quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Thomas Müntzer (1488-1525) e a Reforma Protestante


 Um dos principais líderes das Guerras Camponesas da Alemanha no século XVI, Thomas Müntzer foi seguidor de Lutero, mas um crítico do poder da nobreza. 

A Reforma Protestante iniciada no século XVI na Europa teve como principais expoentes Martinho Lutero e João Calvino. Entretanto, a Reforma Protestante representou um processo social e histórico muito mais profundo que uma revisão teológica das doutrinas cristãs. Nomes não tão difundidos como o de Thomas Müntzer permitem perceber outro aspecto da Reforma e que esteve ligado às transformações do mundo feudal que ainda vigorava no início da Idade Moderna.


Thomas Müntzer teria nascido em 1488 ou 1489 e, durante seus estudos teológicos, aproximou-se da doutrina luterana que estava iniciando seu desenvolvimento. Porém, Müntzer rapidamente se afastou das posições luteranas, principalmente pelo fato de Lutero ter se aproximado da nobreza alemã. A crítica de Müntzer ao catolicismo não era apenas feita em decorrência de uma interpretação do evangelho, mas também em decorrência da riqueza detida pela Igreja Católica.


Para Thomas Müntzer, a essência do cristianismo seria a humildade, a igualdade, a solidariedade, a divisão dos bens. Pretendia ainda erigir o Reino de Deus na Terra, eliminando todos os não crentes, uma pretensão que se inseria na longa tradição do milenarismo. Essa interpretação levou historiadores a ligarem Müntzer a posicionamentos considerados do início do cristianismo, desenvolvidos na época do Império Romano e conhecidos como cristianismo primitivo. A crítica de Müntzer à nobreza, a classe social mais poderosa de sua época, era também radical.


Segundo ele, “a maior infâmia da terra consiste em que ninguém quer tomar para si a miséria do pobre; os grandes desse mundo agem como querem. Eis, pois, o auge da avareza, do sonho e da pilhagem dos nossos Príncipes e senhores: apossam-se de toda criatura, sejam peixes n'água, aves no céu ou plantas na terra; tudo deve ser seu. Em seguida espalham o mandamento de Deus entre os pobres, e dizem: Deus ordenou que não roubeis! Contudo, não acharam uso deste mandamento para si mesmos.” [1]



As ideias de Müntzer uniram religião e política, em um período em que o feudalismo estava se desestruturando na Europa ocidental. Essa postura tomaria uma característica revolucionária, principalmente depois do contato de Müntzer com os anabatistas, criando as bases teóricas das revoluções camponesas na Alemanha, durante o século XVI.



Para Müntzer, a sociedade igualitária cristã não seria construída apenas com palavras, mas principalmente com a força das armas. Defendia o fim da propriedade privada e das instituições estatais, o que seria proporcionado pela experiência direta do Espírito e da vontade de Deus, atingindo o estado final perfeito da humanidade.


Unindo-se aos anabatistas e demais grupos camponeses em guerra contra a nobreza, Müntzer tornou-se uma das principais figuras da luta contra as classes dominantes na Alemanha do século XVI. Pregando na região de Zuickau, teve que se refugiar na Floresta Negra, no sul da Alemanha, em 1524, após sofrer perseguições da nobreza local.


A aproximação de Müntzer com os camponeses em luta levou Martinho Lutero a condenar os posicionamentos de seu antigo discípulo. Lutero não concordava com as ações dos camponeses, posto que defendia a nobreza, principalmente pelo fato de alguns príncipes acolherem Lutero. Müntzer chegou a chamar Lutero de “Doutor Mentiroso”.


Apesar de sua força, o movimento camponês não conseguiu superar as forças repressivas da nobreza alemã. Cerca de 100 mil pessoas morreram durante os conflitos. Thomas Müntzer foi uma dessas pessoas, sendo decapitado em Mühlhausen, em 1525.



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