Lina Bo Bardi, entre o moderno e o primitivo
Escrito por Romullo Baratto
Hoje, 05 de dezembro, celebramos o dia de nascimento da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Uma das arquitetas de maior importância e expressividade na arquitetura brasileira do século XX, Lina estudou arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma e, logo após se graduar, mudou-se para Milão, onde foi editora da Revista Quiaderni di Domus após ter trabalhando para Gio Ponti.
Durante a Segunda Guerra Mundial, enfrentou um período difícil após seu escritório ter sido bombardeado. Nesta época fundou, juntamente com Bruno Zevi, a publicação A - Cultura della Vita, e fez parte do Partido Comunista Italiano, vindo a conhecer o crítico e historiador de arte Pietro Maria Bardi, com quem se casou e mudou-se definitivamente para o Brasil.
Morando no Rio de Janeiro, Lina expandiu suas influências, no entanto, consolida sua importância no cenário da arquitetura moderna a partir do momento que se muda para São Paulo, por conta de um convite feito a Pietro para fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Lina se destacou por compreender a cultura brasileira a partir de uma perspectiva antropológica, atenta sobretudo à convergência entre vanguarda estética e tradição popular.
Em 1950 funda a revista Habitat, e em 1951 projeta sua própria residência, a icônica Casa de Vidro, no bairro Morumbi, em São Paulo, considerada uma das obras paradigmáticas do modernismo brasileiro. Em 1957 começou a construir a nova sede do MASP, na Avenida Paulista, obra emblemática que apresenta um vão de 70 metros sobre uma praça pública - um local ocupado pelas mais diversas manifestações populares até os dias de hoje.
Ao se mudar para Salvador, por convite para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia, segue sua produção projetual, tendo construído importantes edifícios na Bahia, mas também em São Paulo. Da entre os quais se destaca o restauro do Solar do Unhão, um conjunto arquitetônico do século XVI catalogado como patrimônio histórico na década de 1940, o edifício do Sesc Pompéia, de 1977, o Teatro Oficina, de 1984, e a Casa do Chame-Chame. À diferença dos projetos dos anos 50, estes apresentam influências outras, baseadas, sobretudo, no primitivismo e no brutalismo. Uma abordagem voltada mais ao corpo do que ao espaço racionalista parece guiar a produção de Lina após a ida à Bahia.
Sua obra, entretanto, não engloba apenas projetos de arquitetura, mas também trabalhos de cenografia, artes plásticas, desenho de mobiliários e design gráfico. Lina veio a falecer em 1992, em um momento de rica produção e diversos projetos em fase de desenvolvimento.
A arquitetura é criada, 'inventada de novo', por cada homem que anda nela, que percorre o espaço, subindo as escadas, ou descansando sobre um guarda-corpo, levantando a cabeça para olhar, abrir, fechar uma porta, sentar-se ou levantar-se e ter um contato íntimo e ao mesmo tempo criar 'formas' no espaço; o ritual primitivo do qual surgiu a dança, primeira expressão do que viria a ser a arte dramática. Este contato íntimo, ardente, que era outrora percebido pelo homem, é hoje esquecido. A rotina e os lugares comuns fizeram o homem esquecer a beleza de seu 'mover-se no espaço', de seu movimento consciente, dos mínimos gestos, da menor atitude. — Lina Bo Bardi
Atualmente, todos os documentos projetuais, fotografias, desenhos, maquetes, croquis, objetos, textos e filmes de projetos construídos e não construídos encontram-se em seu acervo no Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, localizado na residência onde o casal viver por décadas. Parte destes arquivos pode ser acessada online.
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