quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Moody's tira selo de bom pagador do Brasil e sinaliza novo rebaixamento

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
 Marca da Moody's em prédio de Nova York. 02/08/2011  REUTERS/Mike Segar

Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) - A Moody's retirou o selo de bom pagador internacional do Brasil ao rebaixar o rating do país em dois degraus nesta quarta-feira e indicou que novos cortes podem vir ao mudar a perspectiva da nota para negativa, citando o ambiente econômico e político desfavorável do país.

A agência de classificação de risco rebaixou a nota de crédito do país a "Ba2", ante "Baa3". A Standard & Poor's e a Fitch já haviam retirado o grau de investimento do Brasil no ano passado, sendo que a S&P voltou a cortar o rating na semana passada, afastando o país ainda mais do selo de bom pagador.

"Os acontecimentos macroeconômicos e fiscais nos próximos anos devem produzir um perfil de crédito significativamente mais fraco. A dinâmica do crescimento vai permanecer fraca nos próximos anos aumentando a pressão sobre a política fiscal", informou a Moody's em comunicado.

A agência, que havia colocado em dezembro a nota do Brasil em revisão para rebaixamento, citou ainda que a dívida do Brasil deve exceder 80 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos três anos.

Ela explicou que entre os motivos do rebaixamento está a "desafiadora dinâmica política, que continua dificultando os esforços de consolidação fiscal das autoridades e adiando reformas estruturais".

A decisão da Moody's já era amplamente esperada pelos agentes econômicos, que reagiram de forma contida. O dólar avançava menos de 1 por cento, influenciado também pelo cenário externo negativo, ao redor de 4 reais. Já os juros futuros abriram em alta, mas o movimento perdeu força.

"(No final do ano passado) confirmou-se a piora da situação fiscal e, desde então, a expectativa era de que as agências rebaixassem a nota. A Moody's estava atrasada e por isso cortou em dois degraus, agora fica alinhada com as outras", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves.

Ainda assim, é um forte golpe contra o governo da presidente Dilma Rousseff, alvo de crescente pressão de aliados para relaxar seus esforços fiscais e estimular o crescimento econômico, além do processo de impeachment.   Eventual aumento de risco de impedimento de Dilma também pode pesar no cenário brasileiro para a Moody's.

"No ano passado houve muitas conversas sobre impeachment que ganharam ímpeto e, então, perderam, e que podem ganhar força de novo. Ninguém sabe. Isto é incerteza e para nós a incerteza não é positiva e essa incerteza está refletida na perspectiva (negativa)", afirmou à Reuters a analista da Moody's para Brasil, Samar Maziad.

Nesta semana, surgiram avaliações de que o risco de impedimento da presidente aumentou após a prisão do marqueteiro das duas campanhas presidenciais de Dilma, João Santana.

Ele foi preso como parte da 23ª fase da Lava Jato, deflagrada na segunda-feira, por suspeita de ter recebido pagamentos milionários ilegais no exterior vindos do esquema de corrupção na Petrobras por serviços prestados para campanhas eleitorais do PT no Brasil.

ESPIRAL

O Brasil segue enfrentando dificuldades para equilibrar as contas públicas em meio à forte recessão econômica, e anunciou na semana passada propostas que abrem caminho para novo déficit primário em 2016 e corte do Orçamento, além de um mecanismo que tenta limitar os gastos públicos.

"O ponto é que estamos nessa sequência de rebaixamentos. Isso significa que a gente precisa de uma política econômica firme para interromper essa espiral. Não estamos conseguindo ter resposta à altura", destacou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

A Moody's destacou ainda que no período entre 2016 e 2018 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro terá contração média de 0,5 por cento, e que os pagamentos de juros irão consumir mais de 20 por cento das receitas do governo.  A economia brasileira provavelmente contraiu quase 4 por cento no ano passado e deve encolher mais de 3 por cento neste ano.

O Ministério da Fazenda reiterou em nota que a decisão da Moody's não altera o comprometimento com o ajuste fiscal necessário para a estabilização da dívida pública e na perspectiva de recuperação da economia no médio prazo.

"(As) iniciativas (tomadas pelo governo) favorecerão a reversão das incertezas quanto à trajetória fiscal e a retomada da confiança dos agentes, condição importante para a retomada dos investimentos", informou o ministério em nota.

A Moody's alertou, entretanto, que elevação do rating brasileiro é "bastante improvável" no curto prazo devido à perspectiva negativa, mas que pode haver pressão positiva se o governo conseguir lidar com os desequilíbrios estruturais que levaram à deterioração fiscal e ao aumento da dívida soberana.

(Reportagem adicional de Flavia Bohone em São Paulo e de Alonso Soto em Brasília)

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