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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
São Jerônimo presbítero e doutor da Igreja
São Jerônimo presbítero e doutor da Igreja
Jerônimo (português brasileiro) ou Jerónimo (português europeu) (em latim: Eusebius Sophronius Hieronymus; em grego: Εὐσέβιος Σωφρόνιος Ἱερώνυμος), também conhecido por Jerônimo de Estridão, foi um sacerdote cristão ilírio, destacado como teólogo e historiador e considerado confessor e Doutor da Igreja pela Igreja Católica. Filho de Eusébio, da cidade de Estridão, na fronteira entre a Dalmácia e a Panônia, é mais conhecido por sua tradução da Bíblia para o latim (conhecida como Vulgata) e por seus comentários sobre o Evangelho dos Hebreus, mas sua lista de obras é extensa.
São Jerônimo é reconhecido como santo pelos católicos, ortodoxos e anglicanos e sincretizado como o orixá Xangô na umbanda. Não é tido como santo para os luteranos, pelo fato de estes não canonizarem personalidades.
Biografia
Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu em Estridão por volta de 347[5], mas só foi batizado entre 360 e 366 quando viajou para Roma com seu amigo Bonoso - que pode ou não ser o mesmo Bonoso que Jerônimo identifica como sendo seu companheiro quando foi viver como eremita numa ilha no Adriático - para continuar seus estudos sobre retórica e filosofia. Lá, Jerônimo estudou com o gramático Élio Donato, aprendeu latim e um pouco de grego[6], embora não tenha adquirido a proficiência que, anos depois, alegaria ter obtido c ter obtido como estudante..
Ainda como estudante em Roma, Jerônimo se envolveu no comportamento errático dos colegas mais despreocupados, o que lhe provocava depois terríveis ataques de arrependimento. Para apaziguar a consciência, visitava aos domingos as sepulturas dos mártires e dos apóstolos nas catacumbas, uma experiência que lhe lembrava dos terrores do inferno:
“ Frequentemente me encontrava entrando naquelas profundas criptas escavadas na terra, com suas paredes de ambos os lados preenchidas com os corpos dos mortos, onde tudo era tão escuro que parecia quase como se as palavras do salmista tivessem se realizado: «Desçam vivos ao Cheol» (Salmos 55:15). Aqui e ali, a luz, não vinda de janelas, mas descendo através das valas, aliviava o horror da escuridão. Mas novamente, tão logo você se via caminhando cuidadosamente adiante, a noite escura se fechava a sua volta e vinha-me à mente o verso de Virgílio: "Horror ubique animos, simul ipsa silentia terrent" ”
— Jerônimo, Commentarius in Ezzechielem].
Jerônimo utilizou de uma passagem de Virgílio — "Por todos os lados o horror se espalhava; o profundo silêncio inspirava o terror na minh'alma"— para descrever o horror do inferno. No início de sua carreira, ele utilizava termos de autores clássicos para descrever conceitos cristãos (como "Cheol", um termo para o inferno) , um indicativo de sua educação clássica. Embora inicialmente cético em relação ao cristianismo, no fim acabou se convertendo. Depois de muitos anos na capital imperial, Jerônimo viajou com Bonoso para a Gália e se assentou em Augusta Treveroro (moderna Trier, na Alemanha), onde é possível que tenha primeiro se dedicado aos seus estudos teológicos e, depois, a copiar para seu amigo Tirânio Rufino o comentário de Hilário sobre os "Salmos" e o tratado "De Synodis". Depois disso, Jerônimo viveu vários meses (pelo menos) ou, possivelmente, anos, com Rufino em Aquileia, onde fez muitos amigos cristãos.
Alguns deles o acompanharam quando ele partiu, por volta de 373, numa viagem através da Trácia e da Ásia Menor até o norte da Síria. Em Antioquia, onde ficou por mais tempo, dois de seus companheiros morreram e ele próprio ficou seriamente doente mais de uma vez. Durante uma destas enfermidades (perto do inverno de 373-374), Jerônimo teve uma visão que levou-a a abandonar seus estudos seculares para dedicar-se completamente a Deus. Ele parece ter trocado uma grande quantidade de tempo que dispendia no estudo dos clássicos para estudar a Bíblia, dirigido por Apolinário de Laodiceia, que na época ensinava em Antioquia e ainda não dava sinais de sua futura condenação por heresia (vide apolinarismo).
Tomando por um súbito desejo de viver em penitência asceta, Jerônimo passou um tempo no deserto de Cálcis, para o sudoeste de Antioquia, uma região conhecida como "Tebaida Síria", onde moravam numerosos eremitas. Durante este período, ele parece ter encontrado tempo para estudar e escrever. Lá também dedicou-se a aprender pela primeira vez o hebraico, sob a tutela de um judeu convertido e é possível que ele tenha mantido correspondência com os judeo-cristãos de Antioquia. Por volta desta época, Jerônimo contratou uma cópia de um "Evangelho Hebreu", do qual fragmentos foram preservados em suas notas e que é hoje conhecido como "Evangelho dos Hebreus", considerado o verdadeiro Evangelho de Mateus pelos nazarenos[12]. Depois disso, ele próprio traduziu partes da obra para o grego.
De volta em Antioquia em 378 ou 379, foi ordenado pelo bispo Paulino de Antioquia, aparentemente contra sua vontade e sob a condição de poder continuar sua vida asceta. Logo depois, viajou para Constantinopla para continuar seus estudos sobre as Escrituras com Gregório Nazianzeno. Ele passou por volta de uns dois anos por lá e partiu novamente para Roma, onde passou os três anos seguintes (382-385) na corte do papa Dâmaso I e a liderança cristã da cidade. O motivo da viagem foi um convite para que participasse do concílio de 382 realizado para acabar com o cisma na Igreja de Antioquia, que na época tinha mais de um patriarca alegando ser o verdadeiro. Acompanhando um deles, Paulino, pretendia apoiá-lo nos trabalhos, acabou se destacando junto ao papa e passou a exercer um importante papel durante seus concílios.
Jerônimo então recebeu diversos encargos em Roma e realizou ali uma revisão da Bíblia Latina (Vetus Latina) baseando-se em manuscritos gregos do Novo Testamento. Ele também atualizou o saltério contendo o "Livro dos Salmos" que era na época utilizado em Roma baseando-se na Septuaginta grega. Embora não tenha ficado claro para ele na ocasião, a tradução de muito do que depois se tornaria a Vulgata latina demoraria ainda muitos anos e tornar-se-ia seu mais importante legado (vide abaixo).
Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas e bem-educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias patrícias romanas, como as viúvas Leia, Marcela e Paula, com suas filhas Blesila e Eustóquia. Como resultado da crescente inclinação destas mulheres pela vida monástica, da indulgente lascividade que imperava em Roma e mais a crítica feroz de Jerônimo ao clero secular, que não poupava ninguém, logo irrompeu um conflito contra o clero romano e seus aliados. Depois da morte de Dâmaso, seu patrono (10 de dezembro de 384), Jerônimo foi forçado a abdicar de suas funções em Roma quando um inquérito foi aberto pelos seus inimigos para investigar uma suposta relação inapropriada entre ele e Paula.
Além disso, sua condenação ao estilo de vida hedonista de Blesila levou-a a adotar práticas ascetas que acabaram afetando sua saúde e a tornaram tão fraca fisicamente que ela morreu apenas quatro meses depois de começar a seguir suas instruções. A maior parte da população romana ficou enfurecida com Jerônimo, acusando-o de causar a morte prematura de uma jovem tão altiva.Para piorar, sua insistência de que Paula não deveria lamentar a morte dela e suas reclamações de que o luto por ela era excessivo foram vistos como cruéis e polarizaram ainda mais a opinião pública contra ele.
Jerônimo com Santa Paula e sua filha Eustóquia, duas de suas principais devotas. Uma rica viúva, Paula deu condições para que Jerônimo pudesse viver sem preocupações financeiras e se dedicasse aos estudos. Ela seguiu-o depois para Belém e morreu com ele na Terra Santa.
Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para Antioquia com seu irmão Pauliniano e diversos amigos; logo depois vieram Paula e Eustóquia, decididas a terminar suas vidas na Terra Santa. No inverno do mesmo ano, Jerônimo viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O grupo, acompanhado do bispo Paulino de Antioquia, peregrinou por Jerusalém, Belém e os lugares santos da Galileia antes de seguir para o Egito, onde viviam os heróis da vida asceta, os monges do deserto.
Na Escola Catequética de Alexandria, Jerônimo ouviu Dídimo, o Cego, ensinar sobre o profeta Oseias e contar o que se lembrava de Santo Antão, que morrera trinta anos antes. Depois, passou algum tempo na Nítria admirando a disciplinada vida comunitária dos numerosos habitantes da "cidade do Senhor", percebendo que, mesmo ali, "serpentes escondidas", ou seja, a influência do polêmico teólogo alexandrino Orígenes. No final do verão de 388, voltou para a Terra Santa e passou o resto de sua vida numa cela eremítica perto de Belém rodeado por uns poucos amigos, homens e mulheres (incluindo Santa Paula e Eustóquia), a quem ele atendia como sacerdote e professor.
Com recursos financeiros suficientes providenciados pela rica Paula, que investia também em aumentar sua biblioteca, Jerônimo passou a levar uma vida de incessante produção literária. A estes últimos trinta e quatro anos de sua carreira pertencem suas mais importantes obras; sua versão do Antigo Testamento traduzida do original hebraico, o melhor de seus comentários sobre as Escrituras, seu catálogo de autores cristãos (De Viris Illustribus) e o seu diálogo contra os pelagianos, de perfeição reconhecida até pelos seus adversários. A este período também pertence a maior parte de suas polêmicas, obras que o distinguem dos demais Padres da Igreja da época, incluindo tratados contra o origenismo (crença que seria depois anatemizada) do bispo João II de Jerusalém e de seu antigo amigo Rufino.
Em 416, como consequência de suas obras contra o pelagianismo, partidários inflamados da crença invadiram os edifícios monásticos perto de onde vivia, atearam-lhes fogo, atacaram os moradores e mataram um diácono, forçando Jerônimo a se refugiar numa fortaleza nas imediações.
Jerônimo morreu perto de Belém em 30 de setembro de 420, uma data que aparece na "Crônica" de Próspero da Aquitânia. Diz-se que seus restos, originalmente enterrados em Belém, foram trasladados para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, embora outros locais no ocidente também reivindiquem a posse de alguma relíquia relacionada ao santo.
Traduções e comentários
Tradições artísticas sobre Jerônimo
Jerônimo e o Leão, de Hans Memling. Além do hábito vermelho de cardeal, Jerônimo ainda aparece curando a pata do leão, uma história proveniente da fusão de sua história com a de São Gerásimo.
São Jerónimo no deserto, na famosa representação de Leonardo da Vinci. Jerônimo aparece como um eremita, semi-nu e à mercê dos elementos.
Jerônimo escrevendo em seu estúdio de Peter Paul Rubens. Além do material de escrita, aparecem também o leão e a cor vermelha, característica do cardinalato.
Jerônimo foi um acadêmico numa época que o título implicava fluência em grego, mas ele sabia também alguma coisa de hebraico quando começou seu projeto de tradução. Para reforçar seus conhecimentos, mudou-se para Jerusalém estudando os comentários judaicos sobre as Escrituras. Paula, a rica aristocrata romana que era uma de suas seguidoras, financiou sua estadia num mosteiro em Belém onde ele pôde concluir sua tradução. O trabalho começou em 382, com a correção da versão latina do Novo Testamento utilizada na época, a Vetus Latina. Em 390, iniciou a tradução da Bíblia Hebraica a partir do original, tendo já traduzido algumas partes utilizando a Septuaginta grega originária de Alexandria. Jerônimo acreditava que o Concílio de Jâmnia - da corrente principal do judaísmo rabínico - havia rejeitado a Septuaginta como versão válida das Escrituras judaicas por conta do que ele aferiu serem erros de tradução e elementos heréticos helenísticos[15][16]. O trabalho terminou em 405.
Antes da Vulgata de Jerônimo, todas as traduções do Antigo Testamento eram baseadas na Septuaginta e não na Bíblia Hebraica. Porém, a decisão de utilizar esta ao invés daquela, que era também uma tradução do hebraico, como fonte foi contrária às recomendações da maioria dos cristãos de seu tempo, incluindo Santo Agostinho, que considerava a Septuaginta inspirada. O consenso acadêmico moderno, porém, tem lançado dúvidas sobre o quanto Jerônimo de fato conhecia de hebraico e muitos acreditam que, na realidade, a "Hexapla" grega teria sido a principal fonte para a tradução "iuxta Hebraeos" de Jerônimo do Antigo Testamento.
Seus comentários patrísticos se alinham de forma muito próxima à tradição judaica e ele se entrega às sutilezas alegóricas e místicas no estilo de Fílon e da "Escola de Alexandria". Ao contrário de seus contemporâneos, Jerônimo enfatizava a diferença entre os apócrifos da Bíblia Hebraica e os livros protocanônicos da Hebraica veritas ("verdeira [Bíblia] Hebraica"). Evidências disso aparecem em suas introduções para os apócrifos salomônicos (como os "Salmos de Salomão") e os livros de Tobias e Judite. Mais notável, porém, é sua afirmação na introdução de seu comentário aos Livros de Samuel:
“ Este prefácio às Escrituras podem servir como uma introdução defensiva para todos os livros que traduzimos do hebraico para o latim, para que possamos estar seguros que o que ficou de fora deve ser deixado de lado como obras apócrifas. ”
— Jerônimo, Comentários sobre Samuel[.
Os comentários de Jerônimo se dividem em três grupos principais:
Suas traduções ou versões de textos gregos de outros autores, incluindo quatorze homilias sobre o Livro de Jeremias e um mesmo número sobre o Livro de Ezequiel de Orígenes (traduzidas por volta de 380 em Constantinopla); duas homílias de Orígenes sobre os Salmos de Salomão (em Roma, ca. 383); e trinta e nove sobre o Evangelho de Lucas (ca. 389 em Belém). As nove homilias de Orígenes sobre o Livro de Isaías incluídas entre suas obras não são de sua autoria. Deve-se mencionar aqui também, como uma importante contribuição para o estudo da topografia de Israel, sua obra "De situ et nominibus locorum Hebraeorum", uma tradução com algumas adições e algumas infelizes omissões do "Onomasticon" de Eusébio. Ao mesmo período (ca. 390) pertence também a "Liber interpretationis nominum Hebraicorum", baseada numa obra que supostamente remontaria à época de Fílon e que foi expandida por Orígenes.
Comentários originais sobre o Antigo Testamento. Ao período anterior de sua mudança para Belém e aos cinco anos depois disso pertencem uma série de curtos estudos sobre o Antigo Testamento: "De seraphim", "De voce Osanna", "De tribus quaestionibus veteris legis" (geralmente incluído entre suas epístolas, as de número 18, 20 e 36); "Quaestiones hebraicae in Genesim"; "Commentarius in Ecclesiasten"; "Tractatus septem in Psalmos 10-16" (perdida); "Explanationes in Michaeam", "Sophoniam", "Nahum", "Habacuc", "Aggaeum". Depois de 395, ele compôs uma série de comentários mais longos e num tom mais derrogatório: primeiro sobre Jonas e Obadias (396), depois sobre Isaías (ca. 395 - ca. 400), Zacarias, Malaquias, Oseias, Joel e Amós (a partir de 406), sobre Daniel (ca. 407), Ezequiel (entre 410 e 415) e Jeremias (depois de 415 e não terminado).
Comentários sobre o Novo Testamento. Entre eles sobre as epístolas a Filêmon, Gálatas, Efésios e Tito (escrita apressadamente entre 387 e 388); sobre Mateus (ditada numa quinzena em 398), Marcos, passagens selecionadas de Lucas, do Apocalipse e do prólogo do João.
Obras históricas e hagiográficas
Jerônimo também é conhecido como historiador. Uma de suas primeiras obras sobre o tema foi sua Crônica (ou ainda Temporum liber), escrita por volta de 380 quando ele estava em Constantinopla. É uma tradução para o latim das tabelas cronológicas da segunda parte da Crônica de Eusébio de Cesareia com um suplemento cobrindo o período entre 325 e 379. Apesar dos diversos erros, alguns herdados de Eusébio e outros próprios, trata-se de uma obra valiosa, menos pelo conteúdo e mais pelo impulso que proporcionou para cronistas posteriores como Próspero, Cassiodoro e Vítor de Tununa, que continuaram complementando os anais.
Importante também foi sua "De Viris Illustribus", escrita em Belém em 392, com título e arranjo emprestados da "Vida dos Doze Césares" de Suetônio. Ela contém breves notas biográficas e lista de obras de 135 autores cristãos, de São Pedro até o próprio Jerônimo. Para os primeiros setenta e oito, a "História Eclesiástica" de Eusébio é a fonte principal; no segundo grupo, começando com Arnóbio e Lactâncio, Jerônimo incluiu uma boa quantidade de informações independentes, especialmente para os autores ocidentais.
Jerônimo escreveu ainda quatro obras de natureza hagiográfica (biografias de santos):
A "Vita Pauli monachi", escrita durante sua primeira passagem por Antioquia (ca. 376), na qual o material lendário deriva da tradição monástica egípcia;
A "Vitae Patrum (Vita Pauli primi eremitae)", uma hagiografia de São Paulo de Tebas;
A "Vita Malchi monachi captivi" (ca. 391), provavelmente baseada num trabalho anterior, apesar de se propor derivar das conversas com o idoso asceta Malco com o próprio Jerônimo no deserto de Cálcis;
A "Vita Hilarionis" (ca. 391), contendo informações históricas mais confiáveis que as anteriores e baseada parcialmente na biografia de Epifânio e parcialmente na tradição oral.
O chamado "Martyrologium Hieronymianum" ("Martirológio de Jerônimo") é espúrio; ele foi aparentemente composto por um monge ocidental no final do século VI ou início do século VII e faz referência a uma expressão de Jerônimo do primeiro capítulo da "Vita Malchi", na qual ele fala de sua intenção de escrever uma história dos santos e mártires da era apostólica.
Epístolas
As epístolas de Jerônimo formam uma importante porção do que restou de suas obras literárias, tanto pela enorme variedade de temas quanto pela qualidade estilística. Independente de estar discutindo os problemas do ensino acadêmico ou argumentando em casos de consciência, reconfortando os aflitos ou apenas fazendo elogios aos amigos, atacando os vícios e corrupções de sua época ou a imoralidade sexual no clero[19], exortando à vida asceta e a renúncia do mundo ou se digladiando com seus adversários, Jerônimo apresenta uma imagem vívida não apenas de sua mente, mas de sua época com características peculiares. Como não existia naquele tempo uma distinção entre documentos pessoais e públicos, frequentemente encontramos em suas cartas tanto confidências pessoais quanto tratados direcionados a terceiros lado a lado.
As mais frequentemente republicadas ou citadas são as exortativas, como "Ad Heliodorum de laude vitae solitariae" (Ep. 14), "Ad Eustochium de custodia virginitatis" (Ep. 22), "Ad Nepotianum de vita clericorum et monachorum" (Ep. 52), uma espécie de epítome de teologia pastoral do ponto de vista ascético, "Ad Paulinum de studio scripturarum" (Ep. 53), de mesmo objetivo, De institutione monachi (Ep. 57), "Ad Magnum de scriptoribus ecclesiasticis" (Ep. 70) e "Ad Laetam de institutione filiae" (Ep. 107).
Obras teológicas
Praticamente todas as obras de Jerônimo no campo do dogma tem um caráter polêmico de tom mais ou menos veemente, direcionadas principalmente contra os defensores de doutrinas contrárias às ortodoxas. Até mesmo a tradução de um tratado de Dídimo, o Cego, sobre o Espírito Santo para o latim (iniciada em Roma em 384 e completada em Belém) revela uma tendência apologética contra os arianos e os pneumatomachoi. O mesmo vale para sua versão para "De principiis", de Orígenes (ca. 399), cujo objetivo era sobrepujar a tradução incorreta de Rufino. Obras mais polêmicas, stricto sensu, foram escritas em todos os períodos de sua vida, em diferentes contextos. Durante suas passagens por Constantinopla e Antioquia, por exemplo, Jerônimo estava mais preocupado com a controvérsia ariana e, especialmente, com o cisma em Antioquia protagonizado por Melécio de Antioquia e Lúcifer Calaritano. Duas cartas ao papa Dâmaso (Ep. 15 & 16) trazem reclamações a ambos os partidos em disputa, os melecianos e os paulinianos, que tentavam atraí-lo para a controvérsia sobre a relação entre Deus Pai e Deus Filho na Trindade e, mais especificamente, à aplicação de termos como ousia (substância) e hipóstase a esta relação. Na mesma época ou pouco depois (373), ele compôs sua "Liber Contra Luciferianos", na qual ele utiliza o diálogo de forma bastante inteligente para combater os princípios da facção dos calaritanos, principalmente sua rejeição ao batismo realizado por heréticos (uma tese de cunho donatista, já rejeitada antes).
Em Roma (por volta de 383), Jerônimo escreveu uma apaixonada resposta aos ensinamentos de Helvídio defendendo a doutrina da virgindade perpétua de Maria e da superioridade da castidade sobre o matrimônio. Um adversário de natureza similar foi Joviniano, com quem debateu em 392 ("Adversus Jovinianum" e a defesa desta obra endereçada ao seu amigo Pamáquio - Ep. 48). Em 406, uma vez mais Jerônimo defendeu as práticas piedosas católicas e sua própria ética asceta contra o presbítero gaulês Vigilâncio, que era contrário à veneração dos mártires e das relíquias, ao voto de pobreza e ao celibato clerical. Em paralelo, participou ainda da controvérsia com João II de Jerusalém e Rufino sobre a ortodoxia do origenismo. A este período pertencem algumas de suas mais apaixonadas e completas obras polêmicas: a "Contra Joannem Hierosolymitanum" (398 ou 399); duas obras intimamente relacionadas, "Apologiae contra Rufinum" (402) e sua "última palavra", escrita poucos meses depois, "Liber tertius seu ultima responsio adversus scripta Rufini".
A última obra polêmica de Jerônimo foi sua "Dialogus contra Pelagianos" (415), contra a heresia do pelagianismo.
Legado
Jerônimo é o segundo autor mais prolífico do cristianismo antigo tardio (depois de Santo Agostinho). Na Igreja Católica, ele é reconhecido como santo padroeiro dos tradutores, bibliotecários e enciclopedistas.
Arte
A Bíblia de Gutenberg da Biblioteca Pública de Nova Iorque, uma das edições da Vulgata, a obra-prima de Jerônimo.
Na arte, Jerônimo geralmente aparece representado como um dos quatro doutores latinos, juntamente com Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Gregório Magno. Como um membro proeminente do clero romano, ele foi muitas vezes representado - anacronisticamente - com o hábito vermelho de cardeal. Mesmo quando ele aparece representado como um anacoreta semi-nu, com a cruz, a caveira (símbolo da mortalidade) e a Bíblia como únicas mobílias de sua cela, o chapéu cardinalício ou outro indicativo de sua posição de cardeal aparece, via de regra, em algum lugar da obra.
Jerônimo é também geralmente representado na companhia de um leão, uma referência a uma conhecida lenda de como ele teria domado um leão ao curar um ferimento em sua pata. A origem da história, quase idêntica à contada sobre São Gerásimo, foi possivelmente uma confusão entre os nomes em latim dos dois santos, "Gerasimus" e "Geronimus"[a][b]. Hagiografias de Jerônimo contam que ele passou muitos anos nos desertos da Síria romana e diversos artistas intitularam sua obras "São Jerônimo no Deserto", entre eles Pietro Perugino e Lambert Sustris.
Ele é por vezes também representado com uma coruja, o símbolo da sabedoria e da erudição[23]. Finalmente, a iconografia de São Jerônimo inclui ainda materiais de escrita (pena, tinteiro, papel etc.) e a trombeta do Juízo Final..
Ver também
Traduções da Bíblia
Ordem de São Jerônimo
Notas
[a] ^ Eugene Rice sugeriu que, com toda certeza, a história do leão de Gerásimo se ligou à Jerônimo em algum momento no século VII, depois que as invasões militares árabes forçaram muitos monges gregos que viviam nos desertos do Oriente Médio a buscarem refúgio em Roma. Rice conjectura[24] que, "por causa da similaridade entre os nomes 'Gerasimus' e 'Geronimus', este o nome latino de Jerônimo, um sacerdote também latino tornou São Jerônimo o herói da história que ele havia ouvido sobre São Gerásimo; e que o autor da 'Plerosque nimirum', atraído por uma história ao mesmo tempo tão pitoresca, tão aparentemente apropriada e tão ressonante em significado e sugestionamento; e sob a impressão de que ela teria origem em histórias que peregrinos teriam ouvido em Belém, incluiu-a em sua 'vida' de um santo favorito que, não fosse assim, não realizara milagres".
[b] ^ Uma reminiscência desta história pode ser encontrada na "Legenda Áurea" (século XIII), de Jacobus de Voragine
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Tertuliano
Tertuliano
Tertuliano (em latim: Quintus Septimius Florens Tertullianus; ca. 160 — ca. 220 (60 anos)foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo, nascido em Cartago na província romana da África. Ele foi o primeiro autor cristão a produzir uma obra literária (corpus) em latim. Ele também foi um notável apologista cristão e um polemista contra a heresia.
Ele organizou e avançou a nova teologia da Igreja antiga. Ele é talvez mais famoso por ser o autor mais antigo cuja obra sobreviveu a utilizar o termo "Trindade" (em latim: Trinitas)[a] e por nos dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia trinitária. É um dos Padres latinos.
Algumas das ideias de Tertuliano não eram aceitáveis para os ortodoxos e, no fim de sua vida, ele se tornou um montanista.
Tertuliano
Pouquíssima informação confiável existe sobre a vida de Tertuliano. A maior parte do que sabemos sobre ele vem de seus próprios escritos.
De acordo com a tradição, ele foi criado em Cartago e acreditava ser o filho de um centurião romano, um advogado treinado e um padre ordenado. Estas assertivas se baseiam principalmente em Eusébio de Cesareia na sua História Eclesiástica (livro II, cap 2 e em São Jerônimo, em De Viris Illustribus (cap. 53 ). Jerônimo alegou que o pai de Tertuliano tina a posição de centurio proconsularis no exército romano na África. Porém, não está claro se esta posição sequer existiu nas forças militares romanas.
Adicionalmente, acredita-se que Tertuliano foi um advogado por causa do uso que ele faz de analogias legais e de uma identificação dele com o jurista Tertulianus, que foi citado no "Digesta seu Pandectae". Embora Tertuliano utilize conhecimentos da lei romana em seus escritos, seu conhecimento legal não é — de forma demonstrável — superior ao que se esperaria de um romano com educação suficiente. Dos escritos de Tertulianus, um advogado com o mesmo cognome, existem apenas fragmentos e eles não demonstram uma autoria cristã. E Tertulianus só foi confundido com Tertuliano muito depois, por historiadores cristãos.[10] Finalmente, também é questionável se ele era ou não um padre. Em suas obras sobreviventes, ele jamais se descreve como ordenado[8] pela Igreja e parece se colocar como leigo em trechos de "Exortação à Castidade") e "Sobre a Monogamia".
A África era famosa por ser terra de oradores. Esta influência pode ser percebida no estilo de Tertuliano, permeado de arcaísmos e provincialismos, suas imagens brilhantes e o seu temperamento apaixonado. Ele era um estudioso de grande erudição, tendo escrito pelo menos dois livros em grego. Neles, ele se refere a si mesmo, mas nenhum sobreviveu até hoje. Sua principal área de estudo era a jurisprudência e sua forma de raciocinar revela algumas marcas de um treinamento jurídico mais formal.
Conversão
Sua conversão ao cristianismo aconteceu por volta de 197–198 (de acordo com Adolf Harnack, Bonwetsch e outros), mas seus antecedentes imediatos são desconhecidos, exceto o que pode ser conjecturado a partir de seus escritos. O evento deve ter sido repentino e decisivo, transformando de uma vez sua própria personalidade. Ele escreveu que não podia imaginar uma vida verdadeiramente cristã sem um ato consciente e radical de conversão:
“ Nós somos da mesma laia e natureza: cristãos são feitos e não nascidos ”
— Apologia, Tertuliano.
Dois livros endereçados à sua esposa confirmam que ele foi casado com cristã.
No meio de sua vida (por volta de 207 d.C.), ele foi atraído pela "Nova profecia" do Montanismo e parece ter deixado o ramo principal da Igreja. No tempo de Santo Agostinho, um grupo de "tertulianistas" ainda tinham uma basílica em Cartago que, nesta mesma época, passou para a Igreja. Não sabemos se esta é apenas uma outra denominação para os montanistas e se significa que Tertuliano rompeu também com os montanistas e fundou seu próprio grupo. Tertuliano tinha um temperamento violento e enérgico, quase fanático, lutador empedernido e muitos dos seus escritos são polémicos. Este temperamento, impressionado com o exemplo dos mártires, que o levou à conversão, permite compreender a sua passagem ao montanismo.
Jerônimo diz que Tertuliano morreu com idade bastante avançada, mas não há outra fonte confiável que ateste sua sobrevivência além do ano estimado de 220 d.C.. À despeito de seu cisma com a ortodoxia da Igreja, ele continuou a escrever contra as heresias, especialmente o Gnosticismo. Assim, através de suas obras doutrinárias que publicou, Tertuliano se tornou professor de Cipriano de Cartago e o predecessor de Santo Agostinho que, por sua vez, se tornou o principal fundador da teologia latina.
Obras
Podemos dividir o conjunto das suas obras em três grandes grupos:
Escritos apologéticos (de defesa da fé contra os opositores): Aos pagãos, Apologeticum (a sua obra mas conhecida), O testemunho da alma, Contra Escápula, Contra os judeus.
Escritos polémicos: A prescrição dos hereges, Contra Marcião, Contra Hermógenes, Contra os valentinianos, O baptismo, Scorpiace, A carne de Cristo, A ressurreição da carne, Contra Práxeas, A alma.
Escritos disciplinares, morais e ascéticos: Aos mártires, Os espectáculos, O vestido das mulheres, A oração, A paciência, A penitência, À esposa, A exortação da castidade, A monogamia, O véu das virgens, A coroa, A fuga na perseguição, A idolatria, O jejum, A pudicícia, O manto.
Teologia
Apesar de ser considerado por muitos o fundador da teologia ocidental, a verdade é que tal designação é exagerada, porque Tertuliano não tem propriamente um sistema teológico. De facto, para isso faltou-lhe o equilíbrio necessário para organizar os vários artigos da fé, assim como a preocupação pela coerência, pois não era do seu interesse conciliar a fé com a razão humana.
A fé e a filosofia
Para Tertuliano, a questão das relações entre a fé e a filosofia nem sequer se colocavam, pois entre ambas nada existia de comum. A filosofia era vista como adversária da fé, e os filósofos antigos como patriarcas dos hereges. Para ele, de facto, fé e razão opõem-se, e podemos encontrar na filosofia a origem de todos os desvios da fé. No entanto, é forçado a reconhecer que algumas vezes os filósofos pensaram como os cristãos, e denuncia algumas influências de correntes filosóficas antigas, nomeadamente do Estoicismo.
É bem conhecida a frase "credo quia absurdum". Apesar de ela não se encontrar nos escritos de Tertuliano, mas apenas algumas semelhantes, ela condensa bem o seu pensamento acerca da razão. Note-se que o seu significado é não apenas "creio embora seja absurdo", mas sim "creio porque é absurdo". A verdadeira fé tem de se opor à razão.
A teologia e o direito
Tertuliano era jurista, advogado, e isso se refletiu em sua teologia e em seus escritos de duas maneiras:
quanto ao método argumentação
:
Nascia na Igreja a procura de uma argumentação precisa e cerrada, sem falhas, à imagem daquela usada nos tribunais. Foi Tertuliano que usou contra os hereges o argumento da prescriptio, que mostrava que apenas a Igreja unida a Roma provinha das origens, enquanto todos os outros teriam surgido depois e seriam, por isso, falsificadores;
quanto à linguagem:
Tertuliano introduziu na teologia latina, e na da Igreja em geral, uma série de termos e conceitos provenientes do direito. Concebeu a vida cristã e a salvação à semelhança de um processo penal, em que Deus é o legislador, o Evangelho a lei, quem obedece recebe a compensação, quem desobedece torna-se culpado e é castigado. Tertuliano introduziu ou consagrou algumas distinções importantes, como por exemplo a de preceito e conselho evangélico.
A regra da fé
Para Tertuliano, a regra da fé constitui-se como lei da fé. Nos seus escritos encontramos fórmulas de dois elementos, com menção do Pai e do Filho, e outras de três, que acrescentam o Espírito Santo. As várias fórmulas apresentadas por Tertuliano, semelhantes entre si na forma e no conteúdo, mostram a existência dum resumo da fé próximo do símbolo baptismal.
A "Apologia" de Tertuliano no Códice Balliolensis.
O maior contributo de Tertuliano para a teologia foi a sua reflexão acerca do mistério trinitário. Criou um vocabulário que passou a fazer parte da linguagem oficial da teologia cristã. Foi ele que introduziu a palavra “Trinitas”, como complemento da “Unitas”. Segundo Tertuliano, Pai, Filho e Espírito Santo são um só Deus porque uma só é a substância, um só estado (status) e um só poder. Mas, por outro lado, distinguem-se, sem separação, pelo grau, pela forma e pela espécie (manifestação). Tertuliano introduz assim o termo “pessoa”, (persona), para significar cada um dos três, considerado individualmente. Este vocabulário passou a vigorar, até hoje, para referir as realidades trinitárias. No entanto, Tertuliano deixa transparecer alguma influência subordinacionista. Ao falar da geração do Filho, sem querer comprometer a sua divindade, admite uma certa gradação, desde uma fase anterior à criação, em que o Logos de Deus se contempla a Si mesmo, para passar a contemplar a economia salvífica, e é engendrado de forma imanente em Deus, até à criação, em que a Palavra se realiza como tal ao ser proferida. Cristo é, assim, o primogénito do Pai, gerado antes de todas as coisas, mas não é eterno. O Filho é como que uma porção ou emanação do Pai.
Tertuliano, apesar de ter dotado a teologia trinitária dum vocabulário preciso, e de ter procurado a exactidão, não se livrou de algumas ambiguidades e deficiências.
Cristologia
Tertuliano formulou algumas doutrinas relativas à pessoa de Cristo, que haviam de ser reconhecidas mais tarde em concílios, de tal modo que podemos dizer que a sua cristologia tem os méritos da sua teologia trinitária, sem os seus defeitos. Tertuliano afirma com clareza as duas naturezas de Cristo, sem confusão entre as duas, nem redução de alguma delas. Nisso, proclama já o que mais tarde havia de ser solenemente afirmado no Concílio de Calcedónia (451).
Mariologia
Na sequência da sua cristologia, Tertuliano acentua que Maria deu realmente à luz o Verbo Encarnado. Reconhece que ela era virgem quando concebeu mas, para lutar contra a cristologia doceta, que defendia que o nascimento de Jesus tinha sido apenas aparente, nega a virgindade de Maria no parto e após o parto (pois isso parecia-lhe dar argumentos ao adversário). Do mesmo modo, entende que os “irmãos de Jesus” são filhos de Maria.
Apesar de tudo, Tertuliano proclama Maria como a nova Eva.
Eclesiologia
Tertuliano considera a Igreja como Mãe, numa expressão de extremo respeito e veneração. Tal como Eva foi formada da costela de Adão, também a Igreja teve a sua origem na chaga do lado de Cristo. A Igreja é guardiã de Fé e da Revelação. Assim, as Escrituras pertencem-lhe, e só ela mantém o ensinamento dos Apóstolos e pode transmiti-lo. Esta concepção, do período católico de Tertuliano, é ortodoxa, e semelhante à defendida por Ireneu de Lyon. Na sua fase montanista, porém, torna-se visivelmente herege, concebendo a Igreja como um corpo puramente espiritual, de tal modo que bastam dois ou três cristãos para que se possa dizer que se manifesta a totalidade da Igreja una. Essa seria a Igreja do Espírito, oposta à “Igreja dos bispos”. É por esta teoria que Tertuliano, já herege, substitui a da sucessão apostólica.
A penitência
Tertuliano fornece-nos pormenores importantes acerca da disciplina penitencial da Igreja, mas a sua teologia da penitência sofre das mesmas contradições e insuficiências da sua eclesiologia. Mas é o primeiro a descrever concretamente com clareza o processo e as formas da penitência. Há possibilidade duma nova conversão após o baptismo, conseguida na sequência duma confissão pública do pecado. Ao pedir perdão, o pecador usufrui da intercessão da Igreja e recebe a absolvição final pela pessoa do bispo. Na sua fase católica, Tertuliano mostra considerar que todo o pecador, por maior que fosse, tinha direito a esta penitência. Distinção entre pecados, só entre corporais e espirituais, consumados ou de desejo, mas todos eles podendo ser perdoados através da Igreja. Quando se torna montanista, porém, passa a considerar alguns pecados irremissíveis, tais como a fornicação, a idolatria e o homicídio. Isto é um dado novo, sem precedentes na disciplina primitiva, e testemunha o aparecimento duma facção rigorista, sob a influência do montanismo. Os católicos argumentavam com a Escritura, mostrando que Cristo perdoou todos os pecados, mesmo os “irremissíveis”. Tertuliano responde a isto dizendo que perdoar tais pecados era um poder pessoal e exclusivo do Salvador, não transmitido à Igreja. Para Tertuliano, por conseguinte, só Deus perdoa os pecados. Confrontado com a passagem do Evangelho em que Cristo concede o poder de ligar e desligar, Tertuliano nega que assim a Igreja detenha o poder das chaves, pois tal poder foi dado pessoalmente só a São Pedro, não a todos os bispos. Quando muito, para o Tertuliano montanista, o poder de perdoar os pecados pertence a “homens espirituais”, não aos bispos.
A Eucaristia
Tertuliano emprega vários nomes para referir a Eucaristia. São contudo poucas as suas referências explícitas a esse mistério. Ao falar dos sacramentos da iniciação cristã, diz que “a carne é alimentada com o Corpo e Sangue de Cristo, para que a alma seja saciada de Deus (De resurrectione mortuorum, 8). Isto manifesta a sua fé na presença real de Cristo na Eucaristia. O mesmo se torna patente quando manifesta a sua indignação por alguns se aproximarem indignamente do Corpo do Senhor.
Tertuliano testemunha também o carácter sacrificial da Eucaristia. Fá-lo ao referir o temor que alguns tinham de quebrar o jejum ao receberem o pão eucarístico. Tertuliano refere o costume de levar a espécie eucarística para casa e tomá-la privadamente. É esta uma das mais antigas alusões à reserva eucarística.
Apesar de algumas palavras ambíguas, Tertuliano manifesta a fé na presença real, que acontece mediante as palavras da instituição, mas salvaguarda a sua natureza sacramental pois refere as espécies como sinal e representação (no sentido de tornar presente). A fé nessa presença real exprime-se ainda na condenação daqueles que negam a realidade do corpo crucificado de Cristo, mas celebram a Eucaristia: tal comportamento é absurdo, pois tratam-se da mesma coisa.
Escatologia
Tertuliano admite a ideia duma penitência da alma após a morte. Somente os mártires escapam a ela. Todos os outros têm um tempo de espera até ao juízo final, e só a intercessão dos vivos lhes pode valer. Tal como os milenaristas, Tertuliano considera que, no fim, os justos, ressuscitados, reinarão durante mil anos com Cristo. Depois do juízo final, os justos estarão com Deus, enquanto que os ímpios irão para o fogo eterno.
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Pedro Lombardo / PAPA BENTO XVI EXPLICA QUEM FOI PEDRO LOMBARDO
Pedro Lombardo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Sententiae, 1280 circa, Biblioteca Medicea Laurenziana, Florence
Pedro Lombardo (aportuguesamento de Petrus Lombardus) foi um filósofo escolástico do século XII nascido por volta de 1100 em Lumellogno, perto de Novara, no norte da Itália, e falecido em 20 de Julho de 1160, ainda que haja algumas dúvidas sobre o ano exato do seu falecimento.
Vida
De origem humilde, Pedro provavelmente começou seus estudos nas escolas catedralícias de Novara e Lucca, onde manteve contato com Otão, bispo de Lucca, que por sua vez recomendou-o a Bernardo de Claraval. Com o patrocínio de Bernardo, Pedro Lombardo foi estudar em Paris com os canônicos da Abadia de São Vítor, onde conviveu com Pedro Abelardo e Hugo de São Vitor, dois dos maiores teólogos da época. Sabe-se também que, antes de vir para Paris, tinha estudado em Reims. Cerca de 1145, dez anos após chegar à cidade, Pedro tornou-se magister (professor) da escola catedralícia de Notre Dame em Paris. Em 1159 foi eleito bispo de Paris. Exerceu o cargo por pouco tempo, falecendo logo em 1160 e sendo sucedido por Maurício de Sully, o construtor da Catedral de Notre-Dame da cidade.
Obra
Pedro Lombardo escreveu comentários sobre os Salmos e sobre as cartas de São Paulo, mas sua obra mais célebre é o Libri quatuor sententiarum, os Quatro Livros das Sentenças, derivados dos textos de suas aulas na escola catedralícia. As Sentenças são uma cuidadosa compilação de textos bíblicos e frases (sentenças) de Padres da Igreja e outros pensadores medievais que juntos compõem uma detalhada exposição da teologia cristã da época. Para a redação da sua obra, Pedro utilizou tanto os escritos da escola como a Summa Sententiarum de Otão de Lucca e a obra de pensadores como Ivo de Chartres, Graciano, Hugo de São Vitor e Pedro Abelardo. A importância das Sentenças na filosofia escolástica medieval é evidenciada pelo fato de que, nos séculos seguintes, a obra foi comentada por pensadores como Alberto Magno, Boaventura, Tomás de Aquino e Duns Escoto.
PAPA BENTO XVI EXPLICA QUEM FOI PEDRO LOMBARDO
30.12.09: Cidade do Vaticano, - Bento XVI concedeu nesta quarta-feira a última audiência geral de 2009. Em seu encontro com fiéis e turistas esta manhã na Sala Paulo VI, o pontífice prosseguiu a série de catequeses que vem fazendo sobre a cultura cristã da Idade Média. O tema de hoje foi o teólogo Pedro Lombardo.
Pedro Lombardo ensinou na prestigiosa escola de Notre-Dame; magistério este, que motivou e modelou a obra-prima que nos deixou: Sentenças. Composto no século XII, seria o livro usado em todas as escolas de teologia até ao século XVI. O método teológico consistia em dar a conhecer, estudar e comentar o pensamento dos Padres da Igreja. Depois de ter cuidadosamente recolhido as sentenças – isto é, as fontes patrísticas –, ele distribuiu-as num quadro sistemático e harmonioso, que inclui quase todas as verdades da fé católica.
"Face aos riscos atuais de fragmentação e desvalorização de algumas verdades, o papa destacou a exigência irrenunciável da apresentação orgânica da fé, pois as diversas verdades iluminam-se mutuamente, e apresentam, em sua visão total e unitária, a harmonia do plano de salvação e a centralidade do mistério de Cristo" - disse aos presentes.
Bento XVI repetiu esta explicação em várias línguas, como o faz sempre nas audiências abertas ao público. E na seqüência, saudou diretamente os peregrinos de língua portuguesa, agradecendo os votos, preces e sinais de amizade recebidos nestes dias de festa. Naturalmente o papa fez votos de felicidades a todos pelo ano novo que se inicia.
Fonte: Rádio Vaticano.
Sentenças de Pedro Lombardo.
Queridos irmãos e irmãs,
Nesta última audiência do ano, falarei de Pedro Lombardo: um teólogo que viveu no século XII e gozou de grande notoriedade, graças à sua obra intitulada Sentenças, adotada como um manual de Teologia durante muitos séculos.
Quem, então, foi Pedro Lombardo? Embora as notícias sobre sua vida sejam escassas, podemos reconstruir as linhas essenciais de sua biografia. Nascido entre os séculos XI e XII, perto de Novara, no norte da Itália, em um território pertencido à Lombardia durante certo tempo: precisamente por isso lhe foi aplicado o nome de "Lombardo".
Ele pertencia a uma família de condições modestas, como se pode inferir a partir da carta de apresentação que Bernardo de Claraval escreveu a Gilduino, superior da abadia de São Vitor em Paris, pedindo-lhe que mantivesse Pedro hospedado gratuitamente, que viajaria àquela cidade por motivos de estudo. Com efeito, mesmo na Idade Média, não apenas os nobres e ricos podiam estudar e adquirir papéis importantes na vida eclesial e social, mas também pessoas de origem humilde, como Gregório VII, o Papa que fez frente ao imperador Henrique IV, ou Maurício Sully, o Arcebispo de Paris que fez construir a Catedral de Notre Dame e era filho de um fazendeiro pobre.
Pedro Lombardo começou seus estudos em Bolonha, depois foi para Reims e finalmente para Paris. A partir de 1140, ele lecionou na prestigiosa escola de Notre-Dame. Respeitado e apreciado como um teólogo, oito anos depois, foi nomeado pelo papa Eugênio III a examinar as doutrinas de Gilberto Porretano, que suscitou muita discussão, já que não era de todo ortodoxa. Tornou-se sacerdote e foi nomeado Bispo de Paris em 1159, um ano antes de sua morte, em 1160.
Como todos os mestres da teologia de seu tempo, Pedro também escreveu discursos e textos com comentários sobre as Escrituras. Sua obra-prima, no entanto, consiste nos quatro livros das Sentenças. Se trata de um texto nascido e destinado a ensinar. De acordo com o método teológico em uso naquele tempo, era necessário primeiro conhecer, estudar e comentar sobre o pensamento dos Padres da Igreja e outros escritores considerados autoridades. Pedro recorreu a uma documentação muito extensa, constituída principalmente a partir do ensinamento dos grandes Padres latinos, especialmente Santo Agostinho, e aberto a contribuições de teólogos de seu tempo. Entre outras coisas, ele utilizou também uma enciclopédia de teologia grega, há pouco tempo conhecida no Ocidente: A fé ortodoxa, composta por São João Damasceno. O grande mérito de Pedro Lombardo é o de haver organizado todo o material, que tinha recolhido e selecionado com cuidado, de forma sistemática e harmoniosa. Com efeito, uma das características da teologia é organizar de modo unificado e ordenado o patrimônio da fé. Ele distribui portanto as sentenças, isto é, fontes patrísticas sobre vários assuntos, em quatro livros.
No primeiro livro se trata de Deus e do mistério da Trindade; no segundo, da obra da criação, do pecado e da graça; no terceiro, do Mistério da Encarnação e da obra da Redenção, com uma ampla exposição sobre as virtudes. O quarto livro é dedicado aos sacramentos e à realidade última, aquela da vida eterna, ou Novissima. A visão global que ali se encontra inclui quase todas as verdades da fé católica. Este olhar sintético e apresentação clara, ordenada, esquemática e sempre coerente explica o extraordinário sucesso das Sentenças de Pedro Lombardo. Elas permitem um aprendizado seguro para os alunos, e um amplo espaço de aprofundamento aos professores e educadores que as utilizam. Um teólogo franciscano, Alessandro di Hales, que viveu uma geração depois de Pedro, introduziu nas Sentenças uma subdivisão, que tornou mais fácil a consulta e estudo. Mesmo os maiores teólogos do século XIII, Alberto Magno, Boaventura de Boanerges e Tomás de Aquino iniciaram suas atividades acadêmicas comentando os quatro livros das Sentenças de Pedro Lombardo, complementando-as com suas reflexões. O texto de Lombardo foi o livro usado em todas as escolas de teologia até o final do século XVI.
Gostaria de salientar que a apresentação orgânica da fé é uma exigência irrenunciável. De fato, as verdades singulares da fé iluminam os outros e, em sua visão total e unitária, amparam a harmonia do plano de salvação de Deus e a centralidade do mistério de Cristo. Seguindo o exemplo de Pedro Lombardo, convido todos os teólogos e padres a manter sempre presente a visão integral do conjunto da doutrina cristã contra os riscos modernos de fragmentação e desvalorização daquelas verdades. O Catecismo da Igreja Católica, bem como o Compêndio do Catecismo, se apresentam como um panorama muito completo da Revelação cristã, e devem ser acolhidos com fé e gratidão. Gostaria, portanto, de encorajar também os fiéis e comunidades cristãs a fazer uso dessas ferramenta para conhecer e aprofundar o conteúdo de nossa fé. Isso se tornará semelhante a uma maravilhosa sinfonia, em que se fala de Deus e de seu amor e se convida a nossa firma adesão e ativa resposta.
Para se ter uma idéia do interesse que ainda hoje pode suscitar a leitura das Sentenças de Pedro Lombardo, proponho dois exemplos. Inspirado pelo comentário de Santo Agostinho ao livro do Gênesis, Pedro se pergunto o motivo por que a criação da mulher veio da costela de Adão e não de sua cabeça ou seus pés. Pedro explica: "Não foi formada como uma dominadora ou uma escrava do homem, mas sua companheira" (Sentenças 3, 18, 3). Então, sempre com base no ensinamento patrístico, acrescenta: "Nesta ação está representado o mistério de Cristo e da Igreja. Do mesmo modo que a mulher foi formada da costela de Adão enquanto ele dormia, também a Igreja nasceu dos sacramentos, que começaram a fluir a partir do lado de Cristo adormecido na Cruz, sangue e água com os quais somos redimidos das penas e purificados da culpa" (Sentenças 3, 18, 4). São reflexões profundas e válidas ainda hoje quando a teologia e a espiritualidade do matrimônio cristão aprofundaram bastante a analogia com a relação esponsal entre Cristo e a sua Igreja.
Em outra passagem de sua obra principal, Pedro Lombardo, tratando dos méritos de Cristo, se pergunta: "Por qual razão, então, [Cristo] quis sofrer e morrer, se suas virtudes já eram suficientes para obter todo o mérito?". Sua resposta é incisiva e eficaz: "Por ti, não para si mesmo!". Ele continua com outra pergunta e outra resposta, que parecem reproduzir as discussões que tiveram lugar durante as aulas dos mestres de teologia da Idade Média: "E, nesse sentido, ele sofreu e morreu por mim? Sua paixão e sua morte foram para ti exemplo e causa. Exemplo de virtude e humildade, causa de glória e libertação; exemplo dado por Deus obediente até à morte, por causa de tua liberdade e felicidade" (Sentenças 3, 18, 5).
Entre as mais importantes contribuições oferecidas por Pedro Lombardo para a história da teologia, eu recordaria o seu tratamento com relação aos sacramentos, sobre os quais deu, eu diria, uma definição definitiva: "O sacramento, em sentido estrito, é um sinal da graça de Deus e forma visível da graça invisível, de tal modo que leva à imagem e essência da causa" (4, 1, 4). Com esta definição, Pedro Lombardo capta a essência dos sacramentos: são a causa da graça e tem a capacidade de comunicar realmente a vida divina. Os teólogos posteriores não abandonaram essa visão e utilizarão também a distinção entre o material e o elemento formal, introduzido pelo "Mestre das Sentenças", como era chamado Pedro Lombardo.
O elemento material é a realidade sensível e visível, suja forma são as palavras pronunciadas pelo ministro. Ambos são essenciais para uma celebração completa e válida dos sacramentos: a matéria, a realidade com a qual o Senhor nos toca visivelmente, e a palavra que dá significado espiritual. No Batismo, por exemplo, o elemento material é a água que se derrama sobre a cabeça da criança e o elemento formal são as palavras "Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." Lombardo também clarifica que somente os sacramentos transmitem objetivamente a graça divina e que são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio (cf. Sentenças 4, 2, 1).
Queridos irmãos e irmãs, é importante reconhecer o quanto isso é importante e essencial para toda a vida cristã sacramental, na qual o Senhor transmite aquela matéria, na comunidade da Igreja, que toca e transforma. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica, os sacramentos são "forças que fluem do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante, sob a ação do Espírito Santo" (n. 1116). Neste Ano Sacerdotal, que estamos celebrando, exorto os sacerdotes, sobretudo ministros encarregados das almas, a terem uma intensa vida sacramental, motivo de ajuda aos fiéis. A celebração dos sacramentos seja marcada pela dignidade e decoro, favoreça o recolhimento pessoal e a participação da comunidade, no sentido da presença de Deus e o ardor missionário. Os sacramentos são o grande tesouro da Igreja e cada um de nós tem a tarefa de celebrá-lo com frutos espirituais. Neles, um evento sempre surpreendente toca nossa vida: Cristo, através dos sinais visíveis, que vêm ao nosso encontro, nos purifica, nos transforma e nos torna participantes de sua amizade divina.
Queridos amigos, estamos juntos ao final deste ano e às portas do novo ano. Espero que a amizade de nosso Senhor Jesus Cristo vos acompanhe todos os dias deste ano que está prestes a começar. Possa essa amizade de Cristo ser nossa luz e guia, ajudando-nos a ser homens de paz, da sua paz. Feliz Ano Novo para todos vós!
O Papa dirigiu as seguintes palavras aos peregrinos de língua portuguesa
Amados peregrinos de língua portuguesa, agradecido pelos votos, preces e sinais de amizade que tivestes para comigo nestes dias de festa em honra do Deus-Menino, de coração desejo a todos um Ano Novo feliz, colocando vossa vida e família sob a protecção da Virgem Maria, para serdes autênticos amigos do seu Filho Jesus e corajosos construtores do seu Reino no mundo. Assim Deus vos abençoe!
Fonte: Serviço de informação do Vaticano.
© Últimas e Derradeiras Graças
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
São Boaventura Teólogo e Doutor da Igreja
São Boaventura Teólogo e Doutor da Igreja
São Boaventura de Bagnoregio, O.F.M.
Contemporaneidade
Boaventura, O.F.M. (em italiano: Bonaventura), nascido Giovanni di Fidanza, foi um teólogo e filósofo escolástico medieval nascido na Itália no século XIII. Sétimo ministro-geral da Ordem dos Frades Menores, foi também cardeal-bispo de Albano. Boaventura foi canonizado em 14 de abril de 1482 pelo papa Sisto IV e declarado Doutor da Igreja em 1588 pelo papa Sisto V como "Doutor Seráfico" (em latim: Doctor Seraphicus). Diversas obras que durante a Idade Média se acreditava ser de Boaventura foram depois atribuídas ao chamado "Pseudo-Boaventura".
Biografia
Boaventura nasceu em Bagnoregio, na região do Lácio perto de Viterbo, na época parte dos Estados Papais. Quase nada se sabe sobre sua infância, exceto os nomes de seus pais, Giovanni di Fidanza e Maria Ritella.
Ele entrou para a Ordem Franciscana em 1243 e estudou na Universidade de Paris, possivelmente sob a direção de Alexandre de Hales e certamente sob a de seu sucessor, João de la Rochelle. Em 1253, era o titular da cadeira franciscana em Paris. Infelizmente para Boaventura, a disputa entre os franciscanos seculares e os mendicantes atrasou seu mestrado até 1257, quando finalmente conseguiu o título - equivalente medieval ao de doutor - juntamente com Tomás de Aquino. Três anos antes, sua fama já tinha lhe valido a posição de palestrante sobre "Os Quatro Livros de Sentenças", um livro de teologia escrito por Pedro Lombardo no século XII.
Depois de conseguir defender com sucesso sua ordem contra as críticas do grupo contrário aos mendicantes, Boaventura foi eleito ministro-geral da ordem. Em 24 de novembro de 1265, foi selecionado para o posto de arcebispo de York, mas jamais foi consagrado e acabou renunciando ao posto em outubro de 1266.
Durante seu mandato, o capítulo geral de Narbona, realizado em 1260, promulgou um decreto proibindo a publicação de qualquer obra por membros da ordem sem permissão prévia dos altos escalões. Esta proibição induziu muitos autores modernos a criticarem os superiores de Roger Bacon, acusados de invejarem as habilidades do pupilo[6]. Porém, a proibição que afetou Bacon foi uma geral, que se estendia a toda e qualquer obra e não apenas a de Bacon. Ademais, sua promulgação não tinha suas obras como alvo e sim as de Gerard de Borgo San Donnino, que havia publicado em 1254, sem permissão, uma obra herética chamada "Introductorius in Evangelium æternum. Foi para evitar que algo assim se repetisse que o capítulo-geral emitiu a proibição, idêntica à "constitutio gravis in contrarium" citada por Bacon. O decreto foi finalmente revogado, o que favoreceu Bacon, de forma inesperada em 1266.
Boaventura foi instrumental para a eleição do papa Gregório X, que premiou-o com o título de cardeal-bispo da Diocese de Albano e insistiu que ele comparecesse ao grande Concílio de Lyon de 1274. Lá, depois que suas importantes contribuições ajudaram a aprovar uma fugaz reunião das igrejas latina e grega, Boaventura morreu repentinamente e em circunstâncias suspeitas. O artigo sobre ele na "Enciclopédia Católica" traz citações que sugerem que ele teria sido envenenado. A única relíquia existente do santo são o braço e a mão que ele utilizou para escrever seu "Comentários sobre as Sentenças", ambos agora preservados em Bagnoregio, na igreja paroquial de São Nicolau.
Sua teologia é marcada pela tentativa de integrar completamente a fé e a razão. Ele acreditava que Cristo era o "único mestre verdadeiro" que oferece à humanidade conhecimentos que nascem da fé, se desenvolvem através de uma compreensão racional e tornam-se perfeitos pela união mística com Deus.
Teologia e obras
As obras de Boaventura, de acordo com a mais recente edição crítica pelo Collegio di San Bonaventura, são compostas por um "Comentário sobre as Sentenças de (Pedro) Lombardo", em 4 volumes, dentre os quais um "Comentário sobre o Evangelho de São Lucas" e diversas outras obras menores. As mais famosas destas são "Itinerarium Mentis in Deum", "Breviloquium", "De Reductione Artium ad Theologiam", "Soliloquium" e "De septem itineribus aeternitatis", nas quais se encontram as mais peculiares características de sua doutrina. O filósofo alemão Dieter Hattrup não acreditava que "De reductione artium ad theologiam" possa ter sido escrita por Boaventura alegando diferenças no estilo do pensamento em relação às demais obras dele ], mas sua posição tem sido amplamente desacreditada depois das pesquisas de Benson, Hammond, Hughes & Johnson no volume 67 dos "Estudos Franciscanos" (2009).
Foi para Santa Isabel da França, a irmã do rei São Luis IX da França, e seu mosteiro de clarissas em Longchamps (atualmente parte do Bois de Bologne, em Paris), que Boaventura escreveu seu tratado "Sobre a Perfeição da Vida".
O "Comentário sobre as Sentenças" ainda é, sem dúvida, a obra-prima de Boaventura e todas as suas demais obras lhes são devedoras. Ela foi escrita por ordem de seus superiores (superiorum praecepto) quando ele tinha apenas 27 anos de idade e é uma obra teológica de grande qualidade.
Filosofia
Boaventura escreveu sobre quase todos os assuntos acadêmicos de sua época e suas obras são numerosas. Contudo, a maioria trata de filosofia e teologia. Nenhuma delas é exclusivamente filosófica e todas são excelentes testemunhas da mútua interpenetração entre as duas disciplinas que marcou o período escolástico.
Muito do pensamento filosófico de Boaventura revela uma considerável influência de Santo Agostinho, tanta que De Wulf considera-o como o melhor representante do agostinianismo. Boaventura acrescenta princípios aristotélicos à doutrina platonista agostiniana, especialmente no que tange à iluminação do intelecto[11]. O místico Dionísio, o Areopagita, foi outra notável influência.
Na filosofia, Boaventura foi bastante diferente de seus contemporâneos ilustres, Roger Bacon e Tomás de Aquino. Enquanto estes podem ser vistos como representantes, respectivamente, da ciência física - ainda que na sua infância - e do escolasticismo aristotélico em sua forma mais perfeita, ele apresenta uma forma de especulação teológica mística e platonizadora que já tinha, de alguma forma, aparecido nas obras de Bernardo de Claraval, Hugo e Ricardo de São Vítor. Para ele, o elemento puramente intelectual, embora jamais ausente, é de menor interesse quando comparado com o poder vivo dos sentimentos ou do coração.
Como Aquino, com quem compartilhava importantes opiniões em assuntos teológicos e filosóficos, Boaventura combatia vigorosamente a noção aristotélica da eternidade do mundo. Ele aceitava a doutrina platônica de que as ideias não existem in rerum natura, mas como ideais exemplificados pelo Divino, de acordo com o qual as coisas são formadas; e esta concepção tem grande influência sobre sua filosofia. Por conta dela, o filósofo e físico Max Bernhard Weinstein propôs que a doutrina de Boaventura revela fortes inclinações pandeísticas[12]. Como todos os grandes doutores escolásticos, Boaventura inicia seus argumentos com uma discussão sobre a relação entre fé e razão. Todas as ciências seriam, de acordo com ele, empregadas da teologia; a razão pode descobrir algumas das verdades morais que formam a base do sistema cristão, mas outras só são podem ser recebidas e aprendidas através da divina iluminação. Para obter esta iluminação, a alma precisa empregar os métodos apropriados - a oração, o exercício da virtude, através dos quais ela se apronta para receber a luz divina, e a meditação, que pode chegar até mesmo à união extática com Deus. O objetivo supremo da vida seria esta união, uma união em contemplação ou no intelecto e de intensa absorção do amor. Contudo, ele defende que ela não pode ser inteiramente alcançada nesta vida e permanece sempre, para os fieis, como uma esperança para o futuro.
Um mestre das frases memoráveis, Boaventura defendia que a filosofia abre a mente para pelo menos três diferentes caminhos que os seres humanos podem escolher em suas jornadas para Deus. As criaturas materiais não-intelectuais ele concebeu como sombras e vestígios (literalmente "pegadas") de Deus, compreendido como a causa final do mundo que a razão filosófica pode provar como tendo sido criado junto com o tempo. As criaturas intelectuais seriam as criadas à imagem e semelhança de Deus; o resultado da mente e da vontade humanas levando-nos a Deus, entendido como iluminador (revelador) do conhecimento e doador da graça e da virtude. A rota final é rota do ser, na qual Boaventura incorporou o argumento de Anselmo junto com a metafísica de Aristóteles e Platão para defender uma visão de Deus como um ser absolutamente perfeito cuja essência requer existência, um ser absolutamente simples que é a causa da existência de todos os demais seres compostos.
Na forma e no objetivo, as obras de São Boaventura são sempre obras teológicas e seu único ângulo de visão e critério de aproximação da verdade é a fé cristã. Este viés influencia sua própria importância na história da filosofia e, quando se soma o julgamento sobre seu estilo literário, Boaventura aparece como sendo, provavelmente, o menos acessível dentre as grandes figuras da filosofia do século XIII. E isto se dá não por ele ser um teólogo, mas por que a filosofia só lhe interessa como preparatio evangelica ("preparação para a pregação evangélica"), como algo que deve ser interpretado como uma sobra ou um desvio do que Deus revelou. De certa forma, o mesmo não vale para Aquino ou Alberto ou Duns Escoto e, conclui-se, Boaventura não sobreviveu bem à transição de seu tempo para o mundo contemporâneo. É difícil imaginar um filósofo contemporâneo, cristão ou não, citando uma passagem de Boaventura para apoiar um ponto de vista puramente filosófico. É claro que muitos filósofos leem Boaventura, mas o estudo de sua obra raramente é útil para compreender filósofos e seus característicos problemas. Boaventura, como teólogo, é outra história, é óbvio, assim como é Boaventura, o "autor edificante". Nestas disciplinas, e não propriamente na filosofia, que sua importância deve ser buscada.
Influência
Boaventura foi formalmente canonizado em 1482 pelo papa franciscano Sisto IV e foi declarado, juntamente com Tomás de Aquino, como o maior dos Doutores da Igreja por outro, papa Sisto V, em 1587. Ele era também considerado como um dos maiores filósofos da Idade Média[.
A festa de São Boaventura foi incluída no Calendário Geral Romano logo depois de sua canonização. Inicialmente, era celebrada no segundo domingo de julho, mas foi movida em 1568 para o dia 14 de julho, pois no dia quinze, o aniversário de sua morte, já se comemorava a festa de Santo Henrique. A festa permaneceu sendo celebrada nesta data como festa de "segunda classe", até 1960, quando foi reclassificada como festa de "terceira classe". Em 1969, ela foi novamente classificada como uma memoria obrigatória e movida novamente para 15 de julho, aniversário de sua morte, data na qual se celebra São Boaventura atualmente.
Títulos da Igreja Católica
Precedido por:
João de Parma Ministro-geral da Ordem dos Frades Menores
1257—1274 Sucedido por:
Jerônimo de Ascoli
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
São Boaventura de Bagnoregio, O.F.M.
Contemporaneidade
Boaventura, O.F.M. (em italiano: Bonaventura), nascido Giovanni di Fidanza, foi um teólogo e filósofo escolástico medieval nascido na Itália no século XIII. Sétimo ministro-geral da Ordem dos Frades Menores, foi também cardeal-bispo de Albano. Boaventura foi canonizado em 14 de abril de 1482 pelo papa Sisto IV e declarado Doutor da Igreja em 1588 pelo papa Sisto V como "Doutor Seráfico" (em latim: Doctor Seraphicus). Diversas obras que durante a Idade Média se acreditava ser de Boaventura foram depois atribuídas ao chamado "Pseudo-Boaventura".
Biografia
Boaventura nasceu em Bagnoregio, na região do Lácio perto de Viterbo, na época parte dos Estados Papais. Quase nada se sabe sobre sua infância, exceto os nomes de seus pais, Giovanni di Fidanza e Maria Ritella.
Ele entrou para a Ordem Franciscana em 1243 e estudou na Universidade de Paris, possivelmente sob a direção de Alexandre de Hales e certamente sob a de seu sucessor, João de la Rochelle. Em 1253, era o titular da cadeira franciscana em Paris. Infelizmente para Boaventura, a disputa entre os franciscanos seculares e os mendicantes atrasou seu mestrado até 1257, quando finalmente conseguiu o título - equivalente medieval ao de doutor - juntamente com Tomás de Aquino. Três anos antes, sua fama já tinha lhe valido a posição de palestrante sobre "Os Quatro Livros de Sentenças", um livro de teologia escrito por Pedro Lombardo no século XII.
Depois de conseguir defender com sucesso sua ordem contra as críticas do grupo contrário aos mendicantes, Boaventura foi eleito ministro-geral da ordem. Em 24 de novembro de 1265, foi selecionado para o posto de arcebispo de York, mas jamais foi consagrado e acabou renunciando ao posto em outubro de 1266.
Durante seu mandato, o capítulo geral de Narbona, realizado em 1260, promulgou um decreto proibindo a publicação de qualquer obra por membros da ordem sem permissão prévia dos altos escalões. Esta proibição induziu muitos autores modernos a criticarem os superiores de Roger Bacon, acusados de invejarem as habilidades do pupilo[6]. Porém, a proibição que afetou Bacon foi uma geral, que se estendia a toda e qualquer obra e não apenas a de Bacon. Ademais, sua promulgação não tinha suas obras como alvo e sim as de Gerard de Borgo San Donnino, que havia publicado em 1254, sem permissão, uma obra herética chamada "Introductorius in Evangelium æternum. Foi para evitar que algo assim se repetisse que o capítulo-geral emitiu a proibição, idêntica à "constitutio gravis in contrarium" citada por Bacon. O decreto foi finalmente revogado, o que favoreceu Bacon, de forma inesperada em 1266.
Boaventura foi instrumental para a eleição do papa Gregório X, que premiou-o com o título de cardeal-bispo da Diocese de Albano e insistiu que ele comparecesse ao grande Concílio de Lyon de 1274. Lá, depois que suas importantes contribuições ajudaram a aprovar uma fugaz reunião das igrejas latina e grega, Boaventura morreu repentinamente e em circunstâncias suspeitas. O artigo sobre ele na "Enciclopédia Católica" traz citações que sugerem que ele teria sido envenenado. A única relíquia existente do santo são o braço e a mão que ele utilizou para escrever seu "Comentários sobre as Sentenças", ambos agora preservados em Bagnoregio, na igreja paroquial de São Nicolau.
Sua teologia é marcada pela tentativa de integrar completamente a fé e a razão. Ele acreditava que Cristo era o "único mestre verdadeiro" que oferece à humanidade conhecimentos que nascem da fé, se desenvolvem através de uma compreensão racional e tornam-se perfeitos pela união mística com Deus.
Teologia e obras
As obras de Boaventura, de acordo com a mais recente edição crítica pelo Collegio di San Bonaventura, são compostas por um "Comentário sobre as Sentenças de (Pedro) Lombardo", em 4 volumes, dentre os quais um "Comentário sobre o Evangelho de São Lucas" e diversas outras obras menores. As mais famosas destas são "Itinerarium Mentis in Deum", "Breviloquium", "De Reductione Artium ad Theologiam", "Soliloquium" e "De septem itineribus aeternitatis", nas quais se encontram as mais peculiares características de sua doutrina. O filósofo alemão Dieter Hattrup não acreditava que "De reductione artium ad theologiam" possa ter sido escrita por Boaventura alegando diferenças no estilo do pensamento em relação às demais obras dele ], mas sua posição tem sido amplamente desacreditada depois das pesquisas de Benson, Hammond, Hughes & Johnson no volume 67 dos "Estudos Franciscanos" (2009).
Foi para Santa Isabel da França, a irmã do rei São Luis IX da França, e seu mosteiro de clarissas em Longchamps (atualmente parte do Bois de Bologne, em Paris), que Boaventura escreveu seu tratado "Sobre a Perfeição da Vida".
O "Comentário sobre as Sentenças" ainda é, sem dúvida, a obra-prima de Boaventura e todas as suas demais obras lhes são devedoras. Ela foi escrita por ordem de seus superiores (superiorum praecepto) quando ele tinha apenas 27 anos de idade e é uma obra teológica de grande qualidade.
Filosofia
Boaventura escreveu sobre quase todos os assuntos acadêmicos de sua época e suas obras são numerosas. Contudo, a maioria trata de filosofia e teologia. Nenhuma delas é exclusivamente filosófica e todas são excelentes testemunhas da mútua interpenetração entre as duas disciplinas que marcou o período escolástico.
Muito do pensamento filosófico de Boaventura revela uma considerável influência de Santo Agostinho, tanta que De Wulf considera-o como o melhor representante do agostinianismo. Boaventura acrescenta princípios aristotélicos à doutrina platonista agostiniana, especialmente no que tange à iluminação do intelecto[11]. O místico Dionísio, o Areopagita, foi outra notável influência.
Na filosofia, Boaventura foi bastante diferente de seus contemporâneos ilustres, Roger Bacon e Tomás de Aquino. Enquanto estes podem ser vistos como representantes, respectivamente, da ciência física - ainda que na sua infância - e do escolasticismo aristotélico em sua forma mais perfeita, ele apresenta uma forma de especulação teológica mística e platonizadora que já tinha, de alguma forma, aparecido nas obras de Bernardo de Claraval, Hugo e Ricardo de São Vítor. Para ele, o elemento puramente intelectual, embora jamais ausente, é de menor interesse quando comparado com o poder vivo dos sentimentos ou do coração.
Como Aquino, com quem compartilhava importantes opiniões em assuntos teológicos e filosóficos, Boaventura combatia vigorosamente a noção aristotélica da eternidade do mundo. Ele aceitava a doutrina platônica de que as ideias não existem in rerum natura, mas como ideais exemplificados pelo Divino, de acordo com o qual as coisas são formadas; e esta concepção tem grande influência sobre sua filosofia. Por conta dela, o filósofo e físico Max Bernhard Weinstein propôs que a doutrina de Boaventura revela fortes inclinações pandeísticas[12]. Como todos os grandes doutores escolásticos, Boaventura inicia seus argumentos com uma discussão sobre a relação entre fé e razão. Todas as ciências seriam, de acordo com ele, empregadas da teologia; a razão pode descobrir algumas das verdades morais que formam a base do sistema cristão, mas outras só são podem ser recebidas e aprendidas através da divina iluminação. Para obter esta iluminação, a alma precisa empregar os métodos apropriados - a oração, o exercício da virtude, através dos quais ela se apronta para receber a luz divina, e a meditação, que pode chegar até mesmo à união extática com Deus. O objetivo supremo da vida seria esta união, uma união em contemplação ou no intelecto e de intensa absorção do amor. Contudo, ele defende que ela não pode ser inteiramente alcançada nesta vida e permanece sempre, para os fieis, como uma esperança para o futuro.
Um mestre das frases memoráveis, Boaventura defendia que a filosofia abre a mente para pelo menos três diferentes caminhos que os seres humanos podem escolher em suas jornadas para Deus. As criaturas materiais não-intelectuais ele concebeu como sombras e vestígios (literalmente "pegadas") de Deus, compreendido como a causa final do mundo que a razão filosófica pode provar como tendo sido criado junto com o tempo. As criaturas intelectuais seriam as criadas à imagem e semelhança de Deus; o resultado da mente e da vontade humanas levando-nos a Deus, entendido como iluminador (revelador) do conhecimento e doador da graça e da virtude. A rota final é rota do ser, na qual Boaventura incorporou o argumento de Anselmo junto com a metafísica de Aristóteles e Platão para defender uma visão de Deus como um ser absolutamente perfeito cuja essência requer existência, um ser absolutamente simples que é a causa da existência de todos os demais seres compostos.
Na forma e no objetivo, as obras de São Boaventura são sempre obras teológicas e seu único ângulo de visão e critério de aproximação da verdade é a fé cristã. Este viés influencia sua própria importância na história da filosofia e, quando se soma o julgamento sobre seu estilo literário, Boaventura aparece como sendo, provavelmente, o menos acessível dentre as grandes figuras da filosofia do século XIII. E isto se dá não por ele ser um teólogo, mas por que a filosofia só lhe interessa como preparatio evangelica ("preparação para a pregação evangélica"), como algo que deve ser interpretado como uma sobra ou um desvio do que Deus revelou. De certa forma, o mesmo não vale para Aquino ou Alberto ou Duns Escoto e, conclui-se, Boaventura não sobreviveu bem à transição de seu tempo para o mundo contemporâneo. É difícil imaginar um filósofo contemporâneo, cristão ou não, citando uma passagem de Boaventura para apoiar um ponto de vista puramente filosófico. É claro que muitos filósofos leem Boaventura, mas o estudo de sua obra raramente é útil para compreender filósofos e seus característicos problemas. Boaventura, como teólogo, é outra história, é óbvio, assim como é Boaventura, o "autor edificante". Nestas disciplinas, e não propriamente na filosofia, que sua importância deve ser buscada.
Influência
Boaventura foi formalmente canonizado em 1482 pelo papa franciscano Sisto IV e foi declarado, juntamente com Tomás de Aquino, como o maior dos Doutores da Igreja por outro, papa Sisto V, em 1587. Ele era também considerado como um dos maiores filósofos da Idade Média[.
A festa de São Boaventura foi incluída no Calendário Geral Romano logo depois de sua canonização. Inicialmente, era celebrada no segundo domingo de julho, mas foi movida em 1568 para o dia 14 de julho, pois no dia quinze, o aniversário de sua morte, já se comemorava a festa de Santo Henrique. A festa permaneceu sendo celebrada nesta data como festa de "segunda classe", até 1960, quando foi reclassificada como festa de "terceira classe". Em 1969, ela foi novamente classificada como uma memoria obrigatória e movida novamente para 15 de julho, aniversário de sua morte, data na qual se celebra São Boaventura atualmente.
Títulos da Igreja Católica
Precedido por:
João de Parma Ministro-geral da Ordem dos Frades Menores
1257—1274 Sucedido por:
Jerônimo de Ascoli
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manifesto de Dresden: Maria e os protestantes
O Manifesto de Dresden
O Manifesto de Dresden é um texto de um grupo de Teólogos Protestantes Luteranos publicado em Dresden, então Alemanha Oriental na revista Spiritus Domini em Maio de 1982, (nº 05, maio de 1982) em que questionam a “recusa e indiferença” por parte de outras denominações evangélicas à Maria, argumentam que o próprio Martinho Lutero foi devoto de Maria e dentre outras questões, se demonstram “perplexos” diante da recusa dos Milagres e aparições de Maria por estes grupos.
Amigo leitor, leia este manifesto e reflita você mesmo!!
O Manifesto de Dresden
“Em Lourdes, em Fátima e em outros santuários marianos, a crítica imparcial se encontra diante de fatos sobrenaturais, que tem relação direta com a Virgem Maria, seja mediante as aparições, seja por causa das causas milagrosas solicitadas por sua intercessão. Estes fatos são tais que desafiam toda a explicação natural.”
Sabemos, ou deveríamos saber, que as curas de Lourdes e Fátima são examinadas com elevado rigor científico por médicos católicos e não-católicos. Conhecemos a praxe da Igreja Católica, que deixa transcorrer vários anos antes de declarar alguma cura milagrosa. Até hoje, 1200 curas ocorridas em Lourdes foram consideradas pelos médicos cientificamente inexplicáveis, todavia a Igreja Católica só declarou milagrosas 44 delas.
Nos últimos 30 anos, 11 mil médicos passaram por Lourdes. E todos eles, qualquer que seja a sua religião ou posição científica, tem livre acesso ao Bureau des Constatatione Medicales. Por conseguinte, uma cura milagrosa é cercada das maiores garantias possíveis. Qual é, pois, o sentido profundo destes milagres no plano de Deus? Bem parece que Deus quer dar uma resposta irrefutável à incredulidade dos nossos dias. Como poderá um incrédulo continuar a viver de boa fé na sua incredulidade diante de tais fatos? E também nós, “cristãos evangélicos”, podemos ainda, em virtude de preconceitos, passar ao lado destes fatos sem nos aplicarmos a um atento exame?
Uma tal atitude não implicaria grave responsabilidade para nós? Por que um cristão evangélico pode ter o direito de ignorar tais realidades pelo fato de se apresentarem na Igreja Católica e não na sua comunidade religiosa? Tais fatos não deveriam, ao contrário, levar-nos a restaurar a figura da Mãe de Deus na Igreja Evangélica? Somente Deus pode permitir que Maria se dirija ao mundo, através de aparições. Não nos arriscamos, talvez a cometer um erro fatal, fechando os olhos diante de tais realidades e não lhes dando atenção alguma?
Cristãos evangélicos da Alemanha, deveremos talvez continuar a opor-lhes recusa e indiferença? Continuaremos a nos comportar de modo que o inimigo de Deus nos mantenha em atitude de intencional cegueira? Não deveremos talvez abrir o nosso coração a esta luz que Deus faz brilhar para a nossa salvação?
Tal problema evidentemente merece exame, não deve ser afastado de antemão, por preconceito, pelo único motivo de que tais curas são apresentadas pela Igreja Católica. Uma tal atitude acarretaria grave dano para nós mesmos e para o mundo inteiro. Grande responsabilidade nos toca. Temos o direito de examinar tais fatos. Não nos é possível passar ao largo e encampar tudo no silêncio. Hoje, em alguns países, está em causa a existência mesmo do Cristianismo. Seria o cúmulo da tolice ignorarmos a voz de Deus, que fala ao mundo pela mediação de Maria, e dar-lhes as costas unicamente porque Ele faz ouvir sua voz através da Igreja Católica. Como quer que seja, não podemos calar por muito tempo sobre tais realidades.
Temos que examiná-las, sem preconceito, pois é iminente uma catástrofe. Poderia acontecer que, rejeitando ou ignorando a mensagem que Deus nos faz chegar através de Maria, estejamos recusando a última graça que Ele nos oferece para a nossa salvação.
É, por isso, um dever muito grave para todos os chefes da Igreja Luterana, e para outras comunidades cristãs, examinar tais fatos e tomar uma posição objetiva. Este dever impõem-se também pelo fato de que a Mãe de Deus não foi esquecida somente depois da Guerra dos 30 anos e na época dos livres pensadores da metade do século XVIII. Sufocando no coração dos evangélicos o culto da Virgem, destruíram os sentimentos mais delicados da piedade cristã.
No seu Magnificat, Maria declara que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos. Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica tal profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum vestígio da mesma.
Lutero honrou Maria até o fim de sua vida; santificava suas festas e cantava diariamente o Magnificat. Perdeu-se na Igreja Evangélica, em tempos posteriores à Reforma, todas as festas a Maria e tudo o que nos trazia sua lembrança. Estamos padecendo as conseqüências dessa herança de receio e temor. Entretanto, Lutero nos diz que nunca poderemos exaltar suficientemente a Mulher que constitui o maior tesouro da Cristandade depois de Cristo.
É, portanto, um profundo desejo de meu coração poder ajudar agora a que, da nossa parte, católicos evangélicos, Maria seja novamente amada e venerada como a Mãe do Nosso Senhor. E isso corresponde ao testemunho da Sagrada Escritura e também ao que o reformador protestante Lutero indicou. O temor de diminuir a glória de Jesus foi a causa de que as Igrejas Evangélicas se negassem à Maria a veneração e os louvores devidos.
Entretanto, temos que afirmar que, através da justa veneração que aos apóstolos e a ela corresponde, multiplica-se a glória e o louvor ao Senhor, porque foi Ele que a elegeu (e a fez) pela Sua Graça um instrumento seu. Jesus espera que veneremos Maria e a amemos. Assim nos diz a Palavra de Deus e esta é, portanto, a Sua Vontade. E só aqueles que guardam a Sua Palavra são os que amam verdadeiramente a Jesus (Jo 14, 23).”
Fonte: Revista Luterana “Spiritus Domini”, nº 05, maio de 1982
Esse Manifesto feito pelos evangélicos protestantes da Alemanha encontra-se citado na Internet em diversos e inúmeros Sites, basta procurar por “Manifesto de Dresden”, que você poderá vê-lo em vários locais.
Abraços do Benito Pepe
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
The Doors - Touch Me (Official HD Music Video) THE DOORS LYRICS
THE DOORS LYRICS
"Touch Me"
Yeah! Come on, come on, come on, come on
Now touch me, baby
Can't you see that I am not afraid?
What was that promise that you made?
Why won't you tell me what she said?
What was that promise that you made?
Now, I'm gonna love you
Till the heavens stop the rain
I'm gonna love you
Till the stars fall from the sky for you and I
Come on, come on, come on, come on
Now touch me, baby
Can't you see that I am not afraid?
What was that promise that you made?
Why won't you tell me what she said?
What was that promise that you made?
I'm gonna love you
Till the heavens stop the rain
I'm gonna love you
Till the stars fall from the sky for you and I
I'm gonna love you
Till the heavens stop the rain
I'm gonna love you
Till the stars fall from the sky for you and I
Stronger than dirt
The Doors - Light My Fire ( HQ Official Video ) THE DOORS LYRICS
THE DOORS LYRICS
"Light My Fire"
You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, we couldn't get much higher
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire
The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire, yeah
The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire, yeah
You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, we couldn't get much higher
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire
Try to set the night on fire
Try to set the night on fire
Try to set the night on fire
Entenda o Novo Ensino Médio
Entenda o Novo Ensino Médio
Ensino médio
Proposta prevê que escolas passem para o período integral; currículo deve ser dividido entre disciplinas obrigatórias e optativas
por Portal Brasil
Divulgação/Sesisp
O Novo Ensino Médio vai ofertar formação técnica profissional, com aulas teóricas e práticas
O Novo Ensino Médio vai ofertar formação técnica profissional, com aulas teóricas e práticas
Projeto de lei propõe reestruturação do ensino médio
O Ensino Médio, no Brasil, vai passar por uma reformulação para reforçar e melhorar a qualidade da educação. Ao longo de dois anos, o governo vai investir R$ 1,5 bilhão para converter escolas para tempo integral.
Pela programação do Ministério da Educação, a mudança começará a partir do primeiro semestre de 2017. Até o fim de 2018, a meta é ter 500 mil jovens em escolas de tempo integral. Mais do que o tempo maior, o objetivo é ajudar o estudante a se desenvolver mais plenamente.
Para a mudança ocorrer, as secretarias estaduais de Educação deverão indicar um número de escolas para participar do programa. Cada unidade que aderir ao projeto vai receber R$ 2 mil por aluno ao ano.
A mudança será feita por meio de Medida Provisória. O texto diz que as disciplinas da base comum continuam a existir, mas a grade será definida pela Secretaria de Educação do Estado.
Ampliação gradual da carga horária
A carga horária mínima anual, de 800 horas, será gradualmente ampliada para 1,4 mil horas. O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê para 2024 até 50% das escolas atendidas pelo ensino integral e 25% das matrículas no Ensino Fundamental dentro do mesmo modelo.
Flexibilidade do currículo
Com as mudanças, o currículo do Ensino Médio vai ser dividido em dois, uma parte com disciplinas fixas obrigatórias e outra com optativas, nas quais o aluno poderá construir uma grade adequada ao seu perfil e seu próprio projeto de futuro.
Autonomia para os Estados
O currículo básico não poderá superar 1,2 mil horas por ano, e a parte optativa será associada ao contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural de cada região. Esse modelo dará mais autonomia para os Estados, que poderão criar seus próprios currículos e políticas para o Ensino Médio.
Formação técnica
O Novo Ensino Médio vai ofertar formação técnica profissional, com aulas teóricas e práticas. Essa qualificação técnica vai ocorrer dentro do período normal, sem a necessidade de que o aluno esteja no ensino integral.
Créditos para o Ensino Superior
Quando o aluno concluir uma disciplina no Ensino Médio, ele terá adquirido um número específico de créditos. Esses créditos poderão ser usados quando ele chegar ao ensino superior, ou seja, ao entrar na Universidade ou no Ensino Técnico, poderá aproveitar disciplinas que já cursou.
Novo Ensino Médio
Fonte: Portal Brasil, com informações do Ministério da Educação
Dólar recua ante real com dados positivos da China
Dólar recua ante real com dados positivos da China
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava ante o real nesta terça-feira, diante de dados favoráveis da China que animavam os investidores pela perspectiva de melhora na economia global e devolvendo parte dos ganhos da véspera, quando subiu 1 por cento.
Às 10:29, o dólar recuava 0,30 por cento, a 3,2720 reais na venda, após ter saltado 1 por cento na sessão anterior. O dólar futuro tinha variação negativa de cerca de 0,60 por cento.
"Os dados positivos da China ajudam o Brasil, sobretudo nas exportações. Os números da balança comercial também vieram bons", afirmou o sócio-gestor da gestora Leme Investimentos, Paulo Petrassi.
A atividade industrial da China expandiu mais do que o esperado em dezembro diante da demanda acelerando, com a produção alcançando a máxima em quase seis anos, mostrou a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin/Markit.
Na véspera, foi divulgado que a balança comercial brasileira encerrou 2016 com superávit recorde de 47,692 bilhões de dólares.
A moeda norte-americana chegou a abrir em alta neste pregão, acompanhando o cenário internacional e chegando à máxima do dia de 3,2931 reais, mas inverteu a tendência. O dólar saltava mias de 1 por cento frente a uma cesta de moedas nesta manhã, chegando a bater a máxima de seis dias.
O Banco Central brasileiro não anunciou nenhuma intervenção no mercado de câmbio por enquanto, estando de fora desde o último dia 13 de dezembro.
(Por Luiz Guilherme Gerbelli)
© Thomson Reuters 2017 All rights reserved.
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava ante o real nesta terça-feira, diante de dados favoráveis da China que animavam os investidores pela perspectiva de melhora na economia global e devolvendo parte dos ganhos da véspera, quando subiu 1 por cento.
Às 10:29, o dólar recuava 0,30 por cento, a 3,2720 reais na venda, após ter saltado 1 por cento na sessão anterior. O dólar futuro tinha variação negativa de cerca de 0,60 por cento.
"Os dados positivos da China ajudam o Brasil, sobretudo nas exportações. Os números da balança comercial também vieram bons", afirmou o sócio-gestor da gestora Leme Investimentos, Paulo Petrassi.
A atividade industrial da China expandiu mais do que o esperado em dezembro diante da demanda acelerando, com a produção alcançando a máxima em quase seis anos, mostrou a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin/Markit.
Na véspera, foi divulgado que a balança comercial brasileira encerrou 2016 com superávit recorde de 47,692 bilhões de dólares.
A moeda norte-americana chegou a abrir em alta neste pregão, acompanhando o cenário internacional e chegando à máxima do dia de 3,2931 reais, mas inverteu a tendência. O dólar saltava mias de 1 por cento frente a uma cesta de moedas nesta manhã, chegando a bater a máxima de seis dias.
O Banco Central brasileiro não anunciou nenhuma intervenção no mercado de câmbio por enquanto, estando de fora desde o último dia 13 de dezembro.
(Por Luiz Guilherme Gerbelli)
© Thomson Reuters 2017 All rights reserved.
Alunos do Ano da Universidade Infantil 2016/ Lista Oficial
Alunos do Ano da Universidade Infantil 2016/ Lista Oficial
6º Ano A
Ana Carolna Santos
Carlos Vinicius Martins
Vitória Vicente
Arthur Vinicius
6º Ano B
Olga Nunes
Kauâ Eliá
Evellin Beatriz da Silva
Guilherme Barros
7º Ano A
Allana Morais ( Três anos consecutivos)
Giovanna Santos ( Dois anos consecutivos)
Laís Sousa
7º Ano B
Cauã Rafael de Queiroz
Maria Clara Leandro
João Gabriel Silvestre
8º Ano A
Maria Clara Felix ( Três Anos Consecutivos)
Eyshila de Lima
8º Ano B
Sarah Emily
9º Ano
Pyetra Morais ( Quatro anos consecutivos)
Ingrid Bezerra ( Dois Anos consecutivos)
Yasmin Alves ( Três anos consecutivos)
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
Anita Baker - Will You Be Mine (1983)
Will You Be Mine
Anita Baker
Lyrics
Something has come over me
A feeling I can't explain
The love I lost I found again
My broken heart you came to mend
But it still seems as though we are miles and miles apart
The very best is all I got
It's all I got to give
My soul was lost in darkness
But you arrived to see me through
And you came to me all by surprise
Then I moved the dark ness right out of my eyes
And it's plain to see
That you were all I need
And I want to know
Will you be mine?
Sugar will you be mine
Sugar will you be mine
Sugar will you be mine
This kind of love only comes around
Only once in a lifetime
But the last love I tried to hold
It left me feelin' so empty and blue
And it made me afraid to let my true feelings show
I need you here right by my side
Each and every night
My soul is cryin' out to you
It's reaching out for somethin' true
Do I have to go
To get you into my life
The suspense is tearing me, tearing me apart
Won't you bring your love
Bring it all to me
So we can live together eternally
Will you be mine?
Will you be mine?
Sugar will you be mine
Sugar will you be mine
Sugar will you be mine
Balança comercial brasileira fecha 2016 com superávit recorde de US$47,7 bi
Balança comercial brasileira fecha 2016 com superávit recorde de US$47,7 bi
Por Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - A balança comercial brasileira terminou 2016 com superávit recorde de 47,692 bilhões de dólares, após saldo positivo de 19,685 bilhões de dólares registrado no ano anterior, informou nesta segunda-feira o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), que espera, para 2017, um superávit comercial em patamar semelhante ao do ano passado, mas como crescimento de exportações e importações
O recorde anterior havia sido registrado em 2006, um superávit de 46,45 bilhões de dólares.
Em dezembro, o saldo da balança comercial foi positivo em 4,415 bilhões de dólares.
O saldo recorde no ano foi impactado por uma redução de cerca de 20 por cento nas importações entre janeiro e dezembro do ano passado, em um momento de forte recessão econômica no país. As importações em 2016 ficaram em 137,5 bilhões de dólares, ante os 171,4 bilhões de dólares registrados em 2015.
As exportações no ano também caíram, para 185,2 bilhões de dólares no ano passado, ante os 191,1 bilhões exportados em 2015.
Para 2017, o secretário de Comércio Exterior do Ministério, Abrão Neto, acredita em aumento tanto das exportações quanto das importações, em um cenário de retomada da economia brasileira e de crescimento da economia mundial.
Um fator que deve contribuir para o resultado do ano que vem é a expectativa de melhora nos preços das commodities minerais em 2017, disse Neto, lembrando que nos últimos meses de 2016 já houve recuperação nas cotações do petróleo e dos minérios.
As exportações brasileiras de minério de ferro e seus concentrados em 2016 atingiram um volume recorde de 373,962 milhões de toneladas, aumento de 1,7 por cento em relação a 2015. Mas a receita com os embarques de minério de ferro e seus concentrados, um dos principais produtos da pauta de exportação do Brasil, caiu 6 por cento, para 13,289 bilhões de dólares, por causa dos preços mais baixos dos produtos ao longo do ano.
Abrão Neto destacou que a conta petróleo teve um inédito superávit, de 410 milhões de dólares, em 2016, mas destacou que isso é um resultado "conjuntural". "Isso diz respeito a fatores específicos que ocorreram em 2016, como a redução do preço do petróleo, o aumento das exportações de petróleo bruto e a redução nas importações. A curto e médio prazo o Brasil deve continuar sendo importador", disse.
No ano passado, o dólar registrou desvalorização de 17,7 por cento sobre o real. Por outro lado, os brasileiros vêm enfrentando a forte recessão econômica e mostram menos disposição para comprar e investir.
"A expectativa do mercado é de manutenção da taxa de câmbio em 2017", disse Neto.
No último mês do ano as exportações atingiram 15,941 bilhões de dólares, com as importações chegando a 11,525 bilhões de dólares.
Os produtos industrializados mantiveram-se à frente das exportações, correspondendo a 55 por cento do valor exportado entre janeiro e dezembro, seguido dos bens básicos, com 42,7 por cento.
(Por Leonardo Goy)
© Thomson Reuters 2017 All rights reserved.
domingo, 1 de janeiro de 2017
Atirador mata 39 em ataque a casa noturna em Istambul e vira alvo de caçada
Atirador mata 39 em ataque a casa noturna em Istambul e vira alvo de caçada
domingo, 1 de janeiro de 2017
ISTAMBUL (Reuters) - Um atirador abriu fogo sobre o público que comemorava o ano novo em uma lotada casa noturna às margens de uma hidrovia em Istambul no domingo, matando ao menos 39 pessoas, incluindo muitos estrangeiros, e depois fugiu do local.
Algumas pessoas pularam nas águas do rio Bosphorus para se salvar após o responsável pelo ataque abrir fogo aleatoriamente na casa noturna Reina apenas uma hora após o ano novo. Autoridades falaram em um único responsável, mas alguns relatos, incluindo em mídias sociais, sugerem que pode ter havido mais pessoas envolvidas.
O ataque chocou a Turquia conforme o país tenta se recuperar de uma tentativa fracassada de golpe de Estado em julho e de uma série de ataques a bombas em cidades, incluindo Istambul e a capital Ankara, alguns reivindicados pelo Estado Islâmico e outros por militantes curdos.
Serviços de segurança estavam em alerta ao redor da Europa para as festas de final de ano após um ataque a um mercado de Natal em Berlim que matou 12 pessoas. Há apenas alguns dias atrás, uma mensagem online de um grupo pró-Estado Islâmico havia pedido por ataques de "lobos solitários" sobre "celebrações, encontros e clubes".
O jornal Hurriyet citou testemunhas dizendo que os responsáveis pelo ataque gritaram em árabe conforme abriram fogo em Reina.
"Nós estávamos nos divertindo. De repente as pessoas começaram a correr. Meu marido disse para eu não ficar com medo, e pulou sobre mim. As pessoas corriam sobre mim. Meu marido foi atingido em três lugares", disse ao jornal uma das pessoas que estavam no clube, Sinem Uyanik.
Ela disse ter visto pessoas encharcadas de sangue.
O incidente lembra o ataque de militantes islâmicos ao clube Bataclan, em Paris, em novembro de 2015, que junto com ataques a bares e restaurantes matou 130 pessoas.
O ministro do Interior Suleyman Soylu disse que 15 ou 16 dos mortos em Reina eram estrangeiros, mas apenas 21 corpos foram identificados até o momento. Ele disse a jornalistas que 69 pessoas estavam no hospital, quatro delas em estado crítico.
"Uma caçada humana pelo terrorista está em andamento", afirmou ele.
Pessoas de Arábia Saudita, Marrocos, Líbano, Libia, Israel e Bélgica estão entre os mortos, segundo as autoridades. A França disse que teve três cidadãos feridos.
A Turquia faz parte da coalizão liderada pelos Estados Unidos que tem lutado contra o Estado Islâmico e lançou uma incursão sobre a Síria em agosto para retirar os radicais islâmicos de suas fronteiras. O país também ajudou a intermediar um frágil cessar fogo na Síria com a Rússia.
Ainda não houve ninguém clamando responsabilidade pelos ataques, mas o presidente turco Tayyip Erdogan ligou os ataques aos acontecimentos na região, na qual a Turquia enfrenta conflitos ao longo de sua fronteira com Síria e Iraque. Cerca de três milhões de refugiados sírios vivem atualmente em solo turco.
O clube Reina é um dos mais populares da noite de Istambul, sendo popular entre locais e estrangeiros. Acredita-se que cerca de 600 pessoas estavam no local quando o atirador matou um policial e um civil na porta e forçou a entrada na casa, onde abriu fogo.
O presidente dos EUA, Barack Obama, em férias no Havaí, expressou condolências e ordenou a sua equipe que ofereça ajuda às autoridades turcas, disse a Casa Branca.
(Por Nick Tattersall e Humeyra Pamuk; reportagem adicional de Yesim Dikmen e Daren Butler em Istambul, Ece Toksabay em Ankara, Jeffrey Heller em Jerusalém, Jan Strupczewski em Bruxelas e Laurence Frost em Paris)
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Dialética
O filósofo Hegel
Dialética
Dialética (AO 1945: dialéctica) (do grego διαλεκτική (τέχνη), pelo latim dialectĭca ou dialectĭce) é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias".
"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão." Também conhecida como a arte da palavra.
"Aristóteles considerava Zenão de Eleia (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469-399 AEC)".
No período medieval, o estudo da dialética (ou lógica) era obrigatório e, parte integrante do Trivium que, junto com o Quadrivium, compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais.
Um dos métodos diáleticos mais conhecidos é o desenvolvido pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
Visões sobre a dialética
Para Kant, a dialética é uma ilusão.
O conceito de dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.
Para Platão, a dialética é sinônimo de filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as ideias particulares e as ideias universais ou puras. É a técnica de perguntar, responder e refutar que ele teria aprendido com Sócrates (470 a.C.-399 a.C.). Platão considera que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das ideias. Pela decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, num processo que busca a verdade.
Aristóteles define a dialética como a lógica do provável, do processo racional que não pode ser demonstrado. "Provável é o que parece aceitável a todos, ou à maioria, ou aos mais conhecidos e ilustres", diz o filósofo.
O alemão Immanuel Kant retoma a noção aristotélica quando define a dialética como a "lógica da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que são subjetivos.
O método dialético possui várias definições, tal como a hegeliana, a marxista entre outras. Para alguns, ela consiste em um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas. Diferentemente do método causal, no qual se estabelecem relações de causa e efeito entre os fatos (ex: as radiações solares provocam a evaporação das águas, estas contribuem para a formação de nuvens, que, por sua vez, causa as chuvas), o modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito.
Método dialético
A filosofia descreve a realidade e a reflete, portanto a dialética busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade.
A dialética é a história das contradições. Em alemão aufheben significa supressão (ou suprassunção) e ao mesmo tempo manutenção da coisa suprimida. O reprimido ou negado permanece dentro da totalidade.
Hegel, um dos filósofos que mais tratou da dialética
Esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade. Então, tudo está em processo de constante devir.
História da dialética
Até hoje, não foi definido quem teria sido o fundador da dialética: alguns acreditam que tenha sido Sócrates, e outros, assim como Aristóteles, acreditam que tenha sido Zenão de Eleia. Na Grécia Antiga, a dialética era considerada a arte de argumentar no diálogo. Atualmente é considerada como o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.
Desde a Grécia Antiga, a dialética sempre encontrou quem fosse contra, como Parmênides, mesmo vivendo na mesma época do mais radical pensador dialético: Heráclito. Para compreensão do tema, o autor passa por vários itens, começando pelo trabalho.
Heráclito foi o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga. Para ele, os seres não têm estabilidade alguma, estão em constante movimento, modificando-se. É dele a famosa frase “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, porque nem o homem nem o rio serão os mesmos. No século XX, Osho Rajneesh, nascido na Índia, retoma o pensamento de Heráclito sobre a dialética com a publicação do livro "A Harmonia Oculta: Discursos sobre os fragmentos de Heráclito".
Heráclito, o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga.
Porém, na época, os gregos preferiram acreditar na metafísica de Parmênides, a qual pregava que a essência do ser é imutável, e as mudanças só acontecem na superfície. Esse pensamento prevaleceu, por atender aos interesses da classe dominante, na época. Para sobreviver, a dialética precisou renunciar às expressões mais radicais, conciliando-se com a metafísica.
Depois de um século, Aristóteles reintroduziu a dialética, sendo responsável, em boa parte, pela sua sobrevivência. Ele estudou muito sobre o conceito de movimento, que seriam potencialidades, atualizando-se. Graças a isso, os filósofos não deixaram de estudar o lado dinâmico e mutável do real. Com a chegada do feudalismo, a dialética perdeu forças novamente, reaparecendo, no Renascimento e no Iluminismo.
A dialética hegeliana é idealista, aborda o movimento do espírito. A dialética marxista é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato e que oferece um papel fundamental para o processo de abstração. Engels retomou, em seu livro, "A Dialética da Natureza", alguns elementos de Hegel, concebendo a dialética como sendo formada por leis; esta tese será desenvolvida por Lênin e Stálin. Por outro lado, outros pensadores criticarão ferrenhamente esta posição, qualificando-a de não-marxista. Assim, se instaurou uma polêmica em torno da dialética.
Dialética e trabalho
Com o trabalho, surge a oportunidade de o ser humano atuar em contraposição à natureza. O homem faz parte da natureza, mas, com o trabalho, ele vai além. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da dialética, atribuindo o verbo suspender (com três significados): negação de uma determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação a um nível superior. Mas Marx criticou Hegel, pois Hegel não viveu nessa realidade, mas apenas em sala de aula e bibliotecas, não enxergando problemas como a alienação nesse trabalho.
Na ordem, a segunda contradição é justamente essa alienação. O trabalho é a atividade na qual o homem domina as forças naturais, cria a si mesmo, e torna-se seu algoz. Tudo isso devido à divisão do trabalho, propriedade privada e o agravamento da exploração do trabalho sob o capitalismo. Mas não são apenas os trabalhadores que foram afetados. A burguesia também, pela busca do lucro não consegue ter uma perspectiva totalizante.
Dialética e totalidade
Engels defendia o caráter materialista da dialética.
A visão total é necessária para enxergar, e encaminhar uma solução a um problema. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria.
Logo é fundamental enxergar o todo. Mas nunca temos certeza de que estamos trabalhando com a totalidade correta. Porém a teoria fornece indicações: a teoria dialética alerta nossa atenção para as sínteses, identificando as contradições concretas e as mediações específicas que constituem o "tecido" de cada totalidade. Sendo que a contradição é reconhecida pela dialética como princípio básico do movimento pelo qual os seres existem.
Na dialética, fala-se também na “fluidificação” dos conceitos. Isso porque a realidade sempre está assumindo novas formas, e assim o conhecimento (conceitos) precisam aprender a ser "fluidos".
Junto com Karl Marx, Engels sempre defendeu o caráter materialista da dialética. Ele resumiu a dialética em três leis. A primeira lei é sobre a passagem da quantidade à qualidade, mas que varia no ritmo/período. A segunda é a lei da interpenetração dos contrários, ou seja, a ideia de que tudo tem a ver com tudo, que os lados que se opõem, são na verdade uma unidade, na qual um dos lados prevalece. A terceira lei é a negação da negação, na qual a negação e a afirmação são superadas. Porém, essas leis devem ser usadas com precaução, pois a dialética não se deixa reduzir a três leis apenas.
Após a morte de Marx, Lênin foi um dos revolucionários que lutaram contra a deformação da concepção marxista da história. A partir dos estudos da obra de Hegel, Lênin aplicou os conhecimentos na prática, como na estratégia que liderou a tomada do poder na Rússia.
Com a morte de Lênin, vem uma tendência anti-dialética com Stálin, que desprezava a teoria. Ele chegou a "corrigir" as três leis de Engels, traçando por cima, quatro itens fundamentais para ele: conexão universal e interdependência dos fenômenos; movimento, transformação e desenvolvimento; passagem de um estado qualitativo a outro; e luta dos contrários como fonte interna do desenvolvimento.
O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. É por isso que o argentino Carlos Astrada define a dialética como “semente de dragões”, a qual alimenta dragões que talvez causem tumulto, mas não uma baderna inconsequente.
Ver também
Outro
Dialética erística
Ética da discussão
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dialética
Dialética (AO 1945: dialéctica) (do grego διαλεκτική (τέχνη), pelo latim dialectĭca ou dialectĭce) é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias".
"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão." Também conhecida como a arte da palavra.
"Aristóteles considerava Zenão de Eleia (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469-399 AEC)".
No período medieval, o estudo da dialética (ou lógica) era obrigatório e, parte integrante do Trivium que, junto com o Quadrivium, compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais.
Um dos métodos diáleticos mais conhecidos é o desenvolvido pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
Visões sobre a dialética
Para Kant, a dialética é uma ilusão.
O conceito de dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.
Para Platão, a dialética é sinônimo de filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as ideias particulares e as ideias universais ou puras. É a técnica de perguntar, responder e refutar que ele teria aprendido com Sócrates (470 a.C.-399 a.C.). Platão considera que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das ideias. Pela decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, num processo que busca a verdade.
Aristóteles define a dialética como a lógica do provável, do processo racional que não pode ser demonstrado. "Provável é o que parece aceitável a todos, ou à maioria, ou aos mais conhecidos e ilustres", diz o filósofo.
O alemão Immanuel Kant retoma a noção aristotélica quando define a dialética como a "lógica da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que são subjetivos.
O método dialético possui várias definições, tal como a hegeliana, a marxista entre outras. Para alguns, ela consiste em um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas. Diferentemente do método causal, no qual se estabelecem relações de causa e efeito entre os fatos (ex: as radiações solares provocam a evaporação das águas, estas contribuem para a formação de nuvens, que, por sua vez, causa as chuvas), o modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito.
Método dialético
A filosofia descreve a realidade e a reflete, portanto a dialética busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade.
A dialética é a história das contradições. Em alemão aufheben significa supressão (ou suprassunção) e ao mesmo tempo manutenção da coisa suprimida. O reprimido ou negado permanece dentro da totalidade.
Hegel, um dos filósofos que mais tratou da dialética
Esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade. Então, tudo está em processo de constante devir.
História da dialética
Até hoje, não foi definido quem teria sido o fundador da dialética: alguns acreditam que tenha sido Sócrates, e outros, assim como Aristóteles, acreditam que tenha sido Zenão de Eleia. Na Grécia Antiga, a dialética era considerada a arte de argumentar no diálogo. Atualmente é considerada como o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.
Desde a Grécia Antiga, a dialética sempre encontrou quem fosse contra, como Parmênides, mesmo vivendo na mesma época do mais radical pensador dialético: Heráclito. Para compreensão do tema, o autor passa por vários itens, começando pelo trabalho.
Heráclito foi o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga. Para ele, os seres não têm estabilidade alguma, estão em constante movimento, modificando-se. É dele a famosa frase “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, porque nem o homem nem o rio serão os mesmos. No século XX, Osho Rajneesh, nascido na Índia, retoma o pensamento de Heráclito sobre a dialética com a publicação do livro "A Harmonia Oculta: Discursos sobre os fragmentos de Heráclito".
Heráclito, o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga.
Porém, na época, os gregos preferiram acreditar na metafísica de Parmênides, a qual pregava que a essência do ser é imutável, e as mudanças só acontecem na superfície. Esse pensamento prevaleceu, por atender aos interesses da classe dominante, na época. Para sobreviver, a dialética precisou renunciar às expressões mais radicais, conciliando-se com a metafísica.
Depois de um século, Aristóteles reintroduziu a dialética, sendo responsável, em boa parte, pela sua sobrevivência. Ele estudou muito sobre o conceito de movimento, que seriam potencialidades, atualizando-se. Graças a isso, os filósofos não deixaram de estudar o lado dinâmico e mutável do real. Com a chegada do feudalismo, a dialética perdeu forças novamente, reaparecendo, no Renascimento e no Iluminismo.
A dialética hegeliana é idealista, aborda o movimento do espírito. A dialética marxista é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato e que oferece um papel fundamental para o processo de abstração. Engels retomou, em seu livro, "A Dialética da Natureza", alguns elementos de Hegel, concebendo a dialética como sendo formada por leis; esta tese será desenvolvida por Lênin e Stálin. Por outro lado, outros pensadores criticarão ferrenhamente esta posição, qualificando-a de não-marxista. Assim, se instaurou uma polêmica em torno da dialética.
Dialética e trabalho
Com o trabalho, surge a oportunidade de o ser humano atuar em contraposição à natureza. O homem faz parte da natureza, mas, com o trabalho, ele vai além. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da dialética, atribuindo o verbo suspender (com três significados): negação de uma determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação a um nível superior. Mas Marx criticou Hegel, pois Hegel não viveu nessa realidade, mas apenas em sala de aula e bibliotecas, não enxergando problemas como a alienação nesse trabalho.
Na ordem, a segunda contradição é justamente essa alienação. O trabalho é a atividade na qual o homem domina as forças naturais, cria a si mesmo, e torna-se seu algoz. Tudo isso devido à divisão do trabalho, propriedade privada e o agravamento da exploração do trabalho sob o capitalismo. Mas não são apenas os trabalhadores que foram afetados. A burguesia também, pela busca do lucro não consegue ter uma perspectiva totalizante.
Dialética e totalidade
Engels defendia o caráter materialista da dialética.
A visão total é necessária para enxergar, e encaminhar uma solução a um problema. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria.
Logo é fundamental enxergar o todo. Mas nunca temos certeza de que estamos trabalhando com a totalidade correta. Porém a teoria fornece indicações: a teoria dialética alerta nossa atenção para as sínteses, identificando as contradições concretas e as mediações específicas que constituem o "tecido" de cada totalidade. Sendo que a contradição é reconhecida pela dialética como princípio básico do movimento pelo qual os seres existem.
Na dialética, fala-se também na “fluidificação” dos conceitos. Isso porque a realidade sempre está assumindo novas formas, e assim o conhecimento (conceitos) precisam aprender a ser "fluidos".
Junto com Karl Marx, Engels sempre defendeu o caráter materialista da dialética. Ele resumiu a dialética em três leis. A primeira lei é sobre a passagem da quantidade à qualidade, mas que varia no ritmo/período. A segunda é a lei da interpenetração dos contrários, ou seja, a ideia de que tudo tem a ver com tudo, que os lados que se opõem, são na verdade uma unidade, na qual um dos lados prevalece. A terceira lei é a negação da negação, na qual a negação e a afirmação são superadas. Porém, essas leis devem ser usadas com precaução, pois a dialética não se deixa reduzir a três leis apenas.
Após a morte de Marx, Lênin foi um dos revolucionários que lutaram contra a deformação da concepção marxista da história. A partir dos estudos da obra de Hegel, Lênin aplicou os conhecimentos na prática, como na estratégia que liderou a tomada do poder na Rússia.
Com a morte de Lênin, vem uma tendência anti-dialética com Stálin, que desprezava a teoria. Ele chegou a "corrigir" as três leis de Engels, traçando por cima, quatro itens fundamentais para ele: conexão universal e interdependência dos fenômenos; movimento, transformação e desenvolvimento; passagem de um estado qualitativo a outro; e luta dos contrários como fonte interna do desenvolvimento.
O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. É por isso que o argentino Carlos Astrada define a dialética como “semente de dragões”, a qual alimenta dragões que talvez causem tumulto, mas não uma baderna inconsequente.
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