sexta-feira, 23 de agosto de 2013

BC lança plano de intervenção diária no câmbio até dezembro de U$60 bi



BC lança plano de intervenção diária no câmbio até dezembro de U$60 bi


SÃO PAULO/BRASÍLIA, 22 Ago (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quinta-feira intervir diariamente no mercado de câmbio, com a injeção potencial de 60 bilhões de dólares no mercado até o fim do ano, em meio à disparada da cotação da moeda norte-americana, na maior intervenção deste tipo desde o auge da crise internacional em 2008.
O objetivo, segundo o BC, é "prover hedge cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio". A alta do dólar, que chega a 21,51 por cento desde maio, tem causado preocupação em relação à inflação e ao endividamento das empresas brasileiras.
De acordo com a autoridade monetária, de segunda a quinta-feiras, até o fim do ano, serão ofertados 500 milhões de dólares em leilões diários de swap cambial tradicional --equivalente a venda futura de dólares.
Já às sextas-feiras serão realizados leilões de linha -- venda de dólar no mercado à vista com compromisso de recompra-- de até 1 bilhão de dólares.
"Isso mostra a firme determinação da autoridade monetária a não deixar que esse câmbio saia do lugar", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Nesta semana, a moeda norte-americana chegou a romper o patamar de 2,45 reais, o maior patamar desde 9 dezembro de 2008.
O BC informou ainda que, caso seja necessário, serão aportados mais recursos além do inicialmente previsto nessas operações. De janeiro até agora, as intervenções do BC já somam 45 bilhões de dólares, segundo informação atualizada da assessoria do BC.

"Se julgar apropriado, o Banco Central do Brasil realizará operações adicionais", informou o BC em nota.

A medida foi bem recebida por economistas do mercado financeiro, que destacaram que o programa reduzirá a volatilidade no mercado, mas sustentaram que o viés do dólar é de alta em relação ao real.
O dólar tem subido em relação ao real por conta da expectativa de que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, irá diminuir em breve seu programa de compras mensais de 85 bilhões de dólares em títulos, que tem garantido alta liquidez internacionalmente.
Apesar de não ser a única moeda a sofrer, o real tem se desvalorizado mais do que moedas de outros países com perfil semelhante ao brasileiro, por conta das preocupações com a política econômica.
A alta do dólar tem causado apreensão em relação aos efeitos na inflação, em um momento em que a Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses flerta com o teto da banda de tolerância da meta de inflação do governo. A meta é de 4,5 por cento ao ano, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Por conta da elevação dos preços no mercado interno, o BC iniciou em abril um novo ciclo de aperto monetário, elevando a taxa básica de juros de 7,25 por cento na ocasião para 8,5 por cento. Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) irá se reunir novamente, e a expectativa é que os juros subam para 9 por cento ao ano.
A alta do dólar tem levado os agentes econômicos a elevar suas estimativas para a taxa Selic no fim do ano.
Para o economista-chefe do INVX Global, Eduardo Velho, o plano de intervenção no mercado de câmbio anunciado nesta quinta-feira mostra que o BC não quer utilizar a política monetária, elevando a taxa básica de juros, para conter a valorização do dólar no Brasil.
"O BC sinaliza com essa ação que ele não vai dar um choque monetário. Ele vai usar a política cambial para cobrir essa demanda", disse Velho.
O BC já vinha atuando seguidamente no mercado de câmbio, principalmente com a oferta de swap cambial, para tentar conter a volatilidade da moeda. Nas últimas 16 sessões, o BC interveio em nove.
Mas desde outubro de 2008, o BC não adotava um programa de intervenção cambial sistemático e tão grande. Na ocasião, auge da crise internacional, o BC fez um programa de injeção de 50 bilhões de dólares no mercado.
(Reportagem de Tiago Pariz e de Bruno Federowski, em São Paulo, e Luciana Otoni, em Brasília)

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