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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

EUA e Cuba decidem retomar relações após 50 anos de hostilidades

EUA e Cuba decidem retomar relações após 50 anos de hostilidades

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

 O presidente norte-americano, Barack Obama, anuncia mudanças na política dos EUA para Cuba, na Casa Branca, em Washington, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira. 17/12/2014 REUTERS/Doug Mills/Pool

Por Daniel Trotta e Steve Holland

HAVANA/WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos irão restabelecer as relações diplomáticas que cortaram com Cuba há mais de 50 anos, uma grande mudança de política que encerra décadas de hostilidades com a ilha comunista, disse o presidente norte-americano, Barack Obama, nesta quarta-feira.

Ao anunciar o fim do que chamou de uma política de isolamento "rígida" e que se mostrou ineficaz, Obama afirmou que os EUA irão estabelecer laços normais e abrir uma embaixada na capital cubana, Havana.

Obama discutiu as mudanças com o presidente cubano, Raúl Castro, em uma conversa telefônica de quase uma hora na terça-feira. Raúl discursou em Cuba ao mesmo tempo em que Obama fazia seu anúncio sobre a alteração de política, possibilitada pela libertação do norte-americano Alan Gross, de 65 anos, que estava preso em Cuba há cinco anos.

Cuba também está libertando um agente de inteligência que espionou para os EUA e que ficou detido durante quase 20 anos. Em troca, Washington soltou três agentes de inteligência cubanos presos em solo norte-americano: Gerardo Hernández, de 49 anos, Antonio Guerrero, de 56 anos, e Ramon Labañino, de 51 anos. Os três chegaram a Cuba nesta quarta-feira, disse Raúl.

O caso de Gross era um obstáculo a qualquer gesto de Washington para melhorar as relações. Obama disse que o papa Francisco, o primeiro pontífice latino-americano, teve um papel ativo fazendo pressão por sua soltura. O líder católico parabenizou os dois países pela retomada dos laços diplomáticos.

A guinada política irá levar a um relaxamento em alguns aspectos do comércio e do transporte entre os EUA e Cuba, mas não significa um fim do já antigo embargo comercial, que precisa de uma aprovação do Congresso que Obama deve ter dificuldade para obter.

Embora as restrições de viagem que atualmente dificultam a ida da maioria dos norte-americano a Cuba serão suavizadas, o turismo de larga escala para a ilha caribenha ainda não acontecerá de imediato.

Cuba e os EUA são inimigos ideológicos desde pouco depois da revolução de 1959 que levou Fidel Castro, irmão de Raúl, ao poder.
As duas nações não têm relações diplomáticas desde 1961, e os EUA têm mantido um embargo comercial à ilha, localizada 144 quilômetros ao sul da Flórida, durante mais de meio século. Obama declarou que pedirá ao Congresso que suspenda o embargo, mas deve encontrar resistência.

Embora cada vez mais parlamentares norte-americanos sejam favoráveis a relações mais normais com Cuba, a maioria ainda é democrata. Como resultado das eleições de meio de mandato de novembro, os republicanos irão controlar as duas casas do Congresso no ano que vem.

O senador Marco Rubio, um republicano cubano-americano, afirmou que irá usar seu papel como futuro presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado para tentar bloquear o plano e que está comprometido a fazer tudo que puder para "desmantelá-lo".

REAÇÃO NOS EUA

A notícia da mudança ecoou profundamente na comunidade de 1,5 milhão de cubano-americanos. Muitos que anseiam ver laços mais fortes com a ilha elogiaram, mas houve críticas daqueles que se opõem a uma aproximação com qualquer um dos irmãos Castro no comando.

"É incrível", disse Hugo Cancio, que foi para Miami em 1980 e que administra uma revista com escritórios em sua cidade adotiva e em Havana. "É um recomeço, um sonho que se tornou realidade para 11,2 milhões de cubanos em Cuba, e acho que irá provocar uma mudança na mentalidade aqui na comunidade também."

Em seus comentários, Obama disse que Cuba ainda precisa realizar mudanças, como reformas econômicas e melhorar os direitos humanos.

Para Obama, a guinada abrupta em relação a Cuba acrescenta um feito de política externa a seu legado presidencial quando inicia os dois últimos anos de seus oito no cargo. Ele poderá dizer que virou a página de uma política que o presidente democrata John Kennedy iniciou em 1961.

Em um aceno raro para os EUA, Raúl elogiou Obama. "Esta decisão do presidente Obama merece respeito e reconhecimento pelo nosso povo", disse o presidente cubano.

(Reportagem adicional de Matt Spetalnick, Patricia Zengerle, Roberta Rampton e Richard Cowan)

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