Manifestação contra Jair Bolsonaro fecha Avenida Paulista, em SP, neste sábado


 Manifestação contra Jair Bolsonaro fecha Avenida Paulista, em SP, neste sábado

Esta é a quinta vez no ano em que há um dia de protestos pelo país contra o governo Bolsonaro. Além da capital, foram registrados atos em pelo menos 120 cidades de todos estados. Protesto na capital paulista foi pacífico, mas grupo entrou em confronto com policiais na dispersão.

Por G1 SP e TV Globo — São Paulo


24/07/2021 


Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, na tarde deste sábado (24), na Avenida Paulista em São Paulo (SP) — Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO


Manifestantes realizaram neste sábado (24) um ato contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo.


O protesto ocorreu de maneira pacífica, mas houve confusão na Rua da Consolação, onde um grupo depredou agências bancárias, e a polícia utilizou bombas de efeito moral (leia mais abaixo).


No geral, os manifestantes pediram a saída de Bolsonaro e de seu vice, General Mourão, e a intensificação da campanha de vacinação contra o coronavírus.


A concentração começou por volta das 14 horas deste sábado, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). A via foi completamente fechada para o trânsito de veículos por volta das 15 horas. Todos os 15 quarteirões da Avenida Paulista foram fechados para carros, e manifestantes se espalharam em vários pontos da avenida.


Manifestantes fazem atos contra Bolsonaro e a favor da vacina

Além do quarteirão do Masp, outros pontos de maior concentração de manifestantes ocorreram na altura do prédio da Fiesp e em frente ao Conjunto Nacional.



Por volta das 17h, o ato começou a se movimentar em direção à Rua da Consolação. A partir das 18h a CET liberou a circulação na Avenida Paulista.


Além de cartazes críticos ao presidente, o protesto teve ainda diversas bandeiras do Brasil e placas em defesa da Amazônia e contra a privatização dos correios.


A maior parte dos presentes manteve o distanciamento social, mas alguns trechos tiveram maior concentração de manifestantes. A maioria usava máscara como medida de proteção contra o coronavírus.


Os manifestantes levaram cartazes com dizeres como "Vamos celebrar a vida: viva a vacina e #ForaBolsonaro", "Amazônia em pé, abaixo Bolsonaro", "Correios ficam, Bolsonaro sai".


O ato também teve grandes faixas com as cores vermelha e preta com os dizeres “Fora Bolsonaro”, além de uma longa bandeira verde e amarela. Carros de som se posicionaram ao longo da Paulista, sendo o principal em frente ao Masp.

Segundo a SPTrans, 44 linhas de ônibus que passam pela Avenida Paulista tiveram seus itinerários alterados por conta da manifestação. As linhas que seguem sentido Consolação foram desviadas para a Rua São Carlos do Pinhal. Já no sentido Paraíso o desvio é pela Alameda Santos.


Organização e discursos


A “Campanha Fora Bolsonaro” é uma inciativa da Frente Povo Sem Medo, da Frente Brasil Popular, de todos os partidos de esquerda, das centrais sindicais, do movimento negro, de entidades de estudantes, movimentos sem-teto, lideranças indígenas, ONGs e outros movimentos populares, todos eles signatários do 'superpedido' de impeachment.


No ato também compareceram representantes do PT, PSDB, PDT, PcdoB, PSTU, PSOL, PCB e PCO.


Políticos de diversos partidos estiveram no protesto. O vereador Eduardo Suplicy (PT) declarou que quer fazer parte do movimento contra Bolsonaro nas eleições de 2022.


"Acabei de estar com o Boulos e com o Haddad e queremos estar junto com vocês no ano que vem. Tanto no estado quanto no governo federal estaremos unidos no Fora Bolsonaro", declarou.


Já o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL) afirmou que, entre as pautas que o ato levantou, está a defesa do auxílio emergencial.


"Nós estamos defendendo também a vacinação já para todo o povo brasileiro, renda emergencial de no mínimo R$ 600, isso é fundamental. Essas são as principais reivindicações, junto com a defesa da democracia", disse.

Em um carro de som em frente ao Masp, políticos como Orlando Silva (PC do B), Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT) discursaram à multidão.



Em seu pronunciamento, Haddad declarou que a população vai protestar nas ruas até a saída do presidente e que, com o avanço da vacinação, os jovens devem participar cada vez mais dos atos.


"Hoje nós temos 8 milhões de universitários neste país, de todas as cores e todas as orientações. O Brasil tá representado e temos uma massa crítica que não vai abrir mão da democracia e de seus direitos sociais, civis, políticos, e da sua liberdade", disse Haddad.


"O Bolsonaro não perde por esperar", completou.


Já o político Guilherme Boulos falou sobre a possibilidade de não haver eleições em 2022, citada por integrantes do governo Bolsonaro em meio à discussão sobre a urna eletrônica.


"Vou dizer uma coisa aqui para o presidente Bolsonaro: vai ter eleição em 2022. E mais do que isso: nós vamos trabalhar para que, antes da eleição, tenha impeachment. Nós vamos trabalhar para que, em 2022, Bolsonaro não esteja na urna", disse Boulos.

Em ato contra o presidente Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos (PSOL) discursa em carro de som na Avenida Paulista neste sábado (24) — Foto: Marina Pinhoni/G1

Em ato contra o presidente Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos (PSOL) discursa em carro de som na Avenida Paulista neste sábado (24) — Foto: Marina Pinhoni/G1


Frente ampla

Além do carro de som principal, localizado na frente do Masp, outros veículos espalhados pela Avenida Paulista reuniram manifestantes para acompanhar discursos de lideranças políticas.


Na altura do Conjunto Nacional, um carro de som teve representantes de PC do B, PSDB e Rede Sustentabilidade, além de lideranças da UNE.


No microfone, uma liderança do PSDB discursou citando a chamada frente ampla de partidos contra o presidente Jair Bolsonaro.


"Ô Bolsonaro, seu fascistinha, a Frente Ampla vai colocar você na linha", disse.


A representante do PSDB declarou ainda que gostaria de convocar todos as religiões para os atos, com destaque para os evangélicos.


Em outro ponto da Avenida Paulista, um pequeno grupo de evangélicos protestou contra o governo Bolsonaro, citando um versículo da Bíblia que diz "ele veio para matar, roubar e destruir".

Confusão no fim do ato

Tumulto é registrado no fim do ato contra Bolsonaro em São Paulo


Por volta das 18 horas, quando o ato chegava ao final, um grupo depredou e incendiou uma agência bancária na Rua da Consolação. O grupo quebrou as vidraças de uma agência do Banco Itaú na altura do Cemitério da Consolação.


A polícia reprimiu, usando cassetes e bombas de efeito moral, e houve confusão no local. Pelo menos duas pessoas foram detidas.


Segundo a polícia, um grupo tentou retirar tapumes que protegiam as vidraças de uma concessionária de veículos na Rua da Consolação. Outros jogaram pedras contra os policiais, que se protegeram usando escudos.


Houve correria, e alguns manifestantes se abrigaram no Posto de Bombeiros da Consolação para fugir do gás.


Em nota, a Polícia Militar disse que foram mobilizados cerca de 800 policiais, com apoio de 119 viaturas e quatro drones.


Seis pessoas portando objetos como soco inglês e fogos de artifício foram detidas e encaminhadas ao 78º DP.


Ainda segundo a polícia, durante a passagem dos manifestantes pela rua da Consolação foram registradas "depredações em uma agência bancária, em um ponto de ônibus, além do lançamento de objetos contra a tropa". Não houve registro de feridos.


A estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 4-Amarela, ficou fechada das 18h31 e 18h40, por conta da confusão no local, segundo a concessionária ViaQuatro.


Atos pelo país

Os protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e em defesa da vacinação contra Covid-19 ocorreram em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal neste sábado.


Na Grande São Paulo, além da manifestação na Avenida Paulista, houve registro de ato em São Bernardo do Campo, Mairiporã, Suzano e Itaquaquecetuba.


As manifestações na Grande São Paulo foram pacíficas e a maior parte dos manifestantes usou máscara e manteve o distanciamento social devido à pandemia.


Histórico de protestos

Esta é a quinta vez no ano em que há um dia de protestos pelo país contra o governo Bolsonaro.


Em 23 de janeiro, diversas cidades tiveram carreatas a favor da vacinação e contra o presidente.


Em 29 de maio, todos os estados e o Distrito Federal registram manifestações contra governo Bolsonaro.


No dia 19 de junho, dia em que o Brasil bateu a triste marca de 500 mil mortos por Covid-19, protestos ocorreram em Brasília e mais 25 capitais.


Já no último dia 3 de julho, foram verificados atos em ao menos 120 cidades brasileiras e em dezenas de capitais europeias. No geral, os manifestantes pediam mais vacina, o impeachment de Bolsonaro e volta do auxílio emergencial de R$ 600.


quarta-feira, 21 de julho de 2021

As revelações sobre Nero que desafiam fama de imperador tirano e cruel


 As revelações sobre Nero que desafiam fama de imperador tirano e cruel

Fernanda Paúl

BBC News Mundo


Nero foi o quinto imperador romano — ele assumiu o poder aos 16 anos e governou por quase 14 anos


Tirano, cruel e assassino.


Estas são algumas das características que os historiadores atribuíram a Nero — o imperador de Roma a partir do ano 54 d.C. — por quase dois mil anos.


Segundo vários cronistas, o jovem líder romano mandou assassinar a mãe, Agripina, a Jovem, e suas duas esposas: Cláudia Otávia e Popeia Sabina.


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Além disso, ele foi acusado de iniciar o Grande Incêndio de Roma, que devastou grande parte da cidade por nove dias; é lembrado como um ferrenho perseguidor dos cristãos; e seu nome passou a ser sinônimo de degeneração por suas supostas aventuras sexuais, extravagâncias e excessos.

Também dizem que ele era arbitrário, petulante e buscava constantemente atenção.

No entanto, tudo isso pode ser um exagero ou, simplesmente, invenção. Estudos recentes sugerem que Nero, na realidade, não era tão ruim quanto se acreditava.

Esse lado muito menos conhecido do imperador é revelado em uma nova exposição no British Museum, em Londres, chamada Nero, the man behind the myth ("Nero, o homem por trás do mito", em tradução literal), que desafia sua reputação grotesca.


Coliseu

Em seu apogeu, o Império Romano se estendia da Península Ibérica até o norte da África e a Mesopotâmia


"Ele teve o azar de ser o último imperador da dinastia romana júlio-claudiana. Então, quando ele morreu, houve um período de guerra civil e caos, e depois disso, uma nova dinastia chegou ao poder. E todas as histórias sobre Nero foram escritas sob essa nova dinastia, que teve que se legitimar e representar o período anterior da pior forma possível", conta Francesca Bologna, a curadora da mostra, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.


"Por isso não temos uma visão objetiva dele. É incrível pensar em como se escreve a história e em como se manipula para passar algumas mensagens", completa.


A seguir, a BBC News Mund apresenta sete coisas que talvez você não saiba sobre ele e que, de uma forma ou de outra, levantam a questão: era Nero realmente um imperador tirano, cruel e assassino?


1. Um imperador popular

Nero tinha apenas 16 anos quando assumiu como quinto imperador de Roma.

Ele chegou ao poder em meio a um forte clamor popular por mudanças e grandes expectativas: acreditava-se que com ele começaria uma nova era de ouro.

Apesar de sua inexperiência, esse líder jovem e enérgico adotou políticas que o tornaram popular.

Medidas administrativas abrangentes, incluindo reformas fiscais e monetárias, assim como grandes projetos de construção, estiveram entre suas realizações mais reconhecidas.

Ele também melhorou o sistema de abastecimento de alimentos em Roma e distribuiu moedas ao povo. Tudo isso fez com que as pessoas acreditassem que o imperador se preocupava com suas necessidades.

Segundo a exposição do British Museum, sua imagem era tão positiva que imitavam até seu visual: seu corte de cabelo virou moda, e seu rosto foi gravado por meio de grafites em diferentes áreas do Império.


Nero

O corte de cabelo de Nero virou moda na época, de acordo com a exposição do British Museum


"As evidências sugerem que Nero era adorado pelo povo e contrastam com a imagem pintada por escritores antigos hostis após sua morte", diz a mostra.


Mas, apesar da adoração do povo, muitas de suas políticas irritavam a elite e os mais ricos. E isso explica, em parte, por que adquiriu uma reputação tão ruim.


"Essa é provavelmente uma das razões pelas quais temos uma imagem tão negativa dele, porque a elite é quem escreveu os livros de história", afirma Bologna.


De fato, a maior parte do que foi transmitido sobre Nero vem de três historiadores: Tácito, Cassius Dio e Suetônio, todos membros das mais altas esferas políticas e oponentes claros de seu governo.


2. Um artista equivocado?

Nero se tornou o primeiro imperador a se apresentar publicamente no palco.


Quando criança, ele teve aula de música e adorava corridas de bigas, um dos esportes mais populares na Grécia e na Roma antiga. Também era apaixonado pelas lutas de gladiadores.


Assim, a organização de espetáculos e o oferecimento de entretenimento de todos os tipos para o povo era um elemento muito importante de seu império.


Luta de gladiadores

Nero era apaixonado por espetáculos, incluindo a luta de gladiadores

Isso, sem dúvida, aumentou sua popularidade e, segundo a exposição do British Museum, provavelmente o ajudou a ganhar apoio para sua causa política.


Mas, mais uma vez, este lado artístico também lhe rendeu duras críticas, sobretudo dentro do Senado e entre a elite.


Mais tarde, após sua morte, a ideia de que Nero era um "artista equivocado" permaneceria.


3. Uma relação complexa com a mãe

De acordo com a exposição do British Museum, durante os primeiros anos de Nero no poder, Agripina — uma mulher com habilidades políticas notáveis — desempenhou um papel importante, influenciando fortemente na tomada de decisões e agindo quase como cogovernadora.


Mais tarde, isso gerou uma tensão com seu filho, que quis se livrar dela.


É que em uma sociedade marcadamente patriarcal, o poder de uma mulher não era bem visto. O político e historiador Tácito, de fato, desdenhou de Nero por ser "governado por uma mulher". E eles foram até acusados de "incesto".


A evolução da relação entre Nero e Agripina é bem ilustrada em três moedas de ouro emitidas na época: pouco depois de Nero se tornar imperador, uma moeda retratava ele com a mãe de perfil, nariz com nariz.


Um ano depois, uma segunda moeda foi cunhada representando ele e sua mãe em paralelo.


Finalmente, Agripina desaparece completamente em uma terceira moeda.



Por volta do ano 59 d.C., Agripina — já retirada do palácio— morreu, e Nero foi apontado como responsável. O imperador justificou a morte da mãe garantindo que ela planejava assassiná-lo.


"Ele estava definitivamente envolvido na morte da mãe, isso é certo. Mas nunca saberemos qual foi o verdadeiro motivo de sua morte. É muito provável que tenha havido um elemento político por trás; dizem que Agripina estava tentando conspirar contra Nero. É verdade? Possivelmente, mas não sabemos ao certo", diz Bologna.


A primeira esposa de Nero, Cláudia Otávia, também foi crucial em sua ascensão ao poder. Mas o amor durou apenas alguns anos: por volta de 62 d.C, ela — que era muito popular na cidade — foi executada após ser banida. Reza a lenda que Nero a acusou de adultério, o que foi questionado na época.


Finalmente, o imperador se casou com Popeia Sabina, que engravidou de uma menina, mas ambas morreram antes dela dar à luz. Nero, mais uma vez, foi apontado como culpado.


"Que Nero também tenha assassinado sua segunda esposa parece extremamente improvável. A história, que diz que ele chutou a barriga dela, parece muito falsa", avalia Bologna.


4. Ele realmente causou o Grande Incêndio de Roma?

Talvez um dos mitos mais importantes da história de Nero tenha a ver com o Grande Incêndio de Roma, em julho de 64 d.C., três meses antes de ele completar 10 anos no poder.

Reza a lenda que Nero supostamente tocava violino enquanto Roma pegava fogo


Os incêndios eram comuns, mas este teve uma dimensão sem precedentes: durante nove dias as chamas consumiram ferozmente tudo que estava em seu caminho, de um lado a outro da cidade. A alta densidade populacional e a precariedade das moradias fizeram desta uma catástrofe perfeita.


Os detratores de Nero garantiram que sua responsabilidade pela tragédia fosse estampada nos livros de história, consolidando sua má reputação.


Não apenas foi dito que foi ele quem começou o incêndio, como também que ele "tocava violino enquanto Roma queimava".


Os historiadores Tácito, Cassius Dio e Suetônio escreveram vividamente sobre o caos e a destruição.


No entanto, pesquisadores modernos afirmam que essas acusações são evidentemente absurdas e que, na verdade, os violinos não foram inventados até o século 16.


"Nero nem sequer estava em Roma naquele momento, e correu para a cidade quando soube do incêndio. Por que você colocaria fogo na sua própria capital? Não faz sentido", diz Bologna.


Por sua vez, o próprio Nero, para apaziguar as acusações contra ele, culpou os cristãos pelo incêndio, que foram executados em massa. Esta decisão o levou a entrar para a história como um dos maiores e mais ferrenhos perseguidores de cristãos da história.


Mas, mesmo neste ponto, há controvérsias sobre o papel que Nero desempenhou, e alguns historiadores afirmam que exageraram sobre seu papel na execução.


"Isso, é claro, cimentou a percepção negativa em relação a ele", observa a curadora da mostra do British Museum.


5. Promotor de grandes projetos

Depois que o incêndio destruiu completamente três distritos de Roma e deixou outros sete em ruínas, Nero teve que reconstruir a cidade e fez isso por meio de um plano ambicioso.


De acordo com a exposição do British Museum, a restauração da cidade foi bem recebida por seu potencial de "embelezar" a capital do império.


Uma das obras mais importantes foi a Domus Aurea (Casa Dourada), um grandioso palácio que ocupava cerca de 50 hectares. Incrustações de ouro, pedras preciosas e marfim foram incluídas em seu design, que representava o espaço adequado para o poderoso imperador.


Domus Aurea

O que resta da Domus Aurea é hoje uma atração turística


Com sua arquitetura inovadora e decoração luxuosa, a nova residência imperial inspirou outras mansões e vilas aristocráticas onde foram erguidas construções para o passatempo dos romanos.


A Domus Aurea não foi concluída antes da morte de Nero e foi amplamente criticada por seus oponentes políticos, que questionavam seu gosto pelo luxo e extravagância.


Mas, muito além desta obra imperial, Nero estava particularmente interessado em projetos de engenharia moderna e arquitetura inovadora. Ele construiu anfiteatros, mercados de comida, casas novas para as pessoas afetadas pelo incêndio e até termas públicas.


Muitas de suas obras, no entanto, foram destruídas mais tarde. Para Francesca Bologna, se isso não tivesse acontecido, seriam seu grande legado.


"Depois de Augusto, ninguém mudou Roma tanto quanto Nero. Ele fez construções realmente incríveis, mas infelizmente elas só ficaram consagradas em moedas ou descrições", diz.


6. Guerra e diplomacia

Nero herdou um império em um período de crescente tensão com seus rivais.


E para alguns historiadores, a maneira como ele lidou com esses conflitos é um de seus grandes legados.


Na exposição no British Museum, é dito que ele reagiu misturando a força militar com a diplomacia, ao mesmo tempo que projetava uma imagem de um líder forte protetor do Império.


Um bom exemplo é o que aconteceu com o Império Parta e o controle da Armênia. Após anos de conflito armado, Nero acabou resolvendo o problema diplomaticamente: concedeu ao príncipe parta Tirídates a possibilidade de governar a Armênia, mas apenas se ele fosse coroado por um imperador romano.


E assim aconteceu: no ano 66 d.C. Nero o coroou rei da Armênia em uma cerimônia incrivelmente bem-sucedida que manteve a paz por muitos anos entre Roma e Pártia (região histórica no nordeste do atual Irã).


"Ele assumiu em um momento de tensão dentro do Império Romano, havia muito conflito, e ele teve que lidar com tudo isso. E fez isso, encontrou soluções diplomáticas, e é por isso que a diplomacia ao invés da guerra é um de seus legados", diz Bologna.


No entanto, uma versão diferente começou a circular após sua morte: o historiador Suetônio disse que a atitude de Nero foi, em última análise, uma "humilhação" para os romanos.


Mas, de acordo com pesquisas do British Museum, o imperador correspondeu às expectativas de seu povo no que se refere a assuntos militares.


7. Sua morte e o aparecimento de 'falsos' Neros

Para entender quem foi Nero, é preciso considerar como ele morreu.


Apesar de sua popularidade, a elite nunca o suportou e se sentia constantemente ameaçada por suas políticas.


As conspirações contra ele aumentaram ao longo dos anos, e finalmente o Senado o declarou como inimigo do Estado.


"No final, ele não teve outra escolha a não ser acabar com sua vida", diz a exposição do British Museum.


E foi assim que em 68 d.C, aos 30 anos, Nero morreu, encerrando a dinastia júlio-claudiana. Sua popularidade continuou após sua morte, alimentando profecias que diziam que ele voltaria. Vários "falsos" Neros apareceram e ganharam apoio entre o povo.


A exposição em Londres termina com uma pergunta: agora que você sabe mais sobre Nero, acha que ele foi um bom imperador?


Possivelmente, não há uma resposta correta. Mas o que está claro é que seu legado é muito mais complexo do que simplesmente dizer que ele foi um imperador "tirano, cruel e assassino".


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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Com 77 anos de história, Teatro Paulo Freire está em ruínas no Paulista



Sem teto, parte interna do Teatro foi tomada pela vegetação (Foto: Vinícius Coutinho/Divulgação)


Com 77 anos de história, Teatro Paulo Freire está em ruínas no Paulista

Por: Emannuel Bento

Publicado em: 18/07/2021 

https://www.diariodepernambuco.com.br/


No ano em que o Brasil comemora o centenário do pernambucano Paulo Freire, um teatro com o nome do educador, localizado no Centro do Paulista, no Grande Recife, encontra-se num estado de total abandono. O Teatro Paulo Freire é o único equipamento cultural público da cidade, com capacidade para 400 pessoas. Foi fundado em 1944 e tem um passado glorioso, mas está fechado desde 2008 e tornou-se uma espécie de mártir para a classe artística do município, que vem protestando pela reabertura.


Quem passa na Avenida Floriano Peixoto sequer repara que ali existe um teatro. Não há mais letreiro, a coloração azul das paredes embranqueceu e o teto caiu. Em 28 de maio deste ano, ativistas aproveitaram os 77 anos do espaço para realizar um ato por reforma e conseguiram acessar o prédio. Fizeram registros internos que reforçam o caráter do abandono: a vegetação já invadiu toda a área, até mesmo o palco que tanto divertiu os paulistenses no passado.


Procurada pela reportagem, a Prefeitura do Paulista, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Juventude e Esportes, disse que a atual gestão "apresentou em audiência pública a ideia de um projeto que integra o teatro, o cinema, a música, o artesanato e a arte em geral para a revitalização do Cine Teatro Paulo Freire e sua ampliação estrutural. A ideia, porém, ainda está em discussão com a classe artística". Trata-se do Centro Cultural Ariano Suassuna, com uma área de 2.000 m2 e visto com ceticismo.



A inauguração do Cine-Teatro Municipal (primeiro nome do espaço) foi realizada pelo prefeito Capitão José Primo de Oliveira com a presença do interventor Agamenon Magalhães, mão de ferro da Era Vargas em Pernambuco, em 1944. A aposentada Bernadete Serpa Lopes tinha 7 anos na inauguração. "Fui aluna da primeira turma do Grupo Escolar Dantas Barreto, que ficava ao lado do cine-teatro, e participei de muitos eventos. Existia uma cena teatral muito forte, quase nunca ficava sem peças em cartaz. Com o tempo, isso mudou, pois o poder público não correspondeu. Até que chegou nesse ponto de calamidade".


Até os anos 1960, o estado tinha mais de 100 cinemas de rua (sendo 28 no Recife). Com a popularização da televisão, muitos cinemas de subúrbio passaram a fechar, e o Cine-teatro Municipal também passou por dificuldades. Ele foi alugado para iniciativa privada e chegou a ter a sua fase de cinema pornô, deixando de ser "cine" há mais de 30 anos. Ninguém sabe sequer informar o paradeiro dos equipamentos de projeção.


O espaço sobreviveu, porque não dependia só da sétima arte. O palco foi ocupado por grupos teatrais como Gente Nossa e Cênico Austro Costa, que encenaram textos conhecidos do teatro nacional, a exemplo de Onde estás felicidade?, de Luiz Iglésias. Quando completou 53 anos, em 1997, foi reinaugurado com o nome Teatro Municipal Paulo Freire, em homenagem ao grande educador, na gestão do prefeito Geraldo Pinho Alves. Essa atual fase de decadência começa na década seguinte. Em 2008, parte do forro acústico de fibra mineral (comprado em 2006 numa reforma orçada em R$ 200 mil) caiu sobre crianças de escolas particulares que assistiam a um espetáculo do projeto Escola Vai ao Teatro, capitaneado pelo ator Vinicius Coutinho. O equipamento foi interditado pela Defesa Civil.


ABANDONO


Apesar da esperança da classe artística, os episódios seguintes só trouxeram revezes. Em 2006, o então prefeito Yves Ribeiro (que voltou a vencer as eleições em 2020) negociou que cartórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco fossem instalados nos anexos do teatro. O contrato tem vigência de 20 anos, a partir de 1º setembro de 2011 - ou seja, só acabará em 2031. Em 2013, já na gestão de Júnior Matuto, artistas chegaram a realizar um protesto, mas a reforma para o TRE foi concluída.


"O teatro esteve razoável até 2003. Ariano Suassuna foi fazer uma aula-espetáculo em 2006, quando fizeram uma maquiagem. Daí surgiram muitos problemas estruturais, como infiltrações", relembra o ator Vinicius Coutinho, membro do Conselho de Cultura do Paulista. "Ele funcionava precariamente porque nós não tínhamos outro espaço para espetáculos. Não tinha uma boa iluminação, os atores que traziam os seus equipamentos. Nos anos anteriores ao fechamento, o movimento era fraco porque nunca tivemos apoio da Prefeitura, nem que fosse para a divulgação".


Em 2018, a Prefeitura do Paulista chegou a afirmar que realizaria um reforma com custo de R$ 270 mil e prazo para finalização em 180 dias. Também prometeram achar um novo local para o TRE. Em 2020, após um novo ato pela reforma, o então Secretário de Esportes e Cultura, Jorge Rocha, informou que o atraso da conclusão da obra se deu por problemas da empresa contratada. No entanto, as imagens registradas em maio de 2021 mostram que nada foi feito.


Confira a nota da Prefeitura do Paulista na íntegra:


A Prefeitura da Cidade do Paulista, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Juventude e Esportes, informa que o Centro Cultural Ariano Suassuna não será um apagamento do passado, pois a ideia é enaltecer a classe artística, apresentando uma melhor estrutura e deixando todos cientes que o CineTeatro Paulo Freire não é tombado. Com isso, o prédio pode, mediante engenharia, ter mudanças em sua estrutura, para garantir a segurança dos artistas e também da população, a exemplo das paredes e tetos do CineTeatro.


A gestão atual apresentou em audiência pública, a priori, a ideia de um projeto que integra o teatro, o cinema, a música, o artesanato e a arte em geral para a revitalização do CineTeatro Paulo Freire e sua ampliação estrutural. A ideia, porém, ainda está em discussão com a classe artística.

    

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quarta-feira, 14 de julho de 2021

Mulheres políticas que vem se destacando no cenário da Pandemia no Brasil. ( A senadora Eliziane Gama)

 




Eliziane Gama

Eliziane Pereira Gama Melo (Monção, 27 de fevereiro de 1977) é uma jornalista e política brasileira filiada ao Cidadania. Em 2014 foi eleita deputada federal do Maranhão. Em 17 de abril de 2016 votou a favor do prosseguimento do processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff. No dia 25 de outubro de 2017 votou a favor da investigação contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. 



Biografia

Nasceu em Araguanã (na época parte do município de Monção, MA) no dia 27 de fevereiro de 1977. É a quinta filha do casal Domingos Newton Gama e Dalvina de Jesus Pereira. Na adolescência se mudou para a capital maranhense para cursar jornalismo e aos 17 anos ingressou na Universidade Federal do Maranhão.


Foi candidata pela primeira vez a um cargo político no ano de 2006, sendo eleita deputada estadual. Foi reeleita deputada estadual pelo PPS em 2010. Foi candidata à prefeitura de São Luís em 2012, não se elegendo. Em 2014 foi eleita deputada federal.


Carreira Política

Deputada Estadual

Candidata a um cargo político pela primeira vez no ano de 2006 conseguiu com êxito eleger-se deputada estadual aos 29 anos com mais 15 mil votos. Em 2010 dobrou a quantidade de votos e se reelegeu deputada estadual com 37 mil votos.


Na Assembleia Legislativa se destacou como defensora da causa da criança, adolescente, mulher, idoso e também dos direitos humanos. Ela também presidiu a Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e esteve a frente de outras importantes comissões como a CPI de Combate a Pedofilia e Abuso Sexual Infantil, Comissão de Direitos da Mulher, Comissão de Infância, Juventude e Idoso e Comissão de Direitos Humanos e das Minorias. Foi relatora da CPI Euromar, que investigou os esquemas fraudulentos de um concessionária de veículos.


Como presidente da Comissão da Infância, conseguiu a capacitação dos conselheiros tutelares do Maranhão para cuidar com mais eficiência das crianças maranhenses.


No final de 2009, devido aos dados que colocaram o Estado do Maranhão como o terceiro do país com maior número de denúncias no Disque 100, Eliziane Gama presidiu a CPI de Combate a Pedofilia. Como presidente da CPI ouviu mais de cem depoimentos, dezenas de casos, e percorreu 12 cidades do interior do estado, o que resultou em vários encaminhamentos como abertura de processos e prisões durante as audiências da CPI.


Candidata à prefeitura de São Luís

Nas eleições de 2012 para a prefeitura de São Luís Eliziane Gama foi a única mulher que concorreu, ficando em terceiro lugar com mais de 70 mil votos. Candidatou-se novamente sem êxito nas eleições de 2016, ficando em quarto lugar com 31,5 mil votos.


Deputada Federal

Nas eleições de 2014 foi no Maranhão a única mulher eleita deputada federal, com 133.575 votos.


Em 2015 foi considerada uma das mais atuantes pelo Congresso Em Foco e foi a segunda parlamentar que menos gastou na Câmara dos Deputados.


No mesmo ano destacou-se como membro da CPI da Petrobras, coordenadora da Comissão Externa que acompanha o cancelamento das refinarias do Maranhão e Ceará, também é titular da Comissão de Segurança e Comissão do Consumidor. Também deu importantes contribuições na CPI do Sistema Carcerário e no Conselho de Ética.


Senado Federal

No dia 28 de julho de 2018, data da convenção Todos pelo Maranhão, foi homologada, como candidata ao Senado Federal, na chapa do atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). O deputado federal Pedro Fernandes (PTB) foi anunciado como seu primeiro suplente.


Em 7 de outubro de 2018, se elegeu senadora pelo Maranhão. Na eleição presidencial em 2018 apoiou Fernando Haddad à presidência da República.


No início do mandato foi escolhida líder da bancada do PPS na casa.


Em junho de 2019, votou contra o Decreto das Armas do governo, que flexibilizava porte e posse para o cidadão. 

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Já na CPI da Covid 19 ela se destaca com grandes questionamentos e  representa com algumas colegas senadoras a força feminina e possívelmente uma das poucas parlamentares  que vem lutando para quebrar as estruturas machistas em torno da  nossa política.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Políticos que se destacam no cenário da pandemia no Brasil ( Senador do Amazonas Omar Aziz )


 Omar Aziz

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Omar José Abdel Aziz (Garça, 13 de agosto de 1958) é um engenheiro civil e político brasileiro. Foi o 46.º Governador do Amazonas, pelo qual, atualmente, é Senador. Filiado ao PSD, é seu líder no Senado Federal.


Membro de uma família de ascendência árabe e italiana, Omar já ocupou o cargo de vereador em Manaus e deputado estadual do Amazonas na década de 1990. É casado com Nejmi Aziz, com quem têm três filhos, Emjen, Enzo e Johara.


Trajetória política

Em 1996, após ter sido vereador e deputado estadual, foi eleito vice-prefeito de Manaus na chapa de Alfredo Nascimento. Em 2000, foram reeleitos, mas, em maio de 2002, Omar deixou o cargo para concorrer como vice da chapa de Eduardo Braga ao governo do Estado, pleito em que foram eleitos. Em 2006, foi reeleito com Braga.


Nas eleições de 2008, licenciado do cargo de vice-governador, Omar disputou o cargo de prefeito de Manaus pelo PMN , tendo conquistado a terceira colocação.  Em 2010, Braga renunciou ao governo para concorrer ao Senado, ocasião em que Aziz ascendeu ao governo. Nas eleições daquele ano, foi eleito governador no primeiro turno com cerca de 64% dos votos (mais de 940.000 votos) em disputa contra seu antigo aliado, o então senador Alfredo Nascimento (PR). Em 2011, foi um dos co-fundadores do Partido Social Democrático (PSD) e tem sido o líder do PSD no Senado Federal.


Em 4 de abril de 2014, renunciou ao Governo do Amazonas para disputar uma vaga no Senado Federal.  Com isso, o então vice-governador, José Melo de Oliveira, assumiu seu lugar. Ao final, com 58,51% dos votos válidos, venceu a disputa e conquistou seu mandato de Senador da República.


Em 2016, votou a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff  e a favor da PEC do Teto dos Gastos Públicos. Em julho de 2017, votou a favor da reforma trabalhista.


Em outubro de 2017 votou a favor da manutenção do mandato do senador Aécio Neves derrubando decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal no processo onde ele é acusado de corrupção e obstrução da justiça por solicitar dois milhões de reais ao empresário Joesley Batista.


Nas eleições de 2018, foi novamente candidato ao governo do estado do Amazonas, tendo o então deputado federal Arthur Virgílio Bisneto como candidato a vice. Entretanto, terminou a disputa no quarto lugar e com cerca de 8% dos votos.


Em junho de 2019, votou contra o Decreto das Armas do governo, que flexibilizava porte e posse para o cidadão.


Em maio de 2021, foi eleito presidente da CPI da COVID-19. E tem feito um trabalho fantástico em torno dessa CPI

domingo, 11 de julho de 2021

Cubanos saem às ruas sob gritos de “abaixo a ditadura”





 Cubanos saem às ruas sob gritos de “abaixo a ditadura”

Redação

BBC News Mundo


Gritando "liberdade" e "abaixo a ditadura", centenas de cubanos saíram às ruas neste domingo (11/07) em vários locais de Cuba, em um dos maiores protestos na ilha nos últimos 60 anos.


À medida que os protestos se espalhavam, o presidente Miguel Díaz-Canel pediu aos apoiadores do governo que saíssem às ruas para "enfrentá-los".


"Estamos convocando todos os revolucionários do país, todos os comunistas, a tomarem as ruas e irem aos lugares onde essas provocações acontecerão", disse o presidente em uma mensagem transmitida em todas as redes de rádio e televisão da ilha na sequência dos protestos.


Por meio das redes sociais, dezenas de cubanos transmitiram ao vivo as manifestações que começaram na cidade de San Antonio de los Baños, a sudoeste de Havana, e se espalharam para outras cidades, de Santiago de Cuba, no leste, até Pinar del Río, no oeste.


Nas transmissões, um grande grupo de pessoas era visto gritando palavras de ordem contra o governo, contra o presidente Miguel Díaz-Canel e pedindo mudanças.


Segundo Selvia, uma das participantes em San Antonio de los Baños, o protesto foi organizado no sábado por meio das redes sociais para este domingo às 11h30 (horário local).


"Nos encontramos em frente à praça da igreja e seguimos em marcha pela Rua Real", disse ela por telefone à BBC News Mundo, serviço da BBC em espanhol.


"Isso é pela liberdade do povo, não podemos aguentar mais. Não temos medo. Queremos mudança, não queremos mais ditadura", disse.


O que diz o governo

A BBC News Mundo entrou em contato com o Centro Internacional de Imprensa, única instituição governamental autorizada a prestar declarações à imprensa estrangeira, para saber sua posição, mas não obteve resposta imediata.


Na transmissão pela televisão, Díaz-Canel disse que seu governo "está pronto para tudo e que estará nas ruas combatendo".


Quem é Miguel Díaz-Canel, 'discípulo predileto' de Raúl Castro que assume o poder em Cuba

"Sabemos que neste momento há uma massa revolucionária nas ruas fazendo frente a isso", disse ele.


Protesto em Cuba

Protestos tomaram as ruas de Cuba em diversas cidades neste domingo


"Não vamos admitir que nenhum contra-revolucionário, nenhum mercenário, nenhum vendido ao governo dos Estados Unidos, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências, se deixando levar por todas as estratégias de subversão ideológica, desestabilize nosso país", adicionou.


"Haverá uma resposta revolucionária", disse ele, conclamando os "comunistas" a enfrentar os protestos com "determinação, firmeza e coragem".


O apelo do presidente cubano provocou questionamentos entre opositores e nas redes sociais da ilha, que apontaram que ele estava "convocando uma guerra civil".


Os protestos

Depois de mais de uma hora e meia, algumas das transmissões foram interrompidas em San Antonio, mas começaram a aparecer de outros lugares da ilha, incluindo Havana.


"Tem muita gente no Galeano e no Malecón. Eles pararam o trânsito e tudo o mais", disse Mairelis à BBC News Mundo, de Centro Habana.


Repressão a manifestantes em Cuba

Policiais e agentes civis reprimiram a manifestação


Três pessoas que participaram do protesto em Pinar del Río, Havana e San Antonio afirmaram à BBC News Mundo que as manifestações foram reprimidas pela polícia.


Vários vídeos postados nas redes sociais também mostram o que parecem ser agentes de tropas especializados detendo vários manifestantes.


Em outras gravações, um grupo grande de cubanos é visto quebrando vidraças e saqueando algumas das chamadas lojas de moeda conversível (moeda estrangeira), que se tornaram a única forma de muitos cubanos terem acesso às suas necessidades básicas.


Protestos em Cuba

Os protestos são os maiores registrados em Cuba nos últimos 60 anos


"Eles estão cortando nossa conexão. Não podemos nem fazer ligações nacionais", disse Selvia.


A BBC News Mundo contatou cubanos das províncias de Havana, Pinar del Río e Artemisa, que afirmam ter perdido a conexão com a Internet.


Alejandro, um dos participantes do protesto em Pinar del Río, disse que dezenas de pessoas pararam em frente a um dos principais parques da cidade e depois marcharam por uma rua principal.


"Vimos o protesto em San Antonio e as pessoas começaram a sair às ruas. Este é o dia, não aguentamos mais", disse o jovem por telefone.


"Não há comida, não há remédio, não há liberdade. Eles não nos deixam viver. Já estamos cansados", acrescentou.


Cuba


Durante o fim de semana, as redes sociais da ilha foram tomadas por mensagens sob as hashtags #SOSCuba e #SOSMatanzas para denunciar a situação crítica do coronavírus na ilha, onde, segundo relatos, inúmeros hospitais colapsaram devido ao crescente número de casos.


A BBC News Mundo conversou com vários cubanos que afirmam que seus parentes morreram em casa sem receber atendimento médico ou em hospitais por falta de remédios.


Com o turismo praticamente paralisado, o coronavírus teve um profundo impacto na vida econômica e social da ilha, aliado a uma crescente inflação, apagões elétricos e escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos.


O governo cubano atribui a situação ao embargo dos Estados Unidos e questiona as campanhas #SOSCuba e #SOSMatanzas como uma "campanha midiática" para "lucrar" em uma situação de crise de saúde.


As redes sociais da ilha têm servido nos últimos tempos para que os cubanos expressem seu mal-estar com relação ao governo e à situação no país.


Os protestos em Cuba são muito incomuns e, quando ocorrem, são reprimidos.


Antes deste domingo, o maior protesto ocorrido em Cuba desde 1959 aconteceu em 1994 em frente ao Malecón em Havana, mas se limitou à capital e apenas algumas centenas de pessoas participaram.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

As diferenças entre o comunismo da China, da União Soviética e da América Latina

Um pôster mostrando Karl Marx, Lenin e Mao Tse-Tung.   CRÉDITO,GETTY IMAGES


As diferenças entre o comunismo da China, da União Soviética e da América Latina

Gerardo Lissardy

BBC News Mundo

https://www.bbc.com/


Em 1º de outubro de 1949, Mao Tse-Tung estabeleceu a República Popular da China, com base nas teorias de Marx e Lenin

Quando Mikhail Gorbachev visitou Pequim em maio de 1989 para a primeira cúpula sino-soviética em 30 anos, os dois maiores Estados comunistas do mundo enfrentaram uma encruzilhada histórica.

Na praça Tiananmen, naquela cidade, estudantes e trabalhadores clamaram por reformas democráticas, em protestos descritos como o maior desafio ao Estado chinês desde a Revolução de 1949.

Gorbachev promoveu transformações políticas e econômicas na União Soviética (URSS) que, de fato, inspiraram muitos dos manifestantes em Pequim.

Mas, alguns meses depois naquele mesmo ano, o colapso surpresa da URSS começaria com a queda do Muro de Berlim, na Alemanha, que separava o mundo entre o Oriente e o Ocidente.

Por sua vez, o Partido Comunista Chinês resolveu suas divisões internas sobre como responder aos protestos domésticos, com o triunfo da ala linha-dura, e o massacre de manifestantes que se seguiu em Tiananmen abalou o mundo.


Nesta quinta-feira (1/7), o Partido Comunista Chinês comemora seu centenário de fundação, em 1921, consolidando-se como um dos partidos políticos mais poderosos do planeta, com uma influência que chega até à América Latina.


Longe de considerar esse resultado fortuito, diferenças cruciais entre o comunismo chinês e o soviético explicam por que um permanece no poder enquanto o outro desapareceu.


"O interessante é que, embora os sistemas soviético e chinês tenham adotado a forma do partido leninista como principal veículo político, na URSS, isso levou à atrofia e à esclerose, enquanto na China continua sendo uma organização adaptável e flexível", diz Anthony Saich, professor de Relações Internacionais da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.


'Reinvente-se para sobreviver'

Após sua fundação e até assumir o poder sob a liderança de Mao Tse-Tung, o partido desenvolveu uma revolução local com características próprias por quase três décadas.


Saich, autor de De rebelde a governante: 100 anos do Partido Comunista Chinês, observa que isso deu ao grupo experiência em lidar com diferentes ambientes antes de exercer o poder e representa uma grande diferença em relação aos comunistas soviéticos.


Mao Tse Tung proclama a República Popular do Portão da Paz Celestial em 1º de outubro de 1949

O maoísmo promoveu uma pregação beligerante contra o Ocidente


Depois disso, a República Popular da China passou por vários estágios, desde "O Grande Salto À Frente" para industrializar a economia até a "Revolução Cultural" para eliminar os rivais políticos.


Milhões de pessoas morreram nesses períodos, principalmente de fome, após a escassez de alimentos entre 1959 e 1961, mas também como resultado da perseguição política desencadeada em 1965.


No entanto, Saich enfatiza que o partido "foi capaz de se reinventar para sobreviver àqueles traumas que teriam derrubado quase qualquer outro partido" e, então, provou "ser muito flexível desde 1978", com a reforma e abertura promovidas por seu líder Deng Xiaoping.


Para ele, esse pragmatismo chinês marcou outra diferença com a URSS, que já havia alcançado uma maior industrialização quando entrou em apuros e a "esclerose" do sistema atrapalhou as reformas econômicas de Gorbachev.


O líder soviético Mikhail Gorbachev durante sua visita à China em maio de 1989

Mikhail Gorbachev visitou a China em uma época desafiadora para ambos os Estados comunistas

Mario Esteban, pesquisador do Instituto Real Elcano, na Espanha, explica que, depois das mudanças implementadas por Deng, o partido chinês combinou a manutenção de um regime de partido-Estado com o capitalismo de Estado.


"O sistema capitalista na China teve ou tem muito mais peso do que jamais teve na URSS", diz Esteban, que também é professor de Estudos do Leste Asiático na Universidade Autônoma de Madri.


O progresso econômico das últimas décadas permitiu que a China melhorasse a qualidade de vida de sua população e que o Partido Comunista Chinês evitasse novos protestos como os de Tiananmen, mesmo sem implementar reformas democráticas como fez Gorbachev.


Recentemente, o atual presidente chinês, Xi Jinping, deixou claro que está determinado a manter o poder do partido, sem dar espaço para opiniões divergentes, assim como fez a URSS durante sua existência.


O paradoxo latino-americano

Outra diferença que Esteban destaca entre o comunismo chinês e o soviético é que a revolução maoísta foi baseada mais nos camponeses do que a revolução russa, em que o proletariado industrial era a chave.


Mao baseou seu apoio popular no campesinato chinês


Por outro lado, após chegar ao poder, o Maoísmo promoveu uma pregação mais beligerante contra o Ocidente do que a URSS, que defendia uma "coexistência pacífica" na Guerra Fria, um dos fatores por trás da ruptura sino-soviética na década de 1960.


Tanto o caráter rural da revolução maoísta quanto a atitude combativa de seu líder para com o mundo capitalista fizeram com que alguns esquerdistas na América Latina vissem a China como um modelo.


De fato, na década de 1960, surgiram partidos comunistas "pró-chineses" no Brasil, na Bolívia e em todos os países da costa sul-americana do Pacífico.


Marisela Connelly, especialista em História Chinesa do Colegio de México que estudou esse fenômeno, argumenta que os países da região que mais foram influenciados pelo maoísmo são a Colômbia e o Peru, onde grupos com essa tendência política, como o Exército de Libertação Popular e Sendero Luminoso, praticaram a luta armada por décadas.


Durante a presidência de Xi Jinping, a China ampliou sua influência na América Latina


Durante a Guerra Fria, explica Connelly, a China deu às organizações da América Latina alinhadas com seu partido comunista apoio ideológico, cooperação agrícola e, em alguns casos, treinamento de guerrilha.


Mas a influência do partido chinês era muito maior em outras regiões, começando com o sudeste da Ásia, e nenhum grupo maoísta latino-americano chegou ao poder ou esteve perto de conseguir isso.


Por outro lado, sem ser vista como um modelo ideológico ou revolucionário, nos últimos 20 anos, a China alcançou uma influência sem precedentes na América Latina com seu crescente poder econômico, tornando-se um importante parceiro comercial e financeiro da região.


"O interessante também é que agora sim os países latino-americanos estão vendo a China como um modelo, apesar da relação econômica assimétrica", argumenta Connelly."É como outro paradoxo da história."


 

Haiti: com quase 20 governos em 35 anos, país tem sucessão incerta após assassinato de presidente


 Jovenel Moïse, em foto de 2016  CRÉDITO,REUTERS


https://www.bbc.com/portuguese


Haiti: com quase 20 governos em 35 anos, país tem sucessão incerta após assassinato de presidente

 


Jovenel Moïse governava desde 2017, sob crescentes protestos, em um país onde uma crise política sucede a outra


O assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, pode colocar o país mais pobre do Ocidente em uma nova espiral de instabilidade e caos, em meio a incertezas sobre quem o sucederá.


Moïse foi morto a tiros na residência oficial durante a madrugada, segundo informou o premiê interino Claude Joseph, que decretou estado de emergência no país de 11 milhões de habitantes e se disse no comando.


"Meus compatriotas, permaneçam calmos porque a situação está sob controle", declarou Joseph em pronunciamento na TV.


Mas, em um país cada vez mais polarizado, com pobreza latente e vivendo há meses sob o aumento da violência de gangues na capital Porto Príncipe, cresce o medo de que se avizinhe mais um período grave de crises.


Não está claro como ficará o governo com a morte do presidente. Ele havia recém-nomeado um novo premiê, Ariel Henry, que não chegou a tomar posse oficialmente.


O chefe da Corte Suprema do Haiti, que também seria um possível sucessor sob as regras da Constituição do país, morreu no mês passado de covid-19 e ainda não foi substituído.


Antes do assassinato de Moïse, Airel Henry havia dito em entrevista à agência France Presse que sua prioridade, segundo ordem emitida pelo presidente, seria a preparação de novas eleições em um "ambiente favorável".


Cenário pós-protesto, em fevereiro

CRÉDITO,VALERIE BAERISWYL/GETTY IMAGES


Haiti viveu, em fevereiro, semanas de intensos protestos contra Jovenel Moïse


Moïse, que antes de entrar para a política era um exportador de banana, estava no poder desde 2017, mas enfrentava crescentes protestos por acusações de corrupção e pela deterioração econômica do país.


Neste ano, líderes da oposição acusaram-no de tentar instalar uma nova ditadura no Haiti, ao endurecer a repressão a protestos e tomar medidas consideradas autoritárias — algo que ele negava.


Moïse vinha governando por decreto havia mais de um ano, depois de ter dissolvido o Parlamento e o país fracassar em realizar eleições legislativas.


O presidente ainda tentou promover uma polêmica reforma constitucional que, segundo ele, ajudariam a conter a instabilidade da política haitiana.


Em fevereiro deste ano, chegou a haver um ultimato de setores da oposição, advogados, acadêmicos e igrejas para Moïse deixar o cargo, tendo em vista que seu mandato de cinco anos estava perto do fim. Ele respondia que planejava se manter no poder até 2022.


Palco de devastação constante pela passagem de furacões e ainda sofrendo com os efeitos do intenso terremoto de 2010, o Haiti já teve quase 20 governos nos últimos 35 anos, entre líderes militares, presidentes eleitos ou interinos, conselhos de ministros ou governos de transição.


Desde que a dinastia Duvalier foi derrubada, em 1986, o Haiti sofre sucessivas crises de poder, eleições contestadas, intervenções e golpes de Estado, que a tornam a nação do continente que teve mais governos (não parlamentaristas) no menor intervalo de tempo desde o final do século 20.


De 'Papa Doc' a Jovenel Moïse

François "Papa Doc" Duvalier tomou posse em um golpe militar em 1957 e fez um governo linha-dura, com amplos abusos aos direitos humanos, até 1971, quando morreu e foi sucedido por seu filho, Jean-Claude, o "Baby Doc".


Ele aumentou a repressão no país, mas foi forçado a se exilar em 1986, após intensa pressão popular.


Mural de Moïse em Porto Príncipe

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Mural de Moïse em Porto Príncipe; presidente governava por decreto havia um anos


Começou aí um período (que ainda não terminou) de disputas de poder, rebeliões e trocas constantes de governo.


Uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), protagonizada pelo Brasil, foi levada ao Haiti com o objetivo de restaurar a ordem após uma rebelião que derrubou o então presidente Jean-Bertrand Aristide e terminou em 2019 (a participação do Brasil foi até 2017).


Isso, embora tenha ajudado o país na transição à democracia, não foi capaz de solucionar o caos político.


Nesse interim, houve o catastrófico terremoto de 2010, que deixou entre 100 mil e 300 mil mortos, segundo diferentes contagens, e causou estragos profundos (e ainda não sanados) no país, exacerbando os problemas políticos, sociais e econômicos.


A instabilidade se manteve com o governo de Moïse, que defendia que seu mandato deveria terminar apenas em 7 de fevereiro de 2022, enquanto críticos queriam que ele tivesse deixado o poder em 7 de fevereiro deste ano.


A divergência temporal se deve ao fato de que Moïse foi eleito inicialmente em 2015, mas a votação foi anulada por suspeitas de fraude. Ele venceu o novo pleito em novembro de 2016.


As eleições legislativas, por sua vez, foram sucessivamente adiadas. Sem um Parlamento, a crise política se aprofundou em 2020, enquanto Moïse governava por decreto.


Com seu assassinato, o Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência a respeito do Haiti. O órgão, bem como Estados Unidos e países da Europa, pediram que o Haiti realize eleições legislativas e presidenciais "justas e transparentes" até o final deste ano.


Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, pediu que os haitianos "permaneçam unidos diante do terrível ato (desta quarta) e rejeitem a violência".


*Com reportagem da Reuters, da France Presse e de Lioman Lima, da BBC News Mundo.

Ex-cunhada implica Jair. Gravações inéditas apontam envolvimento direto de Bolsonaro no esquema de entrega de salários de assessores. JULIANA DAL PIVA COLUNISTA DO UOL, NO RIO https://noticias.uol.com.br/



 Ex-cunhada implica Jair

Gravações inéditas apontam envolvimento direto de Bolsonaro no esquema de entrega de salários de assessores


JULIANA DAL PIVA

COLUNISTA DO UOL, NO RIO

https://noticias.uol.com.br/


Gravações inéditas apontam o envolvimento direto do presidente da República, Jair Bolsonaro, no esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele exerceu seguidos mandatos de deputado federal (entre os anos de 1991 e 2018).


Os áudios podem ser ouvidos no vídeo que aparece nesta reportagem.


Em três reportagens publicadas hoje na coluna da jornalista Juliana Dal Piva, o UOL mostra gravações que revelam o que era dito no círculo íntimo e familiar do presidente.


As declarações indicam que Jair Bolsonaro participava diretamente da rachadinha: nome popular para uma prática que configura o crime de peculato (mau uso de dinheiro público).


A primeira reportagem mostra que familiar que não quis devolver valor combinado do salário foi retirado do esquema. A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário como assessor.


"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'. Leia mais aqui.


A segunda reportagem revela que, dentro da família Queiroz, Jair Bolsonaro é o verdadeiro "01." Em troca de mensagens de áudio, a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, chamam Jair Bolsonaro de "01". Márcia afirma que o presidente "não vai deixar" Queiroz voltar a atuar como antes. Leia mais aqui.


Já a terceira reportagem descreve como recolher salários não era uma tarefa exclusiva de Fabrício Queiroz. Ex-cunhada do presidente diz que um coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), atuou no recolhimento de salários da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Leia mais aqui.


Ao ser informado sobre as gravações de Andrea Siqueira Valle, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022.


Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".




Bolsonaro, esquivo e ríspido

Desde que foi revelado o esquema conhecido como rachadinha, no fim de 2018, Jair Bolsonaro sempre se esquivou do tema ou reagiu com rispidez quando foi questionado.


Certa vez, o presidente chegou a dizer que "se Flávio errou, vai ter de ser punido". Em outra oportunidade, ameaçou agredir um jornalista que perguntou por que Fabrício Queiroz depositou cheques na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.


A partir da investigação sobre Flávio Bolsonaro, surgiu o envolvimento de Queiroz e um grupo de pessoas ligadas a ele. Com o avanço do procedimento no MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que quebrou o sigilo bancário dos investigados, descobriu-se ainda que o esquema envolvia dez familiares de Ana Cristina Valle, segunda mulher de Bolsonaro.


Ainda em 2019, porém, outro procedimento do MP fluminense passou a investigar suspeitas semelhantes no gabinete de Carlos Bolsonaro. Ao todo, a família Bolsonaro empregou 18 parentes de Ana Cristina.


Em março passado, o UOL revelou que quatro funcionários do gabinete de Jair Bolsonaro fizeram saques atípicos e que sua ex-mulher ficou com todo o dinheiro existente na conta da irmã que estava nomeada para o gabinete do então deputado federal.


Mas nenhum assessor tinha dito até então que era obrigado a devolver parte do salário quando estava nomeado no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.


Arte/UOL


Peculato é crime

O peculato é um crime contra a administração pública e se caracteriza pela subtração ou apropriação indevida de valores ou bens cometida por um servidor público, a exemplo de parlamentares e membros do governo.


"É um crime extremamente grave. Quando um deputado se apodera de recursos dos salários do funcionário de seu gabinete, ele está furtando ou se apropriando indevidamente de dinheiro público. Pois quem paga este salário é o orçamento público, a sociedade", afirma Roberto Livianu, procurador de Justiça de São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção.


"Este dinheiro pertence à sociedade e poderia ser investido em saúde, educação. Mas está sendo gasto com a contratação desnecessária de assessores que terão parte dos salários embolsados por um político", acrescenta.


Reportagem: Juliana Dal Piva


Chefia de reportagem: Marcos Sergio Silva


Edição e coordenação do núcleo investigativo: Flávio VM Costa


Coordenação de podcasts: Juliana Carpanez


Checagem e revisão: Amanda Rossi e Gabriela Sá Pessoa


Design: Eric Fiori


Direção de Arte: Gisele Pungan e René Cardillo


Reportagem publicada no dia 5 de julho de 2021.

domingo, 4 de julho de 2021

Brasileiros protestam contra Bolsonaro, lançamento lento de vacina (Reuters)




Brasileiros protestam contra Bolsonaro, lançamento lento de vacina

Reuters


RIO DE JANEIRO / BRASÍLIA, 3 de julho (Reuters) - Manifestantes tomaram as ruas no Brasil no sábado exigindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e mais vacinas para combater a pandemia de coronavírus, enquanto o país enfrenta o segundo surto mais letal do mundo, depois dos Estados Unidos .


Na sexta-feira, a juíza da Suprema Corte Rosa Weber autorizou a abertura de uma investigação sobre o Bolsonaro sobre supostas irregularidades na aquisição de vacina desenvolvida na Índia.


Os protestos foram originalmente agendados para 24 de julho, mas foram antecipados depois que as evidências de irregularidades relacionadas ao acordo da vacina foram apresentadas a um comitê do Senado que investigava o tratamento do governo federal para a pandemia.


Homem participa de protesto pelo impeachment do Presidente Jair Bolsonaro e contra o manejo da pandemia do coronavírus (COVID-19), no Rio de Janeiro, Brasil, em 3 de julho de 2021. REUTERS / Pilar Olivares

Pessoa participa de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, Brasil, 3 de julho de 2021. REUTERS / Mariana Greif

Pessoa participa de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, Brasil, 3 de julho de 2021. REUTERS / Mariana Greif


Pessoa participa de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, Brasil, 3 de julho de 2021. REUTERS / Mariana Greif

A crise COVID no Brasil foi agravada por uma lenta implementação de vacinas.



“Não foi negação, foi corrupção”, disse uma faixa segurada por Marilda Barroso, de 71 anos, no Rio de Janeiro.


Por volta das 14h, horário local, os protestos atraíram milhares de pessoas em pelo menos 13 capitais, de acordo com relatos da mídia local. As manifestações foram programadas para ocorrer em 315 cidades brasileiras e em 15 países, informou a mídia local citando os organizadores dos atos.


Mais protestos foram programados para ocorrer à tarde, inclusive na maior cidade do Brasil, São Paulo.


Reportagem de Maria Carolina Marcello e Rodrigo Viga Gaier; Reportagem adicional de Sérgio Queiroz Escrita de Ana Mano; Edição de David Gregorio

Nossos padrões: Princípios de confiança da Thomson Reuters.


'Superimpeachment': quem assina novo pedido de afastamento do presidente Bolsonaro


 Dezenas de pessoas reunidas em volta de palanque, segurando bandeiras diversas de movimentos sociais, entre outros   CRÉDITO,CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS

'Superimpeachment' aglutina argumentos de pedidos anteriores e entidades diversas



'Superimpeachment': quem assina novo pedido de afastamento do presidente Bolsonaro
30 junho 2021

Apresentado à Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (30/6), um novo pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — chamado de "superimpeachment" por reunir a argumentação de outros 120 pedidos de impeachment já feitos — traz a assinatura de 46 pessoas.

Na maioria, elas representam entidades diversas, como partidos políticos, sindicatos, associações e coletivos.

Os únicos três nomes que não aparecem vinculados a entidades são de três deputados federais — e ex-apoiadores de Bolsonaro: Joice Hasselmann (PSL-SP), Alexandre Frota (PSDB-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP).

O PSL, partido de Joice e que já abrigou também Frota, foi a sigla com a qual Bolsonaro se elegeu em 2018. Ambos parlamentares fizeram campanha e foram apoiadores do presidente no início do governo.

Após desavenças, o presidente deixou o partido em 2019 e ainda não se filiou oficialmente a um novo.

Já Kim Kataguiri, um dos fundadores do direitista Movimento Brasil Livre (MBL), declarou "voto útil" contra Bolsonaro na eleição, argumentando que a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao Planalto seria uma "ameaça à democracia".

Nesta quarta-feira, o deputado demonstrou sua mudança de posição.

"É um pedido de impeachment que possui uma causa legítima, para derrubar esse governo que mais promoveu morticínio, genocídio e destruiu a máquina pública para blindar os próprios filhos", disse Kataguiri na entrega do documento, segundo registro da Agência Câmara de Notícias.

Entre os 46 signatários do "superimpeachment", entregue ao presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro Arthur Lira (PP-AL), estão também representantes de 11 partidos de oposição: o Cidadania; Partido Comunista Brasileiro (PCB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB); Partido da Causa Operária (PCO); Partido Democrático Trabalhista (PDT); Partido dos Trabalhadores (PT); Partido Socialismo e Liberdade (PSOL); Partido Socialista Brasileiro (PSB); Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU); Rede Sustentabilidade; e Unidade Popular (UP).

Há ainda uma assinatura do candidato à presidência pelo PSOL em 2018, Guilherme Boulos, em nome da Frente Povo Sem Medo, que reúne movimentos sociais de esquerda.

De máscara, Bolsonaro olha para o lado em evento
CRÉDITO,EPA/JOEDSON ALVES
Legenda da foto,
Bolsonaro já foi alvo de mais de 120 pedidos de impeachment, segundo a Agência Pública

Também são signatários representantes de movimentos estudantis, sindicais e populares tradicionais: União Nacional dos Estudantes (UNE); União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES); Central de Movimentos Populares; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST); Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); Intersindical Central da Classe Trabalhadora; Central Única dos Trabalhadores (CUT); Central Sindical e Popular Conlutas; Força Sindical; Pública Central do Servidor.

Fundado em 1982, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) é a única entidade religiosa representada no pedido, em nome do pastor luterano Inácio Lemke.

Coletivos e movimentos da sociedade civil mais recentes, criados depois dos anos 2000, também assinam o pedido, representados por pessoas físicas: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil; Coalizão Negra por Direitos; Coletivo Defensoras e Defensores Públicos Pela Democracia; Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD); Grupo Prerrogativas; Marcha Mundial das Mulheres; e 342 Artes.

Por fim, associações diversas compõem as assinaturas: Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD); Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia (ABMMD); Associação Juízes para a Demoracia (AJD); Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT); e Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil (Anatorg).

Como apresentado, há associações e grupos, como a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), o Prerrogativas e o Coletivo Defensoras e Defensores Públicos pela Democracia, formados por profissionais da área jurídica.

Este novo pedido de impeachment foi escrito por juristas envolvidos e afirma que "configuram de modo inequívoco o seu enquadramento no figurino de 24 (vinte e quatro) tipos legais descritos na Lei nº 1.079/1950", que define crimes de responsabilidade e orienta o processo de impeachment.

"As forças mais diversas esperam que esse pedido seja admitido o processo de impeachment contra um governo que destrói as instituições brasileiras", disse o advogado Mauro de Azevedo Menezes na apresentação do pedido na Câmara, primeiro signatário do documento e representante da ABJD.

Assim como os outros pedidos, o "superimpeachment" precisa ser colocado em votação pelo presidente da Câmara e, para ser aprovado, exige o voto de pelo menos dois terços da Casa; e depois maioria simples do Senado.

O documento reúne acusações contra Bolsonaro já apontadas por outros pedidos de impeachment, com apenas um acréscimo: o crime de prevaricação, referente às suspeitas de irregularidade na negociação da vacina Covaxin, contra a covid-19.

O servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda disse à CPI da Covid que ele e seu irmão, o deputado Luis Carlos Miranda (DEM-DF), avisaram o presidente Jair Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades no contrato de compra da vacina, da farmacêutica indiana Bharat Biotech.

De acordo com eles, o presidente não tomou nenhuma atitude em relação à denúncia, o que pode configurar prevaricação — quando um funcionário público indevidamente não pratica um ato por interesse próprio (no caso, a falha em denunciar e agir contra o suposto esquema).

‘Um dólar por dose’: Luiz Paulo Dominguetti reafirma à CPI ter recebido pedido de propina por vacina


 Luiz Paulo Dominguetti Pereira      CRÉDITO,PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO   


‘Um dólar por dose’: Luiz Paulo Dominguetti reafirma à CPI ter recebido pedido de propina por vacina

Leticia Mori


Da BBC Brasil em São Paulo


Luiz Paulo Dominguetti disse que recebeu oferta de propina por vacinas da AstraZeneca de um representante do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro

O empresário e policial Luiz Paulo Dominguetti reafirmou nesta quinta (01/07) à CPI da Covid a denúncia de que recebeu oferta de propina por vacinas da AstraZeneca de um representante do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro.

Dominguetti, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply, disse que a oferta de propina foi feita em fevereiro em um encontro com o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias.

Segundo Dominguetti, a Davati, empresa americana do ramo da saúde, procurou o governo para vender 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. A farmacêutica afirma que não tem intermediários e negocia apenas com governos.

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À CPI, Dominguetti disse que a oferta inicial da Davati foi de U$ 3,50 por dose de vacina, mas Dias pediu o pagamento de propina de US$ 1 por dose, com o aumento do valor da dose.

Nomeado durante a gestão do então ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) na Saúde, Dias é apontado pelo jornal Folha de S.Paulo como um indicado do líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Horas depois da publicação da reportagem da Folha de S.Paulo com a denúncia, o Ministério da Saúde anunciou que ele seria exonerado do cargo. A saída dele foi oficializada na manhã de 30/06 no Diário Oficial da União.

À CPI, Dominguetti afirmou que, durante as tratativas, Dias não citou os nomes de pessoas do governo, como Eduardo Pazuello, que então era o número dois do ministério da Saúde.

Dominguetti também afirmou que o único documento que possui confirmando que ele era representante da Davati tem data de abril, depois da reunião, e que antes disso seu acordo com a empresa era verbal. Também disse que não chegou a fazer vendas da Davati antes das negociações de vacinas.

"Fiquei a cargo das negociações de vacina mesmo", disse. ​​​

Oferta de proprina
Dominguetti afirmou que Dias disse, durante a negociação em um restaurante de Brasília em fevereiro, que era preciso melhorar o valor ofertado pela Davati. O vendedor teria dito, então, que precisaria tentar um desconto.
Segundo Dominguetti, Dias teria respondido que não seria um desconto, mas na verdade aumentar o valor.
"E aí teria que se compor no ministério e se pediu o acréscimo de um dólar. Eu já disse que não teria como fazer", afirmou Dominguetti à CPI.
"O clima da mesa mudou e logo se encerrou o jantar e no final ele disse para eu pensar direitinho que no dia seguinte ele me chamaria para um encontro no Ministério da Saúde", disse o vendedor.

Questionado pelo senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) sobre como poderia atuar como representante de vendas ao mesmo tempo em que era policial militar da ativa - algo que seria proibido pelo regulamento da corporação -, Dominguetti admitiu o problema. "Nunca me identifiquei como policial militar ou negociei como policial militar. A gente diz 'seja escravo do regulamento, para não ser escravo do homem'. Hoje estou sendo escravo do homem, vou ser escravo dessas denúncias, dessa infração administrativa." Dominguetti disse que estava "pensando no bem maior", que seria "trazer vacina para o Brasil".

Heinze perguntou também por que Dominguetti, como policial, não deu voz de prisão ao receber o pedido de propina. Dominguetti respondeu que, naquele momento, "foi algo surreal". "Embora investido da função de policial, eu estava com um servidor público, com um general. Vivenciar isso, analisar de uma forma fria, é complicado para quem está passando por aquilo."

O depoente disse que, apesar de não ter vínculo empregatício formal com a Davati, a empresa tinha conhecimento de sua negociação com o Ministério da Saúde e "validou a proposta".

Ele também disse que comunicou verbalmente a empresa sobre o pedido de propina e solicitou "um posicionamento". "Mas o seu Roberto Dias foi informado que não ia acontecer" (ou seja, que a propina não seria paga).

O que 'vendedor de vacina' disse à CPI da Covid sobre deputado Luis Miranda, que denunciou escândalo da Covaxin

Luiz Paulo Dominguetti PereiraCRÉDITO,EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, policial militar de Minas Gerais que diz representar a Davati Medical Supply, empresa americana que atua no ramo da saúde, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo  que recebeu um pedido de pagamento de propina de um diretor do Ministério da Saúde



O que 'vendedor de vacina' disse à CPI da Covid sobre deputado Luis Miranda, que denunciou escândalo da Covaxin

1 julho 2021

https://www.bbc.com/portuguese/brasil

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, policial militar de Minas Gerais que diz representar a Davati Medical Supply, empresa americana que atua no ramo da saúde, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo O empresário Luiz Paulo Dominguetti afirmou nesta quinta (01/07) à CPI da Covid que o deputado Luis Carlos Miranda (DEM-DF) procurou a empresa Davati Medical Supply para tentar intermediar uma compra de vacinas.

Dominguetti apresentou um áudio de WhatsApp do deputado. Miranda, porém, negou que o tema fosse negociação de vacinas e afirmou que se tratava de outra compra, não relacionada aos imunizantes e negociada em 2020.

Dominguetti se apresenta como representante da Davati e foi convocado à CPI para falar sobre denúncia que fez ao jornal Folha de S. Paulo de que teria recebido pedido de proprina do Ministério da Saúde para compra da vacina da AstraZeneca.
Durante o depoimento Dominguetti citou Miranda, envolvido em outro escândalo de compra de vacinas, o da Covaxin.

Miranda é irmão do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação, que disse ao Ministério Público Federal (MPF) ter sofrido uma "pressão incomum" de outra autoridade da pasta para assinar o contrato com a empresa Precisa Medicamentos, que intermediou o negócio com a Bharat Biotech, produtora da vacina Covaxin.
O vendedor apresentou um áudio à CPI que teria sido enviado pelo deputado para uma pessoa da empresa

Luis Ricardo teria alertado o irmão sobre os problemas na compra - como um valor muito acima do que inicialmente tinha sido prospectado. Alinhado ao governo, o deputado disse que avisou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as irregularidades.

Segundo Dominguetti, o deputado Miranda seria um dos diversos deputados que teriam procurado a Davati para tentar intermediar a compra de vacinas.
O vendedor apresentou um áudio à CPI que teria sido enviado pelo deputado para uma pessoa da empresa. Dominguetti afirmou que recebeu o áudio de outro representante da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.

No áudio, uma voz que parece ser de Luis Carlos Miranda, afirma que tem um comprador, mas não cita vacinas.
"Então irmão, o grande problema é, vou falar direto com o cara, o cara vai pedir toda documentação do comprador. O comprador meu já está de saco cheio disso, vai pedir a prova de vida antes e a gente não vai fazer negócio", diz a voz.

"Então nem perde tempo, que eu tenho o comprador e ele pode fazer o pagamento instantâneo, que ele compra o tempo todo lá, quantidades menores. Se o seu produto tiver no e você fizer um vídeo, 'Luis Miranda, aqui meu produto', o meu comprador entende que é fato, ok? E encaminha toda a documentação necessária", diz a voz.

"Eu nem vou perder tempo porque tem muita conversa fiada no mercado. Desgastou muito, meu irmão, nos últimos 60 dias."

CPI da Covid

A CPI entrou uma discussão sobre se o termo "meu irmão" usado no áudio era uma gíria ou uma referência ao irmão do deputado

Segundo Dominguetti, o áudio foi enviado por Cristiano Alberto Carvalho quando Miranda depôs na CPI.
À tarde, o celular de Dominguetti foi levado pela polícia para passar por uma perícia.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AL), afirmou que Luis Miranda já está convocado para voltar à CPI e seu depoimento não será em reunião secreta. A CPI entrou uma discussão sobre se o termo "meu irmão" usado no áudio era uma gíria ou uma referência ao irmão do deputado.

Confusão na CPI

A mudança de assunto gerou uma enorme confusão na comissão.
O senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) começou a defender o depoente - que inicialmente fazia acusações ao governo - após senadores questionarem suas motivações.
Omar Aziz havia lembrado ao depoente que ele estava sob juramento de dizer a verdade.
"Não venha achar que aqui todo mundo é otário", afirmou Aziz. "Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda... Chapéu de otário é marreta."

Após ser citado por Dominguetti, Luis Miranda foi ao Senado e disse que iria "mandar prender" o depoente.
"Ele está mentindo", afirmou em voz alta aos jornalistas que faziam a cobertura no local. "Quero saber quem plantou esse cara na CPI", afirmou o deputado.

Segundo Miranda, o áudio é de 15 de outubro de 2020 e não se trata de vacinas, mas do fornecimento de luvas médicas. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) levou à CPI a transcrição das mensagens e áudios do celular de Miranda registrados em cartório, que supostamente provariam isso.
Dominguetti respondeu que foi induzido a acreditar que se tratava de vacinas pela forma como o áudio foi recebido, por intermédio de Cristiano Carvalho.

Vieira pediu que a CPI avaliasse a possibilidade de mandar prender Dominguetti ao final da sessão, por suposto falso testemunho.
Omar Aziz disse que não tinha intenção de prendê-lo, "porque imagino seus filhos e esposa te vendo neste momento. Mas o senhor confia nesse Cristiano que lhe passou esse áudio?". "Nunca tive motivos para desconfiar", respondeu.

Cristiano Alberto Carvalho, da Davati, afirmou ao jornal O Globo que o áudio não se referia a vacinas, mas aos negócios de Miranda nos EUA.
O senador Humberto Costa (PT-PE), afirmou no Twitter que "é evidente que há uma tentativa de tumultuar e desmoralizar a CPI."

"Faz parte disso, a desqualificação do deputado Luiz Miranda que afirmou ter levado a Bolsonaro denúncia de corrupção na compra da Covaxin. O jogo é extremamente bruto", escreveu o senador.
Foi quando o senador Randolfe Rodrigues propôs a apreensão e lacração do celular de Dominguetti, e assinatura de termo circunstanciado.

Mais à tarde, o senador Rogerio Carvalho (PT-SE) acusou Dominguetti de tentar "desacreditar o depoimento" de Luis Miranda, como suposta tentativa de tentar preservar a cúpula do governo federal. "Ele (Dominguetti) foi plantado para desqualificar uma das principais linhas de investigação da CPI e tirar foco do comandante-chefe de corrupção" no Ministério da Saúde, em uma referência velada ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), sob quem recaem essas acusações - as quais ele nega.
A fala gerou críticas de senadores governistas, que negaram a acusação de "plantar" testemunhas.