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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Marin dividiria propina de R$ 346 mi por direitos de TV da Copa América


Marin dividiria propina de R$ 346 mi por direitos de TV da Copa América

Vinicius Konchinski e Vinícius Segalla

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo 27/05/2015

DETIDO: José Maria Marin (83, Brasil) foi presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa de 2014. Estava no hotel em Zurique junto a outros dirigentes ligados à Fifa quando foi detido, com mais seis pessoas. O caso investiga corrupção na venda de direitos de marketing e transmissão e cita a Copa do Brasil. O contrato da CBF com a Nike também está sob investigação Marcus Brandt-3.dez.2013/EFE
A investigação realizada pela Procuradoria de Nova York descobriu que o ex-presidente da CBF José Maria Marin seria um dos cinco beneficiários de uma propina de US$ 110 milhões (R$ 346 milhões, na cotação desta quarta-feira, 27 de maio) pagos pela empresa uruguaia Datisa, criada pela Traffic e por outras duas agências de marketing para negociações de direitos de transmissão da Copa América.

Marin e os outros acusados receberiam o dinheiro por terem feito com que a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e a Concacaf (Confederação de Américas do Norte e Central) cedessem à Datisa os direitos mundiais de transmissão das edições da Copa América dos anos de 2015, 2019 e 2023, além da edição especial do campeonato em 2016, evento que será realizado nos Estados Unidos e reunirá seleções de todo o continente americano.

De acordo com os procuradores norte-americanos, o esquema foi fechado em janeiro de 2014, quando Marin era o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e membro do comitê executivo da Fifa. Já o representante da CBF na Conmebol, à época, era Marco Polo del Nero, atual presidente da CBF, que não é citado nas investigações.

O valor de R$ 346 milhões em propina não foi integralmente pago, já que o acordo previa que o pagamento se daria em parcelas durante todo o tempo de vigência do contrato. Até agora, dizem os procuradores, do total, foi repassado aos acusados um valor de U$ 40 milhões (R$ 126 milhões).

Além deste esquema na Copa América, segundo afirmam os procuradores, Marin recebeu também R$ 2 milhões anuais em propinas de parceiros comerciais para ceder direitos da Copa do Brasil (torneio nacional disputado no país desde 1989). Além disso, a própria CBF também foi implicada no esquema de propinas no valor de US$ 20 milhões (R$ 63 milhões) para contratos comerciais para a Copa América de 2019, que será realizada no Brasil. Documentos obtidos durante a investigação confirmariam o esquema.

Marin foi preso na manhã desta quarta-feira em Zurique, na Suíça, ao lado de outros seis dirigentes do alto escalão do futebol mundial. Os cartolas deverão ser extraditados para os Estados Unidos e podem pegar até 20 anos de cadeia.

As propinas relacionadas à Copa do Brasil, de acordo com a investigação, teriam começado ainda na década de 1990. Durante 19 anos, um "alto funcionário da Fifa e da CBF" pediu a transferência de valores ligados ao contrato de venda dos direitos da Copa do Brasil. De acordo com o relatório do FBI, Marin aumentou o valor da propina quando assumiu a presidência da CBF, em 2012.

Marin teria aceitado ainda dividir o valor com dois dirigentes brasileiros. Os nomes, porém, não foram mencionados pela investigação. Os pagamentos foram feitos por meio de contas do banco Itaú, em Nova York, e do HSBC, em Londres.
Em Zurique, Marco Polo Del Nero, atual presidente da entidade, saiu em defesa do dirigente. "São contratos assinados antes da administração de Marin. Não há nenhum contrato assinado depois", afirmou Del Nero.

A CBF divulgou uma nota no fim da manhã desta quarta-feira. A entidade afirmou que apoia as investigações e defendeu a nova gestão. "Diante dos graves acontecimentos ocorridos nesta manhã em Zurique, envolvendo dirigentes e empresários ligados ao futebol, a CBF vem a público declarar que apoia integralmente toda e qualquer investigação", disse a entidade.

No texto, a CBF afirma que "aguardará, de forma responsável, sua conclusão, sem qualquer julgamento que previamente condene ou inocente". Além disso, ressalta que a "nova gestão da CBF, iniciada no dia 16 de abril de 2015, reafirma seu compromisso com a verdade e a transparência".

José Maria Marin, no entanto, ainda faz parte da gestão atual, comandada por Del Nero. O dirigente é vice-presidente da entidade máxima do futebol brasileiro.

http://esporte.uol.com.br/futebol

Fatos que marcaram O Século XX: O sequestro e assassinato do premier Aldo Moro na Itália

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 O sequestro e assassinato do premier Aldo Moro na Itália

Italo Magno.

Corpo de Aldo Moro

Corpo de Aldo Moro é abandonado com 11 tiros dentro de um carro na Via Caetani, uma rua localizada entre a sede central dos Democratas Cristãos e do Partido Comunista Italiano.

Entre fins dos anos 1960 e ao longo da década de 1970, diversos países da Europa Ocidental foram palcos do surgimento e atuação de diferentes organizações paramilitares radicais de esquerda surgidas em meio às efervescências do movimento estudantil desta época.

Em um atribulado contexto de importantes transformações ocorridas em todo o mundo, estas organizações se formaram tendo por inspiração direta diferentes ideários e práticas revolucionárias, como a Revolução Cubana e o maoísmo, passando pela resistência vietcong na Guerra do Vietnã e pelas variadas ações armadas desenvolvidas pelas guerrilhas latino-americanas em suas lutas contra as ditaduras então existentes no continente.

Marcadas por sua radicalidade, estas organizações paramilitares igualmente se singularizavam pelo desafio frontal que estabeleceram diante das linhas oficiais de atuação dos partidos comunistas existentes nos países em que atuavam à época. Alinhados e subordinados às diretrizes políticas oriundas da União Soviética, os partidos comunistas da Europa Ocidental nestes anos apregoavam a transição pacífica ao socialismo por meio da conquista democrática das instituições políticas, desestimulando qualquer tipo de atuação armada para a concretização deste objetivo.

Por meio da execução de audaciosos planos de ação armada, indo de sequestros de aviões e personalidades políticas e empresariais a assaltos a banco e atentados à bomba, estas organizações tentavam deflagrar o início de processos revolucionários socialistas nos países onde atuavam. Dentre estas organizações, as Brigadas Vermelhas, atuantes na Itália entre as décadas de 1960 e 1980, foram uma das mais famosas e temidas.

Aldo Moro no cativeiro
Foto tirada quando Aldo Moro estava no cativeiro e enviada aos jornais italianos com o objetivo de pressionar o governo à mudar sua postura de não querer negociar com os terroristas sob nenhuma forma.

O sequestro e assassinato de Aldo Moro

Em 1978, as Brigadas Vermelhas foram responsáveis por um dos mais sombrios capítulos da história política italiana recente. No dia 16 de março de 1978, quando se dirigia para a solenidade de posse como Chefe de Governo de Giulio Andreoti, o líder da Democracia Cristã (DC), Aldo Moro, que apoiava um governo de coalizão com o Partido Comunista Italiano, foi sequestrado em Roma pelas Brigadas Vermelhas e levado para um cativeiro, onde viveu junto com toda a Itália 55 dias de tensão. Ao longo desses dias, as Brigadas Vermelhas tentaram realizar um julgamento popular do sequestrado, bem como exigiam a liberação de militantes presos.

Ignorando os inúmeros e dramáticos pedidos de Moro e da opinião pública italiana, o governo foi inflexível e se recusou a dialogar com os terroristas. Esta recusa teve por resultado a controversa decisão da organização de executar Aldo Moro, assassinado por seus integrantes por meio de 11 tiros. Seu corpo foi encontrado dentro de um carro abandonado na Via Caetani, uma rua localizada entre a sede central dos Democratas Cristãos e do Partido Comunista Italiano em Roma. Moro, que foi duas vezes primeiro-ministro, era um intelectual e hábil negociador, além de ser considerado também uma das personalidades mais eminentes de sua geração. Seu assassinato gerou grande comoção e insegurança entre a população italiana.

A notícia de sua morte foi também um golpe terrível na frágil estabilidade das estruturas políticas da Itália de então, dado que Moro era um homem respeitado não só entre os partidários da Democracia Cristã, como também por diversas personalidades da esquerda italiana e europeia. Dentre as nações que oficialmente manifestaram pesar e condenaram a ação cometida pelas Brigadas Vermelhas em nome de seus ideários revolucionários, se encontrava a União Soviética.

Por Italo Magno Jau. Coautoria de Carlos Frankiw.


http://www.museudeimagens.com.br/

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Carta escrita por Albert Einstein é encontrada em colégio de Porto Alegre



Carta escrita por Albert Einstein é encontrada em colégio de Porto Alegre

Lucas Azevedo


Do UOL, em Porto Alegre 25/05/2015



A escola recebeu uma carta e uma foto exclusiva feita pelo fotógrafo Marcel Sternberger

Uma relíquia histórica encontrada no fundo de um pesado cofre na sala da direção de uma escola, em Porto Alegre, vem animando os alunos e alimentando a curiosidade sobre física. Ninguém menos que Albert Einstein assinou e datilografou a carta com uma mensagem endereçada aos estudantes do Colégio Anchieta, tradicional escola porto-alegrense.

Datada de 24 de junho de 1951, a correspondência foi trazida a Porto Alegre pelo então diretor e padre Gaspar Dutra, que passava uma temporada de estudos nos Estados Unidos. Naquele dia, o brasileiro teve um encontro com o célebre físico alemão na Universidade de Princeton, na cidade norte-americana de Nova Jersey.

"Quem conheceu a alegria da compreensão conquistou um amigo infalível para a vida. O pensar é para o homem, o que é voar para os pássaros. Não toma como exemplo a galinha quando podes ser uma cotovia", escreveu Einstein, em alemão, endereçando aos "estudantes do Colégio Anchieta". A  carta chegou ao Brasil acompanhada de uma foto exclusiva feita pelo fotógrafo Marcel Sternberger.

Para redimir quaisquer dúvidas, uma grafologista foi contratada e acabou verificando a autenticidade do documento, ao comparar a assinatura contida na carta com uma amostra cedida pelo Instituto Oswaldo Cruz, o qual Einstein visitou na década de 1920.

A carta estava guardada há décadas em um cofre com documentos antigos na sala da direção do colégio. Durante as comemorações de aniversário, um antigo diretor esteve presente e comentou a existência da correspondência. O cofre foi aberto, vasculhado e, para a surpresa de todos, lá estava a relíquia.
A correspondência foi entregue ao então diretor da escola e padre Gaspar Dutra
"Esta carta é um artefato histórico, que acabou sendo resgatado durante nossas comemorações de 125 anos do colégio. Esse marcante cientista já tinha essa consciência do seu trabalho, da relevância social que ele possuía. Hoje percebemos que é uma característica de quem tem uma visão de mundo diferente. E é isso que queremos", afirma o coordenador de ensino da instituição, Dário Schneider.

O professor se emociona ao comentar as palavras de um dos maiores físicos de todos os tempos, pai de um dos pilares da física moderna: a Teoria da Relatividade. "'Não toma como exemplo a galinha quando podes ser uma cotovia.' Isso é de grande sensibilidade. É realmente o olhar a vida de uma maneira mais ampla, de uma dimensão de quem compreende o ser humano como detentor de um grande potencial. A escola é um meio para alcançar conhecimento, e nessa frase Einstein nos aponta essa direção. A gente deve olhar aquilo que se aprende não para a escola, unicamente, mas para abrir horizontes de vida", explica Schneider.

Inspiração para as aulas de física
Entre os alunos, a descoberta da carta também gerou entusiasmo. A figura do cientista descabelado por si só já é simpática. Porém, quando os alunos do ensino médio começaram a ter contato com as teorias de Einstein, a proximidade do criador através da carta gera uma empatia e cumplicidade ainda maiores.

"Essa descoberta está sendo muito inspiradora. Conversando com um colega sobre a carta, até decidimos apresentar um experimento de física na feira de ciências. Fiquei muito feliz em saber que nossa escola é reconhecida por gente como Einstein", diz o estudante da 2ª  série do ensino médio, Pedro Henrique Giuberti, 16 anos.

"Eles estão encantados. Creio que esse fato encoraje a termos mais cientistas. Isso me alegra. Einstein servirá de referência. Devemos estimular nossos estudantes a fazerem a diferença", aponta Schneider. O professor resume a importância do gesto do cientista para gerações de estudantes da escola. "O que eu faço é pequeno, mas se torna grande porque tem amor. E é esse amor capaz de transformar a sociedade."

Divulgação/Princeton University
Que descoberta deu o Nobel a Einstein?

Albert Einstein tinha apenas 26 anos quando publicou, em 1905, cinco artigos que revolucionaram vários domínios da física. Ele foi um cientista aclamado pela academia e pelo público, que adorava os debates, as viagens e que precisou trocar de país várias vezes. Conhece a história do gênio? Teste-se.

domingo, 24 de maio de 2015

Bombardeio em Guernica: Chuva de fogo





Bombardeio em Guernica: Chuva de fogo

Há 70 anos, a cidade basca de Guernica foi vítima do primeiro grande bombardeio moderno. A destruição, orquestrada pelos nazistas, serviu de ensaio para os horrores da Segunda Guerra
Mauro Tracco | 01/05/2007 00h00

Tradicionalmente, a semana em Guernica começava com uma feira livre. Naquela segunda-feira, 26 de abril de 1937, agricultores dos arredores da pequena cidade basca vendiam os frutos de seu trabalho na praça principal. Às 16h30, um único badalar do sino da igreja anunciou a incursão aérea. Dez minutos depois, vieram as bombas. Guernica ficou arrasada – e o mundo foi apresentado ao poder dos ataques aéreos sistemáticos, que se tornariam comuns poucos anos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial.

Na época do bombardeio, a Espanha vivia a Guerra Civil. Após um fracassado golpe militar contra o governo do socialista Francisco Largo Caballero, em 1936, as tropas do general Francisco Franco não desistiram de tomar o poder. Divididos, os espanhóis passaram a se enfrentar em diversos pontos do país. Os combatentes leais ao governo de esquerda, chamados de republicanos, contavam com o apoio da União Soviética. Já as forças de Franco, os nacionalistas, tiveram a ajuda da Itália fascista de Benito Mussolini e da Alemanha nazista de Adolf Hitler.

Desde o início, Franco havia tentado conquistar Madri. Em abril de 1937, a capital ainda não havia caído e o general decidiu optar por um alvo mais fácil: o norte espanhol. As regiões de Astúrias e Santander e as províncias do País Basco estavam em péssima situação militar. Lá, a força aérea dos republicanos era inexistente. Os céus estavam abertos para as bombas nacionalistas.

Guernica, no País Basco, era habitada por apenas 6 mil pessoas. Não possuía defesa, nem qualquer alvo militar, salvo a ponte sobre o rio Mundaca, cuja destruição poderia dificultar uma retirada do exército basco. Apesar da insignificância estratégica da cidade, seu centro foi alvo do até então mais violento ataque aéreo da história. Mas por quê? Nada de mais. Para os nazistas, foi apenas um teste.
Os protagonistas do ataque a Guernica foram aviadores alemães, com a ajuda – muitas vezes desajeitada – de pilotos italianos. Hermann Goering, comandante da Luftwaffe (a força aérea alemã), revelou em 1946, durante julgamento no Tribunal de Nuremberg, que Guernica foi um estupendo laboratório para ensaiar sistemas de bombardeios com projéteis explosivos e incendiários em uma cidade aberta. O resultado da mórbida experiência se tornou o episódio mais lembrado da Guerra Civil.

Símbolo de autonomia

Guernica não foi a primeira vítima da temida Legião Condor, a unidade militar enviada por Hitler à Espanha. Embora com menos intensidade, as cidades de Durango e Éibar já haviam sido bombardeadas. Mas, além de ter sido acertada com mais violência, Guernica tem uma enorme importância simbólica para o povo basco, que vive no norte da Espanha e no sul da França. A destruição mexeu com os brios desse milenar grupo étnico. Na Idade Média, Guernica foi a vila onde se reuniam as Juntas Gerais (espécie de conselho político) de Biscaia, região habitada pelos bascos. Sob uma árvore do século 14, o Carvalho de Guernica, os monarcas espanhóis juravam lealdade aos Foros Bascos, um conjunto de leis que regulamentava os costumes e os direitos desse povo. Isso mantinha vivo o respeito da Espanha pelos bascos.

A árvore durou 400 anos. No século 19, após sua morte, outro carvalho foi plantado no local. Mas, tempos depois, o governo espanhol resolveu deixar de respeitar os Foros Bascos. Na virada do século 20, o povo basco intensificou seu nacionalismo, pregando até a separação da Espanha. Em outubro de 1936, no início da Guerra Civil, o governo republicano fechou um acordo que dava autonomia ao País Basco (que inclui, além de Biscaia, as províncias de Álava e Guipúzcoa). Durante todo esse tempo, Guernica se manteve como uma referência para a região.

“Os alemães deviam estar cientes dessa importância, mas não acho que isso tenha sido determinante na escolha de Guernica como alvo. Provavelmente a teriam atacado de qualquer jeito”, afirma Félix Luengo, diretor do Departamento de História Contemporânea da Universidade do País Basco. O general Franco, no entanto, certamente enxergou em Guernica uma boa oportunidade de humilhar o povo basco, visto como traidor da causa nacionalista. E, no dia do bombardeio, a cidade abrigava pelo menos mil refugiados, vindos de localidades espanholas que já tinham sido atacadas pelo exército de Franco.

Roteiro macabro

O planejamento do bombardeio é atribuído a Wolfram von Richthofen, então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas alemãs (e primo do Barão Vermelho, lendário piloto da Primeira Guerra). Tudo começou com um único Dornier Do-17, de fabricação alemã. Ele veio do sul e soltou cerca de uma dúzia de bombas de 50 quilos no centro da cidade. As pessoas que estavam na feira correram para abrigos, fazendas e bosques. Após completar a missão, o Dornier voltou para a base. No percurso, cruzou com três Savoia-79 italianos que chegaram a Guernica instantes depois. A patrulha sobrevoou a cidade por um minuto. Tempo suficiente para soltar 36 bombas de 50 quilos. Quando se retiraram, os danos causados ainda eram relativamente pequenos. Apenas alguns prédios haviam sido atingidos, como o quartel-general dos republicanos e a igreja de San Juan.

Às 16h45 começou a terceira onda de bombardeios, executada por um Heinkel-111 alemão escoltado por cinco caças Fiat CR-32 italianos. Às 17h e às 18h, outros dois Heinkel despejaram sua carga explosiva sobre Guernica. Caso os ataques tivessem parado por aí, já seria um castigo excessivo para uma cidade que, até então, havia sido poupada da guerra. Mas o pior ainda estava por vir.
Três esquadrões de Junkers Ju-52 alemães, carregados com projéteis explosivos de até 250 quilos e bombas incendiárias, chegaram a Guernica escoltados por caças Fiat e Messerschmitt Bf-109, o orgulho da aviação nazista. Às 18h30, o primeiro esquadrão de Ju-52 iniciou sua ação. Enquanto a carga dos bombardeiros destruía e incendiava os prédios de Guernica, os caças metralhavam civis indefesos que fugiam. Por cerca de três horas, 40 aviões participaram do massacre.

Logo após a destruição de Guernica, George Steer, correspondente do jornal inglês The Times, notou que o único alvo estratégico da cidade, a ponte sobre o rio Mundaca, ainda estava intacto. Steer percebeu que a prioridade dos nazistas não tinha sido causar danos militares. “O objetivo do bombardeio parece ter sido desmoralizar a população civil e destruir o berço da raça basca”,

escreveu.

Na época, o número de mortos divulgado passava de 1600. Hoje em dia, é consenso que o número foi bem menor. Um estudo do historiador espanhol Jesús Salas Larrazábal identificou nome e sobrenome de apenas 120 mortos. “O número de vítimas fatais deve ter sido em torno de 200, mas desde o primeiro momento foram difundidos dados exagerados do total de mortos. Isso multiplicou o impacto da notícia”, diz o basco Félix Luengo.

O general Franco certamente não esperava que o ataque despertasse tamanha comoção na opinião pública internacional. Correspondentes estrangeiros que cobriam a guerra na Espanha visitaram o local do bombardeio na mesma noite e no começo da manhã seguinte. Em poucos dias, o mundo começou a ler nos jornais a história do horror em Guernica. A indignação foi tamanha que franquistas e nazistas trataram de negar a operação. Em 29 de abril, a imprensa favorável a Franco chegou ao cúmulo de dizer que a maior parte dos danos a Guernica havia sido causada por incendiários bascos, para indignar a população e aumentar o espírito de resistência.

A Guerra Civil acabou em 1939, com a vitória de Franco. Ele assumiu o poder e, como era de esperar, suprimiu a autonomia dos bascos. Aliás, durante sua ditadura, dizer que Guernica tinha sido bombardeada podia até dar cadeia. Em 1967, um jovem sacerdote da cidade de Navarra foi julgado em Madri pela “calúnia” de ter escrito que Guernica havia sido destruída pela força aérea nacionalista.

Alguns estudiosos espanhóis, como Onésimo Diaz, professor de História da Universidade de Navarra, não discutem a violência do ataque, mas acreditam que não foi isso que colocou Guernica na história. “Se não fosse pelo quadro homônimo de Picasso, Guernica não teria tido mais repercussão que outras cidades bombardeadas”, afirma. Poucos anos depois, o que acontecera naquele 26 de abril se tornaria tragicamente comum. Em setembro de 1939, o mesmo Von Richthofen comandou o bombardeio nazista de Varsóvia, na Polônia, no primeiro mês da Segunda Guerra. Durante o conflito, os dois lados usariam aviões para arrasar cidades inteiras, matando dezenas de milhares de pessoas por vez. O fim da Segunda Guerra, aliás, só chegaria em 1945, quando as japonesas Hiroshima e Nagasaki viraram pó sob bombas atômicas despejadas por aviões americanos.

Após o bombardeio de Guernica, restou ao povo basco o consolo de ver que o carvalho plantado no século 19 não tinha sido atingido – foi salvo por estar longe do centro da cidade. Em 1979, quatro anos após a morte de Franco, a árvore ainda estava viva para acompanhar o tratado que devolveu a autonomia para o País Basco. O velho carvalho morreu após uma estiagem em 2003. Mas cedeu seu lugar à terceira árvore do mesmo tipo – que, impávida, segue a celebrar a autonomia basca.

Asas da morte

Conheça os aviões alemães e italianos que participaram do ataque a Guernica
Dornier DO-17 E
Com sua fuselagem estreita, o bombardeiro era conhecido como “lápis voador”. Foi um deles que soltou as primeiras bombas em Guernica. Serviu os nazistas nos três primeiros anos da Segunda Guerra.
Comprimento: 16,25 m
Envergadura: 18 m
Peso máximo: 7040 kg
Velocidade máxima: 355 km/h
Armamento: 4 metralhadoras de 7,9 mm
Carga de bombas: 750 kg
Fiat CR-32 Bis
Caça responsável pela escolta dos Junkers em Guernica, foi tão bem-sucedido na Espanha que a Itália achou desnecessário modernizar sua frota. Na Segunda Guerra, o CR-32 foi presa fácil para os caças ingleses.
Comprimento: 7,45 m
Envergadura: 9,5 m
Peso máximo: 1865 kg
Velocidade máxima: 341 km/h
Armamento: 4 metralhadoras (2 de 12,7 mm e 2 de 7,7 mm)
Carga de bombas: 100 kg
Heinkel HE-51 B1
Durante a Guerra Civil, esse caça alemão, usado para metralhar a população de Guernica, foi inferior aos aviões russos dos republicanos. Por isso, não foi usado na Segunda Guerra.
Comprimento: 8,4 m
Envergadura: 11 m
Peso máximo: 1895 kg
Velocidade máxima: 330 km/h
Armamento: 2 metralhadoras de 7,9 mm
Heinkel HE-111 B
O bombardeiro médio que atuou na terceira onda de ataques à vila basca foi uma das principais máquinas da Luftwaffe no começo da Segunda Guerra. Destacou-se durante os ataques contra a Inglaterra, em 1940.
Comprimento: 16,4 m
Envergadura: 22,6 m
Peso máximo: 10000 kg
Velocidade máxima: 370 km/h
Armamento: 3 metralhadoras de 7,9 mm
Carga de bombas: 1500 kg
Junkers JU-52/3M
A maior parte das bombas que destruíram Guernica saiu de Junkers Ju-52. Mas, durante a Segunda Guerra, ele foi empregado principalmente como avião de transporte e lançamento de pára-quedistas.
Comprimento: 18,9 m
Envergadura: 29,24 m
Peso máximo: 10500 kg
Velocidade máxima: 277 km/h
Armamento: 3 metralhadoras de 7,9 mm
Carga de bombas: 1500 kg
Messerschmitt BF-109 B
Considerado por muitos como o maior caça de todos os tempos, combateu em todas as frentes da Segunda Guerra, do início ao fim. Em Guernica, seus pilotos metralharam os civis que fugiam das explosões.
Comprimento: 8,7 m
Envergadura: 9,9 m
Peso máximo: 2197 kg
Velocidade máxima: 465 km/h
Armamento: 2 ou 3 metralhadoras de 7,9 mm
Savoia-Marchetti CM 79-I
A patrulha encarregada de destruir a ponte sobre o rio Mundaca era composta por esses bombardeiros médios italianos, mas os pilotos erraram feio o alvo. O Savoia 79 foi usado como bombardeiro e torpedeiro na Segunda Guerra.
Comprimento: 15,8 m
Envergadura: 21,2 m
Peso máximo: 10480 kg
Velocidade máxima: 430 km/h
Armamento: 4 metralhadoras (3 de 12,7 mm e 1 de 7,7 mm)
Carga de bombas: 1250 kg (ou 1 torpedo)

Legionários nazistas

Hitler enviou 16 mil homens à Espanha
A Guerra Civil Espanhola não poderia ter vindo em melhor momento para os alemães. Eles puderam aperfeiçoar táticas e equipamentos que, pouco depois, seriam usados na Segunda Guerra Mundial. Entre os 16 mil homens enviados por Hitler durante todo o conflito, havia unidades do Exército e da Marinha, mas os aviadores eram maioria. A força de intervenção, batizada de Legião Condor, foi decisiva para a vitória dos nacionalistas do general Franco. A Legião Condor foi oficialmente criada em novembro de 1936, mas os primeiros aviões alemães entraram em ação antes disso. Em agosto, uma operação levou até Sevilha 14 mil soldados de Franco que haviam ficado isolados no Marrocos – o feito ficou conhecido como a primeira “ponte aérea” da história militar. Apesar de ter feito diversas missões de apoio a tropas terrestres, a Legião se destacou mesmo por seus bombardeios. Enquanto teóricos militares da época debatiam a eficácia de ataques aéreos, os alemães testavam isso na prática.
Bascos sem Guernica
Obra-prima de Picasso não foi liberada para o aniversário do bombardeio
Há um ano, o governo basco solicitou ao Ministério da Cultura da Espanha o empréstimo do quadro Guernica, de Pablo Picasso. O objetivo era expô-lo no museu Guggenheim de Bilbao durante a cerimônia dos 70 anos do bombardeio, completados em abril de 2007. Assim que soube do pedido, a ministra espanhola da Cultura, Carmen Calvo, avisou que o quadro não sairia do museu Reina Sofía, em Madri. “Eu não faço política com peças do patrimônio público espanhol”, defendeu a ministra. Revoltada, a porta-voz do governo basco, Miren Azkarate, afirmou não entender por que uma obra que já viajara meio mundo não poderia fazer um curto traslado de ida e volta. No fim das contas, os bascos verão apenas uma reprodução do quadro, exposta na praça dos Foros, em Guernica (a 30 quilômetros de Bilbao). Guernica foi pintado ainda durante a Guerra Civil. Em janeiro de 1937, o governo republicano pediu a Picasso que fizesse um quadro para decorar o pavilhão espanhol da Exposição Internacional de Paris. O objetivo era fazer propaganda contra a insurreição liderada por Franco. Comunista, o pintor espanhol aceitou a tarefa. Só não sabia o que colocar na tela. Isso mudou no fim de abril, quando jornais franceses publicaram fotos do que restara da vila basca. Picasso, que morava em Paris, finalmente encontrou o tema para sua obra. Em 1º de maio, apenas cinco dias após o ataque, ele fez os primeiros esboços. Trabalhando de forma fervorosa, ele concluiu Guernica em 4 de junho. No dia 12 de julho, o painel de 3,49 m por 7,76 m foi exposto ao público. Hoje muitos o consideram a obra-prima de Picasso. Por exigência do pintor, o quadro só pôde ser levado à Espanha após a morte de Franco.
Saiba mais

Livros

The Spanish Civil War, Hugh Thomas, Simon & Schuster, 1994
É considerado o melhor livro sobre o conflito. A reedição de 1994 traz revelações sobre atrocidades contra civis.
La Destrucción de Guernica – Un Balance Sesenta Años Después, César Vidal, Espasa Calpe, 1997
O renomado historiador espanhol estudou arquivos alemães e espanhóis para fazer um balanço do ataque a Guernica.

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Pablo Picasso






Pablo Picasso
Biografia deste importante artista plástico do século XX, suas principais obras de arte, pinturas, esculturas, obras de cerâmica, artes gráficas.



Pablo Picasso: uma das principais figuras da história das artes plásticas


Biografia, obras e estílo artístico

O artista espanhol Pablo Picasso (25/10/1881-8/4/1973) destacou-se em diversas áreas das artes plásticas: pintura, escultura, artes gráficas e cerâmica. Picasso é considerado um dos mais importantes artistas plásticos do século XX.

 Nasceu na cidade espanhola de Málaga. Fez seus estudos na cidade de Barcelona, porém trabalhou, principalmente na França. Seu talento para o desenho e artes plásticas foi observado desde sua infância.

Suas obras podem ser divididas em várias fases, de acordo com a valorização de certas cores. A fase Azul (1901-1904) foi o período onde predominou os tons de azul. Nesta fase, o artista dá uma atenção toda especial aos elementos marginalizados pela sociedade. Na Fase Rosa (1905-1907), predomina as cores rosa e vermelho, e suas obras ganham uma conotação lírica. Recebe influência do artista Cézanne e desenvolve o estilo artístico conhecido como cubismo. O marco inicial deste período é a obra Les Demoiselles d'Avignon (1907) , cuja característica principal é a decomposição da realidade humana.

 Em 1937, no auge da Guerra Civil Espanhola ( 1936-1939), pinta seu mural mais conhecido: Guernica. Esta obra já pertence ao expressionismo e mostra a violência e o massacre sofridos pela população da cidade de Guernica.

 Na década de 1940, volta ao passado e pinta diversos quadros retomando as temáticas do início de sua carreira. Neste período, passa a dedicar-se a outras áreas das artes plásticas: escultura, gravação e cerâmica. Já na década de 1960, começa a pintar obras de artes de outros artistas famosos: O Almoço Sobre a Relva de Manet e As Meninas do artista plástico Velázquez, são exemplos deste período.

Já com 87 anos, Picasso realiza diversas gravuras, retomando momentos da juventude. Nesta última fase de sua vida, aborda as seguintes temáticas: a alegria do circo, o teatro, as tradicionais touradas e muitas passagens marcadas pelo erotismo. Morreu em 1973 numa região perto de Cannes, na França.

Principais obras de Picasso:

- Auto-retrato
- Absinto (Rapariga no café)
- A morte de Casagemas
- Evocação - O funeral de Casagemas
- Velho guitarrista cego
- Miseráveis diante do mar
- A Vida
- Mulher passando a ferro
- "Les Demoiselles d'Avignon"
- Retrato de Suzanne Bloch
- O ator
- Auto-retrato com capa
- Garçon à la pipe (Rapaz com cachimbo)
- Fernanda com um lenço preto
- Vasilhas
- Mulher com leque
- Jovem nu (Jovem rapaz com braços levantados)
- Banho
- Les femmes d'Alger (Mulheres de Argel)
- Três Mulheres
- Composição com crânio
- Garrafa, jarra e frutas
- Mulher loira
- Minotauro, bebedor e mulheres
- Guernica
- Vaso sobre a mesa
- O tomateiro
- Mulher sentada num cadeirão
- Arlequim com baton
- Busto de mulher
- Lagosta e gato
- Nude, Green Leaves and Bust

Frases de Picasso

- "Paul Cézenne é o pai de todos nós".

- "Não se pode criar nada sem a solidão".

- "Não se consegue convencer um rato de que um gato pode trazer boa sorte".

- "A inspiração existe, porém temos que encontrá-la trabalhando."

- "A qualidade de um pintor depende da quantidade de passado que traz consigo."

Curiosidade:

- A pintura Mulheres de Argel, de Pablo Picasso, foi a obra mais cara já vendida num leilão. Em 11 de maio de 2015, o quadro foi arrematado por US$ 179,3 milhões por um comprador cujo nome não foi divulgado.
http://www.suapesquisa.com/picasso/

APRESENTAÇÃO PEUGEOT 308 2015 - BRASIL

sábado, 23 de maio de 2015

Noite das Garrafadas


Noite das Garrafadas



Por Ana Paula de Araújo
A Noite das Garrafadas foi um episódio histórico do período do Brasil Imperial. Tudo começou no dia 20 de Novembro de 1830, com o assassinato do jornalista Líbero Badaró, fundador do “Observador Constitucional”, um periódico liberal, e conhecido por denunciar o autoritarismo de D. Pedro I em suas matérias.
O crime foi cometido por quatro desconhecidos, mas a suspeita do assassinato ficou sobre o próprio governante, suspeita que foi aceita como fato por muitas pessoas na época. Cândido Jupiassu, ouvidor da comarca, chegou a ser preso como mandante do assassinato, mas acabou sendo libertado por falta de indícios que comprovassem seu envolvimento com o crime.

A pressão ocasionada por esta situação fez com que D. Pedro viajasse para Minas Gerais em fevereiro de 1831. Porém, em cada cidade por onde passava ouvia os comentários de insatisfação do povo pela morte de Líbero Badaró, ao mesmo tempo que encontrava hostilidade por parte do povo mineiro, que murmurava contra ele à sua presença e vaiava aqueles que porventura o recebessem com educação.

A morte do jornalista acabou dando a ele um título de mátir da liberdade, sendo amplamente divulgado pela impresa liberal.

Com todos estes fatos que aumentavam a agitação no país, D. Pedro I volta ao Rio de Janeiro no dia 11 de Março, encontrando lá não só hostilidade mas oposição ferrenha, manifestada nas ruas da cidade. Durante os dias 12, 13 e 14 de Março aconteceram conflitos no Rio de Janeiro que envolviam os constitucionalistas, defensores da Assembléia Geral, e os absolutistas, portugueses adeptos do governo de D. Pedro.

No dia 13 de Março, os portugueses organizaram uma festa de boas-vindas para D. Pedro, com o objetivo de promover suas ideias absolutistas e de tentar reanimar o governador. Aconteceu, porém que um conflito culminou com os ataques dos revoltosos liberais que utilizaram pedras e garrafas para destruir a ornamentação preparada para a recepção da Caravana Real. Aconteceu neste dia uma disputa violenta entre os aliados do imperador e os liberais que se opunham a ele.

Os portugueses refugiaram-se em suas casas atirando de lá pedras e garrafas quebradas nos liberais. O coflito se prolongou nos dias seguintes, tendo D. Pedro feito várias tentativas para contê-lo, mas todas sem sucesso. A situação resultou na abdicação do trono por D. Pedro, em favor de seu filho que tinha apenas 5 anos de idade, D. Pedro de Alcântara, fato que aconteceu no dia 7 de Abril de 1831. D. Pedro deixou de ser imperador do Brasil e em seguida abandonou o pais.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Noite_das_Garrafadas
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/noite_das_garrafadas
http://www.historiabrasileira.com/brasil-imperio/noite-das-garrafadas/
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/noite-das-garrafadas-portugueses-e-brasileiros-entram-em-conflito.jhtm
http://www.infoescola.com/historia/noite-das-garrafadas/



sexta-feira, 22 de maio de 2015

EVITA. Eva Perón - A idolatrada mãe dos pobres




Eva Perón - A idolatrada mãe dos pobres
Filha ilegítima e desprezada, Evita tornou-se poderosa graças à sua determinação feroz. Sua mais cara e realizada promessa: ajudar os desvalidos.

Em 24 de agosto de 1951, Eva fala a uma multidão de mulheres. Só me casarei com um príncipe ou um presidente", dizia Maria Eva Duarte quando vivia em Los Toldos, sua cidade natal no meio do pampa. Desprezada por todos como filha ilegítima, a criança almejava um futuro radiante como ouvia nas novelas de rádio, lia nas revistas de cinema e via nos filmes de Hollywood. O pai, don Juan Duarte, proprietário de terras, havia literalmente comprado sua mãe, a bela Juana Ibarguren, em troca de um jumento e uma carroça. Da união nasceram quatro meninas e um menino. Evita, a caçula, em 7 de maio de 1919. Ela mal conheceu o pai, que em seguida regressou ao católico lar onde o esperavam a esposa e filhos legítimos.

Dona Juana enfrentou sozinha as vicissitudes e, quando a caçula Evita estava com 11 anos, mudou-se com os filhos para Junín, uma vila na mesma província de Buenos Aires. O preconceito, porém, era igual. Os colegas de escola, por exemplo, não tinham permissão de cortejar Evita, em razão da origem. Não obstante, suas três irmãs mais velhas progrediram socialmente. Encontraram trabalho e fizeram bons casamentos.

Restaram os rebeldes: Juancito e Eva, a sonhadora decidida a tentar a vida no mundo do espetáculo. Humilhações demais lhe renderam um caráter duplamente genioso e uma vontade indomável. Aos 15 anos, em um dia 2 de janeiro de 1935, ela partiu para a capital, Buenos Aires. Apelidada de "Paris da América do Sul", a cidade fora arruinada pela crise mundial de 1929-30 e dependia das exportações de carne e de trigo, Eva, pálida e morena, batia incansavelmente às portas dos teatros. Seu único trunfo, a obstinação. Fora a teimosia que se tornou lendária, ela não tinha grande coisa a oferecer. Sem real talento artístico nem extraordinária beleza, ela era ignorante, arredia. Às humilhações vividas, somaram-se outras. Histórias bastante banais: diretores que exerciam a sedução, amantes de algumas horas. À mãe e às irmãs, que lhe suplicavam a volta para Junín, respondia sempre: "Primeiro, a celebridade".

De fato, em 1939, ela conseguiu se impor como atriz radiofônica. Encarnava as heroínas chorosas de novelas semelhantes às que haviam forjado sua ambição. Esses folhetins de retórica nacionalista pareciam prefigurar as idéias do movimento político do qual Evita seria a grande estrela. Naquele momento, já pairavam no ar. Em 4 de junho de 1943, um golpe de Estado instaurou no país um governo militar, de que participava um grupo de oficiais, o GOU (Grupo de Oficiais Unidos), defensor de teses próximas ao nazismo. Entre eles, estava um líder de influência crescente, egresso de uma estada na Itália de Mussolini: o coronel Juan Domingo Perón.

Olhos só para ela
Evita conheceu, então, com um membro do GOU, o coronel Aníbal Imbert. Nomeado para a direção dos Correios e Telecomunicações, o militar linha-dura controlava o conteúdo das emissões radiofônicas: era a hora dos valores "sadios" e "nacionais". Evita, sempre alerta e rápida, tornou-se amante de Imbert. Uma série de folhetins de caráter histórico foi sua recompensa: ela interpretava Catarina da Rússia ou Elisabete da Inglaterra, como se, inconscientemente, se preparasse para tornar-se rainha.

Em 15 de janeiro de 1944, um tremor de terra arrasou a cidade de San Juan, na região de Cuyo, não longe do Chile. Na qualidade de secretário do Ministério do Trabalho, o coronel Perón centralizou a ajuda às vítimas. E as pessoas ligadas ao mundo das artes organizaram um grande espetáculo beneficente em prol dos desabrigados, em 22 de janeiro, no estádio Luna Park. Nessa manhã, Perón percorreu a rua Florida, cercado por atrizes que agitavam cofrinhos: "Um trocado para os órfãos de San Juan, por favor!". Evita, no frescor de seus 24 anos, estava entre elas, ainda de cabelos escuros e sempre pálida, mas tão ardente no pregão que o nobre coronel de 48 anos talvez a tenha notado. O encontro decisivo, porém, aconteceu à noite, na festa. Enquanto grandes vedetes da música se sucediam no palco, Evita conseguiu se instalar ao lado de Perón. Alguns instantes mais tarde o coronel só tinha olhos para ela.

Juan Domingo Perón era, também, filho ilegítimo. Tornou-se um adulto esperto, maquiavélico, envolvente. Como todo sedutor, refletia o desejo dos outros fazendo com que se sentissem únicos. Sua primeira mulher havia morrido. Incapaz de amar, ele, entretanto, encantou-se pela pequena atriz que o escutava atentamente e que encontrava naquele discurso a explicação para sua própria vida: o inimigo era a oligarquia! Evita bebia as palavras de Perón e assumiu as idéias do coronel com um fanatismo que parecia o do amor. Que há de mais fascinante, para um líder em plena ascensão, que encontrar uma mulher pronta a encarnar sua causa com uma convicção e um fervor ainda maiores? A Perón, Evita aparecia como uma moça pura, apaixonada, maleável, fácil de manipular e - última virtude, mas não das menores - estrela do rádio: ele aprendera com o fascismo italiano que o poder vinha dos sindicatos e do rádio. Quanto a Evita, enxergava em Perón o pai que jamais tivera, o homem de poder que sempre procurara - e que a ajudaria em sua carreira artística -, o amante cuja indolência se combinava com a frieza, e o gênio político que sabia pôr em palavras seu sentimento de revolta. Do fascismo ela pouco sabia, mas sim que Perón era contra os proprietários de terra que, a exemplo de Juan Duarte, compravam mulheres e as abandonavam com seus filhos ilegítimos. Era o bastante. Rapidamente, sua relação tornou-se pública. Perón adorava chocar, desafiar os "bem pensantes". Divertia-se ao apresentar, da maneira mais oficial, sua amante.

Intuição de causar espanto
Quando os colegas de armas diziam o quanto era malvisto por ter uma relação com uma atriz, ele respondia: "O que vocês queriam? Que eu tivesse uma relação com um ator?". Sua popularidade era crescente; não por acaso escolhera o cargo no Ministério do Trabalho - para estar próximo dos trabalhadores. Demagogo, ele os cobria de favores. Ministro da Guerra, depois vice-presidente da Argentina, ele conservava esse posto aparentemente obscuro. Quando o exército, enciumado, se valeu de um pretexto fútil para encerrar Perón na ilha de Martín Garcia, no meio do rio da Prata, foi o povo agradecido que, em 17 de outubro de 1945, saiu maciçamente às ruas para exigir a libertação de seu bem-amado líder. Quatro dias mais tarde, Perón se casou com Evita. E em 4 de junho de 1946, promovido a general, ele assumiu a presidência da República, eleito por uma esmagadora maioria de votos.

Desde seu encontro com Perón, Evita se interessou cada vez mais pela política e revelou uma intuição que espantou o general. Sem ter, ainda, abandonado de vez a carreira de atriz, decidiu assumir o papel de uma benfeitora adorada pelo povo, em um filme intitulado La Pródiga, nunca exibido publicamente. Era um papel profético.

Sua personagem era chamada "a Senhora" ou "a Mãe dos Necessitados". Em pouco tempo, assim seria, na realidade. Coincidência e premonição, vontade e destino sempre se cruzaram na história de Evita.

Com os acontecimentos que conduziram à revolta popular de 17 de outubro, completou-se a virada. Era imperativo que a mulher do presidente deixasse o mundo do espetáculo. Mas, sendo o peronismo uma representação, tudo a levava a fazer sua estréia no mundo do espetáculo da política: a ambição de poder - nascida de sua necessidade de vingança -, a tendência para a representação (partilhada por Perón) e a paixão sincera. A primeira das simulações havia sido a descoloração dos cabelos. Em 1944, para encarnar determinado papel, Evita tinha se tornado loira. Um loiro de mulher que ascendeu, que a fazia escapar da maldição de Los Toldos, da avó Petrona em seu rancho de miséria: na Argentina da época, o loiro se confundia com status. Morena, ela havia sido insignificante. Loira, tornava-se uma criatura luminosa, irreal, na qual a propaganda peronista iria se apoiar e a quem faria representar o papel de santa ou de fada. Outra simulação era sua identidade civil. Investida de elegância
Ela falsificou seus documentos, pois, mesmo ao casar com o homem mais poderoso da nação, era obrigada a mentir. Substituiu a certidão de nascimento, em que aparecia como Eva Maria Ibarguren, nascida em Los Toldos em 1919, por outra, com o nome de Maria Eva Duarte, nascida em Junín, em 1923. Se mantivesse a primeira data, não obteria a "legitimidade", pois naquela ocasião a esposa de Juan Duarte ainda era viva. Os acertos foram feitos porque de outra forma Evita jamais poderia esposar um coronel com pretensões presidenciais.

Em 17 de outubro, o povo havia saído à rua para libertar seu homem. Até então, ela não havia ainda compreendido o papel que Perón e ela mesma iriam representar na história do país. Foi o povo que levou Perón a tornar-se o líder Perón. Em determinados momentos, ele mesmo, depois de tanto fazer para ser adorado pelo povo, esteve a ponto de abandonar tudo. Mas os argentinos gritavam seu nome na praça de Maio e Perón teve de responder ao chamado.

Nesse momento, Evita, compreendendo de súbito a importância da situação - sensibilidade à flor da pele - sentiu um imenso reconhecimento. Contraiu "uma dívida" pessoal, dizia, com o homem que a havia "purificado", ao escolhê-la, e com o povo que, ao salvar esse homem, conseguiu também a redenção dela própria. Daí por diante, essa mulher obstinada e voluntariosa só teria uma idéia na cabeça: pagar. Com uma contribuição particular, intransferível.

Em 1947, ela foi convidada oficialmente pelos governos espanhol, italiano, francês e suíço. Essa viagem pela Europa, como um percurso iniciático, durou três meses. Na volta, transformada, Evita apareceu investida de uma elegância irretocável. As senhoras oligarcas que tanto haviam rido dela por sua falta de gosto e por suas toaletes berrantes só podiam agora admirar a Evita em trajes de Dior. Os erros de gramática, porém, permaneceram.

Há suspeitas de que nessa mesma viagem ela teria tido a ocasião de depositar nos bancos suíços o fabuloso tesouro de Martin Bormann, supostamente nas mãos de Perón, que acolheu em Buenos Aires milhares de criminosos de guerra nazistas. Há muitas pistas, mas nenhuma concludente, até agora. Assim como não se saberá nunca, sem dúvida, se naquela ocasião Evita soube o nome da doença de que morreria em 1952: um câncer de útero, como acontecera com a primeira mulher de Perón. De qualquer forma, desde sua volta ela foi não somente a mais bem vestida das mulheres como também a mais decidida no rechaço aos médicos. Decidiu não se tratar. A terrível agonia
A partir de 1948, ela trabalhou 18 horas por dia, quase sem se alimentar. Iniciou uma corrida contra a morte. Em uma garagem adaptada da residência presidencial, juntou montanhas de doações em espécie (alimentos, roupas, acessórios) que lhe haviam feito os sindicatos para que distribuísse aos mais necessitados. Criou a Fundação Eva Perón, gigantesca organização antiburocrática que respondia às necessidades de todos aqueles para quem é sempre tarde demais. Ela recebia 12 mil cartas por dia, com os mais diversos pedidos, de cobertores a bolas de futebol. Os remetentes eram chamados a seu escritório na Secretaria do Ministério do Trabalho, onde Perón havia começado seduzindo os trabalhadores. Centenas de miseráveis se comprimiam cada dia nesse lugar lendário. Evita os escutava e resolvia sua situação com agudo senso prático.

Sua jornada de trabalho se estendia das 7 da manhã às 2 ou 3 da madrugada, freqüentemente mais. Doar tornou-se sua razão de viver. Dedicava-se aos humildes a ponto de apagar toda a distância entre ela e eles. Fusão perfeita, perda da identidade bem-aventurada que a conduzia a se cobrir de diamantes "para agradar aos pobres", já que eles se sentiam ricos somente em vê-la. Se ninguém podia penetrar esse mistério de uma comunhão quase mística, Perón acreditava poder tirar proveito dela, afinal sua mulher agia em nome dele, que a exaltava em seus discursos, até fazer dela um ser quase divino embora frisasse que "era apenas uma mulher".

Ao mesmo tempo, a mulher capaz de sacrificar sua vida era, também, um ser sedento de poder. Desde 1946, Evita tinha criado sua própria equipe, constituída por ministros fiéis. Fundou o Partido Peronista Feminino, que dominava com a mesma mão-de-ferro com que controlava e amordaçava a imprensa e o mundo do espetáculo. Na máquina de propaganda e repressão do peronismo, ela era um instrumento, quando não a instigadora. E as mulheres a quem Evita dera o direito de voto em 1947 eram justamente o setor do peronismo mais ativo em suas mãos e que ela fanatizara e vigiava com um ardor de madre suxperiora.

A mulher autoritária, senão grosseira, diante dos funcionários do Partido, mas submissa diante de Perón (ao menos em público), vivia um feminismo visceral expresso em seus atos mais que em suas palavras - sempre emprestadas dos burocratas que redigiam seus discursos. Um feminismo que Perón não havia previsto. Daí o fato de ele enciumar-se de sua esposa, que ele considerava seu "ombro", mas que brilhava cada vez mais com luz própria.

Esse homem labiríntico não mostrou claramente seu ciúme a não ser em raras ocasiões. Bom caçador da Patagônia, ele construía suas armadilhas, fingindo querer afastar Evita do trabalho desgastante, insistindo para que ela se cuidasse. Sabia que bastava ele querer detê-la para que Evita, redobrando sua vitalidade suicida, trabalhasse ainda mais. O último ato desse drama de trapaças e simulações foi representado em público, diante de uma multidão de 1 milhão de pessoas reunidas para proclamar a nova chamada: "Perón presidente, Evita vice-presidente!". Foi em 2 de agosto. As eleições se aproximavam. Perón de início recusou-se a aceitar a reeleição, algo que no entanto almejava. Em seguida, não disse uma palavra quando a CGT (Confederação Geral do Trabalho) propôs a candidatura de Evita à vice-presidência. Quanto a esta, embora negasse ter ambições pessoais, desejava esse posto com ardor. Até então, ela jamais havia possuído um nome que fosse seu, nem uma nomeação formal. Seu poder era imenso, mas dependia inteiramente do de Perón. Então, nesse 2 de agosto, Evita não sabia se Perón queria que ela se tornasse vice-presidente. Ela esperava, o povo insistia para que ela aceitasse, ela balbuciava uma negativa que não fazia mais que exaltar o fervor da multidão. Enfim chegou a hora da verdade. Diante desse diálogo amoroso entre sua mulher e o povo, do qual ele se sentia excluído, Perón agarrou o braço de Evita e lhe disse: "Basta". Ela já estava gravemente doente. Alguns dias mais tarde ela foi ao rádio para dizer que seu "coração de humilde mulher argentina" a impedia de aceitar a honrosa oferta.

Recolheu-se ao leito, para começar a morrer. Durante sua longa agonia, esteve cercada apenas de uns poucos amigos e da mãe, das irmãs e do irmão Juancito Duarte, que elevara a secretário de Perón, e que este faria com que "se suicidasse" após a morte de Evita, por conta, diz-se, de um tesouro fantástico depositado em conta bancária na Suíça.

Houve uma tentativa de esconder do povo a doença de sua fada. Após uma operação de útero realizada tarde demais, Evita foi instalada em um pequeno quarto da residência presidencial, longe do de Perón. Ela agonizava, extremamente debilitada, com um peso não superior aos 30 quilos e vítima de dores atrozes. E ainda assim, após uma revolta militar rapidamente sufocada, mas que anunciava a inevitável queda do peronismo, Evita encontrou forças para negociar, do seu leito, a compra de metralhadoras destinadas a armar o povo.

Armas que Perón não quis distribuir entre os trabalhadores quando eclodiu a Revolución Libertadora que o derrubou, em 1955. Naquele momento, Evita já estava morta.

Há quem opine que essa revolução não aconteceria se ela estivesse viva. Afinal, dizia: "O inimigo da oligarquia não é ele, sou eu". Ela morreu em 26 de julho de 1952, com a simbólica idade de 33 anos. Durante 15 dias, o povo em lágrimas desfilou diante de seu caixão coberto de cristal. Para alguns, uma santa, para outros, uma populista demagoga que asfixiou o país. Extremos à parte, Evita seguiu indestrutível, na memória coletiva. Em parte por causa do mito que ela cuidadosamente criou, em parte por causa de seu próprio corpo que, depois de inúmeros percalços, finalmente repousou em Buenos Aires, no cemitério da Ricoleta, sem epitáfio. Poderíamos propor este: "Sua vida contraditória nos impede sempre de crer nos bons e nos maus".

-Tradução de Carolina Massuia de Paula
Cronologia

1919
Em 7 de maio nasce, em Los Toldos, Maria Eva , a caçula de don Juan Duarte e Juana Ibarguren

1935
Em 2 de janeiro, com 15 anos de idade, Evita parte sozinha para Buenos Aires

1944
Em 22 de janeiro ela conhece Juan Domingo Perón, com quem se casa no ano seguinte

1946
Funda o Partido Peronista Feminino

1948
Cria a Fundação Eva Perón, gigantesca organização de ajuda aos necessitados e passa a trabalhar quase 20 horas por dia

1952
Morre, vítima de câncer de útero
Fotos incômodas

A fotógrafa alemã Gisèle Freund viajou até a Argentina, em 1950, com o único objetivo de fotografar Evita. Quando a primeira-dama enfim a recebeu, pediu-lhe que registrasse o conteúdo de seus armários, "para que o mundo inteiro veja o que eu tenho". Havia vitrines abarrotadas de jóias, centenas de chapéus, sapatos, vestidos e peles. No dia seguinte, o chefe da propaganda requisitou os negativos, mas Gisèle viajou imediatamente, salvando as fotos que, reproduzidas na Life, se tornaram célebres.
A devolução do corpo

O corpo de Evita foi embalsamado pelo doutor espanhol Pedro Ara. Com a queda de Perón, a Revolución Libertadora seqüestrou seus restos mortais para impedir que os peronistas transformassem seu túmulo em local de culto. Nada mais se soube a respeito, até 1971, quando o governo militar decidiu devolvê-los a Perón, enterrados que estavam sob um falso nome em um cemitério de Milão. Ele estava exilado em Madri, onde recebia correligionários.

http://www2.uol.com.br/historiaviva/

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Diretor da Petrobras diz que acionistas têm razão de estarem insatisfeitos

Diretor da Petrobras diz que acionistas têm razão de estarem insatisfeitos
Daniel Mello
Agência Brasil 22/05/2015

http://economia.uol.com.br/

Carol Carmo/Agência O Dia/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold Júnior, indicou que entende a insatisfação dos acionistas da empresa com os resultados da companhia.

"Os nossos acionistas têm razão de não estarem muito felizes com a gente", disse ao explicar a situação da empresa em um seminário promovido pela revista "Carta Capital".

"Esse tombo nos preços [do petróleo], junto com os projetos [trouxe prejuízos]. A gente fez essas refinarias e a produção não veio. A gente tinha uma expectativa de aumento da produção e a geração de caixa seria maior", explicou sobre os resultados do último ano.

O balanço da estatal indicou que o resultado líquido de 2014 ficou negativo em R$ 21,6 bilhões. Estão incluídos nesse cálculo os R$ 6,2 bilhões de perdas estimadas com a corrupção na petroleira. A desvalorização dos ativos da empresa chegou a R$ 44,6 bilhões.

Repsold atribuiu as perdas ao volume excessivo de investimentos nos últimos anos, que acabou fazendo com que a empresa se arriscasse mais do que o necessário. "Obviamente, não era para ter acontecido. Em um ritmo mais adequado a gente teria superado a barra", admitiu.

Apesar dos problemas, o diretor disse que a companhia tem todas as condições de se recuperar das perdas. "Essa empresa não tem um problema operacional ou técnico. A produtividade dos empregados da Petrobras é cada vez maior", ressaltou.

Para reduzir o endividamento, Repsold disse que a empresa deverá se desfazer de US$ 10 bilhões de ativos em 2016. "Ninguém pode viver com esse grau de alavancagem e endividamento crescente", justificou.

Os investimentos para o próximo ano estão estimados em US$ 25 bilhões. "A gente amadureceu em várias áreas e a gente pode agora buscar mais rentabilidade, liquidez e caixa. Substituindo alguns ativos, por outros que gerem mais caixa", acrescentou.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

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Livro de Martinho Lutero é descoberto na França com anotações manuscritas


Retrato de Martinho Lutero (1483-1546) feito pelo artista plástico Lucas Cranach

AFP De Estrasburgo, na França 21/05/2015

 http://entretenimento.uol.com.br/

Um livro do teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546), uma das figuras centrais da Reforma Protestante, no século 16, foi descoberto na Biblioteca Humanista de Sélestat, no nordeste da França, escondido na coleção de um estudioso da Renascença, chamado Beatus Rhenanus. A publicação "Tratado da Liberdade Cristã", escrita em 1520 em latim, contém 50 anotações escritas em vermelho à mão por Lutero, que foram autenticadas por especialistas.

A descoberta permitiu identificar um "elo perdido", porque "como ignorávamos a existência dessas correções manuscritas de Martinho Lutero, não considerávamos sua vontade para uma edição definitiva", explicou à AFP o professor universitário em Estrasburgo James Hirstein, que encontrou o livro.

Trata-se de um "rascunho para impressão" de uma segunda edição, que chegou às mãos do sábio Beatus Rhenanus (1485-1547) por meio de um cânone de Augsburgo, no sul da Alemanha, antes de ser impresso em Basileia, na Suíça, no início de 1521, incorporando quase inteiramente as modificações do "pai do protestantismo", explicou o pesquisador Hirstein, que também é professor de latim.

Rhenanus e os impressores anônimos da Basileia também contribuíram para a impressão. Ao longo dos séculos e das reedições, 15 notas de Lutero acabaram desaparecendo, "porque ninguém sabia que eram suas", disse Hirstein.

As notas do reformista alemão "apontam sua forte relação individual com Deus", disse o pesquisador.

A descoberta também lança nova luz sobre os pensamentos de Rhenanus, amigo de Erasmo de Rotterdam, muito influente na época e favorável a uma reforma da Igreja Católica, sem querer, contudo, abandonar o catolicismo.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Brasil e China firmam acordos que podem superar US$53 bi e criarão fundo para infraestrutura

Brasil e China firmam acordos que podem superar US$53 bi e criarão fundo para infraestrutura

terça-feira, 19 de maio de 2015

 19/05/2015. REUTERS/Ueslei Marcelino

Por Leonardo Goy e Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) - Brasil e China anunciaram nesta terça-feira um amplo conjunto de acordos de comércio, investimentos e cooperação financeira que podem superar os 53 bilhões de dólares, potencialmente assegurando um fluxo de capital importante no momento em que a economia brasileira busca se recuperar.

Durante a primeira visita do premiê chinês, Li Keqiang, à América Latina, também foi anunciada a criação de um fundo de 50 bilhões de dólares destinados à infraestrutura no Brasil, pela Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês), confirmando reportagem da Reuters da semana passada.

Segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Cláudio Puty, os 53 bilhões de dólares representam uma soma das intenções de investimentos dos chineses no Brasil, sendo que parte deles pode vir ou não a ser financiada pelo fundo.

Esse fundo não necessariamente vai financiar investimentos chineses, segundo um representante da Caixa, que explicou que o objetivo é financiar projetos de infraestrutura, sendo eles tocados ou não por empresas chinesas.

Em 60 dias a Caixa a o banco chinês devem apresentar a modelagem dos empréstimos e os projetos que podem vir a ser financiados, que podem incluir algumas das concessões em infraestrutura que o governo pretende lançar mês que vem.

Talvez o projeto mais importante a ser financiado pelo fundo será uma ferrovia para ligar os oceanos Atlântico ao Pacífico, reduzindo o custo do frete de exportações para a China.

"A infraestrutura será beneficiada com um projeto de grande alcance para o Brasil, para a integração sul-americana via o Peru e para o comércio com a China", disse a presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de assinatura de atos ao lado de Li.

Os estudos de viabilidade da ferrovia devem ser apresentados aos governos do Brasil, Peru e China em maio de 2016, segundo o governo brasileiro.   Os acordos assinados, no que foi chamado de Plano de Ação Conjunta 2015-2021, vão da venda de jatos regionais da Embraer a novas linhas de crédito chinesas à Petrobras, passando pelo fim do embargo à carne brasileira pela China.

A injeção de capital da China não poderia vir em melhor momento para o Brasil, que está entrando em uma recessão e ainda ressente o fim do boom dos preços das commodities da década passada, que impulsionou a demanda chinesa por seus principais produtos de exportação, como minério de ferro e soja.

Os investimentos em infraestrutura são a principal aposta da equipe do governo Dilma para retomar a atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ter contração de 1,20 por cento em 2015, segundo boletim Focus do Banco Central, depois de ter apresentado variação positiva de 0,1 por cento no ano passado.

Para a China, os acordos no Brasil representam uma oportunidade para suas empresas que buscam novas oportunidades de investimentos no exterior, à medida que a economia asiática desacelera.

Li disse que as empresas de construção e siderúrgicas chinesas estão prontas para ajudar em projetos de infraestrutura no Brasil, para reduzir os custos do frete nas exportações de commodities.

No passado recente, porém, maciços investimentos prometidos pela China ao Brasil acabaram em sua maioria por não se confirmarem. No fim de 2013, menos de um terço dos investimentos de cerca de 70 bilhões de dólares prometidos pela China no Brasil de 2007 até aquele ano tinha sido executado, com o restante em compasso de espera ou cancelado.

GRANDES EMPRESAS

Alguns dos acordos de cooperação firmados nesta manhã com a China envolvem grandes empresas brasileiras.  No caso da Petrobras, foram firmados dois acordos para financiamento de projetos somando 7 bilhões de dólares.

O maior deles, no valor de 5 bilhões de dólares, é com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB). Não está claro se a cifra é inteiramente nova ou se inclui um contrato de financiamento de 3,5 bilhões de dólares da petroleira com o CDB anunciado no começo de abril.

Já a Vale fechou nesta terça a venda de quatro navios Valemax, para transporte de minério de ferro, à China Merchantz Energy Shipping (CMES).

A mineradora brasileira também firmou acordo com o chinês ICBC para linhas de crédito de até 4 bilhões de dólares sob a forma de empréstimos sindicalizados, bilaterais, crédito à exportação e trade finance, entre outros instrumentos financeiros.

A Embraer, por sua vez, formalizou um contrato já conhecido para vender 22 aviões regionais a uma companhia aérea chinesa, em um negócio de 1,1 bilhão de dólares a preços de tabela. Há previsão de que o acordo seja ampliado adiante para incluir outras 18 aeronaves da fabricante brasileira.

Em outra frente, o chinês Bank of Communications anunciou a compra de cerca de 80 por cento do banco brasileiro BBM por estimados 525 milhões de reais, marcando a primeira aquisição do grupo no exterior.

"A proposta de aquisição do Banco BBM é a primeira compra do Bank of Communications no exterior. Também marca o primeiro passo da expansão do banco na América Latina", disse o banco chinês em comunicado, lembrando que a China vem sendo o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009.

Na pecuária, o Ministério da Agricultura brasileiro informou a habilitação para a exportação à China de oito unidades de abate de bovinos no Brasil que estavam suspensas, com a assinatura de compromisso para a habilitação de mais nove plantas em junho, quando a ministra Kátia Abreu irá ao país asiático.

Abdicação de Dom Pedro I




Abdicação de Dom Pedro I

Por Tiago Ferreira da Silva

Após a Declaração da Independência, em 1822, esperava-se que D. Pedro I tivesse um reinado no Brasil cada vez mais distanciado dos interesses de Portugal. Todavia, no fundo tudo continuava do mesmo jeito de antes: os negros continuariam na condição de escravos e as elites agrárias ainda eram favorecidas pelo governo monarquista.
D. Pedro I arriscou várias tentativas de, pelo menos, mostrar que estava fazendo serviço a favor da independência do Brasil. Mas fracassou ao criar a Assembleia Constituinte em 1823 e não obedeceu à risca os termos da Constituição de 1824, que exigia um governo liberal do império; durante seu mandato, o governo sempre fora autoritário.

Neste momento, Portugal vivia uma crise financeira estarrecedora, graças às fraquezas administrativas do reinado de D. Miguel. A imprensa argumentava que D. Pedro estava preocupado com o antigo país colonizador e cogitava assumir o trono por lá também. Para os brasileiros, esse ato era impensável pois, se o imperador estava comprometido com a independência do país, tinha o dever de deixar Portugal de lado.

Os rumores da sucessão do trono em Portugal ganharam amplitude quando o jornalista oposicionista, Líbero Badaró, foi assassinado em 1830. Sua morte foi atribuída ao regime autoritário de D. Pedro I, o que causou mais desgaste na população brasileira acerca de seu mandato.

Revoltados com a decepcionante condução política do imperador, os opositores do Rio de Janeiro se organizam e travam uma violenta batalha contra os portugueses, em março de 1831, no episódio que ficou conhecido como Noite das Garrafadas.

A aversão à D. Pedro I se intensifica ainda mais, com opositores desafiando as leis políticas implantadas por ele e o aumento dos tumultos de moradores contrários ao regime nas ruas.

Esses atos enfraquecem o alicerce político do imperador, que foi perdendo apoio dos ministros e pressionado a sair do cargo. No dia 7 de abril de 1831, D. Pedro abdica do cargo de imperador, retorna à Europa e deixa o trono para seu filho Pedro, de 5 anos.

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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Lava Jato abre espaço para investimento chinês no Brasil

Lava Jato abre espaço para investimento chinês no Brasil
 BBC
Mariana Schreiber
Da BBC Brasil em Brasília 18/05/201508h17 > Atualizada 18/05/2015

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e uma missão de empresários de seu país desembarcam nesta segunda-feira (18) em Brasília com a promessa de investir dezenas de bilhões de dólares em diversos setores da economia --de ferrovias a hidrelétricas, passando por autopeças, agronegócios, mineração, siderurgia e TI (tecnologia da informação).

O momento é visto como especialmente favorável a esses investimentos.

De um lado, o governo tem sido obrigado a cortar gastos em infraestrutura devido às restrições orçamentárias.

De outro, os setores de construção e óleo e gás passam por um cenário difícil por causa da Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção envolvendo Petrobras, grandes obras públicas e empreiteiras nacionais.

O contexto complicado acaba sendo uma oportunidade para o capital chinês, nota Maria Luisa Cravo, gerente Executiva de Investimentos da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

"Com certeza, cria uma oportunidade. Empresas estrangeiras, quando estão avaliando um país para investir, levam em conta todo tipo de fator. Certamente, empresa de óleo e gás que não estava atuando no Brasil, não eram fornecedores da Petrobras, têm interesse e sabem que há uma oportunidade (agora)".

Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC), um estaleiro chinês ganhou neste ano parte da concorrência internacional aberta pela Petrobras para construção de módulos de compressão, cujo contrato original de US$ 750 milhões foi cancelado com a brasileira Iesa, após citações na Lava Jato. O grupo Inepar, ao qual pertence a Iesa, está em recuperação judicial.

"Como se sabe, os grandes projetos de infraestrutura e de petróleo e gás sempre foram dominados por grandes empreiteiras brasileiras que ora têm dificuldade de concluir as suas obras. Nossa Câmara têm se esforçado para trazer investimentos de grandes empresas chinesas para ajudar a recuperar a economia do Brasil e manter empregos brasileiros", afirma.

"O empréstimo de US$ 3,5 bilhões (R$ 10,5 bilhões) feito recentemente à Petrobras demonstra a confiança que a China deposita no Brasil e demonstra a importância que a China dá a essa aliança estratégica e comercial. Um amigo em hora de necessidade é um amigo verdadeiro", acrescenta Tang.

O financiamento, obtido junto ao Banco de Desenvolvimento Chinês no início de abril, chega em um momento que a Petrobras está com o endividamento elevado e enfrenta dificuldade de obter recursos emitindo títulos e ações.

Agenda
Li Keqiang reúne-se com a presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira de manhã e no dia seguinte cumpre agenda no Rio e Janeiro, antes de seguir viagem para Colômbia, Peru e Chile.

A China vem ampliando sua presença na região e tem laços próximos também com Venezuela e Argentina.

Durante a passagem da comitiva chinesa pelo Brasil serão assinados mais de 30 documentos, entre acordos governamentais, empresariais e outros atos, sinalizando intenções novas de investimentos de US$ 50 bilhões (R$ 150 bilhões), segundo o embaixador José Alfredo Graça Lima, atualmente à frente da Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos 2, área responsável pelas relações políticas e econômicas do Brasil com a Ásia.

Segundo informações da agência de notícias Reuters, será anunciado também a criação de um fundo na Caixa de US$ 50 bilhões com recursos do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) para investimento em infraestrutura --não está claro em que medida essas duas cifras se sobrepõem.

Enquanto maior parceiro comercial do país, a China já tem hoje peso importante na economia brasileira. Para Graça Lima, o crescente interesse chinês em investir aqui traz o relacionamento dos dois países a um novo patamar.

"A visita do primeiro-ministro Li Keqiang segue um histórico de visitas de alto nível que se iniciaram em 2004 e que vêm contribuindo para adensar a relações bilaterias entre Brasil e China. E (essas relações) estão tomando outro vulto, ou subindo de patamar, na forma de uma cooperação mais voltada para investimentos, tanto em infraestrutura, como em capacidade produtiva, que são duas áreas de especial interesse para o Brasil de hoje", disse Graça Lima, em apresentação a jornalistas na semana passada.

Se tudo que está sendo anunciado vai sair do papel é outra história.

Segundo o embaixador, são projetos que estão em diferentes estágios de negociação e planejamento. Um dos mais importantes para os dois países é a construção de uma ferrovia transoceânica, que cortará Brasil e Peru, facilitando o escoamento de grãos e outros produtos da região Centro-Oeste para o Oceano Pacífico.

Infraestrutura
Segundo o diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, é justamente essa preocupação com escoamento de produtos brasileiros para a China, "questão de segurança alimentar", que tem elevado a disposição do país em investir na logística brasileira.

Até hoje, observa Batista, a presença do capital chinês na infraestrutura de transportes do Brasil é pequena, mas a expectativa é que isso mude nos próximos anos.

Em junho, o governo federal pretende anunciar um novo pacote de concessão de obras em infraestrutura, e, segundo o diretor da CNT, há grande interesse chinês nas ferrovias.

Para os investimentos se confirmarem, porém, é preciso clareza nos detalhes técnicos e na taxa de retorno desses investimentos, afirma ele.

Batista lembra que nenhuma das ferrovias anunciadas no pacote de concessões de 2012 saiu do papel até hoje, porque essas incertezas afastaram investidores.

Naquele ano, o governo anunciou que as concessões significariam investimentos de R$ 91 bilhões em ferrovias - os projetos estão sendo revisados para entrar no novo pacote previsto para junho.

"A insfraestrutura de transportes está num momento de crise de recursos, com a redução dos investimentos públicos e dos financiamentos liberados pelo BNDES. O capital privado ganha mais importância agora e a única sinalização clara de interesse (em investir) é do governo chinês", destaca Batista.

Interesse brasileiro
Em entrevista à imprensa chinesa na semana passada, Dilma sinalizou que o interesse brasileiro nessa parceria também é grande.

"O Brasil passa por um momento em que todo o conhecimento e a expertise da China na área de investimento em infraestrutura nós podemos aproveitar, tanto na área de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos", disse ela ao China Business News, ressaltando que a participação chinesa em ferrovias vai ser "essencial" para o Brasil.

Monitoramento da Apex indica que, entre 2004 e 2014, a China investiu US$ 50 bilhões no Brasil. Maria Luisa Cravo explica que antes esses investimentos eram mais concentrados em fábricas e que agora o escopo está se ampliando para obras de infraestrutura, que são mais caras.

Entre as empresas chinesas que investiram no Brasil nos últimos dez anos, destacam-se JAC Motors e Chery (montadoras), Sinopec (petróleo e gás), Huawei (telecomunicações), Foxconn (eletrônicos), Banco da China (financeiro) e a Companhia Nacional da Rede Elétrica da China (energia). Recentemente, a Apex mediou a instalação da uma empresa de ônibus elétricos em Campinas - a primeira fábrica na América Latina da gigante chinesa BYD.

Mas o que estaria por trás do apetite bilionário chinês pelo Brasil?

Certamente, é de interesse do país melhorar a logística das nossas exportação, reduzindo os custos de produtos comprados em grande quantidade pela China, como soja e minério de ferro.

Apesar de a queda nos preços das commodities ter provocado um recuo no valor das vendas brasileiras para a China, o país manteve-se como principal parceiro comercial do Brasil em 2014, quando a corrente de comércio (soma de importações e exportações) foi de US$ 78 bilhões.

Questionado sobre se haveria também uma estratégia geopolítica da China no sentindo de ampliar sua influência na América do Sul, o embaixador Graça Lima descartou a existência de "uma agenda secreta" e minimizou uma possível perda de protagonismo do Brasil na região.

"Interessa ao Brasil que seus 11 vizinhos progridam, que tenham uma grau de desenvolvimento que sirva para mais estabilidade, mais paz, mais segurança (na região). Nesse ponto, a China é vista como uma parceiro bem vindo", argumentou.

Geopolítica
Para Charles Tang, porém, há sim uma intenção geopolítica, na medida em que a China busca a se contrapor aos Estados Unidos como potência global.

Esse é o entendimento também de Renato Baumann, diretor da área de Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada). "A China quer expandir sua áreas de influência e tornar o yuan uma moeda de referência global", afirma ele.

Com enorme volume de reservas internacionais, da ordem de US$ 4 trilhão, a China também busca diversificar suas aplicações.

Há anos já vem investindo na África, não sem alguma controvérsia, como por exemplo na construção de ferrovias cuja bitola só serve para trens chineses ou devido à prática de importar mão de obra chinesa para essas obras.

Investidores chineses já tentaram trazer mão de obra nacional na construção de umas das linhas de transmissão de energia da usina de Belo Monte, no Pará, mas foram barrados pela legislação trabalhista brasileira.

Sobre essas polêmicas, o embaixador Graça Lima disse que o Brasil "não é totalmente ignorante" e que o país estará atento aos riscos.

"Para isso que são requeridos mecanismo de acompanhamento, memorandos de entendimentos, que deixem muito claro que o se busca é um benefício equilibrado", garantiu.


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