um dos líderes do Centrão, bloco informal de legendas que hoje apoia o governo federal e garante sua sustentação política.


Procurado pela BBC News Brasil, o Palácio do Planalto não respondeu até a publicação desta reportagem.


Na terça-feira (3/8), Bolsonaro reagiu dizendo "não vai aceitar intimidações" por parte do TSE. "Vou continuar exercendo meu direito de cidadão, de liberdade de expressão, de criticar, de ouvir, e atender, acima de tudo, a vontade popular", disse em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.


Roberto Barroso

Bolsonaro reagiu às ofensivas do TSE dizendo que sua 'briga' é com ministro Roberto Barroso, não com o restante do tribunal


Abuso de poder econômico e político

Portanto, é o inquérito administrativo que, na avaliação de ministros e ex-ministros do TSE, tem maior potencial de impactar os planos políticos de Bolsonaro.


As investigações vão ser conduzidas até outubro pelo corregedor-geral eleitoral, o ministro Luís Felipe Salomão, que também integra o Superior Tribunal de Justiça. Quando Salomão terminar seu mandato como corregedor, o ministro Mauro Campbell assumirá o cargo e as investigações.


Na decisão de abertura do inquérito, Salomão diz que vai "apurar fatos que possam configurar abuso do poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutadas vedadas a agentes públicos e propaganda extemporânea, relativamente aos ataques contra o sistema eletrônico de votação e à legitimidade das eleições 2022".


A BBC News Brasil apurou que há entre ministros do TSE a expectativa de que sejam coletadas evidências de que Bolsonaro cometeu abuso de poder político e econômico, usando o cargo de presidente para desacreditar o sistema eleitoral e fazer propaganda antecipada.


Live impulsionou Bolsonaro nas redes, mas críticas superaram apoio

Caso estas provas venham a ser obtidas de fato, elas poderiam em tese ser usadas, no ano que vem, pelo Ministério Público Eleitoral ou por partidos políticos de oposição para embasar ação de impugnação da candidatura da chapa de Bolsonaro. Havendo um pedido de impugnação, os ministros do TSE decidiriam se Bolsonaro seria ou não inelegível, após ouvir as partes e o Ministério Público.


"A mensagem é a seguinte: quem quiser falar, fale, mas se chegar à conclusão de que houve abuso, tem muitos partidos e candidatos (que podem agir). Basta que um represente contra a chapa de Bolsonaro e peça para usar as provas do inquérito", disse o ex-ministro do TSE Marcelo Ribeiro.


Segundo fontes do TSE, ministros da Corte consideram que a transmissão ao vivo feita por Bolsonaro em 29 de julho pode configurar abuso de poder ao convocar a imprensa a acompanhar a divulgação de vídeos e notícias falsas sobre supostas fraudes na eleição de 2018.


Durante a live, que durou mais de duas horas, Bolsonaro usou vídeos antigos de internet, já desmentidos por órgãos oficiais, para sugerir a existência de fraudes em eleições. "Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios", disse Bolsonaro.


Segundo um ex-corregedor do TSE ouvido pela BBC News Brasil, outro exemplo de abuso de poder econômico seria o uso por Bolsonaro de aeronaves da Força Aérea para comparecer a motociatas e outros protestos, "incitando a população contra o Judiciário, o Legislativo e a legitimidade das eleições."


Manifestação contra Bolsonaro

Para um ex-corregedor do TSE, uso de transporte da Força Aérea para participar de manifestações contra Legislativo, Judiciário e urna eletrônica pode configurar abuso de poder econômico por Bolsonaro


Oitiva de ministro da Justiça e perícia

A BBC News Brasil apurou que uma das primeiras medidas da corregedoria do TSE será chamar o atual ministro da Justiça, Anderson Torres, além de Eduardo Gomes da Silva, coronel do Exército e atual assessor do Planalto, para depor.


Os dois participaram da live polêmica de Bolsonaro. Também devem ser determinadas perícias oficiais nos vídeos divulgados durante a transmissão, para verificar sua veracidade. Eventualmente, podem ser decretadas quebras de sigilos e oitivas de outras autoridades, mas ainda não há previsão para isso ocorrer.


"O ministro Salomão fez questão de dizer, na abertura do inquérito, que ele poderá usar medidas cautelares, ou seja, pode produzir material de prova", destacou Ribeiro.


Os ex-ministros do TSE ouvidos pela BBC News Brasil dizem que o tribunal não pode, de ofício, declarar a inelegibilidade de Bolsonaro com base no inquérito. O corregedor deverá encaminhar os achados ao Ministério Público Eleitoral.


Como análises matemáticas afastam hipótese de fraude nas urnas, ao contrário do que diz Bolsonaro

Mas, há ceticismo no TSE de que Aras, que foi indicado por Bolsonaro ao cargo de procurador-geral, apresente alguma representação contra o presidente ou sua chapa. Para os ministros, a expectativa mais plausível é que as evidências, caso coletadas, sejam usadas por partidos políticos adversários para pedir a impugnação da candidatura.


Os registros das chapas serão feitos em agosto e, em seguida, abre-se prazo para partidos, coligações e o Ministério Público contestarem.


Marcelo Ribeiro afirma que o TSE pode, dependendo das provas, rejeitar o registro da candidatura, declarando a inelegibilidade ou, se o julgamento ocorrer após o registro ou a eleição, cassar a candidatura ou o mandato.


"Há uma demonstração de que as instituições não estão satisfeitas de ficarem só sendo atacadas. Vão preparar um material, e esse material, se contiver provas de crimes eleitorais, pode gerar inelegibilidade ou cassação do mandato", disse o ex-ministro do TSE.


Bolsonaro reage atacando Barroso

urna eletrônica

Em carta, todos os ex-presidentes do TSE e quase todos os atuais ministros do Supremo defenderam a segurança das urnas eletrônicas


Na terça-feira (3/8), Bolsonaro reagiu às ofensivas do TSE com mais ataques ao presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, a quem criticou por considerá-lo "dono da verdade". Ele disse que sua "briga" é especificamente com Barroso, não com os demais membros do tribunal.


"O ministro Barroso presta um desserviço à nação brasileira. Cooptando gente de dentro do Supremo, querendo trazer para si, ou de dentro do TSE, como se fosse uma briga minha contra o TSE ou contra o Supremo. Não é contra o TSE nem contra o Supremo. É contra um ministro do Supremo, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, querendo impor a sua vontade", disse.


Bolsonaro voltou ainda a reafirmar, mais uma vez sem apresentar evidências de suas suspeitas, de que "não serão admitidas eleições duvidosas". "O Brasil vai ter eleição ano que vem. Eleições limpas, democráticas."


O presidente declarou ainda que, caso Barroso continue "insensível" à demanda por voto impresso, ele poderá promover uma manifestação. "Se o povo assim o desejar, porque eu devo lealdade ao povo. Uma concentração na (Avenida) Paulista para darmos o último recado para aqueles que ousam açoitar a democracia. Se o povo estiver comigo, nós vamos fazer com que a vontade popular seja cumprida."


A BBC News Brasil apurou que, ao longo do fim de semana, os ministros do TSE e do Supremo conversaram entre si para estabelecer uma estratégia coordenada de reação às investidas do presidente ao sistema eleitoral.


O temor entre eles é que Bolsonaro, talvez inspirado no ex-presidente americano Donald Trump, esteja tentando minar a confiança da população nas eleições, para contestar um eventual resultado negativo.


Foi durante essas conversas no fim de semana, feitas por telefone, que ficou combinada a divulgação de uma carta em defesa da urna eletrônica, assinada por todos os ex-presidentes do TSE desde 1988 e quase todos os atuais ministros do Supremo.


No documento, os ministros afirmam que, desde que o sistema foi implantado, em 1996, jamais foi "documentado episódio de fraude". Eles argumentam ainda que as urnas eletrônicas são auditáveis em todas as etapas do processo, "antes, durante e depois das eleições".


"Com a abertura do inquérito administrativo ontem, o TSE quis dar resposta às acusações de que teria havido fraude em 2018 e de que pode haver fraude em 2022. O presidente (Bolsonaro) já disse que não tem como provar que houve. E não pode mesmo", disse à BBC News Brasil o ex-presidente do TSE Carlos Velloso, que implantou o sistema eletrônico quando comandou o tribunal.


"O Supremo perdeu a paciência e o TSE também. Foi uma reação a um contínuo ataque de Bolsonaro, principalmente ao último em que ele instou o povo a ir para a rua e delegou a direção do país às massas, pedindo que elas embarquem no que ele pretende. É um ato antidemocrático", afirmou um ex-corregedor-geral eleitoral.


Mas a avaliação dos ministros ouvidos pela BBC News Brasil é que, apesar da resposta contundente do TSE, Bolsonaro e apoiadores possivelmente continuarão com a estratégia de questionar a legitimidade das urnas eletrônicas. "O Trump fez isso, contestou a eleição e as instituições democráticas dos Estados Unidos. Aqui segue-se o exemplo", criticou Velloso.


https://www.bbc.com/portuguese/brasil

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Quanto dinheiro o Brasil investiu em obras em Cuba e na Venezuela


 Quanto dinheiro o Brasil investiu em obras em Cuba e na Venezuela


Por

Tiago Cordeiro


Província de Artemisa (Cuba) – A então presidente Dilma Rousseff e o então ditador de Cuba, Raúl Castro, durante inauguração do Porto de Mariel| Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República


É comum empresas estatais fazerem investimentos em obras de outros países, principalmente quando eles geram emprego e renda para corporações da nação de origem. Mas, como todo investimento, este costuma considerar os riscos envolvidos.


Durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pareceu não levar em consideração as chances de sofrer calotes. Uma série de operações financeiras favoreceu construtoras brasileiras em países aliados ao PT. Elas geraram dívidas que ainda estão sendo pagas. Algumas com atraso, outras viraram calote.


O banco mantém também uma página em que informa valores liberados, saldos devedores e saldos em aberto por país. Entre 1998 e março de 2021, Cuba recebeu US$ 656 milhões em desembolsos. Tem US$ 447 milhões em saldo devedor a vencer. As prestações em atraso a serem indenizadas são 13, a outras 140 já foram indenizadas – ou seja, não foram pagas nem mesmo depois de tentativas de acordo.


Companheiros venezuelanos

Um desses investimentos gerou um elefante branco em Moçambique: o aeroporto de Nacala, reformado para receber 500 mil passageiros por ano em uma cidade com 220 mil habitantes, foi construído a partir de 2010 e inaugurado em 2014, mas recebe tão poucos voos que espaços vazios são alugados para eventos.


O crédito que o BNDES concedeu virou calote em 2017, e o banco acabou acionando o seguro do Fundo de Garantia à Exportação (FGE), um instrumento do Ministério da Fazenda para cobrir calotes em operações de empresas nacionais fora do país. Foi ressarcido pelo Tesouro nacional em US$ 37 milhões. Segundo o próprio banco, Moçambique foi alvo de US$ 188 milhões em desembolsos, US$ 55 milhões a vencer e 122 prestações em atraso já indenizadas.


Nos últimos anos, os empréstimos concedidos à Venezuela deram origem a outra escalada de pagamentos do FGE para o BNDES – em outras palavras, dinheiro público vem sendo utilizado para cobrir financiamentos de alto risco realizados pelo banco no passado.


No país de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, empresas brasileiras contaram com subsídio governamental para vender de carne a aviões e realizar obras em uma siderúrgica e em estações de metrô. Em crise política e financeira, o país não tem cumprido as parcelas de seus empréstimos. A Venezuela recebeu US$ 1,506 bilhão, deve US$ 235 milhões, tem 42 parcelas em atraso e outras 510 não foram pagas.


Aliás, segundo o próprio BNDES, entre os 15 principais destinos de investimento do banco, apenas os três países, Moçambique, Cuba e Venezuela, geraram parcelas em aberto que não foram pagas e obrigaram a instituição a recorrer ao FGE.



Companheiros cubanos

Cuba também recebeu verba do BNDES, principalmente para a Companhia de Obras e Infraestrutura, subsidiária da Odebrecht que contratou a reforma do Porto Mariel, que fica a 40 quilômetros de Havana e foi destino de US$ 682 milhões, financiados até 2034.


Em setembro de 2018, já sob nova gestão no Palácio do Planalto, o então presidente do BNDES Dyogo Oliveira declarou, a respeito das operações de crédito a Cuba e à Venezuela: “Há uma crítica a esses empréstimos e até diria que, olhando hoje, que fica claro que eles não tinham condição de pagar. Provavelmente não deveriam ter sido feitos e agora temos que ir atrás do dinheiro para receber”.


Na medida em que o FGE fica sobrecarregado por empréstimos malsucedidos, os encargos para o erário aumentam. Em 2019, o orçamento federal incluiu uma previsão e R$ 1,4 bilhão para cobrir calotes ao fundo. Durante as investigações da Operação Lava Jato, a empreiteira Andrade Gutierrez admitiu que pagou propinas tanto na Venezuela quanto em Moçambique.


Explicações

Em seu site oficial, o BNDES mantém uma página com explicações sobre os investimentos no exterior. “O BNDES não financia todo o empreendimento, mas apenas a parte de bens e serviços brasileiros que são exportados para uso naquela obra”, alega.


“Essas operações funcionam da seguinte maneira: o BNDES desembolsa recursos no Brasil, em Reais, à empresa brasileira exportadora à medida que as exportações são realizadas e comprovadas. Quem paga o financiamento ao BNDES, com juros, em dólar ou euro, é o país ou empresa que importa os bens e serviços do Brasil”. O banco informa que financia exportações de empresas brasileiras para mais de 40 países. “Ao contrário do que comumente é noticiado, o maior destino dessas operações são os Estados Unidos (US$ 17 bilhões de 1998 a 2017). Em seguida, vêm Argentina (US$ 3,5 bilhões), Angola (US$ 3,4 bilhões), Venezuela (US$ 2,2 bi) e Holanda (US$ 1,5 bi)”. Angola e Venezuela se destacam precisamente pela proximidade ideológica com o PT.

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sábado, 24 de julho de 2021

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Manifestação contra Jair Bolsonaro fecha Avenida Paulista, em SP, neste sábado


 Manifestação contra Jair Bolsonaro fecha Avenida Paulista, em SP, neste sábado

Esta é a quinta vez no ano em que há um dia de protestos pelo país contra o governo Bolsonaro. Além da capital, foram registrados atos em pelo menos 120 cidades de todos estados. Protesto na capital paulista foi pacífico, mas grupo entrou em confronto com policiais na dispersão.

Por G1 SP e TV Globo — São Paulo


24/07/2021 


Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, na tarde deste sábado (24), na Avenida Paulista em São Paulo (SP) — Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO


Manifestantes realizaram neste sábado (24) um ato contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo.


O protesto ocorreu de maneira pacífica, mas houve confusão na Rua da Consolação, onde um grupo depredou agências bancárias, e a polícia utilizou bombas de efeito moral (leia mais abaixo).


No geral, os manifestantes pediram a saída de Bolsonaro e de seu vice, General Mourão, e a intensificação da campanha de vacinação contra o coronavírus.


A concentração começou por volta das 14 horas deste sábado, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). A via foi completamente fechada para o trânsito de veículos por volta das 15 horas. Todos os 15 quarteirões da Avenida Paulista foram fechados para carros, e manifestantes se espalharam em vários pontos da avenida.


Manifestantes fazem atos contra Bolsonaro e a favor da vacina

Além do quarteirão do Masp, outros pontos de maior concentração de manifestantes ocorreram na altura do prédio da Fiesp e em frente ao Conjunto Nacional.



Por volta das 17h, o ato começou a se movimentar em direção à Rua da Consolação. A partir das 18h a CET liberou a circulação na Avenida Paulista.


Além de cartazes críticos ao presidente, o protesto teve ainda diversas bandeiras do Brasil e placas em defesa da Amazônia e contra a privatização dos correios.


A maior parte dos presentes manteve o distanciamento social, mas alguns trechos tiveram maior concentração de manifestantes. A maioria usava máscara como medida de proteção contra o coronavírus.


Os manifestantes levaram cartazes com dizeres como "Vamos celebrar a vida: viva a vacina e #ForaBolsonaro", "Amazônia em pé, abaixo Bolsonaro", "Correios ficam, Bolsonaro sai".


O ato também teve grandes faixas com as cores vermelha e preta com os dizeres “Fora Bolsonaro”, além de uma longa bandeira verde e amarela. Carros de som se posicionaram ao longo da Paulista, sendo o principal em frente ao Masp.

Segundo a SPTrans, 44 linhas de ônibus que passam pela Avenida Paulista tiveram seus itinerários alterados por conta da manifestação. As linhas que seguem sentido Consolação foram desviadas para a Rua São Carlos do Pinhal. Já no sentido Paraíso o desvio é pela Alameda Santos.


Organização e discursos


A “Campanha Fora Bolsonaro” é uma inciativa da Frente Povo Sem Medo, da Frente Brasil Popular, de todos os partidos de esquerda, das centrais sindicais, do movimento negro, de entidades de estudantes, movimentos sem-teto, lideranças indígenas, ONGs e outros movimentos populares, todos eles signatários do 'superpedido' de impeachment.


No ato também compareceram representantes do PT, PSDB, PDT, PcdoB, PSTU, PSOL, PCB e PCO.


Políticos de diversos partidos estiveram no protesto. O vereador Eduardo Suplicy (PT) declarou que quer fazer parte do movimento contra Bolsonaro nas eleições de 2022.


"Acabei de estar com o Boulos e com o Haddad e queremos estar junto com vocês no ano que vem. Tanto no estado quanto no governo federal estaremos unidos no Fora Bolsonaro", declarou.


Já o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL) afirmou que, entre as pautas que o ato levantou, está a defesa do auxílio emergencial.


"Nós estamos defendendo também a vacinação já para todo o povo brasileiro, renda emergencial de no mínimo R$ 600, isso é fundamental. Essas são as principais reivindicações, junto com a defesa da democracia", disse.

Em um carro de som em frente ao Masp, políticos como Orlando Silva (PC do B), Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT) discursaram à multidão.



Em seu pronunciamento, Haddad declarou que a população vai protestar nas ruas até a saída do presidente e que, com o avanço da vacinação, os jovens devem participar cada vez mais dos atos.


"Hoje nós temos 8 milhões de universitários neste país, de todas as cores e todas as orientações. O Brasil tá representado e temos uma massa crítica que não vai abrir mão da democracia e de seus direitos sociais, civis, políticos, e da sua liberdade", disse Haddad.


"O Bolsonaro não perde por esperar", completou.


Já o político Guilherme Boulos falou sobre a possibilidade de não haver eleições em 2022, citada por integrantes do governo Bolsonaro em meio à discussão sobre a urna eletrônica.


"Vou dizer uma coisa aqui para o presidente Bolsonaro: vai ter eleição em 2022. E mais do que isso: nós vamos trabalhar para que, antes da eleição, tenha impeachment. Nós vamos trabalhar para que, em 2022, Bolsonaro não esteja na urna", disse Boulos.

Em ato contra o presidente Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos (PSOL) discursa em carro de som na Avenida Paulista neste sábado (24) — Foto: Marina Pinhoni/G1

Em ato contra o presidente Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos (PSOL) discursa em carro de som na Avenida Paulista neste sábado (24) — Foto: Marina Pinhoni/G1


Frente ampla

Além do carro de som principal, localizado na frente do Masp, outros veículos espalhados pela Avenida Paulista reuniram manifestantes para acompanhar discursos de lideranças políticas.


Na altura do Conjunto Nacional, um carro de som teve representantes de PC do B, PSDB e Rede Sustentabilidade, além de lideranças da UNE.


No microfone, uma liderança do PSDB discursou citando a chamada frente ampla de partidos contra o presidente Jair Bolsonaro.


"Ô Bolsonaro, seu fascistinha, a Frente Ampla vai colocar você na linha", disse.


A representante do PSDB declarou ainda que gostaria de convocar todos as religiões para os atos, com destaque para os evangélicos.


Em outro ponto da Avenida Paulista, um pequeno grupo de evangélicos protestou contra o governo Bolsonaro, citando um versículo da Bíblia que diz "ele veio para matar, roubar e destruir".

Confusão no fim do ato

Tumulto é registrado no fim do ato contra Bolsonaro em São Paulo


Por volta das 18 horas, quando o ato chegava ao final, um grupo depredou e incendiou uma agência bancária na Rua da Consolação. O grupo quebrou as vidraças de uma agência do Banco Itaú na altura do Cemitério da Consolação.


A polícia reprimiu, usando cassetes e bombas de efeito moral, e houve confusão no local. Pelo menos duas pessoas foram detidas.


Segundo a polícia, um grupo tentou retirar tapumes que protegiam as vidraças de uma concessionária de veículos na Rua da Consolação. Outros jogaram pedras contra os policiais, que se protegeram usando escudos.


Houve correria, e alguns manifestantes se abrigaram no Posto de Bombeiros da Consolação para fugir do gás.


Em nota, a Polícia Militar disse que foram mobilizados cerca de 800 policiais, com apoio de 119 viaturas e quatro drones.


Seis pessoas portando objetos como soco inglês e fogos de artifício foram detidas e encaminhadas ao 78º DP.


Ainda segundo a polícia, durante a passagem dos manifestantes pela rua da Consolação foram registradas "depredações em uma agência bancária, em um ponto de ônibus, além do lançamento de objetos contra a tropa". Não houve registro de feridos.


A estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 4-Amarela, ficou fechada das 18h31 e 18h40, por conta da confusão no local, segundo a concessionária ViaQuatro.


Atos pelo país

Os protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e em defesa da vacinação contra Covid-19 ocorreram em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal neste sábado.


Na Grande São Paulo, além da manifestação na Avenida Paulista, houve registro de ato em São Bernardo do Campo, Mairiporã, Suzano e Itaquaquecetuba.


As manifestações na Grande São Paulo foram pacíficas e a maior parte dos manifestantes usou máscara e manteve o distanciamento social devido à pandemia.


Histórico de protestos

Esta é a quinta vez no ano em que há um dia de protestos pelo país contra o governo Bolsonaro.


Em 23 de janeiro, diversas cidades tiveram carreatas a favor da vacinação e contra o presidente.


Em 29 de maio, todos os estados e o Distrito Federal registram manifestações contra governo Bolsonaro.


No dia 19 de junho, dia em que o Brasil bateu a triste marca de 500 mil mortos por Covid-19, protestos ocorreram em Brasília e mais 25 capitais.


Já no último dia 3 de julho, foram verificados atos em ao menos 120 cidades brasileiras e em dezenas de capitais europeias. No geral, os manifestantes pediam mais vacina, o impeachment de Bolsonaro e volta do auxílio emergencial de R$ 600.


quarta-feira, 21 de julho de 2021

As revelações sobre Nero que desafiam fama de imperador tirano e cruel


 As revelações sobre Nero que desafiam fama de imperador tirano e cruel

Fernanda Paúl

BBC News Mundo


Nero foi o quinto imperador romano — ele assumiu o poder aos 16 anos e governou por quase 14 anos


Tirano, cruel e assassino.


Estas são algumas das características que os historiadores atribuíram a Nero — o imperador de Roma a partir do ano 54 d.C. — por quase dois mil anos.


Segundo vários cronistas, o jovem líder romano mandou assassinar a mãe, Agripina, a Jovem, e suas duas esposas: Cláudia Otávia e Popeia Sabina.


Agripina: quem foi a mulher mais poderosa do Império Romano

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Além disso, ele foi acusado de iniciar o Grande Incêndio de Roma, que devastou grande parte da cidade por nove dias; é lembrado como um ferrenho perseguidor dos cristãos; e seu nome passou a ser sinônimo de degeneração por suas supostas aventuras sexuais, extravagâncias e excessos.

Também dizem que ele era arbitrário, petulante e buscava constantemente atenção.

No entanto, tudo isso pode ser um exagero ou, simplesmente, invenção. Estudos recentes sugerem que Nero, na realidade, não era tão ruim quanto se acreditava.

Esse lado muito menos conhecido do imperador é revelado em uma nova exposição no British Museum, em Londres, chamada Nero, the man behind the myth ("Nero, o homem por trás do mito", em tradução literal), que desafia sua reputação grotesca.


Coliseu

Em seu apogeu, o Império Romano se estendia da Península Ibérica até o norte da África e a Mesopotâmia


"Ele teve o azar de ser o último imperador da dinastia romana júlio-claudiana. Então, quando ele morreu, houve um período de guerra civil e caos, e depois disso, uma nova dinastia chegou ao poder. E todas as histórias sobre Nero foram escritas sob essa nova dinastia, que teve que se legitimar e representar o período anterior da pior forma possível", conta Francesca Bologna, a curadora da mostra, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.


"Por isso não temos uma visão objetiva dele. É incrível pensar em como se escreve a história e em como se manipula para passar algumas mensagens", completa.


A seguir, a BBC News Mund apresenta sete coisas que talvez você não saiba sobre ele e que, de uma forma ou de outra, levantam a questão: era Nero realmente um imperador tirano, cruel e assassino?


1. Um imperador popular

Nero tinha apenas 16 anos quando assumiu como quinto imperador de Roma.

Ele chegou ao poder em meio a um forte clamor popular por mudanças e grandes expectativas: acreditava-se que com ele começaria uma nova era de ouro.

Apesar de sua inexperiência, esse líder jovem e enérgico adotou políticas que o tornaram popular.

Medidas administrativas abrangentes, incluindo reformas fiscais e monetárias, assim como grandes projetos de construção, estiveram entre suas realizações mais reconhecidas.

Ele também melhorou o sistema de abastecimento de alimentos em Roma e distribuiu moedas ao povo. Tudo isso fez com que as pessoas acreditassem que o imperador se preocupava com suas necessidades.

Segundo a exposição do British Museum, sua imagem era tão positiva que imitavam até seu visual: seu corte de cabelo virou moda, e seu rosto foi gravado por meio de grafites em diferentes áreas do Império.


Nero

O corte de cabelo de Nero virou moda na época, de acordo com a exposição do British Museum


"As evidências sugerem que Nero era adorado pelo povo e contrastam com a imagem pintada por escritores antigos hostis após sua morte", diz a mostra.


Mas, apesar da adoração do povo, muitas de suas políticas irritavam a elite e os mais ricos. E isso explica, em parte, por que adquiriu uma reputação tão ruim.


"Essa é provavelmente uma das razões pelas quais temos uma imagem tão negativa dele, porque a elite é quem escreveu os livros de história", afirma Bologna.


De fato, a maior parte do que foi transmitido sobre Nero vem de três historiadores: Tácito, Cassius Dio e Suetônio, todos membros das mais altas esferas políticas e oponentes claros de seu governo.


2. Um artista equivocado?

Nero se tornou o primeiro imperador a se apresentar publicamente no palco.


Quando criança, ele teve aula de música e adorava corridas de bigas, um dos esportes mais populares na Grécia e na Roma antiga. Também era apaixonado pelas lutas de gladiadores.


Assim, a organização de espetáculos e o oferecimento de entretenimento de todos os tipos para o povo era um elemento muito importante de seu império.


Luta de gladiadores

Nero era apaixonado por espetáculos, incluindo a luta de gladiadores

Isso, sem dúvida, aumentou sua popularidade e, segundo a exposição do British Museum, provavelmente o ajudou a ganhar apoio para sua causa política.


Mas, mais uma vez, este lado artístico também lhe rendeu duras críticas, sobretudo dentro do Senado e entre a elite.


Mais tarde, após sua morte, a ideia de que Nero era um "artista equivocado" permaneceria.


3. Uma relação complexa com a mãe

De acordo com a exposição do British Museum, durante os primeiros anos de Nero no poder, Agripina — uma mulher com habilidades políticas notáveis — desempenhou um papel importante, influenciando fortemente na tomada de decisões e agindo quase como cogovernadora.


Mais tarde, isso gerou uma tensão com seu filho, que quis se livrar dela.


É que em uma sociedade marcadamente patriarcal, o poder de uma mulher não era bem visto. O político e historiador Tácito, de fato, desdenhou de Nero por ser "governado por uma mulher". E eles foram até acusados de "incesto".


A evolução da relação entre Nero e Agripina é bem ilustrada em três moedas de ouro emitidas na época: pouco depois de Nero se tornar imperador, uma moeda retratava ele com a mãe de perfil, nariz com nariz.


Um ano depois, uma segunda moeda foi cunhada representando ele e sua mãe em paralelo.


Finalmente, Agripina desaparece completamente em uma terceira moeda.



Por volta do ano 59 d.C., Agripina — já retirada do palácio— morreu, e Nero foi apontado como responsável. O imperador justificou a morte da mãe garantindo que ela planejava assassiná-lo.


"Ele estava definitivamente envolvido na morte da mãe, isso é certo. Mas nunca saberemos qual foi o verdadeiro motivo de sua morte. É muito provável que tenha havido um elemento político por trás; dizem que Agripina estava tentando conspirar contra Nero. É verdade? Possivelmente, mas não sabemos ao certo", diz Bologna.


A primeira esposa de Nero, Cláudia Otávia, também foi crucial em sua ascensão ao poder. Mas o amor durou apenas alguns anos: por volta de 62 d.C, ela — que era muito popular na cidade — foi executada após ser banida. Reza a lenda que Nero a acusou de adultério, o que foi questionado na época.


Finalmente, o imperador se casou com Popeia Sabina, que engravidou de uma menina, mas ambas morreram antes dela dar à luz. Nero, mais uma vez, foi apontado como culpado.


"Que Nero também tenha assassinado sua segunda esposa parece extremamente improvável. A história, que diz que ele chutou a barriga dela, parece muito falsa", avalia Bologna.


4. Ele realmente causou o Grande Incêndio de Roma?

Talvez um dos mitos mais importantes da história de Nero tenha a ver com o Grande Incêndio de Roma, em julho de 64 d.C., três meses antes de ele completar 10 anos no poder.

Reza a lenda que Nero supostamente tocava violino enquanto Roma pegava fogo


Os incêndios eram comuns, mas este teve uma dimensão sem precedentes: durante nove dias as chamas consumiram ferozmente tudo que estava em seu caminho, de um lado a outro da cidade. A alta densidade populacional e a precariedade das moradias fizeram desta uma catástrofe perfeita.


Os detratores de Nero garantiram que sua responsabilidade pela tragédia fosse estampada nos livros de história, consolidando sua má reputação.


Não apenas foi dito que foi ele quem começou o incêndio, como também que ele "tocava violino enquanto Roma queimava".


Os historiadores Tácito, Cassius Dio e Suetônio escreveram vividamente sobre o caos e a destruição.


No entanto, pesquisadores modernos afirmam que essas acusações são evidentemente absurdas e que, na verdade, os violinos não foram inventados até o século 16.


"Nero nem sequer estava em Roma naquele momento, e correu para a cidade quando soube do incêndio. Por que você colocaria fogo na sua própria capital? Não faz sentido", diz Bologna.


Por sua vez, o próprio Nero, para apaziguar as acusações contra ele, culpou os cristãos pelo incêndio, que foram executados em massa. Esta decisão o levou a entrar para a história como um dos maiores e mais ferrenhos perseguidores de cristãos da história.


Mas, mesmo neste ponto, há controvérsias sobre o papel que Nero desempenhou, e alguns historiadores afirmam que exageraram sobre seu papel na execução.


"Isso, é claro, cimentou a percepção negativa em relação a ele", observa a curadora da mostra do British Museum.


5. Promotor de grandes projetos

Depois que o incêndio destruiu completamente três distritos de Roma e deixou outros sete em ruínas, Nero teve que reconstruir a cidade e fez isso por meio de um plano ambicioso.


De acordo com a exposição do British Museum, a restauração da cidade foi bem recebida por seu potencial de "embelezar" a capital do império.


Uma das obras mais importantes foi a Domus Aurea (Casa Dourada), um grandioso palácio que ocupava cerca de 50 hectares. Incrustações de ouro, pedras preciosas e marfim foram incluídas em seu design, que representava o espaço adequado para o poderoso imperador.


Domus Aurea

O que resta da Domus Aurea é hoje uma atração turística


Com sua arquitetura inovadora e decoração luxuosa, a nova residência imperial inspirou outras mansões e vilas aristocráticas onde foram erguidas construções para o passatempo dos romanos.


A Domus Aurea não foi concluída antes da morte de Nero e foi amplamente criticada por seus oponentes políticos, que questionavam seu gosto pelo luxo e extravagância.


Mas, muito além desta obra imperial, Nero estava particularmente interessado em projetos de engenharia moderna e arquitetura inovadora. Ele construiu anfiteatros, mercados de comida, casas novas para as pessoas afetadas pelo incêndio e até termas públicas.


Muitas de suas obras, no entanto, foram destruídas mais tarde. Para Francesca Bologna, se isso não tivesse acontecido, seriam seu grande legado.


"Depois de Augusto, ninguém mudou Roma tanto quanto Nero. Ele fez construções realmente incríveis, mas infelizmente elas só ficaram consagradas em moedas ou descrições", diz.


6. Guerra e diplomacia

Nero herdou um império em um período de crescente tensão com seus rivais.


E para alguns historiadores, a maneira como ele lidou com esses conflitos é um de seus grandes legados.


Na exposição no British Museum, é dito que ele reagiu misturando a força militar com a diplomacia, ao mesmo tempo que projetava uma imagem de um líder forte protetor do Império.


Um bom exemplo é o que aconteceu com o Império Parta e o controle da Armênia. Após anos de conflito armado, Nero acabou resolvendo o problema diplomaticamente: concedeu ao príncipe parta Tirídates a possibilidade de governar a Armênia, mas apenas se ele fosse coroado por um imperador romano.


E assim aconteceu: no ano 66 d.C. Nero o coroou rei da Armênia em uma cerimônia incrivelmente bem-sucedida que manteve a paz por muitos anos entre Roma e Pártia (região histórica no nordeste do atual Irã).


"Ele assumiu em um momento de tensão dentro do Império Romano, havia muito conflito, e ele teve que lidar com tudo isso. E fez isso, encontrou soluções diplomáticas, e é por isso que a diplomacia ao invés da guerra é um de seus legados", diz Bologna.


No entanto, uma versão diferente começou a circular após sua morte: o historiador Suetônio disse que a atitude de Nero foi, em última análise, uma "humilhação" para os romanos.


Mas, de acordo com pesquisas do British Museum, o imperador correspondeu às expectativas de seu povo no que se refere a assuntos militares.


7. Sua morte e o aparecimento de 'falsos' Neros

Para entender quem foi Nero, é preciso considerar como ele morreu.


Apesar de sua popularidade, a elite nunca o suportou e se sentia constantemente ameaçada por suas políticas.


As conspirações contra ele aumentaram ao longo dos anos, e finalmente o Senado o declarou como inimigo do Estado.


"No final, ele não teve outra escolha a não ser acabar com sua vida", diz a exposição do British Museum.


E foi assim que em 68 d.C, aos 30 anos, Nero morreu, encerrando a dinastia júlio-claudiana. Sua popularidade continuou após sua morte, alimentando profecias que diziam que ele voltaria. Vários "falsos" Neros apareceram e ganharam apoio entre o povo.


A exposição em Londres termina com uma pergunta: agora que você sabe mais sobre Nero, acha que ele foi um bom imperador?


Possivelmente, não há uma resposta correta. Mas o que está claro é que seu legado é muito mais complexo do que simplesmente dizer que ele foi um imperador "tirano, cruel e assassino".


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