terça-feira, 9 de setembro de 2014
Foto da sede da agência Moody's em Nova York. REUTERS/Brendan McDermid
SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de risco Moody's alterou nesta terça-feira a perspectiva de rating soberano do Brasil de "estável" para "negativa", ameaçando rebaixar a nota do país por ver maior risco do crescimento econômico continuar baixo e de piora nas métricas de dívida.
Ao mesmo tempo, a agência de classificação de risco reafirmou o rating brasileiro em "Baa2", a segunda menor classificação dentro da faixa considerada como grau de investimento.
Foi a segunda vez em menos de um ano em que a Moody's piorou a perspectiva da nota soberana do Brasil: no começo de outubro do ano passado, a agência já tinha mudado a sinalização de "positiva" para "estável".
A decisão agora acontece a menos de um mês da eleição e coloca ainda mais pressão sobre o próximo presidente. Para a Moody's, se a deterioração nos principais indicadores de crédito permanecerem inalterados nos dois primeiros anos do futuro governo, a qualidade do crédito soberano será prejudicada.
A Moody's disse que a piora na perspectiva reflete uma economia que mostra poucos sinais de retorno no curto prazo ao potencial de crescimento de 3 por cento. A sua projeção é de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá menos de 1 por cento em 2014 e abaixo de 2 por cento em 2015.
A agência de risco, que no começo de agosto enviou um time seu para reuniões com integrantes da equipe econômica em Brasília, também destacou a forte deterioração do sentimento do investidor e seu impacto na formação bruta de capital fixo.
"As baixas taxas de investimento no Brasil refletem principalmente o sentimento negativo do investidor, conduzido por uma percepção de mercado generalizada sobre a abordagem intervencionista da administração atual", escreveu o analista de crédito soberano da Moody's Mauro Leos.
Além disso, a Moody's citou os desafios fiscais resultantes da economia fraca, impedindo a reversão da tendência de elevação nos indicadores da dívida do governo. Para Leos, se o crescimento fraco não for revertido, a posição fiscal do Brasil pode ser ainda mais corroída e prejudicar consideravelmente o perfil de crédito.
Em nota à imprensa, o Ministério da Fazenda disse que a decisão da Moody's reflete a realidade da primeira metade do ano e não a recuperação esperada para o atual semestre. Segundo a Fazenda, os problemas enfrentados no primeiro semestre --como a demora da recuperação internacional e uma das secas mais intensas da história no Brasil-- "estão sendo superados".
"O Brasil é uma economia sólida e já iniciou, neste segundo semestre, uma trajetória de gradual recuperação que terá continuidade ao longo do ano que vem", disse o ministério.
SEQUÊNCIA DE REVISÕES
A Moody's foi a última das três grandes agências de risco a concluir uma revisão do rating do Brasil neste ano.
Em julho, a Fitch manteve o rating "BBB" do Brasil, com perspectiva "estável", citando diversidade da economia, instituições relativamente desenvolvidas e forte capacidade de absorção de choques.
Em março, por outro lado, a Standard and Poor's rebaixou a nota brasileira para "BBB-", a mais baixa da categoria de grau de investimento em sua escala, mencionando a deterioração das contas públicas do país. Foi a primeira vez desde 2002, ano da primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que uma das principais agências de rating rebaixou a classificação do país.
PREOCUPAÇÃO FISCAL
A Moody's alertou nesta terça que pode rebaixar o rating do Brasil caso se torne aparente que "a tendência dos indicadores fiscais e de dívida do governo provavelmente não será interrompida e revertida" e que "o crescimento do PIB permanecerá abaixo da tendência, evidenciando uma mudança mais enraizada em sentido declinante no crescimento".
O rebaixamento da nota pode causar mais problemas para o Brasil e aumentar os custos de financiamento do governo.
"O rebaixamento virá no começo do próximo ano", disse Marcos Casarin, economista da Oxford Economics em Londres.
Logo após a Moody's divulgar sua decisão, o dólar acelerou o passo ante o real e chegou a subir 1 por cento, enquanto os juros futuros mais longos ampliaram a alta. O movimento, contudo, perdeu força rapidamente. Na Bovespa a reação inicial foi neutra.
"Não foi inteiramente inesperado. O momento também é questionável, uma vez que estamos tão perto da eleição, cujo resultado tem grande papel em determinar o curso da perspectiva. Não deve ser uma grande coisa, mas obviamente não está ajudando o sentimento hoje", escreveu o estrategista do Citi Kenneth Lam em nota.
O analista da Moody's Mauro Leos rebateu as críticas sobre o momento do anúncio, ao dizer que no início do ano ele não poderia antecipar o fraco desempenho econômico e fiscal.
"Nós não contemplávamos que haveria uma recessão este ano", disse ele.
A coligação do presidenciável tucano Aécio Neves disse, em nota, que a decisão da Moody's "confirma a infeliz deterioração do quadro econômico do nosso país".
"Mostra que as conquistas econômicas e sociais do Brasil estão em risco por decisões equivocadas da política econômica, com exagerada flexibilização fiscal, que abalaram de maneira significativa a confiança dos investidores", afirmou a coligação encabeçada pelo PSDB.
As campanhas de Marina Silva (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, ainda não se pronunciaram sobre a piora da perspectiva do rating do país pela Moody's.
(Por Camila Moreira, reportagem adicional de Walter Brandimarte)
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