quarta-feira, 22 de março de 2023

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A Apollo 11 foi lançada em 16 de julho de 1969. Quatro dias depois, marcou a história quando Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na superfície da Lua.



 Apollo 11

A Apollo 11 foi lançada em 16 de julho de 1969. Quatro dias depois, marcou a história quando Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na superfície da Lua.

A Apollo 11 foi uma expedição espacial realizada pela Nasa, a agência espacial americana, em julho de 1969. Essa expedição foi executada tendo em vista levar o homem à Lua pela primeira vez, e foi concluída com sucesso. A bordo do módulo de comando chamado Columbia, os astronautas Michael Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong foram enviados para nosso satélite natural, e os dois últimos pisaram em solo lunar.


Corrida espacial

A Apollo 11 fez parte do Programa Apollo, e esse programa só fez sentido dentro daquele contexto histórico específico, uma vez que foi aquele contexto que forneceu as condições políticas que possibilitaram que altíssimas somas de dinheiro fossem liberadas para o investimento no programa espacial e no envio do homem à Lua.


A Apollo 11 e todo o Programa Apollo foram um dos capítulos da corrida espacial, a disputa realizada entre Estados Unidos e União Soviética pela hegemonia da exploração do espaço. Essa disputa, na questão tecnológica e voltada para a exploração do espaço, era apenas uma de muitas áreas que soviéticos e norte-americanos disputavam entre si.


Isso acontecia porque as duas nações saíram como potências mundiais após a Segunda Guerra e apoiadas em ideologias distintas. Desde então, as duas potências começaram a disputar entre si qual delas era a maior do mundo. Essa disputa ficou conhecida como Guerra Fria. Com isso, foram desenvolvidos novos armamentos como forma de manifestar esse poderio.


Os estudos realizados na produção de mísseis foram estendidos para os programas espaciais de cada um dos países, e começaram a ser desenvolvidos estudos para a construção de satélites artificiais, a fim de enviá-los ao espaço.


A corrida espacial abrangeu de 1957 a 1975, e, já na década de 1950, norte-americanos e soviéticos disputaram quem enviaria o primeiro satélite artificial para orbitar a Terra. Os últimos saíram na frente nessa disputa espacial porque lançaram o primeiro satélite artificial em outubro de 1957, o Sputnik 1.


Os soviéticos também foram os primeiros a enviar um ser vivo ao espaço (a cadela Laika, na Sputnik 2), em novembro de 1957. Foram também os primeiros a enviar um ser humano ao espaço, e isso aconteceu quando Yuri Gagarin foi enviado em abril de 1961. Os soviéticos também foram os primeiros a lançar uma mulher ao espaço quando Valentina Tereshkova foi enviada em junho de 1963.


Os norte-americanos procuraram responder as inovações soviéticas e, em 1958, enviaram o Explorer 1, o primeiro satélite artificial norte-americano, e criaram a National Aeronautics and Space Administration (Nasa), a agência espacial do país. O primeiro homem enviado pelos norte-americanos ao espaço foi Alan Bartlett Shepard Jr., em 1961.


Como os Estados Unidos estavam atrás dos soviéticos nos grandes feitos da corrida espacial e como esse assunto tinha grande impacto político, o então presidente John F. Kennedy decidiu ousar e anunciou em um discurso para o Congresso americano, em 1961, a intenção de enviar o homem à Lua até o final da década de 1960. Caso tenha interesse em saber mais sobre esse tema, leia nosso texto: Corrida espacial.


Por que os americanos decidiram enviar o homem à Lua?

O anúncio do presidente John F. Kennedy de enviar o homem à Lua foi realizado no Congresso norte-americano no dia 25 de maio de 1961, logo depois de Alan Bartlett Shepard Jr. ser enviado em seu voo suborbital. Essa foi uma decisão que levava em consideração menos a importância científica desse projeto e muito mais os ganhos políticos que esse anúncio poderia trazer.


A decisão de enviar o homem à Lua tomada pelo presidente Kennedy, então, foi baseada na sua importância política, uma vez que, naquele contexto, a Guerra Fria estava no seu auge. Sendo assim, impor a força do país em todas as disputas contra a União Soviética era muito importante para a popularidade dos presidentes norte-americanos.


Um exemplo claro de como a corrida espacial impactava a imagem desses líderes foi a pressão sobre o presidente Dwight Eisenhower depois que os soviéticos lançaram o satélite artificial primeiro que os norte-americanos, em 1957. Na ocasião, ele sofreu inúmeros ataques públicos e foi acusado de negligência ao permitir que os soviéticos ultrapassassem os EUA no avanço tecnológico.


No seu discurso, John F. Kennedy ensejava claramente o desejo de mostrar ao país que os Estados Unidos estavam à frente e afirmou que aquele era momento para traçar o caminho para levar os EUA à liderança da corrida espacial. Em seu discurso, também ratifica o compromisso de levar o homem à superfície lunar até o final daquela década.


Com isso, fica evidente a intenção de Kennedy em anunciar o papel dos Estados Unidos na liderança da corrida espacial como uma forma de consolidar a força do país tanto em recursos quanto em tecnologia.


Programa Apollo


O Programa Apollo foi o programa que organizou o envio do homem à Lua. A princípio, esse programa foi criado com o objetivo de enviar expedições para a órbita lunar, mas acabou sendo alterado para levar expedições tripuladas ao solo lunar. O desenvolvimento do programa espacial norte-americano contou com outros programas importantes, como o Mercury e o Gemini.


O Programa Gemini, principalmente, foi de extrema importância para o sucesso do Programa Apollo. O primeiro esteve em prática entre 1963 e 1966 e foi um programa de suporte ao ao segundo, pois realizou estudos e realizou testes importantes em sistemas e em manobras que foram utilizadas na Apollo 11.


Todos os estudos e testes feitos com o Gemini concluíram que era possível enviar uma expedição tripulada à Lua e que o homem era apto a passar longos períodos no espaço. A última missão da Gemini foi a Gemini 12, que ocorreu entre 11 e 15 de novembro de 1966. Após essa, foram iniciados os testes dentro do Apollo.


A primeira expedição da Apollo foi a Apollo 1, que terminou em grande desastre. Na ocasião, a nave CSM-012 seria lançada para orbitar a Terra, mas o lançamento no dia 27 de janeiro de 1967 terminou em tragédia. Uma falha elétrica deu início a um incêndio na cápsula da nave, e os três astronautas tiveram queimaduras de terceiro grau e morreram asfixiados por inalação de monóxido de carbono.


O acidente foi investigado por uma comissão que estabeleceu suas causas e determinou drásticas mudanças para a continuidade do programa. Os astronautas que faleceram foram: Gus Grissom, Edward White e Roger Chaffee. A missão seguinte só foi realizada em novembro de 1967 (Apollo 4). Vejamos, a seguir, um resumo das expedições seguintes:


Apollo 4: lançada em 9 de novembro de 1967, foi uma missão não tripulada que testou o foguete Saturno V. Todas as etapas do teste desse foguete foram um sucesso.


Apollo 5: lançada em 22 de janeiro de 1968, foi um teste do módulo lunar que pousaria na superfície da Lua. O teste foi um sucesso.


Apollo 6: lançada em 14 de abril de 1968, foi um novo teste do foguete Saturno V. Houve falhas no funcionamento do foguete que foram analisadas e resolvidas.


Apollo 7: lançada em 11 de outubro de 1968 e tripulada por três astronautas (Wally Schirra, Donn Eisele e Walter Cunningham). Foi uma missão de teste no módulo de comando e serviço no espaço. A missão foi um sucesso.


Apollo 8: lançada em 21 de dezembro de 1968, foi a primeira expedição tripulada a orbitar a Lua. Os três astronautas eram: Frank Borman, James Lovell e William Anders. A missão foi um sucesso.


Apollo 9: lançada em 3 de março de 1969, realizou testes de separação das naves, manobras e acoplamento. Era tripulada por James McDivitt, David Scott e Russell Schweickart e foi um sucesso.


Apollo 10: lançada em 18 de maio de 1969, foi o teste final de todo o sistema utilizado na expedição seguinte. Foi tripulada por Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan, bem como um sucesso.


Por fim, a expedição derradeira e que estabeleceu um grande marco foi a Apollo 11, missão lançada em 16 de julho de 1969, com três astronautas: Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins.


Apollo 11

Apollo 11 foi o nome dado à missão realizada pela Nasa, responsável por levar os primeiros astronautas à Lua. O principal objetivo dessa missão era executar um voo tripulado até o satélite e, em seguida, pousar com segurança sobre sua superfície. Esses objetivos foram definidos de acordo com um discurso proferido pelo então presidente dos Estados Unidos da América, John F. Kennedy, cerca de seis anos antes da expedição acontecer.


Nessa tarefa, foram levados três astronautas para a Lua: Neil Armstrong, Edwin J. Aldrin e Michael Collins. Entretanto, somente Armstrong e Aldrin, nessa ordem, pisaram em solo lunar.


Antes do primeiro pouso tripulado na Lua, a Nasa já havia realizado outras 20 viagens espaciais. No entanto, após o sucesso da missão Apollo 11, houve mais seis missões direcionadas à Lua, de modo que outros 10 astronautas, além de Armstrong e Aldrin, deixaram suas pegadas nela.


Às 13h32min (UTC) do dia 16 de julho de 1969, o foguete Saturn V foi lançado da base do Centro Espacial John F. Kennedy, localizado no Cabo Canaveral, no estado da Flórida.


O foguete levava consigo uma tripulação de três astronautas, o módulo de serviço Apollo CSM-107 (conhecido com Columbia) e o módulo lunar Apollo-LM5 (conhecido como Eagle). Estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenha assistido ao lançamento do foguete Saturn V, o qual foi transmitido ao vivo para mais de seis milhões de espectadores em todo o mundo.

Após pouco mais de 12 minutos de voo, Saturn V deixou a órbita terrestre separando-se em diferentes estágios. O último estágio do foguete foi lançado em direção ao Sol para que não houvesse chances de colidir-se com a espaçonave.


Após a separação entre a espaçonave e os estágios do foguete, uma complexa manobra foi realizada para que os módulos de comando e de serviço encaixassem-se e pudessem ser propelidos em direção à órbita lunar.


A entrada na órbita da Lua, chamada de injeção translunar, começou cerca de 30 minutos após o lançamento. Às 17h21min (UTC) do dia 20 de julho de 1969, a espaçonave entrou na órbita da Lua, pouco mais de 190 km acima de sua superfície.


Após 30 órbitas completas em torno do satélite, o módulo lunar foi desacoplado do Columbia. Nesse momento, Neil Armstrong e Buzz Aldrin, que já se encontravam no interior do módulo lunar Eagle, iniciaram a descida.


O local de pouso do módulo era o Mar da Tranquilidade. Entretanto, quando estava a 91 metros de altura, Armstrong percebeu que sua descida acontecia mais rapidamente do que o programado, e isso poderia levá-los centenas de quilômetros além do local definido para a alunissagem.


Por esse motivo, o astronauta assumiu o controle semimanual do Eagle. Ao avistar o solo lunar, observou que esse era irregular e um pouco acidentado, mas, mesmo assim, conseguiu pousar o módulo em segurança, quando lhe restavam apenas 21 segundos de combustível.


No momento da descida, Armstrong cometeu um erro que poderia ter-lhes custado o sucesso da missão. Quando se aproximassem do solo, o piloto deveria desligar os motores de propulsão, uma vez que havia a possibilidade de que os gases expelidos pelos foguetes da espaçonave fossem refletidos pelo solo rochoso da Lua, ocasionando o seu superaquecimento e, possivelmente, uma grande explosão. Por certo devido ao nervosismo, Armstrong esqueceu-se de fazê-lo, mas, por sorte, nada ocorreu fora do previsto quando se aproximaram do solo.


O módulo Eagle alunissou no dia 20 de julho, às 20h:17min (UTC), após uma longa viagem que durou, aproximadamente, quatro dias. Neil Armstrong foi o primeiro astronauta a descer da espaçonave, às 02h:56min (UTC). Suas primeiras palavras foram transmitidas ao vivo:


“É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.”

Neil Armstrong


Vinte minutos depois dos primeiros passos de Armstrong, Buzz Aldrin saiu do interior do módulo lunar. Juntos, os astronautas coletaram quase 30 kg de amostras do solo e tiraram milhares de fotos. Além disso, instalaram sete instrumentos científicos.


Dentre esses instrumentos, podemos destacar a instalação de um sismômetro, usado para analisar os impactos causados por asteroides; um conjunto de retrorrefletores de laser, usados para determinar a distância e a velocidade da Lua em relação à Terra; detectores de raios cósmicos e vento solar, usados para análise da atividade do Sol; bem como algumas câmeras, usadas para a transmissão ao vivo da atividade dos astronautas. Toda essa atividade foi restringida a um tempo máximo de seis horas: o limite que era suportado por seus trajes.


Pouco tempo depois da instalação dos instrumentos científicos, os astronautas empenharam-se em fixar e hastear a bandeira estadunidense na Lua, todo o processo foi filmado e transmitido ao vivo para a Terra.


Depois de 21 horas na Lua, os astronautas iniciaram o processo de retorno ao Columbia. O módulo Eagle estava equipado por um foguete que deveria ser usado para sua ascensão. Em pouco menos de 20 minutos de subida, o Eagle foi interceptado pelo Columbia.


Depois de descansarem por sete horas, o processo de retorno à Terra foi iniciado, com isso, o módulo foi descartado e caiu em algum lugar da Lua. A bordo do módulo de comando, os astronautas adentraram a atmosfera terrestre, após uma viagem de 195 horas, 18 minutos e 35 segundos (eles se atrasaram cerca de 36 minutos).


A reentrada na atmosfera exigiu uma manobra para que o Columbia entrasse com seu escudo térmico voltado para a Terra, graças à enorme geração de calor produzida pelo atrito do módulo de comando com o ar atmosférico.


Armstrong, Aldrin e Collins foram resgatados pelo porta-aviões estadunidense USS Hornet, no Oceano Pacífico. Assim que recuperados, os astronautas foram trajados com vestuários de isolamento biológico, a fim de evitar-se a remota possibilidade de contaminação por algum agente patológico extraterrestre. Como forma de precaução, além de higienizados, a tripulação da Apollo 11 foi colocada em quarentena durante um período de 21 dias.


Os dias após o fim da quarentena dos astronautas foram marcados por grandes paradas de celebração da chegada do homem à Lua. Em 13 de agosto de 1969, houve diversas homenagens à missão e também um banquete oficial que reuniu 44 governadores estadunidenses e embaixadores de 83 países. Entre 29 de setembro e 5 de novembro, os três astronautas viajaram por 22 países, onde foram homenageados por líderes políticos.


Fonte e direitos reservados: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/apollo-11.htm

terça-feira, 21 de março de 2023

A PUBLICIDADE, O DESEJO E O CONSUMO

A PUBLICIDADE, O DESEJO E O CONSUMO

A propaganda tem como finalidade seduzir o consumidor, ela não vende só o produto, ela atua no imaginário do comprador.


A publicidade exerce um papel tão importante como formadora de opinião que autores dizem que a mesma atua em esferas antes específicas dos meios educacionais, jurídicos, religiosos, mudando conceitos, regras, interferindo nos costumes e comportamentos outrora tidos como tradicionais. É eficaz na sua tarefa além de ser detentora de muita credibilidade face ao poderio conquistado pelo império midiático.

 A estratégia do discurso publicitário visa persuadir e seduzir o cliente, o que faz através de peças publicitárias que levam em conta as especificidades dos destinatários virtuais, suas crenças e valores sociais. Diz Aldrighi (1995, p.54) que “a propaganda trabalha com arte, criatividade, raciocínio, moda, cultura, psicologia, tecnologia, enfim, um complicado conjunto de valores e manifestações da capacidade humana”. 

O discurso publicitário se atém aos imaginários culturais, ao sistema de valores sociais, aos estereótipos consagrados, àqueles já aludidos por Aristóteles que se constituem em um conjunto de crenças socialmente aceitas que aflora com os anúncios persuadindo o sujeito interpretante a se tornar um consumidor seduzido pelas estratégias argumentativas. Neste jogo de interesses, que é a publicidade, o sujeito discursivo é fruto de uma associação da empresa fabricante ou de comerciantes com uma agência de comunicação, divulgação, marketing que não pode obrigar ninguém (sujeito destinatário) a comprar determinado produto; restam, então, as técnicas de persuasão e a sedução. 

No jogo do discurso publicitário, o sujeito discursivo procura esconder a face puramente comercial, mascarando-se ou como “benfeitor” ao mesmo tempo em que prevê uma imagem do interlocutor. Monnerat (2000) atesta que “o sujeito comunicante vai tentar dissolver a identidade de vendedor e a do interlocutor, como mero consumidor, em favor de identidade dos seres discursivos”. 

A relação muda de sentido, tendo um caráter não comercial, mas de “benfeitor-beneficiário”. Desse modo, conforme Pauliukonis (2003, p. 119), “o produto é o instrumento, ou ferramenta, capaz de preencher a carência desse público alvo”.


No processo de persuasão, os argumentos do texto publicitário “ajudam a evocar o produto como benfeitor de um destinatário idealizado, cuja carência será preenchida por seus notórios benefícios, incorporando assim, a fonte para os argumentos e a base para sua credibilidade” (PAULIUKONIS, 2003, p.120).


Recorremos aos elementos da psicanálise para explicar essa carência, no que diz respeito ao desejo, pois este remonta à época do nascimento do sujeito com a ruptura da situação ideal, confortável e prazerosa do indivíduo no útero materno. 

Ao longo da vida, este indivíduo buscará, quer nas relações pessoais como nas relações de consumo, suprir as suas carências, advindas da ruptura sofrida, e da sensação de castração que carrega, de maneira inconsciente, perseguindo um estado de satisfação, de prazer e conforto. Este sujeito é um sujeito em permanente conflito. 

Ele tenta satisfazer seus desejos, pois é um eterno insatisfeito pelas razões já expostas acima, através do consumo, que poderá ser regulado ou desenfreado, configurando, nesta última situação, casos patológicos que necessitarão de atendimento especializado. Convém observarmos que, uma vez satisfeito, o desejo dá lugar a outro numa incessante busca. O sujeito tende a uma satisfação superficial e imediata de seus conflitos interiores que se apresentam sintomaticamente através do consumismo.


O discurso se constrói com uma finalidade, dirigindo-se para alguém e é considerado também uma forma de ação, possuindo, então uma força capaz de conduzir o interlocutor a fazer aquilo para o qual é induzido.


Sob o ângulo psicanalítico, o desejo é o que move o homem. Esse desejo o impulsiona inconscientemente para o consumo, como forma de preencher o vazio interior. Isso não significa que todos sejam consumistas e compulsivos, pois encontramos pessoas que consomem conscientemente, de modo razoável para suprir necessidades materiais ou desejo não desenfreado. “O sujeito do inconsciente é permanentemente desejoso, faltante e singular” (LIMA, 2002, p.64).


A propaganda atua na esfera do imaginário. É um elemento fundamental de persuasão e sedução. Como está lidando com o imaginário, ela vende não só o produto, mas aquilo que ele significa ou representa levando em conta o momento social, histórico e as vivências do sujeito. A propaganda se serve de valores que reforçam a ascensão social, o desejo, o prazer, o poder, a sexualidade.


O homem, naturalmente um ser desejante, é interpelado por toda uma gama de informações que se “encaixam” naquilo que ele acha que é capaz de satisfazer seu desejo latente interpretado pelo interlocutor como necessidade, desejo este amenizado pelo consumo, nunca saciado completamente e em definitivo.


O sujeito interpelado adere ao consumismo com a intenção de saciar o desejo, seduzido pelas argumentações habilmente feitas pelo sujeito discursivo, através do que se denominam formações imaginárias, as quais, como já foram mencionadas, permitem que o sujeito discursivo se coloque no lugar do sujeito interpelado, ou interlocutor, prevendo as suas necessidades, o seu desejo e sua reação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALDRIGHI, Vera. Eficiência Publicitária e pesquisa em comunicação. In: Julio Ribeiro e Outros: Tudo o que você queria saber sobre propaganda e ninguém teve paciência de explicar. São Paulo: Editora Atlas, 1999


BAUDRILLARD, Claudine. Fazer dizer querer dizer. São Paulo: Hucitec, 1992.


BAUDRILLARD, Jean. Da Sedução. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991.


ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2007.


FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do Discurso: Reflexões Introdutórias. São Carlos: Clara Luz, 2007.


FOCAULT, M. Arqueologia do saber. São Paulo; Forence Universitária, 1995.


FOCAULT, M. História da sexualidade. (V.II: O uso dos prazeres), Rio de Janeiro: Graal, 1984.


FREUD, Sigmund (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987. p.118-216. v.VII.


LIMA, Elisane Pinto da Silva Machado de. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Pelotas, Mestrado em Letras, Pelotas, BR, 2002. Orientador: Ernest - Pereira, Aracy.


MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2008.


MELO, Fábio de. Quem me roubou de mim? O seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa. São Paulo, SP: Editora Canção Nova, 2008.

MONNERAT, Rosane S.. Processos de intensificação no discurso publicitário e a construção do ethos. In: PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino & GAVAZZI, Sigrid (orgs).Texto e discurso: mídia, literatura e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003


Extraído do trabalho realizado para obtenção do título de Especialista no curso de Pós-Graduação em Linguagens Verbais Visuais e suas Tecnologias o qual obteve conceito final “A”.


Publicado por: Isabel C. S. Vargas


Direitos reservados: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/publicidade-desejo-consumo%20.htm


 

Sociedade Disciplinar/ Michel Foucault


 Sociedade Disciplinar/ Michel Foucault

 

Mudanças sociais ocorridas no séc. XVIII e XIX levaram a alterações do jogo do poder, que foi sendo gradativamente substituído pelo que Foucault denomina de sociedades disciplinares, as quais atingiram o seu apogeu no séc. XX. A passagem de uma forma de dominação a outra ocorreu quando a economia do poder percebeu ser mais eficaz e rentável “vigiar” do que “punir”.


Duas imagens, portanto da disciplina. Num extremo, a disciplina - bloco, a instituição fechado, estabelecido à margem, e toda voltada para funções negativas: fazer parar o mal, romper as comunicações, suspender o tempo. No outro extremo, com o panoptismo, temos a disciplina - mecanismos: um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das coersões subtis para uma sociedade que está por vir. O movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema da disciplina de excepção ao de uma vigilância generalizado, repousa sobre uma transformações histórica: a extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar.


Foucault, (1997), pag:173


Coube às sociedades disciplinares organizar os grandes meios de confinamento, os quais tinham como objectivo concentrar e compor, no tempo e no espaço, uma forma de produção cujo efeito deveria ser superior à soma das partes. O indivíduo não cessava de passar de um espaço fechado ao outro: família, escola, fabrica, universidade e eventualmente prisão ou hospital.


A existência de mecanismos disciplinares é anterior ao período que Foucault denominou como sociedade disciplinar, mas antes existiam de forma isolada, fragmentada. O padrão de visibilidade das sociedades disciplinares projectou-se no interior dos prédios das instituições, que passaram a ser construídos para permitir o controle interno.


Foucault afirma que as instituições não têm essência ou inferioridade, nem são fontes de poder. São mecanismos operatórios práticos que fixam relações. Têm necessariamente dois pólos: aparelhos e regras. O pólo negativo compreende a táctica do poder em sujeitar e reprimir. O pólo positivo consiste em produzir, mobilizar tipos de forças que constituem o poder, provocando um corpo - a - corpo. Quanto mais poder conseguir produzir, mais deverá sujeitar e administrar. Nesse confronto retira-se um efeito útil, uma notável solução, diria Foucault: o aparecimento da disciplina. A disciplina dissocia o poder desse corpo - a - corpo e reduz o perigo da inversão de um equívoco dessa polarização.


Ao estudar o nascimento da prisão, Foucault observa que passou por três fases: primeiramente, nas sociedades soberanas, no séc.XVII, existe paralelamente a outras administrações de punição, como o manicómio e o asilo. Com a queda da soberania, a lei e o poder adquirem uma forma regular de administração, isto é, a sua transmissão e continuidade ganham nova forma, quando acontece a estatização da justiça penal.


Como Foucault observa a prisão não é então uma pena e direito, não fez parte do sistema penal dos séculos XVII e XVIII. Os legistas são perfeitamente claros a este respeito. Estes afirmam que, quando a lei pune alguém, a punição será a condenação à morte, a ser queimado, a ser esquartejado, a ser marcado, a ser banido, a pagar uma multa, etc. a prisão não é uma punição.


Quando o indivíduo perde o processo e é declarado culpado, deve uma reparação à sua vítima, isto é, exige-se do culpado a reparação da ofensa que cometeu contra o soberano, a lei e o poder monárquico. Assim é que aparecem os mecanismos da multa, da condenação à morte, do esquartejamento, do banimento etc.


O segundo momento de consolidação da prisão ocorre no final do séc. XVIII e inicio do séc.XIX. É caracterizada pela reforma e reorganização do sistema judiciário e penal nos diferentes países da Europa e do mundo. Nesse momento, ao contrario do período anterior, a prisão passa a difundir-se em todas as direcções, por se efectuarem em alto grau as exigências do diagrama da disciplina, vencida, obviamente a má reprodução que vinha do seu papel precedente.


Foucault denomina esse período de sociedade disciplinar, pois traz como características essenciais a distribuição dos indivíduos em espaços individualizados, classificatórios, combinatórios, isolados, hierarquizados, capazes de desempenhar funções diferentes segundo o objectivo especifico que deles exige. Estabelece uma sujeição do individuo ao tempo, com o objectivo de produzir com o máximo de rapidez e eficácia.


A vigilância também se expressa como um dos seus instrumentos de controle, de maneira contínua, perpetua e permanente.


No âmbito do direito penal, passa-se a enunciar os crimes e os castigos que preconizam o controle e a reforma psicológica e moral das atitudes e do comportamento dos indivíduos, diferente daquela prevista no séc. XVIII, que visava tão somente a defesa da sociedade.


Ressalta Foucault que a prisão, nesse momento remete a palavras e conceitos completamente diferentes, como a delinquência e o delinquente, que exprimem uma nova maneira de enunciar as infracções, as penas e os sujeitos.


A terceira fase consiste na reforma penitenciária, pois destitui a prisão da sua exemplaridade, fazendo-a voltar ao estado de agenciamento localizado, restrito e separado.


As técnicas disciplinares serão substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização. Funcionará como terapêutica da rectificação do individuo, e a sentença judicial será inscrita entre os discursos do saber, implicando num baixo grau de exigências do diagrama da disciplina.


Nesse estudo topológico de interrogar as formações históricas, Foucault descobriu uma engenharia que atravessa quase meio século, praticamente despercebida, enquanto estratégias ou táctica de poder. Aparece contudo, como uma mecânica de observação individual, classificatória e modificadora do comportamento, uma arquitectura formulada para o espaço da prisão, ou para outras administrações, tais como: a fabrica, a escola, o manicómio. Essa maquinaria era o Panóptico. 


O Panóptico é a utopia de uma sociedade e de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que actualmente conhecemos – utopia que efectivamente se realizou. Este tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo. Vivemos numa sociedade onde reina o panoptismo.


Com o Panóptico vai-se produzir algo totalmente diferente. Não há mais inquérito, e sim vigilância e exame. O Panóptico teve uma tríplice função a vigilância, o controle e a correcção.


Segundo Foucault (1990), o poder é uma prática social e, por isso mesmo, é constituído historicamente e articula-se com a estrutura económica. O que Foucault chamou microfísica do poder significa tanto um deslocamento do espaço de análise quanto ao nível que este se efectua. De acordo com a sua categorização, as sociedades e os seus respectivos regimes de visibilidade podem ser divididos em: sociedades de soberania, onde o rei ou senhor exercia o poder, por meio de uma vigilância externa e geral; sociedade disciplinar, na qual as instituições são um dos maiores dispositivos de visibilidade, principalmente com relação ao funcionamento dos operários institucionais; e sociedade de controle,  veio substituir a sociedade disciplinar, na qual ocorre a implementação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação, ou seja, o exercício do poder à distancia.


Actualmente, encontramo-nos numa crise generalizada de todos os meios de confinamento da sociedade disciplinar e assistimos à instalação de uma sociedade que controla à distância. Desse modo, a crise das instituições modernas representa a implantação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação. A lógica da sociedade disciplinar é analógico, ou seja, descontinua e diferenciada em cada confinamento, enquanto a da sociedade de controle é numérica e constante. 


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“Rule by the rich is not democracy” Seen in Dublin, Ireland @ Radical Graffiti/ “Governo dos ricos não é democracia” Visto em Dublin, Irlanda


 “Rule by the rich is not democracy”        

Seen in Dublin, Ireland 

@ Radical Graffiti

“Governo dos ricos não é democracia”

Visto em Dublin, Irlanda


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro


 Imagem: Laerte


A geopolítica do medo. Por Tarso Genro

 17 de novembro de 2020  Brasil, Destaque Combate Racismo Ambiental

Como pode Bolsonaro dizer tudo o que diz e continuar impune e ainda continuar dizendo?


No A Terra é Redonda

“Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas” (Dante, Divina Comédia, Inferno, Canto 3).


“Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta” (Inscrição tenebrosamente irônica no Portão de Auschwitz)


Mas a sentença mais importante para compreender o lado perverso da racionalidade moderna está inscrita no Portão de Buchenwald: “Jedem das Seine”, que pode ser entendida como “cada um recebe o que merece”.

Direitos Reservados: https://racismoambiental.net.br/2020/11/17/a-geopolitica-do-medo-por-tarso-genro/


A última fala do Presidente Bolsonaro, que será recebida com indignação passageira até a próxima mais violenta, encerra toda a lógica nazifascista acima exposta, de Dante sobre as portas do inferno e do nazismo, nas portas dos Campos: não sejam “maricas” (fracos) todos vamos morrer, não é certo lutar pela vida nestas circunstâncias. Jovens, crianças, idosos -todos- abandonem toda a esperança! Estamos chegando nas portas do inferno e eu sou seu demônio falante – sem medo e sem limites- e assim trato os covardes que me ouvem, que estão entre os que me trouxeram até aqui e os que escolheram ou não puderam resistir aos meus apelos. Com a minha fala alucinada desafio, parece dizer o Presidente – ao contrário de Marx que dizia que “nada do que que é humano me é estranho”- nada do que nos leva à portas do inferno pode ser rejeitado.


Na História do heroísmo, da resistência e da capacidade humana de enfrentar fogo contra fogo, – além de Stalingrado, da Resistência Francesa e dos Partisans italianos (além dos milhões de anônimos que morreram na Guerra contra o Nazismo)- está a desigual Insurreição do Gueto de Varsóvia. Ali foi o lugar onde 1.500 prisioneiros, judeus comunistas, sionistas, socialistas e democratas libertários, escolheram -entre ir para Treblinka ou morrer lutando- ser a vanguarda da dignidade humana. Poemas, canções, romances e ensaios, já celebraram as lutas da racionalidade moderna contra o seu fluxo de razão perversa. Os donos desta face da razão sempre assassinaram sem piedade, a partir da capacidade de arbitrar “que cada um recebe… o que merece”, seja lutando ou aceitando passivamente o seu destino.


Como pode Bolsonaro dizer tudo isso e continuar impune e ainda continuar dizendo? Suponho que se trata da crise radical da democracia liberal, que passa a ser tutelada – na crise ambiental, sanitária e econômica do capital – não mais pela razão de Estado, na qual cabia a democracia política, mas dirigida pelo mito engendrado pelo lado mais forte da racionalidade capitalista. Este vem com alguém que possa deixar de lado as instituições que criou, para que os ricos e super-ricos se vejam em outro espelho: não mais na face de um Churchill ou de um Truman, mas na face diabólica de quem tenha suficiente paixão pelo mal, para dizer quem deve viver e quem deve morrer.


Neste quadro histórico mórbido se digladiam dois discursos: o da velha razão moderna do direito democrático, que a sociedade fragmentada não mais entende porque lida com as questões imediatas da vida e da morte; e o discurso das portas do inferno, que oferece a morte para todos, mas -atenção!-  deixa claro que a maioria pode se salvar porque naturalmente –nos portões do inferno- só os “maricas” (os fracos) passarão em direção à morte, o resto sobreviverá fantasiando suas identidades juntos aos que serão apontados como fortes.


Não acredito na sentença taxativa de Borges, pela qual afirma que “todas as histórias estariam nuns poucos livros: na Bíblia, na Odisseia, no Martin  Fierro”. Trata-se – a fórmula – de mais um dos seus aforismos geniais, nos quais a literatura suprime a filosofia e o gosto pela metáfora esconde um certo deboche irracionalista, próprio de um grande escritor que jamais se acostumou a viver no presente.


Talvez “todas as histórias” estejam mais perto de cada “conjunto de músicas” ou de poesias – de cada época – do que nos livros apontados por Borges. A canção, que se ergue num palco de luzes e cores faiscantes também faz dançar multidões, mas é diferente daquela sussurrada num bar do Harlem. Ambas, porém carregam o desejo, a morte, a felicidade, o heroísmo dos  pleitos humanos da vida cotidiana de cada pessoa concreta, no som da sua multiplicação infinita.


A letra de Woody Guthrie “This Land is your Land” (1940) respondia à bela e apologética “God Bless América”, de Irving Berlin”. Enquanto Guthrie –com seu violão de inscrições antifascistas – dizia “esta terra é sua terra, esta terra é minha terra (…) esta terra foi feita para você e para mim”, Berlin proclamava: “vamos jurar fidelidade a uma terra que é livre (…) vamos todos ser gratos por uma terra tão justa”.


Frequentavam – Guthrie e Berlin – ambientes diferentes. Pensavam em pessoas, espaços, desertos diferentes. Foram almas marcadas por paisagens de cores fortes – mas diversas – no território da América de então, no mesmo solo dos seus desertos, onde corpos de indígenas, de negros escravizados ao sul, de pobres soterrados na ira das vinhas de Steinbeck, tinham seu nervos, músculos e movimentos dos seus corpos, profanados pelo seu empilhamento nos cofres de Wall Street. Ali, todavia, se erguia uma nação.


Maiakowsky – poeta da Revolução Russa – suicidou-se em plena era Stálin aos 36 anos (1930), tempos depois de ter escrito “comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração”, para  declamar, depois seu sofrimento em versos de sarcasmo: “melhor morrer de vodka que de tédio”. Seu mais reconhecido sucessor – como poeta\político na Rússia Soviética – Eugeny Evtushenko, aos 20 anos tornou-se famoso na década de 50, denunciando Stálin e declamando seus versos em lugares públicos: “lembrar-se-ão de tempos estranhos onde a honestidade mais simples chamava-se coragem”.


Os dois poetas viveram tempos diferentes – ambos difíceis e dramáticos – com as suas vidas colidindo nos duros acontecimentos históricos que marcaram suas biografias. No subsolo da revolução, na resistência à barbárie nazista, nos terríveis processos do stalinismo, na liquidação da velha autocracia czarista, que fazia do povo russo um rebanho de indigentes, todavia, se erguia uma nação.


Rússia e América hoje comungam dos mesmos vícios e padecimentos com governos autoritários, líderes dentro do sistema do capital que exploram a geopolítica do medo e os abusos militaristas no interior de uma “guerra fria”, entre os mais diversos interesses do capital. Na América sobrevive em frangalhos a Constituição da Filadélfia, manipulada por um fascista narcísico, que expande a sua raiva negacionista com o uso da canção “Good Bless America”, para manipular seus eleitores. Este, certamente rejeitaria “This land is your land”, se compreendesse a sua letra. Putin, por seu turno detesta Mayakowsky, embora certamente algum verso de Evtushenko ele possa declamar na Praça Vermelha, para promover o olvido do poeta da verdadeira revolução.


A forma com que as canções, a poesia e a literatura, formavam a opinião e as consciências nas sociedades do Século passado, tem relação com os próprios desígnios da democracia republicana. Como o poder – na democracia – não se concentra num corpo único (tirano, ditador, déspota), mas se realiza num “lugar vazio” (Lefort) que a República instituiu – formalmente –  para ser ocupado pelo voto, sua “fala de poder” é disseminada por aqueles que recebem a delegação  para ocupar o lugar institucional do poder.


O contra-discurso ao discurso do poder instituído, na arte, nos livros, nas canções, na  poesia – emitidos nas instâncias de onde as pessoas se socializam e convivem pela aproximação e pelo dissenso – tem racionalidade, mas é de vôos curtos: ele é coerente, mas vem de um lugar disperso e suas fontes não têm um corpo único para representá-las.


G.A.Cohen, num estudo brilhante da “igualdade como norma”, na sociedade moderna, busca esta racionalidade perdida em várias canções -na arte dos lutadores sociais- como na canção “Buddy, Can you spare a Dime” (“Dê-me um níquel parceiro”). Quando o homem diz, na canção, que “eu uma vez construí uma estrada de ferro e a fiz funcionar, que se erguia até o sol…”, ele justifica que “merece o níquel”, pelo fato de que um dia produziu, não porque agora não tem capacidade de produzir: ele se pensa como “credor”, portanto, não como cidadão abstrato, que deve ter garantida a sua vida só porque existe. Assim se estabelece o ritual do discurso necrófilo de Bolsonaro que diz, em última instância,  “se eu não te devo deves morrer”.


Em fevereiro de 2017 a voz quase metálica de Lady Gaga, num intervalo do Super Bowling, impulsiona o seu corpo produzido para girar, flutuar, nadar no ar e cantar “God Bless America”, numa improvável comunhão com “This Land is your land”. A fusão é evidente e lá está Joe Biden para, através dela, dizer – como velha raposa da democracia imperial — que a América a ser salva é aquela que pode assumir a fusão destes dois destinos, que devem guardar um lugar razoável também para os pobres e deserdados.


Estará no fim esta possibilidade na terra do golpismo de Trump, que desafia a própria América democrática a defender outra democracia, que não a dos bilionários Wall Street? Não sei se está no fim, mas parodiando Castells, no seu já clássico “Ruptura”, “assim como está não vai ficar”. Lady Gaga trouxe essa interrogação já desesperada, para o comício final da campanha Democrata em 2 de novembro de 2020, quando a sua voz se ergueu – como arte voluntária de resistência – para fazer a fusão da América imaginária do “God Bless América”, com a América real dos versos do “This Land is your land”.


Impulsionada pelos jovens, comunidades negras, mulheres lutadoras, imigrantes e intelectualidade democrática e libertária, a democracia claudicante dos Pais Fundadores, agora pode ser levada às Portas do Inferno por Donald Trump. Do outro lado desta porta a civilização é esperada por Hitler e seus assassinos fardados e aqui no Brasil o discurso de Bolsonaro – nesta semana de testes terminais do nosso nojo e da nossa paciência-   já nos convidou para a travessia nos arcos dos seus portões malditos. E nada acontece, no espaço finito da democracia, onde a dignidade das instituições – como disse Mayakowsky – aqui sequer chegou perto dos “tempos estranhos” em que a coragem passou a ser uma virtude coletiva.

*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.


O que é ETARISMO e qual seu impacto na vida do idoso?

O que é ETARISMO e qual seu impacto na vida do idoso?

Quem nunca ouviu a frase “Você não tem mais idade para isso!”?

Esse tipo de opinião pode ser classificada como etarismo ou ageísmo, que consiste no preconceito, na intolerância, na discriminação contra pessoas com idade avançada. Nos Estados Unidos, o termo é discutido desde a década de 60 e, na Europa, recentemente novas leis foram criadas contra a discriminação etária na esfera profissional. Infelizmente, no Brasil, o termo ainda é pouco conhecido.

O etarismo no dia a dia

Vagas de emprego são negadas “devido à idade” e até mesmo atividades que proporcionem bem-estar à pessoa – como, por exemplo, matricular-se em uma academia – são vistas como não adequadas. Até mesmo o simples fato de a pessoa não querer expor a idade demonstra isso.

Este mês, a cantora Madonna, de 62 anos, foi vítima de etarismo após publicar um vídeo sobre a hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19 em uma rede social, sendo chamada de “velha” e “gagá” por disseminar notícias falsas. O vídeo foi excluído. O preconceito ficou.

O estereótipo de que a idade é um empecilho afeta consideravelmente a vida das pessoas, fazendo com que ela sofra e se afaste do convívio social, ficando mais deprimida e deixando até mesmo de cuidar de sua saúde.

Mas essa não é a maneira correta de pensar e precisamos colocar esse tema em discussão. Negar o envelhecimento de outras pessoas, discriminando-as por isso, é negar a própria vida, pois todos seguirão pelo mesmo caminho – o do envelhecimento que, aliás, é um privilégio.



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SIMBOLISMO História das Artes > No Mundo > Arte no Século 19 > Simbolismo


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 Figuras com obras dos pintores Simbolistas

1. Jovens Tatianas com flores de manga, Paul Gaugin

2. A Noite,1890, Ferdinand Hodler

3. Autorretrato com retrato de Gaugin, 1888, Émile Bernard

4. O Balão, 1870, Puvis de Chavannes

5. Jasão, 1865, Gustave Moreau

6. Moça no Trigal,  Eliseu Visconti, 1906


SIMBOLISMO

Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de 1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da “alma das coisas”, que a linguagem poética – mais do que qualquer outra – permite alcançar, por detrás das aparências.


A poesia simbolista, de Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-1898) por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. Do mesmo modo, a força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar expressão visual ao que está oculto por meio da linha e da cor que, menos do que representar diretamente a realidade, exprimem ideias.


Os princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações do poeta Jean Moreás (1856-1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886), e no Tratado do Verbo, escrito no mesmo ano por René Ghil (1862-1925). Nos termos de Moreás, a arte deve ser pensada como fusão de elementos sensoriais e espirituais. Reagindo à sociedade industrial, os simbolistas se refugiam em sua torre de marfim, buscando uma beleza ideal e intocada. Desejando salvar o mundo do seu materialismo extremado, identificam-se com a natureza e a religião (Ocultismo, Espiritismo, Rosa-Cruz), buscando seus temas na Bíblia e na mitologia. Aproximam-se também dos Pré-Rafaelitas ingleses.


É conhecida a frase de Maurice Denis: “Antes de representar um cavalo de batalha, uma mulher nua ou uma anedota qualquer, um quadro é essencialmente uma superfície recoberta de cores dispostas em uma ordem determinada.” A pintura não era cópia da realidade, mas sim a sua transposição mágica, imaginativa e alegórica.


Em 1880, alguns escritores se manifestaram contra a falta de conteúdo espiritual da arte naturalista e a crítica que lhe fizeram depressa chegou às artes plásticas. Criticavam o objetivismo da realidade levado a cabo pelos realistas, impressionistas e pontilhistas. Apontavam uma ausência de profundidade espiritual e de uma ideia fundamental nas suas obras.Basearam-se nos estados emocionais e anímicos, angústias, sonhos e fantasias, afastando a arte da representação da natureza.


É possível compreender o simbolismo como uma reação ao cientificismo que acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século 19. Contra as associações frequentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas sublinham um ideal estético amparado na expressão poética e lírica.


O simbolismo surge paralelamente ao neoimpressionismo de Georges Seurat e de Paul Signac, e se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura visualidade defendida pelo impressionismo. Só que, enquanto Seurat e Signac fundam a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e anticientífica: a arte não representa a realidade mas revela, através de símbolos, uma realidade que escapa à consciência.


Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender valores transcendentes – o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado – que se encontram situados no polo oposto a razão analítica. A arte visa a retomar a paixão, o sonho, a fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis.


O simbolismo, ao contrário, mobiliza um imaginário povoado de símbolos religiosos, de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas, dos temas da doença e da morte. A mulher, tema recorrente das obras simbolistas. Ao mesmo tempo musa, deusa, ninfa, adúltera, cortesã e prostituta. É cisne e serpente. Estes sentimentos contraditórios de sensualidade e ascetismo ganham em suas obras uma carga quase mágica ou hipnótica.


A composição se organiza de modo linear, em primeiro plano, com a composição se fechando em alvéolos ou em escorço. Como não se desenvolveu um estilo uniforme, é difícil dar uma definição que englobe todos os quadros, trata-se por isso de um conjunto de quadros elaborados por indivíduos distintos e de artistas que se demarcaram da pintura objetivista materializando as emoções e estados de alma.


Destacamos os artistas:


Paul Gauguin (1848-1903), depois de passar a infância no Peru, Gauguin voltou com os pais para a França, mais precisamente para Orléans. Em 1887, entrou para a marinha e mais tarde trabalhou na bolsa de valores. Aos 35 anos, tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. Começou assim uma vida de viagens e boemia, que resultou numa produção artística singular e determinante das vanguardas do século 20.


Sua obra, longe de poder ser enquadrada em algum movimento, foi tão singular como a de seus amigos Van Gogh ou Cézanne. Apesar disso, é verdade que teve seguidores e que pode ser considerado o fundador do grupo Nabis, que, mais do que um conceito artístico, representava uma forma de pensar a pintura como filosofia de vida. Suas primeiras obras tentavam captar a simplicidade da vida no campo, algo que ele consegue com a aplicação arbitrária das cores, em oposição a qualquer naturalismo, como demonstra o seu famoso Cristo Amarelo. As cores se estendem planas e puras sobre a superfície, quase decorativamente.


No ano de 1891, o pintor parte para o Taiti, em busca de novos temas, para se libertar dos condicionamentos da Europa. Suas telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas. Quando voltou a Paris, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel, voltou ao Taiti, mas fixou-se definitivamente na ilha Dominique.


Ferdinand Hodler (1853 – 1918) pintor suiço, recebeu aulas do  paisagista Ferdinand Sommer de 1868 a 1871, depois estudou na Escola de Belas Artes de Genebra em companhia do professor de desenho Barthélemy Menn,. Fez várias viagens durante sua juventude. Depois de entrar em contato com o simbolismo que imperava na França, ele definiu seu estilo e temática com alusão metafísica, existencialista e filosófica. Não é em vão, os estados oníricos, o peso da morte, os rituais ou os elementos alegóricos passaram a ser a identidade de sua obra. Consagrado desde 1890 como um dos autores simbolistas, através de sua obra “A Noite”. Uma obra escandalosa para a sociedade suíça da época. Representa o sono como prefiguração da morte, ao seu redor homens e mulheres dormindo abraçados, nos rostos estão representados autorretratos e retratos das mulheres que Hodler teve durante a vida: Augustine Dupin, companheira sentimental e mãe de seu filho, e Bertha Stucki, esposa de um curto e cansativo casamento, mas o presidente da Câmara de Genebra não conseguiu ver além dos corpos nus e excluiu-o da exposição.


Émile Bernard (1868 – 1941) pintor e escritor francês. Manteve amizade com os pintores Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Eugène Boch e Paul Cézanne. O seu trabalho mais notável foi realizado em uma idade jovem, nos anos 1886 a 1897. Ele era associado com Cloisonnisme (Alveolismo) e o Sintetismo, dois movimentos artísticos do século 19. Suas obras literárias, como poesia e críticas de arte, são menos conhecidas. Iniciou seus estudos na Escola de Artes Decorativas. Em 1884 juntou-se ao Atelier Cormon onde ele experimentou com o impressionismo e pontilhismo e fez amizade com outros artistas Louis Anquetin e Henri de Toulouse-Lautrec. Depois de ser suspenso pela Escola de Belas Artes porque demostrava tendências expressivas em suas pinturas, ele visitou Bretanha a pé , onde ele se apaixonou pela paisagem. Em agosto 1886, Bernard conheceu Gauguin em Pont-Aven. Ele acreditava que o seu estilo de arte incentivou consideravelmente no desenvolvimento do estilo maduro de Gauguin.


Puvis de Chavannes (1824-1898) pintor francês. Realizou trabalhos de sucesso com decorações em edifícios públicos na Europa e nos Estados Unidos. Atraiu ao mesmo louvor tempo e críticas ferozes. Sua técnica favorita foi o óleo sobre tela, mas com uma característica que o fez muito especial, que foi a de simular o afresco. Organizava as obras sobre telas de grande formato que logo encobria as paredes. Sus temas eram inspirados na mitologia, história e literatura. As referências clássicas na sua forma de trabalhar foram inspiradas nos artistas que conheceu durante sua viajem para Itália. Se dedicou a simplificar o desenho e a aplicação das cores, trabalhava em grandes superfícies em um mesmo tom, alguns consideram antecipar-se à Paul Gauguin nesse quesito. Suas obras apresentam uma atmosfera de quietude. Parecem visões que vão além do tempo e do espaço.


Gustave Moreau (1826-1898) pintor francês. Começou como pintor realista, posteriormente, sob a influência dos impressionistas e pré-rafaelitas, evoluiu para uma pintura mais romântica e espiritual. Teve aulas de artes pelos mestres Chassériau e Picot em seus respectivos ateliês. Suas obras foram expostas pela primeira vez ao público e à crítica no Salão de 1852. Ele pregava que a inspiração nunca seria encontrada no objeto a ser pintado, pois ela seria única e exclusiva do pintor, ou seja, a obra seria executada a partir do que foi sentido por ele. Seus temas favoritos eram as cenas bíblicas, principalmente a história de Salomé, em moda no final do século 19, e as obras literárias clássicas. Mestre da cor, soube representar mulheres de uma beleza rara com traços de anjo e pele aveludada, cobertas apenas por ousadas transparências. A luz foi utilizada por Moreau para obter essa atmosfera ao mesmo tempo mística e mágica, que caracterizou a pintura simbolista.


SaibaMaisNo Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo. O quadro “Recompensa de São Sebastião”, de Eliseu Visconti, medalha de ouro na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904, é um exemplo da influência simbolista nas artes plásticas do Brasil.


COMO CITAR:

Para citar esta página do História das Artes como fonte de sua pesquisa utilize o texto abaixo:

IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Simbolismo. História das Artes, 2023. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/>. Acesso em 21 Mar 2023. Todos os Direitos reservados: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/

Salvador Dalí, Pintor espanhol


Persistência da Memória (1931)




Jogo Lúgubre (1929)

Salvador Dalí Pintor espanhol

Por Dilva Frazão

Biblioteconomista e professora

Direitos reservados: https://www.ebiografia.com/salvador_dali/

Salvador Dalí (1904-1989) foi um pintor espanhol que se destacou por suas composições insólitas e desconexas. Com seu bigode sinuoso e com disposição para escandalizar foi um grande representante da "Estética Surrealista".

Salvador Domingo Dalí Domènech nasceu em Figueras, Catalunha, Espanha, no dia 11 de maio de 1904. Filho do tabelião Salvador Dalí Cusi e de Felipa Domènech, desde cedo revelou talento para o desenho.

Em 1922 foi levado para Madri para estudar na Escola de Belas-Artes de San Fernando, da qual seria expulso anos depois. Na capital espanhola ele fez amizade com o poeta Frederico Garcia Lorca e com o futuro cineasta Luís Bunuel.

Dalí chamava atenção com um figurino que mostrava sua personalidade excêntrica: com cabelos longos, gravata desproporcionalmente grande e uma capa que ia até os pés. Nessa época, realizava pinturas que passavam do realismo para composições cubistas como o Autorretrato com L’Humanité (1923):

Dalí
Autorretrato (1923)
Em 1925, Salvador Dalí realizou sua primeira mostra individual na Galeria Dalmau, em Barcelona. Entre suas criações da primeira fase destaca-se o quadro Moça à Janela (1925):

Salvador Dalí
Moça à Janela (1925)
Em 1926, Dalí foi expulso da Academia de Artes por se desentender com um professor e declarar que ninguém ali era capaz de avaliá-lo. Nesse mesmo ano, viajou para Paris e se encontrou com Picasso.

Em 1927 se instalou em Paris e tornou-se membro oficial do movimento Surrealista, liderado pelo poeta André Breton, que surgiu como reação ao racionalismo e ao materialismo da sociedade ocidental.

Usar o potencial do subconsciente como fonte de imagens fantásticas e de sonhos era o objetivo do grupo surrealista. Em 1929 volta à Espanha e produziu a tela Jogo Lúgubre (1929):

Dali
Jogo Lúgubre (1929)
Ainda em 1929, Dalí fez sua primeira mostra individual em Paris. Nessa época, conheceu Gala (Helena Ivanovna Diakonova), que entrou em sua vida depois de deixar o poeta Paul Éluard. Gala tornou-se sua companheira e modelo.

Em 1930, Dalí mudou-se com Gala para o sul da França e depois para Cadaqués, na Espanha, onde comprou uma casa.

Em 1931 realizou sua segunda exposição individual, em Paris, na Galeria Pierre Colle. Na mostra, entre outras obras, Dalí apresenta a tela Persistência da Memória (1931), com seus relógios derretendo. A obra, adquirida por um colecionador particular, em 1934, foi doada ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Dali
Persistência da Memória (1931)
Na década de 30, Dalí produziu o melhor de sua obra: telas nas quais pessoas, animais, objetos e paisagens se fundem em composições insólitas. O pintor costumava dizer: “ A diferença entre mim e os surrealistas é que eu sou um surrealista”.

Sua pintura desconexa está bem representada na tela Composição Surrealista com Figuras Invisíveis (1936), onde no centro de uma paisagem desolada, uma cama e uma poltrona surgem vazias, mas conservam os contornos dos corpos ausentes:

Dalí
Composição Surrealista (1936)
Dalí se valia daquilo que batizou de “Método Paranoico-Crítico” na tentativa de representar o fluxo do inconsciente e dos sonhos. Suas estranhas imagens de sonhos foram retratadas tão nítida e realisticamente quanto possível em um modo de pintura que se assemelhava à fotografia em cores.

Em 1938, em uma visita a Londres, Salvador Dalí encontra-se com Sigmund Freud, a quem apresenta o quadro Metamorfose de Narciso (1937). Em 1939, o escritor André Breton o expulsou do grupo surrealista e criou um anagrama com o nome do artista para denunciar seu apetite por dinheiro: “Avida Dollars”.

Dali
Metamorfose de Narciso (1937)
Com o início da Segunda Guerra, Dalí refugiou-se nos Estados Unidos acompanhado de Gala, onde permanecem por oito anos. Em 1941, termina a autobiografia “Vida Secreta de Salvador Dalí”, publicada em 1942.

De volta à Espanha, em 1948, inicia a obra de ampliação de sua casa de Port Lligat. Em 1949, pinta a primeira versão da obra A Madona de Port Lligat, que é apresentada ao papa Pio XII, para aprovação.

Dalí
Madona de Port Lligat (1950)
Na década de 50, Salvador Dalí deu início a uma fase inspirada em obras-primas de pintores do passado, entre elas, A Cabeça Rafaelesca, e A Última Ceia:

Salvador Dalí
Cabela Rafaelesca (1951)
Salvador Dalí
A Última Ceia (1955)
Posteriormente, Dali alternou a pintura com o desenho de joias e ilustrações de livros. Em 1974 foi inaugurado em Figueras o Museu Dalí. Oito anos depois morreu Gala, fato que abalou sua atividade artística.

Salvador Dali faleceu em Figueras, Espanha, no dia 23 de janeiro de 1989.

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sábado, 18 de março de 2023

Feminicídio: oito anos após aprovação da lei, casos aumentam


 Feminicídio: oito anos após aprovação da lei, casos aumentam

DIREITOS HUMANOS

https://www.diariodepernambuco.com.br/

Por: Akemi Nitahara - Agência Brasil

Publicado em: 15/01/2023 11:51 | Atualizado em: 15/01/2023 11:52

 (Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)


Passados oito anos da promulgação da Lei 13.104, de 9 de março de 2015, conhecida como Lei do Feminicídio, o assassinato de mulheres em situação de violência doméstica e familiar ou em razão do menosprezo ou discriminação à sua condição aumentaram no país. A lei alterou o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, além de incluí-lo no rol dos crimes hediondos.


O Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP) começou a compilar e divulgar os dados sobre o crime de feminicídio no estado em 2016 e mostra o crescimento dos casos nos últimos anos. Foram 78 em 2020, 85 em 2021 e saltou para 97 no ano passado, ainda sem computar os dados de dezembro. Há notícias de pelo menos mais três casos no último mês de 2022. Quanto às tentativas de feminicídio, foram 270, 264 e 265 em cada ano, respectivamente.


Apenas na favela da Rocinha, foram dois casos no dia 29 de dezembro e mais dois nos primeiros dias deste ano. Em todo o estado do Rio, houve pelo menos quatro casos nos primeiros dias de 2023, além de uma tentativa de feminicídio. A vítima está internada.


A coordenadora executiva da organização Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), a advogada Leila Linhares Barsted, que também integra o Comitê de Peritas do mecanismo de segmento da convenção de Belém do Pará, da Organização dos Estados Americanos, para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, explica que o feminicídio é um fenômeno social grave.


De acordo com ela, o crime foi intensificado pela pandemia de covid-19, quando vítimas e agressores passaram a conviver por mais tempo, bem como reflete o machismo estrutural e os altos índices de violência do país.


“O índice de violência, o incentivo às armas de fogo, esses discursos de ódio, né? Há uma misoginia e um machismo que estão cada vez mais fortes na sociedade brasileira. Ou seja, aquele machismo que se fazia um pouco mais discreto está nas páginas dos jornais, proferido por lideranças das instituições do Estado. Então é como se houvesse uma licença para que homens exercessem o machismo de uma forma mais grave contra as mulheres”.


Casos de 2023

No Dossiê Mulher do ISP, que traz dados de 2016 a 2020, os números mostram que a maioria das vítimas de feminicídio é morta pelo companheiro ou ex-companheiro (59%) e dentro de casa (59%). Barsted explica que o feminicídio normalmente envolve uma relação íntima, na qual o homem considera ter a posse da mulher.


“Ou seja, é o machismo que não admite que a mulher fuja do controle desse homem. Então, muitas vezes esses eventos ocorrem exatamente quando as mulheres não querem mais viver em situações de violência e resolvem se separar. Esse machismo se dá exatamente nesse sentido, da ideia de que o homem tem a posse da mulher e quando ele perde a posse, decide então castigá-la”.


Os feminicídios ocorridos no estado este ano confirmam os dados.


No dia 1º, Stephany Ferreira do Carmo, 25 anos, foi esfaqueada dentro de casa, na Cidade Alta, zona norte da capital, na frente do filho de 7 anos. Ela está internada com quadro estável, após ficar em coma induzido e passar por uma cirurgia. O suspeito, que foi preso, é Adriano Quirino, com quem a vítima mantinha relacionamento há um ano. A briga teria sido por ciúmes.


No dia 2, Gabriela Silva de Souza, 27 anos, foi esganada até a morte pelo marido, Fábio Araújo da Silva, em Belford Roxo, na baixada fluminense. Ele se entregou à polícia. Gabriela havia decidido se separar, depois de descobrir uma traição do companheiro.


Também no dia 2, Rosilene Silva, 39 anos, foi atingida por quatro tiros no Mercado de Peixe de Cabo Frio, onde trabalhava. Ela já havia denunciado o ex-marido, Thiago Oliveira de Souza, por violência doméstica. Ele foi preso no dia seguinte, na BR-101, em Casimiro de Abreu.


No domingo passado (8), Carmem Dias da Silva, 29 anos, foi morta a facadas e com cortes de vidro, na Rocinha, após uma briga com Wendel Luka da Silva Virgílio, preso em flagrante. Era a primeira vez que Carmem se encontrava com Wendel, que conheceu pela internet. Ela era sobrinha do pedreiro Amarildo Souza, morto em 2013 após ser levado para averiguações na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.


Também na Rocinha, Daniela Barros Soares, de 29 anos, levou um tiro na cabeça enquanto dormia, no dia 9, do ex-marido Rios Loureiro de Souza Sablich, que se entregou na Cidade da Polícia. Rios e Wendel tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva na audiência de custódia, ocorridas terça-feira (10).


Enfrentamento à violência

Em sua posse, no dia 1º, o governador Cláudio Castro afirmou que dará prioridade ao combate à violência contra a mulher e ao feminicídio. Ele citou programas já implementados por sua gestão, como o aplicativo Rede Mulher, o atendimento aos familiares das vítimas do feminicídio, a Patrulha Maria da Penha, a Casa Abrigo e o Ônibus Lilás.


Castro também criou a Secretaria da Mulher, que será comandada por Heloísa Aguiar. A reportagem solicitou entrevista com a secretária, mas ainda não obteve retorno.


Outra área que será fortalecida este ano é a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que elegeu a primeira mulher no cargo de defensora-geral em 68 anos de história da instituição. Na cerimônia de posse, na terça-feira (10), Patrícia Cardoso afirmou que traz a perspectiva de gênero, o combate à violência contra a mulher e que pretende implantar essa visão na defensoria.


“São estatísticas absurdas, as mulheres estão sendo mortas cada vez mais. Esse desafio do enfrentamento da violência contra a mulher, da capacitação dessa mulher para que possa arrumar as malas, como a minha avó fez [a mala] do meu avô, essa capacidade, esse empoderamento, são muito importantes. A Defensoria, junto com o governo do estado, tem papel de destaque e eu queria deixar isso registrado”.


Para Basterd, o fato de ter duas mulheres em posições de poder e decisão deve contribuir para o enfrentamento à violência. De acordo com a advogada, é preciso institucionalizar o diálogo entre as diversas instituições que trabalham nessa área, para promover de fato uma rede integrada de proteção à mulher vítima de violência e, assim, prevenir o feminicídio.


“Eu espero sim que a nova secretária possa ter força suficiente e interlocução contínua com os demais poderes e com os movimentos de mulheres. O Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres tem uma comissão de segurança da mulher, a Escola de Magistratura do Rio de Janeiro tem um fórum permanente sobre violência contra as mulheres. Então é importante que a nova gestora de política das mulheres possa abrir um canal de interlocução com os movimentos sociais, com as outras organizações do estado, para que a gente possa realmente fortalecer essa política e colocá-la em prática”.


Ela destaca também a necessidade de garantir orçamento para a implementação das medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e a devida fiscalização para verificar se elas estão funcionando, bem como a produção de dados estatísticos sobre o tema.


“Muitas vezes isso fica escrito em grandes documentos, em grandes propostas, mas os recursos orçamentários, a capacitação, o aumento e o fortalecimento das equipes acabam não se concretizando. Sugerimos que os dados sobre medidas protetivas possam ser mais completos. Que tipo de medida, qual o perfil da mulher que recebeu a medida, qual o perfil do agressor, qual a resposta que essa mulher recebeu do Poder Judiciário? Ou seja, são muitas questões que ainda precisam ser preenchidas.”


Transição federal

No Relatório do Gabinete de Transição Governamental, o grupo que tratou das políticas para as mulheres apontou a gravidade do problema.


“No primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde de feminicídios, registrando cerca de 700 casos no período. Em 2021, mais de 66 mil mulheres foram vítimas de estupro; mais de 230 mil brasileiras sofreram agressões físicas por violência domés­tica. Os dados são do mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Embora todas as mulheres estejam expostas a essas violências, fica evidente o racismo: as mulheres negras são 67% das vítimas de feminicídios e 89% das vítimas de violên­cia sexual.”


Os dados do feminicídio são do relatório Violência contra Meninas e Mulheres do 1º semestre de 2022, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que notificou 699 casos no período analisado. O documento foi lançado em dezembro. Nos anos anteriores, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, da mesma instituição, relata 1.229 feminicídios em 2018, 1.330 em 2019, 1.354 em 2020 e 1.341 em 2021. Os dados completos de 2022 ainda não foram divulgados.


O relatório da transição aponta o desmonte das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher como causa do agravamento da situação, como a paralisação do Disque 180, que teve apenas R$ 6 milhões no ano de 2023 destinados aos serviços de denúncia, acolhimento e orientação das mulheres vítimas de violência doméstica.


“No caso do programa Mulher Viver Sem Violência, os principais eixos que garantiam a capacidade de execução foram retirados da legislação, desobrigando o Estado de cumpri-los. O orçamento do programa foi desidratado em 90%, e a construção de Casas da Mulher Brasileira foi paralisada”.


A coordenadora da Cepia afirma que toda a rede de proteção foi desmontada nos últimos anos, apesar de o país contar com o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, envolvendo as três esferas de governo, lançado em 2007 e atualizado em 2011.


“O que a gente está vendo é que a rede de atendimento às mulheres, nos últimos anos, tem se enfraquecido cada vez mais. São centros de referência com instalações precárias, são equipes desfeitas, as delegacias, o atendimento na área da saúde, esses serviços públicos têm sido enfraquecidos e muitos desmobilizados no Brasil todo”.


De acordo com Basterd, é urgente uma mudança de mentalidade para tirar o país da barbárie imposta por pensamentos como o machismo, o racismo e a homofobia, bem como o aumento da cultura armamentista.


“Então, são políticas públicas de âmbito nacional, o desarmamento da população, a educação da população para padrões civilizatórios. Nós estamos vivendo padrões de barbárie, com discursos de ódio, uma intolerância imensa, e claro que tudo isso incentiva esses criminosos, esses feminicidas, a praticarem esses atos contra as mulheres. Não se trata apenas de punir agressores, de punir criminosos, se trata sim de reeducar a sociedade para padrões civilizatórios das relações entre os indivíduos”.

A Filosofia de Roger Bacon (1214 - 1292)

A Filosofia de Roger Bacon (1214 - 1292)

            A filosofia de Bacon é conhecida principalmente pelo destaque dado ao empirismo, teoria que defende que a experiência sensorial é o que produz em nós o conhecimento. Bacon usou também a matemática, que para ele era a suprema ciência, para entender a natureza.


            O método de conhecimento científico deve seguir a ordem de pesquisa iniciada pela observação da natureza, depois o observador deve levantar hipóteses para entender o fenômeno da natureza e por último deve buscar comprovar suas hipóteses através da experimentação. O processo observação, hipótese e experimentação não têm fim e é aplicado em cadeia de acontecimentos que se relacionam e criam o conhecimento científico. A verdade da ciência se baseia na repetição dos fenômenos observados e para que isso possa ser feito todo o processo tem que ser detalhadamente descrito. A verdade científica vai surgir através do trabalho de muitas pessoas e vai levar o tempo que esse trabalho demorar. Os erros anteriores serão eliminados pelas pesquisas posteriores e assim a ciência alcança seu progresso.


            Existem dois modos de alcançarmos o conhecimento: pela experiência e pelo argumento. O argumento nos dá conclusões e demonstrações racionais, mas são conclusões que não afastam a dúvida, pois não podem ser diretamente comprovadas. A comprovação das verdades somente pode ser feitas através da experiência, que tanto pode ser interna como externa. A experiência externa é a que conseguimos através do sensorial dos nossos sentidos, através dela alcançamos as verdades da natureza. A experiência interna depende diretamente da iluminação divina e através dela conseguimos alcançar as certezas sobrenaturais. As duas verdades levam o homem ao seu objetivo que é atingir a felicidade e a salvação.


            Existem sete níveis de experiência interna: 1  - Iluminação científica; 2 - Virtude; 3 - Dons do Espírito santo; 4 - Bem-aventuranças; 5 - Sentidos espirituais; 6 - Resultados espirituais como a paz de Deus; 7 - Êxtase divino.


            Em seus escritos Bacon reivindica uma reforma na teologia. Para ele a bíblia deve ser o centro das atenções dos estudos da teologia e as análises dos textos sagrados devem ser feitos preferencialmente na língua original em que foram escritos. Bacon condenou diversas interpretações dadas aos textos sagrados que para ele eram adulterações dos textos originais. O mesmo que acontecia com a bíblia acontecia com os textos dos filósofos gregos: continham diversos erros de tradução e de interpretação.


            Nos escritos de Bacon aparecem estudos de matemática, ótica e alquimia. Descreve o processo para fazer a pólvora, enumera o posicionamento dos astros celestes, afirma que a terra é redonda, antecipa invenções que ainda seriam feitas como o microscópio, o telescópio, os óculos, máquina a vapor e máquinas voadoras.


Sentenças:

- A matemática é que nos dá acesso às ciências.

- A experiência é a peça principal da ciência.

- Muitos mistérios da natureza e da arte são conhecidos somente pela magia.

- A verdade é filha do tempo.

- Saber é poder.

- A verdade só se mostra a quem a procura.


Roger Bacon

Responsável: Arildo Luiz Marconatto

Direitos resevados: https://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=53


quinta-feira, 16 de março de 2023

A nova geopolítica global e o Brasil


 RUBENS BARBOSA

Rubens Barbosa é presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e editor responsável desta revista. Foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington.


Direitos Autorais:https://interessenacional.com.br/author/rubens-barbosa/


A nova geopolítica global e o Brasil

O mundo atravessa um momento de grandes transformações na área política, econômica e social. A geopolítica e a geoeconomia foram se modificando na última década e vão passar, ainda, por uma série de ajustes, depois da saída dos EUA do Afeganistão.


Sem esgotar o assunto e de maneira sumária, cabe mencionar alguns dos aspectos do novo cenário internacional:


Lugar dos EUA no mundo

• Continuará como superpotência – saída do Afeganistão, fim de uma Era: envolvimento militar para mudança de regime e reconstrução nacional

• Crescente isolamento (razões de política doméstica: divisão)

• Foco político e militar passa do Oriente Médio para a Ásia

• Credibilidade afetada: aliados da Otan – Taiwan

• Coalisão contra a China (dificuldade para dividir o mundo – Alemanha, Cingapura)

• Principal foco estratégico: China – terrorismo doméstico

•América do Sul no médio prazo pode vir a ser a nova prioridade (recursos minerais e presença da China)


Lugar da China no mundo

• Superpotência tecnológica, comercial, militar – quer reconhecimento de seu status

• Ásia como polo dinâmico de crescimento econômico e comércio exterior (China é a principal parceira comercial da maioria dos países)

• Adversária dos EUA (na visão do establishment norte-americano – como evitar a confrontação militar?)

• Belt and Road Initiative – projeto para respaldar expansão global


Acirramento na competição global entre China e EUA pela hegemonia política no século XXI (novas bases, diferentes da Guerra Fria EUA-URSS)


Redesenho do mapa geopolítico da Ásia

• Efeito sobre o equilíbrio da região: passa dos EUA–Índia para China–Paquistão

• Possibilidade de hospedar organizações terroristas islâmicas – consumo e tráfico de drogas

• Sudeste da Ásia: foco estratégico dos EUA para conter a China: aliança estratégica Quod (EUA, Índia, Japão e Austrália) – Taiwan – Coreia do Sul e Japão


Avanços tecnológicos (espaço digitalizado mundial, velocidade de

absorção tecnológica)


• Internet – TV

• 5G e inteligência artificial


Meio ambiente e mudança climática como preocupação global

• Amazônia

• Consequências econômicas e comerciais

• New green deal (Europa) – taxa de carbono


Globalização (reordenamento produtivo, cadeias de produção, protecionismo, autonomia soberana, revolução energética, crise no multilateralismo)


Regionalização: espaço expandido econômico sem fronteira (fortalecimento das potências regionais e dos acordos regionais (Nafta, European Union, Ásia: China (RCIP), TPP (Japão), Mercosul, Ásia Central (Rússia), África-acordo comercial) – futuro papel da América do Sul (hoje na periferia)


Multipolaridade (países emergentes – G7 (países mais desenvolvidos) – PIB de US$ 42 trilhões; E7 (países emergentes), PIB de US$ 53 trilhões. Excluída a China, o PIB do E6 fica maior que o do G6 (países desenvolvidos)


Novas ameaças (terrorismo, drogas, ataques cibernéticos, guerra no espaço)


Desigualdade (acelerada pela pandemia, geopolítica da vacina, marginalização dos países mais pobres)


A eleição de Donald Trump e sua atitude de colocar os EUA em primeiro lugar e acelerar o grau de isolamento de Washington, a vitória de Biden, a pandemia e, mais recentemente, a desastrosa saída dos EUA do Afeganistão estão produzindo tensões e consequências em todas as áreas e afetando todos os países.

Na geopolítica e na geoeconomia que estão emergindo, algumas mudanças estão passando despercebidas, mas são forças significativas com relevante impacto sobre todos os países, o que gera incerteza e instabilidade.


Levando em conta esse cenário global, em particular no tocante às questões de meio ambiente e de mudança de clima, do deslocamento do eixo econômico-comercial para a Ásia, em especial para a China, do 5G e da inteligência artificial e da confrontação entre as duas superpotências – o que fazer, segundo a perspectiva do Brasil?


O Brasil, nos últimos dois anos, foi apanhado no contrapé por não se ter acompanhado essas mudanças, o que deveria ser corrigido com uma visão atualizada e dinâmica das transformações globais.


Lugar do Brasil no mundo

• Qual será o lugar do Brasil no mundo que está emergindo?

• Como as grandes transformações econômicas, comerciais, tecnológicas e geopolíticas e geoeconômicas poderão afetar o interesse nacional?

• Como o Brasil se posicionará no contexto hemisférico e regional?

• Como o Brasil deveria reagir com a ampliação da confrontação entre a China

e os EUA?

• Como o Brasil poderá contribuir para o fortalecimento da governança global?

• Como ficarão as políticas em relação às negociações em fóruns multilaterais, ONU (Brasil assume um lugar no CSNU), OMC, OMS?

• Como implementar os objetivos estratégicos e os interesses do Brasil, levando em conta o resguardo da soberania e o fortalecimento da democracia?


A área de influência do Brasil, como definido na Política Nacional de Defesa, abrange América do Sul, Antártica e o Oceano Atlântico até a costa ocidental da África. A referência à integração regional amplia o entorno geográfico por incluir a América Central e a América do Norte. Além disso, o novo status de aliado estratégico dos EUA, extra Otan, e o oferecimento de parceria global da Otan colocam novos desafios para a política externa e de defesa. As rápidas transformações tecnológicas exigem um esforço para estimular a Base Industrial de Defesa a pesquisar para complementar as aquisições externas. As três áreas ressaltadas na Estratégia Nacional de Defesa (cibernética, energia nuclear e espaço) deveriam merecer estímulos, como ocorre nos EUA e na Otan, para que a produção nacional supere as vulnerabilidades cada vez maiores de nossos materiais bélicos e responda aos novos desafios de inteligência artificial.


Nossos interesses diretos do ponto de vista da preservação da soberania incluem, entre outros, a mudança da percepção externa negativa sobre o País, a volta do protagonismo nas negociações sobre meio ambiente e mudança de clima, com uma nova política em relação à proteção da Amazônia, a definição de uma política proativa para a América do Sul, pelo aperfeiçoamento da inteligência e da promoção no comércio exterior, pela parceria comercial ampliada com a Ásia (Asean e RCIP), reativação da participação do Brasil nos organismos multilaterais (políticos e econômico-comerciais) e posição equidistante no confronto EUA–China, definindo em cada caso o interesse nacional acima de considerações ideológicas ou geopolíticas. Dentro desse quadro, quais os desafios para o Brasil?


Desafios internos e externos para o Brasil

Os desafios internos são representados pela perda da competitividade da economia pela produtividade das empresas, pela aprovação das reformas estruturais (tributárias e administrativa) e pela abertura da economia (melhora do ambiente de negócios e privatizações), por um governo enfraquecido e por uma economia que começou a se recuperar, mas que deverá desacelerar em 2022, com mais de 14 milhões de desempregados. O déficit fiscal em crescimento imporá medidas de contenção e de redução dos gastos públicos. O custo do Estado – alta carga tributária, custo do financiamento, logística deficiente e burocracia – acarretou forte perda de competitividade da economia e produtividade da empresa nacional, tornando inadiável uma agenda ampla, mas gradual, de abertura da economia. Com o setor do agronegócio em expansão, a reindustrialização passa a ser uma das prioridades para o crescimento e o emprego. Em ambiente global de baixo crescimento, são urgentes as medidas para restabelecer a confiança dos empresários nacionais e estrangeiros no Brasil, dar segurança jurídica aos investimentos e criar as condições para que o Brasil volte a crescer de 4% a 5% ao ano de forma sustentável. A estabilidade econômica passa também pela consolidação das instituições e a manutenção da ordem democrática com ações moderadas do governo e da oposição.


Os desafios externos não são menos impactantes do que os internos. Profundas e rápidas transformações políticas, econômicas, estratégicas e tecnológicas geram instabilidade e incertezas. O cenário é de insegurança, agravado pela ameaça de confrontação comercial e tecnológica entre os EUA e a China e pela desaceleração da economia global em 2022.


O Brasil está fora dos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior e isolado nas negociações de acordos de comércio. Está atrasado em inovação tecnológica, perdeu poder e influência e registrou um crescimento inferior ao da maioria dos países. Deixando de ser uma das dez maiores economias do mundo, o Brasil terá de recuperar seu lugar no cenário internacional. O desafio é o de promover uma crescente integração do Brasil no comércio internacional, tanto no âmbito comercial, quanto no de serviços e atrair investimentos estrangeiros diretos. O Brasil precisa abrir-se mais para o mundo como parte da estratégia de maior protagonismo do País no cenário global, inclusive para estimular sua autonomia soberana no tocante às cadeias de produção globais.


Os princípios básicos da política externa estão consagrados no artigo 4 da Constituição. Sendo o Itamaraty uma Instituição de Estado, suas ações devem estar acima de interesses partidários e ideológicos.


Para enfrentar o desafio das rápidas mudanças no cenário global, os formuladores de políticas governamentais terão de definir o que o Brasil quer da relação com os EUA (sem alinhamentos automáticos), com a China, com a Ásia, com a Europa e com seu entorno geográfico com objetivos estratégicos claros.


Governo e setor privado terão de enfrentar o desafio de assumir uma atitude proativa no tocante à integração regional. Não poderá ser ignorada a nova geopolítica nas Américas: os governos de esquerda no México e de direita no Brasil, o novo governo em Cuba, a situação deteriorada na Venezuela e na Nicarágua – a trinca da tirania trumpista –, a crise econômica na Argentina, o novo governo no Peru, a continuada baixa prioridade do governo dos EUA na região, enquanto aumenta a presença da China e da Rússia, criando condições para um realinhamento das forças política e econômicas. O relacionamento com a Venezuela deveria merecer atenção especial, já que interessa ao Brasil contribuir para uma solução política para a crise interna e para o acolhimento, a proteção e a assistência aos refugiados e migrantes venezuelanos. 


Uma nova estratégia de negociações comerciais bilaterais (acordos na região e fora dela), regionais (Mercosul e Área de Livre Comércio) e multi e plurilaterais (Organização Mundial de Comércio) deverá ser definida para pôr fim ao isolamento do Brasil, com ênfase na abertura de novos mercados e na integração do Brasil às cadeias produtivas globais, ao aumento dos fluxos do comércio exterior e do investimento externo.


Em relação ao Mercosul, depois de 30 anos não se poderá adiar uma avaliação de seu funcionamento e decidir se as negociações com terceiros países continuarão a ser com uma única voz ou se os entendimentos serão bilaterais, além de decidir o que fazer com a Tarifa Externa Comum. A ratificação dos acordos do Mercosul com a União Europeia e com a EFTA dificilmente será concluída antes de 2023 pelas dificuldades geradas pelas políticas de meio ambiente na Amazônia. Os entendimentos com a Asean (em especial com Cingapura, Indonésia e Vietnã), Japão, Canadá e Coreia do Sul, além do Líbano, deveriam ser acelerados e contatos com os países africanos para entendimentos, visando à negociação de acordo comercial com o Mercosul, deveriam ser iniciados. O Itamaraty não pode ter suas atribuições reduzidas na promoção comercial (Apex) e na negociação externa para outras áreas.


A realidade recomenda que o Brasil continue a participar plenamente nas organizações multilaterais, em particular ONU, OMC e OMS. O papel da chancelaria será relevante para o ingresso do Brasil na OCDE, além de buscar ampliar nossa participação nos Brics, no G-20, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e no acordo Índia, Brasil e África do Sul. Não sendo uma potência militar, o Brasil tem de se afirmar pelo soft power.


O tema ambiental e do desenvolvimento sustentável, como ativos externos do Brasil, mas também com preocupação pelo foco na Amazônia e nos seus ilícitos (desmatamento, garimpagem e incêndios), deveriam passar a se constituir no foco e na prioridade central da política externa com atuação protagonista, visando ao cumprimento das metas assumidas por nós mesmos no Acordo de Paris e em compromissos similares, com os ajustes necessários nas políticas internas para resguardo da soberania.


Não se pode esperar mais do que está sendo feito no atual governo, mas o debate sobre o papel do Brasil no mundo a partir de janeiro de 2023 não poderá ser adiado. O impacto das decisões externas sobre o Brasil não pode ser ignorado. O Brasil não é uma ilha. As decisões de política econômica e de política externa de outros países têm efeitos imediatos sobre o País, como se verifica nas medidas tomadas pelo governo Biden, nas decisões sobre política ambiental na Europa e nos EUA (inclusive a taxa de carbono) e a geopolítica das vacinas.


A nova gestão à frente do MRE começa a fazer planejamento de médio e longo prazos no tocante à presença do Brasil no exterior. Uma das primeiras medidas foi pedir formalmente a adesão do Brasil à Associação das Nações do Sudeste da Ásia (Parceria de Diálogo Setorial), dentro de uma nova e importante parceria com uma área de grande interesse para o agronegócio. A nova atitude e atuação do Itamaraty é bem-vinda porque ajuda a discussão sobre a reconstrução da atuação externa do Brasil e sobre como enfrentar os desafios do novo cenário internacional.


Para voltar a desempenhar o papel de relevo que sempre teve, o Itamaraty terá de adequar a política externa aos novos desafios internos e externos com dinamismo e inovação. Ao renovar-se e atualizar-se, atendendo às demandas dos novos tempos, terá de evitar formalismos, posturas defensivas e tendências burocráticas e ideológicas, que estão acarretando a perda de influência do Brasil na região e seu isolamento em um mundo em crescente transformação.


Será muito importante a discussão, na campanha para a eleição presidencial, sobre o lugar do Brasil no mundo a partir de 1º de janeiro de 2023, com visão de médio e longo prazos.


Conclusão

Definição de objetivos mínimos:

Brasil voltar a ser uma das dez maiores economias do mundo (hoje é a 13ª);

Fazer política da sua geografia e definir uma ação proativa na América do Sul;

Prioridade para inovação e tecnologia (5G e inteligência artificial);

Meta de crescimento sustentável (4% a 5%);

Reindustrialização com modernização e uma política de autonomia soberana em setores sensíveis (Saúde). 