quarta-feira, 2 de maio de 2018

Trótski Exílio e morte

Trótski  Exílio e morte

Trótski e a sua filha Nina (França).
Após a deportação, Trótski passou pela Turquia, França (julho de 1933 a junho de 1935) e Noruega (junho de 1935 a setembro de 1936), fixando-se finalmente no México, a convite do pintor Diego Rivera, vivendo temporariamente em casa deste e mais tarde em casa da esposa de Rivera, a pintora Frida Kahlo. A medida que aumenta a repressão stalinista, multiplicam-se os lutos familiares. Além da morte dos seus quatro filhos, os genros, noras, netos, e outros parentes próximos de Trótski são igualmente vítimas da repressão por sua ligação com um "inimigo do povo" e desaparecem nos sucessivos expurgos da década de 1930, com exceção do único filho que Zina pôde levar consigo ao exterior, e que acabou por reunir-se ao avô no México, após complicadas negociações com a mulher francesa de Leon Sedov - que havia se responsabilizado pelo sobrinho até a sua própria morte num hospital parisiense.

No seu crescente isolamento pessoal e político, Trótski, a partir desta altura, aumenta consideravelmente a sua produção escrita, escrevendo importantes obras como sua autobiografia, Minha Vida (1930), a História da Revolução Russa (em 2 vols., 1930 e 1932), A Revolução Permanente (1930) e A Revolução Traída (1936), uma crítica violenta ao Estalinismo. Apoiando-se sobre um panfleto de Rakovski, Os Perigos profissionais do poder, Trótski considerava em A Revolução Traída que a União Soviética se tornara num Estado de trabalhadores degenerado, controlado por uma burocracia não-democrática - derivada, no entanto, da própria classe operária (em um processo descrito como Degenerescência Burocrática) e que teria eventualmente de ser derrubada por uma 2ª revolução política que restaurasse o caráter democrático da revolução socialista, ou, então, degenerar ao ponto de regressar ao capitalismo.[21]

Trótski rejeitou as teses ultraesquerdistas de certos opositores bolcheviques do estalinismo (notadamente os "Centralistas Democráticos" liderados por Sapronov), que consideravam que o stalinismo era uma restauração do capitalismo, algo similar à restauração da monarquia francesa pelos Bourbons em 1815. Através desta mesma analogia com a Revolução Francesa, Trótski considerou que o regime de Stalin era um Termidor soviético, no sentido de que, assim como o 9 Termidor francês havia derrubado o radicalismo pequeno-burguês de Robespierre, Saint-Just e dos jacobinos, mas preservado o caráter burguês da sociedade francesa, do mesmo modo o estalinismo havia eliminado todos os elementos internacionalistas e de democracia proletária do regime soviético, mas não havia, de momento, abolido o caráter socialista da economia e das relações sociais na Rússia. Considerando a URSS estalinista, assim, como presa num estágio de transição entre o capitalismo e o socialismo, e não considerando que ela houvesse se convertido num capitalismo de Estado, Trótski opôs-se, no início da Segunda Guerra Mundial, àqueles entre seus seguidores - especialmente fortes no partido trotskista americano, o Socialist Workers' Party (SWP), mas também figuras isoladas como o brasileiro Mário Pedrosa - que propunham retirar apoio à URSS em caso de ataque externo. Para Trótski, a defesa das aquisições da Revolução de Outubro exigia o respeito mais estrito à consigna de "defesa incondicional da União Soviética". Muito embora opusesse-se ao Pacto Molotov-Ribbentrop, que considerava desmoralizante para o movimento operário, orientou seus partidários para que apoiassem a expropriação dos latifúndios e das fábricas realizadas por Stalin no leste da Polônia e nos Países Bálticos quando da sua incorporação forçada na URSS.


Trotski no México, entre admiradores norte-americanos (1940)
A 3 de setembro de 1938, numa reunião com 25 delegados de 11 países, Trótski e seus seguidores fundam a Quarta Internacional, como alternativa à Terceira Internacional estalinista. Trótski tinha entrado entretanto em conflito com Diego Rivera - numa disputa que tinha tanto a ver com as pretensões políticas de Rivera no movimento trotskista, que Trótski desfavorecia, quanto com a breve ligação amorosa de Trótski com Frida Kahlo - e mudara-se em 1939 para uma casa própria no bairro de Coyoacán, na Cidade do México. A 24 de maio de 1940 sobrevive a um ataque à sua casa por assassinos alegadamente a mando de Stalin. Não sobreviverá, no entanto, ao segundo ataque de Stalin: em 20 de agosto de 1940, o agente Ramón Mercader consegue, sob disfarce, entrar pacificamente na sua sala para um encontro e, aproveitando um momento de distração, aplica com uma picareta um golpe fatal no seu crânio. Ao ouvir o ruído, os guarda-costas de Trótski precipitam-se para a sala e quase matam Mercader, mas Trótski detém-nos, exclamando:

Não o matem! Esse homem tem uma história para contar!.
Nas últimas horas da sua vida, o revolucionário manteve-se determinado e ditou tanto o seu testamento como artigos sobre estratégia política, num momento em que a humanidade vivia um dos mais mortíferos conflitos mundiais. Entre as frases ditadas, proferiu: “Morro com a certeza inabalável no futuro comunista da humanidade. Essa certeza dá-me hoje uma força que religião alguma me poderia dar.”

Faleceu no dia seguinte.

Pousei o casaco impermeável na mesa de forma a poder tirar a picareta que estava no bolso. Decidi não perder a grande oportunidade que surgiu. No momento em que Trótski começou a ler o artigo, deu-me a minha oportunidade; tirei a picareta do casaco, segurei-a firme na mão e, de olhos fechados, dei-lhe um golpe terrível na cabeça.

Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.
O líder a URSS desejava ocultar fatos de seu passado, como suas ações de agente provocador a serviço a polícia secreta tsarista (a Okhrana).[22] Neste período, Trótski escrevia uma biografia não autorizada sobre Stálin e este seria um dos motivos do crime.[22]

A casa de Trótski em Coyocán, preservada no mesmo estado em que se encontrava naquele dia, é hoje um museu, em cujos terrenos se encontra ainda o cenotáfio de Trótski, com a foice e martelo talhados sobre seu nome.

Trótski nunca foi formalmente reabilitado pelo governo soviético, seja durante a "desestalinização" de Khrushchov, seja durante a "Glasnost" de Mikhail Gorbatchov, apesar da reabilitação, durante estes dois episódios, da maioria da velha guarda bolchevique morta durante os grandes expurgos de Stalin. Dos descendentes de Trótski, o único que pôde preservar sua conexão com a família seria o seu neto, o engenheiro Esteban Volkov, filho de Zina, que seria criado por Natalia Sedova no México e muito faria pela preservação da memória do avô pela manutenção da sua casa de Coyoacán como um museu privado, depois apropriado pelo governo mexicano. Na década de 1990, Volkov viajaria à Rússia para encontrar-se, após sessenta anos de separação, com uma irmã recém-localizada, doente terminal de câncer, com a qual teve de conversar através de um intérprete, para explicar-lhe que a decisão de deixá-la na URSS havia sido imposta à sua mãe por Stalin.

A morte de Trótski na imprensa
Um dos secretários de Trótski, Joseph Hansen, entregou à imprensa um relato sobre o assassinato do líder comunista:

Trótski conhecia pessoalmente seu assassino, Frank Jackson (na verdade, Ramón Mercarder), há mais de seis meses, e tinha confiança nele devido às suas relações com o movimento trotskista na França e nos Estados Unidos. Ele nos visitava com freqüência e em momento algum tivemos motivos para desconfiar que ele fosse agente da GPU.
Segundo Hansen, Jackson chegou à casa de Trótski às 5h30 da tarde do dia 20 de agosto, dizendo-lhe que havia escrito um artigo, sobre o qual gostaria de sua opinião. Trótski concordou e ambos se encaminharam para a sala de jantar, onde estava a sra. Trótski. "Alegando estar com a garganta seca, Jackson pediu um copo de água. A sra. Trótski ofereceu-lhe chá. Ele agradeceu mas preferiu a água. Então, Trótski convidou-o a passarem para o seu escritório".

O primeiro indício de que algo de anormal acontecera foi o som de gritos lancinantes e de uma luta violenta. A princípio os secretários e guarda-costas julgaram que havia acontecido algum acidente, mas, ao ingressarem no escritório, encontraram Trótski com o rosto banhado em sangue. Um dos guarda-costas correu para socorrê-lo, enquanto o outro atracava-se com o assassino, que empunhava um revólver. "Provavelmente o assassino atacou-o por trás, utilizando uma picareta cuja ponta penetrou-lhe o cérebro. Mas em vez de cair inconsciente, como o assassino planejara, Trótski agarrou-se a ele".

Enquanto jazia, sangrando, no chão, Trótski disse a Hansen: "Jackson baleou-me com um revólver. Acho que, dessa vez, é o fim". Hansen tentou animá-lo, dizendo que o ferimento era superficial e que não podia ter sido causado por um tiro, já que ninguém tinha ouvido o estampido. "Não, sinto aqui que desta vez eles conseguiram" - disse Trótski, apontando para o coração. Trótski lutou pela vida por mais de 24 horas, vindo a falecer às 7h25 da noite de 21 de agosto.[23]

Biografias
Trótski encontrou, na década de 1950, um grande biógrafo na pessoa do marxista polonês radicado na Inglaterra Isaac Deutscher, que escreveu a monumental biografia em três volumes: O Profeta Armado - Trótski 1879-1921, O Profeta Desarmado - Trótski 1921-1929 e O Profeta Banido - Trótski 1929-1940, a qual encontra-se atualmente disponível no original em publicação da Verso Editions, e em português numa tradução da Editora Civilização Brasileira, republicada recentemente pela Editora Record.

Trata-se de uma biografia polêmica, onde Deutscher questiona frequentemente as posições de Trótski, o que a torna mais dinâmica que outra biografia também monumental e mais documentada e posterior do trotskista francês Pierre Broué, Trotsky (Paris, Fayard, 1988) não possui, por este defender diretamente as ideias de Trótski.


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