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terça-feira, 16 de julho de 2019

Glenn Greenwald entrevista Lula: entrevista completa

ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO

ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO

Alexandre Andrada

16 de Julho de 2019

AS ELITES BRASILEIRAS parecem ter um hábito secular de pôr uma pedra sobre o nosso passado. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não há museus sobre o tema e mal estudamos o assunto nas escolas. O desconhecimento do brasileiro médio em relação aos horrores e às consequências da escravidão é enorme. O esquecimento não é um acaso, é um projeto.

O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. Foram mais de 4 milhões de escravizados que desembarcaram em nossos portos, principalmente nos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, entre 1530 e 1850.


Na primeira metade do século 19, mais de 2 milhões de africanos aportaram no Brasil. Era uma multidão de gente. No censo de 1872, o primeiro de nossa história, o país tinha 10 milhões de habitantes e mais da metade (58%) da população era formada por pretos e pardos, incluindo livres, libertos e escravizados.

Os escravizados, nascidos no Brasil e na África, foram a mão de obra utilizada na criação da riqueza derivada do açúcar, do algodão, do ouro, do diamante e do café, principais produtos de exportação do país. Mas eles eram também empregados domésticos, amas de leite, sapateiros, barbeiros, vendedores de rua, pedreiros, pescadores, alfaiates, ferreiros. As ruas e as casas brasileiras do século 19 transbordavam escravidão.

Em 1872, apenas 0,08% dos escravizados eram alfabetizados. Isso, por si, só explica a ausência de relatos em primeira pessoa sobre esse drama. Por sorte, existe uma única autobiografia conhecida de um africano que passou pela experiência do navio negreiro e foi escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua.

Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e frequentou uma escola religiosa localizada no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravizados já era proibido no Brasil desde 1830, graças a um acordo com a Inglaterra, e desde de 1831, por força de uma lei de iniciativa nacional. Se valessem essas leis, Baquaqua deveria ser declarado livre assim que pisasse o solo brasileiro; e seu traficante, preso. Mas esse era o mundo imaginário das leis, não o dos fatos.

Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos Estados Unidos, Baquaqua relata o drama comum aos mais de 4 milhões de africanos escravizados que aqui desembarcaram.

Capa-do-livro-de-Baquaqua-1562012079 Imagem da edição do livro de Mahommah G. Baquaqua. Foto: Bruno Veras (Public domain)
O relato dos horrores vividos no navio negreiro é pujante. Baquaqua conta que ele e seus companheiros de infortúnio foram empurrados “para o porão do navio em estado de nudez”, com “os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro”. Como “o porão era tão baixo”, eles eram obrigados a “se agachar” ou ficar sentados no chão.

A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.
Uma viagem de navio de Angola até o Recife demorava em torno de 30 dias. Amontoados e acorrentados em posição desconfortável, o porão acumulava resquícios de urina, fezes, vômitos sob um forte calor. Relatos dão conta que as pessoas nas cidades primeiro sentiam o mal cheiro desses navios antes mesmo de os verem no horizonte. “A repugnância e a sujeira daquele lugar horrível nunca será apagada da minha memória”, escreveu Baquaqua.

As terríveis condições de higiene e alimentares faziam com que a taxa de mortalidade nas viagens superasse os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.

Baquaqua conta que “a única comida” que eles tiveram durante a viagem era um “milho encharcado e cozido”. A água também era racionada: “um pint (equivalente a 400 ml) por dia era tudo o que era permitido e nada mais”.

“Houve um pobre rapaz que ficou tão desesperado por falta de água, que tentou arrancar uma faca do homem branco que trouxe a água, quando foi levado para o convés e eu nunca soube o que aconteceu com ele. Eu suponho que ele foi jogado ao mar.

A violência era crucial para manter a “ordem”. Baquaqua conta que, “quando qualquer um de nós se tornava desobediente, sua carne era cortada com uma faca”, então, “pimenta ou vinagre” eram esfregados na ferida.

Os grandes traficantes de escravos eram brasileiros e portugueses aqui residentes. Eram ricos comerciantes, cuja fortuna superava a dos produtores de açúcar e algodão. Eles eram os ricaços do Rio, Salvador, Recife etc. No Recife, na década de 1820, o maior traficante era o comerciante português Elias Coelho Cintra, que tinha o costume marcar seus escravos com a letra “E” com ferro em brasa no peito, feito gado.

Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos, sendo que 26 morreram, que se destinavam a Elias Coelho. Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos que se destinavam a Elias Coelho. Vinte e seis morreram na travessia. Fonte: Diário de Pernambuco, 1830
Hoje, um dos bairros ainda hoje mais miseráveis e violentos do centro do Recife é o dos “Coelhos”, nome derivado do fato daquela região ser de propriedade da família do maior traficante de escravos da cidade. Sempre que passo por aquela área, fico pensando que parte dos seus habitantes que sobrevivem em condições desumanas, muitos dos quais em palafitas à beira do rio Capibaribe, pode ser formada por descendentes dos escravizados marcados a ferro quente por Elias.

Ao chegarem no Brasil, esses africanos eram postos em quarentena em portos ou mesmo no interior dos navios. Sobrevivendo a essa fase, os escravizados eram obrigatoriamente batizados na fé católica e recebiam nomes à portuguesa. Viravam todos Josés, Franciscos, Marias, Catarinas – Baquaqua não diz qual era seu nome que teve em seus tempos de Brasil. A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.

A viajante estrangeira Maria Graham, que esteve no país na década de 1820, retrata o horror da visão de uma dessas localidades.

“Mal tínhamos percorrido cinquenta passos no Recife, quando ficamos absolutamente enojados com a primeira vista de um mercado de escravos. Era a primeira vez que (…) estávamos em um país de escravos; e, por mais fortes e pungentes que sejam os sentimentos em casa, quando a imaginação retrata a escravidão, eles não são nada comparados à visão desconcertante de um mercado de escravos. (…) Cerca de cinquenta jovens criaturas, meninos e meninas, com toda a aparência de doença e fome, resultante da escassez de comida e longo confinamento em lugares insalubres, estavam sentados e deitados entre os animais mais sujos das ruas ”.

Ao chegar aqui, sendo ainda “boçal” (termo utilizado para descrever os cativos que não dominavam o português), Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Seu primeiro ofício foi carregar pedras para a construção de uma casa para o seu proprietário.

Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Muitos dos escravizados no Brasil do século 19 eram os chamados “pretos de ganho”, isto é, cativos que trabalhavam na rua vendendo alguma mercadoria ou realizando algum serviço, para garantir uma renda diária ao seu proprietário.

Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870.
Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870. Foto: Acervo/Instituto Moreira Salles
A escravidão não era exclusividade da agricultura para exportação e o escravizado não era “mercadoria” acessível apenas aos ricaços. O Brasil era uma sociedade escravista no sentido mais preciso do termo. Os anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos eram a matéria mais ordinária nas páginas dos jornais brasileiros neste período.

Um viajante escocês que passou pelo Recife em 1820 relata sua visão:

“Acho que nenhuma impressão fica mais profundamente impressa em minha mente do que a visão melancólica de centenas… de milhares de escravos negros que vi na cidade… Você não pode se mover em nenhuma direção, sem que a escravidão, com todas as suas misérias multiplicadas, prenda sua atenção. Se você anda pelas ruas, você encontra os escravos, a cada hora do dia, em centenas, gemendo e suando sob seus fardos, e gastando suas vidas miseráveis no desempenho daqueles trabalhos pesados que são feitos por cavalos na Escócia e na Inglaterra”.

Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. E como tantos outros escravizados, na busca de uma fuga da dureza do cotidiano, abusou do álcool. Além da bebida, Baquaqua imita o comportamento de outros milhares de escravizados: foge. Porém, também como era a regra, acaba recapturado.

Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Era uma luta desigual. Alguns, com sorte, podiam se aquilombar em Catucá, o mais famoso quilombo existente no Recife na primeira metade do século 19, que tanto amedrontava o “cidadão de bem” da cidade.

Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829
Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravos fugidos eram parte obrigatório dos jornais brasileiros do período. Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravizados que fugiam eram parte obrigatória dos jornais brasileiros do período. Fonte: Diário de Pernambuco, 1829.
Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. Fonte: Diário de Pernambuco
Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. Ilustração: Jacques Arago/Museu Afro Brasil (São Paulo)
Baquaqua conta que, após uma recaptura, saiu para vender pão, mas usou o dinheiro arrecadado para comprar bebida. Voltando a casa do senhor embriagado e sem dinheiro. Foi violentamente espancado. Revoltado e humilhado, Baquaqua tenta o suicídio:

“Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo. Eu então corri para o rio e me joguei, mas sendo visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui resgatado do afogamento.”

Depois disso, ele é posto à venda.

Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. Fonte: Diário de Pernambuco
Baquaqua é vendido “para fora da província”. Essa era uma outra forma comum de punição e de controle dos escravizados: os que se comportavam mal eram vendidos sob a condição de serem levados para localidades distantes. Toda a sociabilidade construída pelo escravizado naquela cidade era, de repente, desfeita, em uma repetição das agruras do navio negreiro.

Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. Fonte: Diário de Pernambuco
Seu destino foi o Rio de Janeiro, a capital do Império e maior cidade do país. Passou então a trabalhar a bordo de um navio. Após algumas viagens – ele narra passagens por Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, a embarcação teria como destino Nova York.

Em 1847, em solo estadunidense, Baquaqua conseguiu finalmente fugir da condição de escravizado e se tornou, mais uma vez, um homem livre. Seus companheiros no Brasil, porém, teriam que esperar até 1888 para terem a mesma sorte.

Livres, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo “científico” que ganha força no final do século 19 e começo do século 20. Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportavam aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.

Nos EUA, neste exato momento, está em debate no Congresso a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”. O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite.

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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Manifestantes protestam contra prisões de imigrantes nos EUA


Manifestantes protestam contra prisões de imigrantes nos EUA


REUTERS/Jarrett Renshaw


A ação, que Trump revelou no Twitter no mês passado, adiou e depois disse aos repórteres na sexta-feira que aconteceria, visaria centenas de famílias recém-chegadas em cerca de 10 cidades que receberam ordens de deportação de um juiz de imigração.

As operações de remoção visam deter uma onda de famílias centro-americanas fugindo da pobreza e da violência de gangues em seus países de origem, muitas delas em busca de asilo nos EUA.

Imigrantes e seus defensores estavam se preparando para as prisões em massa, mas até a noite de domingo só surgiram relatos de operações discretas em algumas cidades.


“Estamos realizando ações pontuais contra indivíduos específicos que foram a um tribunal de imigração e sujeitados a ordens de remoção de um juiz de imigração”, disse o diretor interino da Agência de Imigração e de Alfândega (ICE), Matt Albence, à rede Fox News quando lhe pediram uma atualização.

Mary Bauer, da entidade Southern Poverty Law Center (SPLC), disse não haver confirmação de operações em grandes cidades do sul, como Atlanta.

Tampouco surgiram relatos de prisões do Conselho Americano de Imigração, que tem advogados de prontidão para prestar aconselhamento legal no centro de detenção de famílias de imigrantes de Dilley, no Texas, o maior do país.

“Imigrantes e comunidades de imigrantes de todo o país estão escondidos, e pessoas estão vivendo destas maneiras assustadas, aterrorizadas, porque este é o objetivo de toda esta ação, quer as ações de cumprimento aconteçam ou não”, disse Mary Bauer, vice-diretora legal da SPLC.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, disse que houve operações do ICE em sua cidade no sábado, mas sem relatos de prisões, e nenhuma ação da agência no domingo.

“Este é um ato político deste presidente, ele politizou uma agência do governo dos Estados Unidos para ajudá-lo a conseguir a reeleição”, opinou De Blasio, pré-candidato democrata à corrida presidencial de 2020.

Em Denver, a Rede de Reação Rápida do Colorado, um grupo de ativistas pró-imigrantes, disse haver relatos não confirmados de que a ICE ou a polícia deteve três pessoas na área de Potter Highlands no domingo.

Por Andrew Hay em Taos, Novo México; Reportagem adicional de Humeyra Pamuk, em Washington


https://br.reuters.com/article/idBRKCN1UA1DE-OBRWD


Bolsonaro ainda avalia indicação do filho para embaixada em Washington, diz porta-voz


Bolsonaro ainda avalia indicação do filho para embaixada em Washington, diz porta-voz
Reuters

Deputo Eduardo Bolsonaro
BRASÍLIA (Reuters) - O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse nesta segunda-feira que o presidente Jair Bolsonaro ainda avalia a indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira em Washington, e defendeu que a indicação é “legalmente viável”.

Ao ser questionado sobre se o presidente já teria tomado uma decisão, o porta-voz leu um texto preparado pela Presidência em que são apontadas as razões para uma possível indicação do deputado federal para a embaixada.


Entre outros requisitos, Eduardo teria “acesso facilitado” ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de ter a “total confiança” de Bolsonaro.

Na manhã desta segunda, o presidente divulgou um vídeo de sua visita a Washington, em que Trump elogia Eduardo.

Rêgo Barros disse ainda que o filho do presidente teria outras qualidades para o cargo, como comandar a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, ser “conhecedor de relações internacionais”, ter “acompanhado comitivas do governo” em viagens internacionais, além de ter “internalizado os princípios da atual política externa do Brasil”.

Na manhã desta segunda, Bolsonaro já havia defendido a indicação do filho, afirmando que se estava sendo tão criticada era porque Eduardo é a pessoa “adequada”.

Reportagem de Lisandra Paraguassu

https://br.reuters.com/article/topNews/idBRKCN1UA2HF-OBRTP


O CASAMENTO ENTRE A EXTREMA DIREITA E O MOVIMENTO ANTIVACINA É UM PERIGO PARA O MUNDO

O CASAMENTO ENTRE A EXTREMA DIREITA E O MOVIMENTO ANTIVACINA É UM PERIGO PARA O MUNDO

João Filho

14 de Julho de 2019, 8h48

NO INÍCIO do século passado, o Rio de Janeiro estava tomado por lixo, ratos e mosquitos. Surtos das mais variadas doenças matavam aos milhares. O então prefeito Pereira Passos (1902-1906) iniciou um projeto autoritário de urbanização e saneamento da cidade. Para abrir avenidas e praças, demoliu cortiços e empurrou os pobres para os morros e as periferias.

Oswaldo Cruz, que ocupava cargo similar ao de ministro da saúde, liderou uma campanha de vacinação obrigatória para erradicar a varíola. Mas a falta de conhecimento da população sobre a vacina e o modo truculento com que a campanha foi implantada, invadindo casas e vacinando as pessoas na marra com a ajuda de policiais, foi o estopim para a Revolta da Vacina. A cidade virou um campo de batalha, com depredação de prédios públicos, incêndio de bondes e barricadas espalhadas pelas ruas da capital federal.

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Mais de cem anos depois, o Brasil pode se orgulhar de ter implantado uma política de vacinação que é referência e apresenta um dos maiores índices de cobertura do mundo. Mas o futuro não é animador. Um levantamento do Ministério da Saúde mostrou que sete das oito vacinas obrigatórias para crianças recém-nascidas não alcançaram a meta de 95% de cobertura no ano passado. Desde 2011, o número de crianças vacinadas com até dois anos vem caindo drasticamente. É um dado preocupante.
Um dos motivos apontados por especialistas é a erradicação de algumas doenças, que faz com que alguns pais não vejam necessidade de vacinar seus filhos. O outro é uma crescente onda de desconfiança em relação às vacinas, que vem crescendo no Brasil e no mundo. Doenças que haviam sido banidas estão voltando.

O movimento antivacina não é recente, mas ganhou asas com a internet. Em tempos de pós-verdade, em que o conhecimento científico passou a ser contestado por qualquer youtuber eloquente, a eficácia das vacinas deixou de ser um fato e passou a ser uma questão de opinião. Assim como o terraplanismo e o negacionismo climático, o movimento antivacina tem encontrado guarida na extrema direita mundial. Ele virou parte do pacotão antissistema que agrada os extremistas.

Quando um desses lunáticos que espalham teorias da conspiração passa a ocupar o cargo mais poderoso do mundo, a coisa toma proporções perigosas.


Donald J. Trump
Ao contrário do que afirmou Trump em 2014, nunca houve um caso registrado de criança que se tornou autista após tomar qualquer vacina.

No início do ano passado, quando os EUA passavam por uma temporada de gripe que registrou um recorde de 53 crianças mortas, uma pastora evangélica, conselheira de Trump, orientou a população a não tomar a vacina contra a gripe. Em vez disso, recomendou que se “vacinassem com a palavra de Deus”.

Os EUA têm sofrido com o surto de sarampo. Em janeiro, o estado de Washington declarou estado de emergência após a confirmação de 37 casos, a maioria deles por falta de vacinação. A doença havia sido erradicada no país em 2000, mas voltou a crescer e já bateu o recorde em número de casos em 2019.

A Europa também tem sofrido com a queda da vacinação. Na Itália, a extrema direita está intimamente ligada ao movimento antivacina, que foi impulsionado após a eleição. O político e comediante Beppe Grillo, líder do partido governista Movimento 5 Estrelas, afirmou que as vacinas são tão perigosas como as doenças que pretendem evitar. Em 2015, o partido chegou a propor uma lei contra a vacinação, alegando que ela poderia causar “leucemia, imunodepressão, autismo, câncer, alergias e mutações genéticas hereditárias”.

Massimiliano Fedriga, o maior porta-voz do movimento antivacina da Itália, é também um dos principais políticos da Liga do Norte, o partido de extrema direita do governo italiano. Ele classificou a obrigatoriedade de vacinação do governo anterior como uma medida “stalinista”. Em março deste ano, as crenças de Massimiliano foram atropeladas pela realidade. Ele ficou cinco dias internado por causa de uma catapora e decidiu abandonar a militância antivacina.

No Brasil, a militância não é tão radical nem tão grande como nos EUA e Europa, mas está crescendo. A extrema direita governista, apesar do costume de atacar universidades e rejeitar dados científicos, ainda não abraçou essa conspiração. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem se mostrado preocupado com a queda no índice de vacinação do país. Ele esteve recentemente na Assembleia Mundial da Saúde e defendeu a ampliação da cobertura da vacinação como prioridade para o mundo.

O ministro parece ter juízo nessa seara. O risco é que, se por algum motivo Mandetta cair, há chance de um nome antivacina substituí-lo. Olavo de Carvalho, que costuma indicar ministros ao presidente, é um cético sobre vacinação. Em 2006, o farol intelectual do bolsonarismo afirmou: “Já li provas científicas eloquentes de que (vacinas) são úteis e de que são perniciosas, e me considero humildemente em dúvida até segunda ordem.”

Em 2008, o guru já se mostrou mais incisivo. Ele foi à loucura com uma campanha de vacinação contra a rubéola. “Essa vacina, ao que tudo indica, tal como aconteceu em outros países, tem dentro uma substância esterilizante. Isso é uma campanha de esterilização em massa”, denunciou antes de xingar o ministro da Saúde da época de “vigarista filho da puta” que “merecia uma cuspida na cara”. Se houver uma nova revolta da vacina, certamente já temos um líder.

Segundo relato da sua filha, Olavo não vacinava os filhos e dois deles tiveram que ser internados por complicações do sarampo.

No YouTube brasileiro, as conspirações antivacina começam a engatinhar. Uma reportagem da BBC mostrou como mentiras importadas sobre o assunto têm feito sucesso no país. Depois que você assiste ao primeiro vídeo demonizando as vacinas, o algoritmo do YouTube te joga para dentro de uma bolha conspiratória. Há desde um médico famoso como Lair Ribeiro criticando a vacina da febre amarela para crianças — o que não faz o menor sentido, segundo especialistas da área — até malucos desconhecidos dizendo que a vacinação é um plano de Bill Gates para esterilizar e reduzir a população mundial. Não é difícil imaginar o perigo desse tipo de informação circulando no país em que a mamadeira de piroca ajudou a eleger um presidente.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde estima que vacinação evita de 2 milhões a 3 milhões de mortes por ano e poderia evitar mais 1,5 milhão se a cobertura fosse melhorada no mundo. O órgão se mostrou tão preocupado com as consequências do movimento antivacina que o incluiu em uma lista dos dez maiores riscos à saúde global em 2019, ao lado de ebola, HIV, dengue e influenza.

Há mais de cem anos, as vacinas eram uma novidade. Sabia-se quase nada sobre elas. As pessoas tinham razão em desconfiar de um líquido sendo introjetado em seus corpos por um governo autoritário. Hoje, mesmo diante da inequívoca revolução que as vacinas trouxeram para a saúde mundial, o negacionismo da ciência avança, conquistando mentes, corações e influenciando governos.

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João Filho
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domingo, 14 de julho de 2019

Comissão especial da Câmara aprova texto final da reforma da Previdência que será votado em 2º turno

Comissão especial da Câmara aprova texto final da reforma da Previdência que será votado em 2º turno
Reuters


(Reuters) - A comissão especial da reforma da Previdência aprovou na madrugada deste sábado o texto final da matéria que será votado em segundo turno pelo plenário na Câmara dos Deputados, o que deve ocorrer apenas em agosto, na volta do recesso parlamentar.

De acordo com informações da Agência Câmara Notícias, foram 35 votos a favor e 12 contra, em reunião marcada por discursos da oposição, que aproveitou a nova etapa para manter a posição contrária à reforma e reafirmar a disposição de alterar o texto na votação em segundo turno.


Na estratégia de acelerar a análise do texto final na comissão e encerrar a semana de intensos debates, os deputados favoráveis à reforma da Previdência abriram mão dos seus tempos de fala.

A etapa na comissão ocorreu após a Câmara concluir na noite de sexta-feira, após três dias de votações em meio a negociações de última hora e momentos de desarticulação, o primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência.


Terminada a votação, o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogerio Marinho, disse que a economia gerada pela reforma em dez anos deve ficar em cerca de 900 bilhões de reais, ante o 1 trilhão de reais inicialmente pretendido pelo governo. Ele ressaltou ainda que esses números serão refinados nos próximos dias.

Marinho estima que a PEC seja analisada em segundo turno pela Câmara no dia 6 de agosto e que a matéria seja aprovada pelo Senado até setembro.

Na Câmara, o texto precisa ser aprovado com o voto favorável de 308 deputados para seguir ao Senado.

Por Paula Arend Laier

Terra Santa News 12/07/2019 /Esse programa está fantástico assistam.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Presidente avalia que é do Congresso responsabilidade sobre mudar texto da Previdência agora, diz porta-voz

Presidente avalia que é do Congresso responsabilidade sobre mudar texto da Previdência agora, diz porta-voz




BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro tem suas “percepções” sobre alterações na reforma da Previdência para beneficiar as forças de segurança e entende as peculiaridades das carreiras, mas entende que nesse momento é de responsabilidade dos deputados fazer ou não alterações na proposta, disse nesta segunda-feira o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

Na última semana, depois de ter sido chamado de traidor por policiais federais, o presidente defendeu alterações no texto para beneficiar a categoria. No entanto, a comissão especial não aprovou destaques para flexibilizar as regras da categorias.

“O presidente tem as suas percepções pessoais, mas no momento entende que a Câmara dos Deputados, capitaneada e liderada fortemente pelo deputado Rodrido Maia (DEM-RJ), há de entender essas percepções e, se assim, a partir desse entendimento, se estiver alinhado com o presidente, há de fazer grandes ou pequenas modificações. Mas entende que nesse momento é de responsabilidade dos deputados a aprovação da reforma”, disse o porta-voz.

Segundo Rêgo Barros, o presidente fez questão de ratificar a “importância que ele atribui ao trabalho dos órgãos de segurança pública”, especialmente os federais, e que entende suas “peculiaridades”. Mas, reforçou o porta-voz, é a Câmara que tem o “condão” para decidir o que é melhor neste momento.

EMENDAS
O porta-voz confirmou ainda que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, estão trabalhando para “atender eventuais necessidades” de parlamentares sobre as emendas impositivas, mas disse desconhecer valores.

Segundo fontes ouvidas pela Reuters, o governo prometeu a liberação do pagamento de emendas no valor de 20 milhões por deputado que votar a favor da reforma.

Reportagem de Lisandra Paraguassu

Cineastas Que Marcaram O Século XX Federico Fellini



Federico Fellini


Origem: Wikipédia


Federico Fellini, Cavaleiro da Grande Cruz (título de honra concedido pela República Italiana), nascido em 20 de janeiro de 1920 e falecido em 31 de outubro de 1993. Conhecido pelo estilo peculiar que funde fantasia e imagens barrocas, ele é considerado uma das maiores influências e um dos mais admirados diretores do século XX.

Em agosto de 1918, sua mãe, Ida Barbiani (1896 - 1984), se casa com um vendedor viajante chamado Urbano Fellini (1894 - 1956) em cerimônia civil (com a cerimônia religiosa no mês de janeiro seguinte). Federico Fellini era o mais velho de três filhos (depois vieram Riccardo e Maria Maddalena). Urbano Fellini era nativo de Gambettola, onde, por muito tempo, Federico costumou passar as férias na casa dos avós.

Nascido e criado em Rimini, as experiências de sua infância vieram a ter uma parte vital em muitos de seus filmes, em particular em "Os Boas Vidas", de 1953; "8½" (1963) e "Amarcord" (1973). Porém, é errado pensar que todos os seus filmes contêm autobiografias e fantasias implícitas. Amigos próximos, como os roteiristas de TV Tulio Pinelli e Bernardino Zapponi, o cinematógrafo Giuseppe Rotunno e o designer de cenário Dante Ferretti, afirmam que Fellini convidava suas próprias memórias pelo simples prazer de narrá-las em seus filmes.

Durante o regime fascista de Mussolini, Fellini e seu irmão Riccardo fizeram parte de um grupo fascista que era obrigatório para todos os rapazes da Itália: o "Avanguardista". Ao se mudar para Roma em 1939, ele conseguiu um trabalho bem remunerado escrevendo artigos num semanário satírico muito popular na época – o Marc’Aurelio. Foi nesse período em que entrevistou o renomado ator Aldo Fabrizi, dando início a uma amizade que se estendeu para a colaboração profissional e um trabalho em rádio. Em uma época de alistamento compulsório desde 1939, Fellini sem dúvida conseguiu evitar ser convocado usando de artifícios e truques de grande perspicácia. O biógrafo Tulio Kezich comenta que, apesar da época feliz do Marc’Aurelio, a felicidade mascarava uma época imoral de apatia política. Muitos que viveram os últimos anos sob o regime de ditadura de Mussolini, vivenciaram entre uma esquizofrênica imposição à lealdade ao regime fascista e uma liberdade pura no humor.

Fellini conheceu sua esposa Giulietta Masina em 1942, casando-se no ano seguinte em 30 de outubro. Assim começa uma grande parceria criativa no mundo do cinema. Em 22 de março de 1945, Giulietta caiu da escada e teve complicações em sua gravidez, resultando em um parto prematuro e complicado de um menino que ganhou o nome de Pierfederico ou Federichino (Federiquinho), mas que faleceu com um mês e dois dias de vida. Tragédias familiares os afetaram profundamente, como é percebido na concepção de "A Estrada da Vida" de 1954.

O italiano foi também um cartunista talentoso. Produziu desenhos satíricos a lápis, aquarela, canetas hidrocor que percorreram a América do Norte e Europa, e hoje são de grande valia a colecionadores (muitos de seus rascunhos foram inspirados durante a produção dos filmes, estimulando ideias de decoração, vestimentas, projeto do set de filmagens, etc.). Com a queda do fascismo em 25 de julho de 1943 e a libertação de Roma pelas tropas aliadas em 4 de junho de 1944, num verão eufórico, Fellini e seu amigo De Seta inauguraram o Shopping das Caretas, desenhando caricaturas dos soldados aliados por dinheiro. Foi quando Roberto Rossellini tomou conhecimento do projeto intitulado "Roma, Cidade Aberta" (1945) de Fellini e foi ao seu encontro. Ele queria ser apresentado a Aldo Fabrizi e colaborar com o script juntamente com Suso Cecchi D'Amato, Piero Tellini e Alberto Lattuada. Fellini aceitou. Em 1948, Fellini atuou no filme de Roberto Rossellini "Il Miracolo", com Anna Magnani. Para atuar no papel de um vigarista que é confundido com um santo. Fellini teve seu cabelo tingido de loiro.

Fellini também escreveu textos para shows de rádio e textos para filmes (mais notavelmente para Rossellini, Pietro Germi, Eduardo De Filippo e Mario Monicelli) também escreveu inúmeras anedotas muitas vezes sem crédito, para conhecidos comediantes como Aldo Fabrizi. Dois roteiros nunca filmados de Fellini se tornaram histórias em quadrinhos ilustradas por Milo Manara: Viaggio a Tulum e Il viaggio di G. Mastorna detto Fernet.

Nos anos de 1991 e 1992 trabalhou junto com o diretor canadense Damian Pettigrew para ter o que ficou conhecida como "a mais longa e detalhada conversa jamais vista sobre filmes", que depois serviu de base para um documentário e um livro lançados anos mais tarde: "Fellini: Eu sou um grande Mentiroso". Tullio Kezich, crítico de filme e biógrafo de Fellini descreveu esses trabalhos como sendo "O Testamento Espiritual do Maestro".

Em 1993, recebeu um Oscar Honorário em reconhecimento de suas obras que chocaram e divertiram audiências mundo afora. No mesmo ano ele morreu de ataque cardíaco em Roma, aos 73 anos (um dia depois de completar cinquenta anos de casado). Sua esposa, Giulietta, morreu seis meses depois de câncer de pulmão em 23 de março de 1994. Giulietta, Fellini e Pierfederico estão enterrados no mesmo túmulo de bronze esculpido por Arnaldo Pomodoro. Em formato de barco, o túmulo está localizado na entrada do cemitério de Rimini – sua cidade natal.[2]

O aeroporto da cidade de Rimini também recebeu seu nome. O escritor brasileiro Jorge Amado e o belga Georges Simenon eram seus amigos e admiradores.[3]

Carreira cinematográfica

Federico Fellini
"Mulheres e Luzes" ("Luci del varietà"), de 1950, estrelado por Peppino De Filippo, é o primeiro filme de Fellini co-dirigido pelo experiente diretor Alberto Lattuada. Uma comédia charmosa sobre uma turma de saltimbancos itinerantes. O filme foi um estimulante para Fellini, na época com trinta anos, mas sua fraca distribuição e críticas fracas tornaram do filme um motivo de preocupação e um desastre que levou a produtora à falência, deixando Fellini e Lattuada com dívidas que se estenderam por uma década.

O primeiro filme que Fellini dirigiu sozinho foi "Abismo de um sonho" ("Lo sceicco bianco", 1952). Estrelado por Alberto Sordi. O filme é uma releitura de uma fotonovela - comuns na Itália daquela época - de Michelangelo Antonioni feita em 1949. O produtor Carlo Parlo Ponti pagou a Fellini e Tullio Pinelli para desenvolver a trama, mas achou o material muito complexo. Assim, o filme foi passado para Alberto Lattuada, que também recusou. Fellini então resolveu pegar o desafio e dirigiu o filme sozinho.

Ennio Flaiano (que também co-escreveu "Mulheres e Luzes") trabalhava um novo texto com Fellini e Pinelli. Juntos moldaram um conto de um casal recém-casado cujas aparências de respeito são devastadas por fantasias da esposa inexperiente (papel muito bem retratado por Brunella Bovo). Pela primeira vez, Fellini e o compositor Nino Rota trabalharam juntos em uma produção de um filme. Eles se encontraram em Roma no ano de 1945 e a parceria durou com sucesso até a morte de Rota durante o making of do filme "Cidade das Mulheres" em 1980. Essa relação artística foi memoravelmente descrita como mágica, empática e irracional.

Em 1961, Fellini descobriu através de um psicanalista os livros de Carl Jung. As teorias de Jung de anima e animus, o papel dos arquétipos e do coletivo inconsciente foram vigorosamente explorados no filme "8½", "Julieta dos Espíritos", "Satyricon", "Casanova" e "Cidade das Mulheres".

O reconhecido e aclamado Fellini ganhou quatro Óscares na categoria de melhor filme estrangeiro (vide filmografia), uma Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme "A Doce Vida", considerado um dos filmes mais importantes do cinema e dos anos 1960. Foi neste filme que surgiu o termo "Paparazzo", que era um fotógrafo amigo de Marcello Rubini, interpretado por Marcello Mastroianni.

Os filmes de Fellini renderam muitos prêmios, dentre eles: quatro Oscars, dois Leões de Prata, uma Palma de Ouro, o prêmio do Festival Internacional de Filmes de Moscou e, em 1990, o prestigiado Prêmio Imperial concedido pela Associação de Arte do Japão, que é considerado como um Prêmio Nobel. Este, cobre cinco disciplinas: pintura, escultura, arquitetura, música e teatro/filme. Com este prêmio, Fellini juntou-se a nomes como Akira Kurosawa, David Hockney, Balthus, Pina Bausch, e Maurice Béjart.

Legado

Federico Fellini, Giulietta Masina, Carla del Poggio e Alberto Lattuada em 1952
Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras. Existe um termo "Felliniesco" que é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas que invadam uma situação comum.

Grandes cineastas contemporâneos como Woody Allen, David Lynch, Girish Kasaravalli, David Cronenberg, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Tim Burton, Pedro Almodóvar, Terry Gilliam e Emir Kusturica já disseram ter grandes influências de Fellini em seus trabalhos. Woody Allen, em particular, já usou o imaginário e temas de Fellini em vários de seus filmes: "Memórias" evoca "8½", e "A Era do Rádio" é remanescente de "Amarcord", enquanto "Broadway Danny Rose" e "A Rosa Púrpura do Cairo" inspirados em "Mulheres e Luzes" e "Abismo de um Sonho" respectivamente.

O cineasta polonês Wojciech Has, autor dos filmes "O manuscrito encontrado em Saragoça" (1965) e "Sanatorium Pod Klepsydrą" (The Hour-Glass Sanatorium – 1973), são notáveis exemplos de fantasia modernista e foi comparado à Fellini pela "Luxúria pura de suas imagens".

O cantor escocês de rock progressivo Fish lançou em 2001 um álbum de nome Fellini Days, com letras e músicas totalmente inspiradas nos filmes de Fellini.

O trabalho de Fellini inspirou fortemente musicalmente e visualmente a banda "B-52’s". Eles citaram que o estilo de cabelos bufantes e de roupas futuristas e retrô vem de filmes como "8½", por exemplo. A inspiração em Fellini vem também no último álbum da banda, intitulado "Funplex", (2008) com uma música que leva o nome de um de seus filmes "Juliet of the Spirits", ou, "Julieta dos Espíritos" ("Giulietta Degli Spiriti, 1965)".

Filmografia
Como cineasta:
Ano Título original Título no Brasil Título em Portugal
1950
Luci del varietà*
Mulheres e Luzes
idem
1952
Lo sceicco bianco
Abismo de um sonho
O Sheik Branco
1953
I vitelloni
Os boas-vidas
Os Inúteis
1953
L'amore in città**
Amores na Cidade
Retalhos da vida
1954
La strada
A estrada da vida
A estrada
1955
Il bidone
A trapaça
O Conto do Vigário
1957
Le notti di Cabiria
Noites de Cabíria
As noites de Cabíria
1960
La dolce vita
A Doce Vida
A Doce Vida
1962
Boccaccio '70***
idem
idem
1963

Oito e meio
Fellini 8 ½
1965
Giulietta degli spiriti
Julieta dos espíritos
Julieta dos espíritos
1968
Tre passi nel delirio****
(Histoires extraordinaires)
Histórias Extraordinárias
Histórias Extraordinárias
1969
Satyricon
Satyricon de Fellini
ou Fellini – Satyricon
Fellini - Satyricon
1969
televisão
Block-notes di un regista
Anotações de um Diretor
Diário de um Realizador
1970
televisão
I clowns
Os Palhaços
Os Palhaços
1972
Roma
Roma de Fellini
Roma de Fellini
1973
Amarcord
idem
idem
1976
Il Casanova di Federico Fellini
Casanova de Fellini
O Casanova de Federico Fellini
1979
Prova d'orchestra
Ensaio de Orquestra
Ensaio de Orquestra
1980
La città delle donne
Cidade das Mulheres
A Cidade das Mulheres
1983
E la nave va
idem
O navio
1986
Ginger e Fred
idem
idem
1987
televisão
Intervista
Entrevista
Entrevista
1990
La voce della luna
A Voz da Lua
A Voz da Lua
(*) co-creditado a Alberto Lattuada

(**) segmento Agenzia matrimoniale (Agência matrimonial)

(***) segmento Le tentazioni del dottor Antonio (br/pt:As tentações do doutor Antônio/António)

(****) segmento Toby Dammit

Prêmios e nomeações
Oscar
1993 – Oscar Honorário
Indicações
Melhor Diretor
1960 - A Doce Vida
1963 – 8½
1969 – Satyricon
1974 – Amarcord
Melhor Roteiro Original
1946
Roma, Cidade Aberta
Paisá
1953 - Os boas-vidas
1954 - La Strada
1960 - A Doce Vida
1963 – 8½
1974 – Amarcord
Melhor Roteiro Adaptado
1976 – Casanova
Globo de Ouro
Melhor Filme em Língua Estrangeira
1963 – 8½
Prêmio Bodil
Melhor Filme Estrangeiro
1954 - La Strada
1963 – 8½
1974 – Amarcord
BAFTA
Melhor Filme
1960 - A Doce Vida
Indicações
Melhor Filme Estrangeiro
1986 - Ginger e Fred
Melhor Direção de Arte
1976 – Amarcord
Prêmio César
Indicações
1987 – Intervista
Prêmio David di Donatello
Medalha Cidade de Rome e Prêmio René Clair
1986 - Ginger e Fred
Melhor Argumento e Prêmio Luchino Visconti
1983 - E la nave va
Festival de Cannes
Palma de Ouro
1960 - A Doce Vida
Prémio de 40º Aniversário do Festival de Cannes
1986 – Intervista
Grande Prémio Técnico
1972 – Roma de Fellini
Prémio OCIC – Menção Especial
1957 - Noites de Cabíria
Festival de Veneza
Leão de Prata
1953 - Os boas-vidas
1954 - La Strada
Carreira Leão de Ouro (1985)
Prêmios do Cinema Europeu
Prêmio pelo Conjunto da Obra
Festival Internacional de Moscou
Prêmio Grand Prix